Frente Ampla em Defesa da Cinemateca realiza ato nacional para denunciar falta de investimento

Atos serão realizados em SP, RJ, PR, RS e DF; Há pelo menos um ano trabalhadores denunciam risco eminente de incêndio da Cinemateca por descaso do governo federal - Trabalhadores Cinemateca. 


Neste sábado (7), a Frente Ampla em Defesa da Cinemateca convoca atos nacionais para denunciar a falta de financiamento público para a instituição. Os protestos foram motivados pelo incêndio de um dos galpões da Cinemateca, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista (SP), no dia 29 de julho. 

Por falta de servidores públicos e recursos para manutenção da instituição, boa parte do maior acervo de imagens em movimento da América do Sul foi perdido, incluindo a biblioteca de Glauber Rocha, grande parte do acervo da Embrafilme e de Paulo Emílio Salles Gomes.

Além da manifestação em frente à sede principal da Cinemateca, na Vila Clementino, São Paulo, o movimento S.O.S Cinemateca também faz convocatórias em outros estados brasileiros. No Rio de Janeiro (RJ), o protesto será em frente ao Museu de Arte Moderna (MAM). Em Curitiba (PR), o encontro será em frente à Cinemateca; em Porto Alegre (RS), o ato ocorre em frente à Cinemateca Capitólio; em Brasília (DF), os manifestantes se reunirão no Palácio do Planalto. Todos os atos começam às 14h (horário de Brasília).

A lista de reivindicações inclui a renúncia do secretário especial de Cultura, Mario Frias; e a implementação imediata de um Plano de Trabalho Emergencial, com contratação de funcionários e reabertura da instituição, que permanece fechada desde agosto de 2020.

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Com informações do Brasil de Fato. Leia o texto completo aqui.


Altaneira é o primeiro município do cariri a contar com plano de combate ao racismo e de promoção da equidade

 

Professor Nicolau Neto durante fala sobre o papel da escola na construção de uma educação antirracista na trajetória pedagógica em Altaneira, em 03/08/21. (FOTO/ João Alves).

Por Valéria Rodrigues, Colunista

Nos dia 13 e 26 de maio, mês em que as atenções se voltaram para relembrar e debater os 133 anos da abolição inconclusa da escravização no Brasil, ocorreu no município de Altaneira, no cariri cearense, e no formato remoto, a apresentação do Plano de Combate ao Racismo e de Promoção da Equidade. A ação partiu do professor, fundador e editor deste blog, Nicolau Neto.

No dia 13 a ação se deu junto às secretarias de governo, de educação, de cultura, além de contar com a participação de diretores/as e coordenadores/as das escolas no município, de formadores/as educacionais e de representantes do Sindicato dos Servidores Municipais (Sinsema). Já no dia 26 a apresentação foi para o poder legislativo.

Nas duas oportunidades, Nicolau Neto destacou que o documento foi construído entre agosto e setembro de 2020, mas que não era o fim. O momento era para que com as discussões fossem apresentadas novas propostas visando sua complementação e debater maneiras de implementá-lo no município.

Para Nicolau, a História do Brasil se confunde com a história do processo de escravização da população negra e indígena e que ao longo dos anos governantes brasileiros, de imperadores a presidentes, foram responsáveis pela promoção e perpetuação da desigualdade racial, citando como exemplos a Lei de Terras de 1850 e a Lei da Vadiagem de 1942.

O racismo é visto e sentido institucionalmente. Hoje com essa nova conjuntura política está cada vez mais latente. Mas apesar desse extermínio, a população negra existe e resiste”, asseverou o professor Nicolau.

Para Nicolau Neto, “mudar e transformar cada espaço passa necessariamente pelo combate ao racismo e concomitantemente pela promoção da equidade e para tanto, é fundamental a construção de ações afirmativas concretas e viáveis”.

O enfrentamento as desigualdades advindas do racismo em todos os setores é uma responsabilidade e um dever de todos. Tanto o poder executivo municipal quanto o legislativo precisam assumir seu papel na luta antirracista disseminando o debate a respeito da questão racial, contribuindo para desarranjar todas as formas de discriminação e preconceito presentes diariamente”, destacou Nicolau.

O documento está estruturado em apresentação, justificativa e propostas que, inicialmente, eram oito. Durante as apresentações, mais três propostas foram sugeridas e incorporadas ao plano. Isso faz com que Altaneira seja o primeiro município do cariri a contar com um plano de combate ao racismo e de promoção da equidade. 

Abaixo você confere as 11 propostas:

ü  Transformação do dia 20 de novembro, hoje ponto facultativo no município através da Lei Nº 674, de 1º de fevereiro de 2017, em feriado;

Criação de uma lei municipal que estabeleça cotas em concursos públicos para candidatos e candidatas que se autodeclarem pretos/as;

Criação de um Conselho dentro da Secretaria Municipal de Educação denominado de COPERA (Conselho de Promoção da Equidade Racial em Altaneira). Este Conselho terá, dentre outras responsabilidades estabelecidas em lei aprovada na Câmara, fiscalizar se as leis 10.639/03 e 11.645/08 que tornam obrigatório o ensino da cultura africana, afro-brasileira e a história e cultura indígena nas escolas públicas estão sendo cumpridas;

Articular e, ou, firmar parcerias com universidades da região visando a formação de uma banca de heteroidentificação voltada para avaliar os pedidos de cota nos concursos públicos;

Criação, através de lei, do Estatuto Municipal da Equidade Racial que adotará os parâmetros do Estatuto da Igualdade Racial do Governo Federal aprovado em 2010;

Elaboração e desenvolvimento pela Secretaria Municipal de Educação de programas de formação sobre relações étnico-raciais em todas as instituições de ensino envolvendo toda a comunidade escolar;

Desenvolvimento pelas Secretarias Municipais de Educação, de Cultura e de Assistência Social de editais voltados para à promoção da Equidade Racial e de Gênero no município;

Implementação de Conferências Municipais de Combate ao Racismo Estrutural. Estas serão realizadas a cada dois anos.

Criação do Fórum Municipal da Diversidade;

Criação do Fundo Municipal para o desenvolvimento de políticas públicas afirmativas;

Criação de um Departamento de Enfrentamento ao Racismo e em prol da Equidade racial (na Secretaria de Cultura ou de Educação).

Para ter acesso ao Plano completo encaminhe mensagem para o correio eletrônico: nicolauhistoria@gmail.com

Há 15 anos, lei que leva nome da cearense Maria da Penha mudou a vida das mulheres no Brasil

A assessora de comunicação da Câmara de Altaneira e Colunista do Blog Negro Nicolau, Josyanne Gomes, conversou na última terça, 03, sobre a Lei Maria da Penha durante a Jornada Pedagógica do município. (FOTO/ João Alves).

A Lei Maria da Penha (nº 11.340/2006) completa 15 anos neste sábado, desde que foi sancionada, em 7 de agosto de 2006. A legislação que homenageia a cearense Maria da Penha Maia Fernandes, símbolo da luta contra a violência doméstica, significou um marco para a proteção das mulheres brasileiras. O POVO preparou cronologia resgatando fatos relacionados à lei, além de trazer dados sobre violência doméstica no Ceará.

No Estado, 27.138 autos de prisão e apreensão em flagrante foram registrados em ocorrências baseadas na Lei Maria da Penha entre janeiro de 2012 e junho de 2021. Além disso, no mesmo período, 154.314 atendimentos foram realizados nas dez Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) ou nas delegacias municipais, metropolitanas e regionais, unidades da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE).

Ao longo do tempo a Lei Maria da Penha, registrou implementações, mas não retrocessos, resultado da mobilização da mulher que dá nome à legislação e dos movimentos feministas e instituições governamentais.

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Com informações do O Povo. Leia o texto completo aqui.

Ataques de Bolsonaro: fase das ‘notas de repúdio’ pode ter chegado ao fim

Incorrigível e incontrolável, Bolsonaro pode tentar cavar a própria inelegibilidade. (FOTO/ Marcos Corrêa/ PR).

De acordo com o cientista político e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Vitor Marchetti, ainda que tardiamente, as instituições começam a tomar decisões para conter os arroubos autoritários do presidente Jair Bolsonaro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF) tomaram a dianteira desse processo, com inquéritos para investigar os ataques do presidente ao sistema eleitoral. Além disso, o ministro Luiz Fux, presidente do STF, anunciou nesta quinta-feira (5) o cancelamento da reunião entre os chefes de Poderes, como resposta aos ataques de Bolsonaro aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.


Essa ofensiva ocorre também em função da da inação do presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), que tem a atribuição de dar andamento aos pedidos de impeachment. Indica, ainda, que pode ter chegado ao fim a fase das “notas de repúdio”.

Por outro lado, apontam para o abandono da crença de que seria possível moderar Bolsonaro. Durante as eleições, representantes do mercado financeiro e da imprensa chegaram a acreditar que o ministro da Economia, Paulo Guedes, pudesse “domesticá-lo”. Ou que os militares exerceriam uma espécie de tutela sobre o capitão.

A última aposta nesse sentido foi que a nomeação de Ciro Nogueira (PP-PI) como ministro-chefe da Casa Civil pudesse representar um movimento de contenção. Os efeitos pretendidos não ocorreram, e Bolsonaro segue “apostando no caos” e na desestabilização.

“O fato é que todos esses atores sabiam desse perfil de Bolsonaro, e apostaram na capacidade que teriam de moderar esse seu ímpeto ruidoso, autoritário e instabilizador. Mas está mais do que provado que isso é impossível”, afirmou Marchetti, em entrevista a Glauco Faria, para o Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (6). “Até por isso o STF e o TSE começaram a agir de modo mais concreto e enfático. Não tem como acreditar que esse sujeito vai agir dentro da liturgia do cargo e da lógica do funcionamento das instituições. Não há mais expectativas em relação a isso”, acrescentou.

Cavando a própria inelegibilidade?
A inclusão de Bolsonaro no inquérito das fake news, sob comando do próprio STF, poderia resultar em denúncia contra o presidente. Para o andamento de um processo, contudo, dependeria do aval de dois terços do Congresso Nacional, o que praticamente torna esse caminho inviável, dada a aliança de Bolsonaro com o Centrão. Por outro lado, o inquérito aberto pelo TSE poderia resultar na inelegibilidade do atual presidente, caso vier a ser condenado.

Marchetti afirma que seriam necessários anos de estudos psiquiátricos e psicológicos para conseguir desvendar a mente de Bolsonaro. Contudo, diante do aumento da sua rejeição, ao insistir no tensionamento com os ministros do Supremo, o atual presidente poderia estar buscando cavar a própria inelegibilidade. Essa eventual inelegibilidade ratificaria o seu discurso de que as instituições o impedem de governar o país, abrindo caminho para uma solução de força.
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Com informações da RBA. Leia o texto completo aqui.

Se é crime inafiançável, por que é tão difícil punir o racismo com rigor no Brasil?

 

Adilson Moreira. (FOTO/ André Zenardo).

A tecnologia se tornou uma aliada importante para denunciar episódios de racismos nos últimos tempos, mas, em muitos casos, mesmo com imagens de vídeos e áudios, quando chegam nas delegacias são registrados como calúnia, crime cuja punição é mais branda, e não como crime de racismo ou injúria racial.

O recente o caso de uma mulher de 64 anos, presa pela Polícia Militar em Taguatinga, no Distrito Federal por xingamentos racistas contra um idoso negro, José Barbosa dos Santos de 70 anos, e seu filho, o técnico em telecomunicação Alcides Jesus Santos, de 39 anos, jogou luz sobre a atual legislação brasileira quando se trata de crimes como esse.

Apesar do vídeo mostrando a cena e do depoimento de um PM que assistiu a idosa xingando ‘negrada do inferno’, o caso foi registrado na delegacia como injúria racial. A idosa, que se recusou a pedir desculpas, pagou uma fiança de R$ 1 mil e foi liberada.

Afinal, se racismo é um crime inafiançável, e a injúria racial é derivada do racismo e, portanto, deveria ser tipificada da mesma forma, por que ainda é tão difícil punir o racismo com rigor no Brasil, mesmo com provas como no caso da idosa do Distrito Federal e tantos outros que ocorrem no Brasil?

Adilson Moreira, doutor em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade de Harvard, afirma que é preciso promover dois tipos de transformação na legislação brasileira atual.

“É preciso mudar a lei em dois sentidos: classificar o crime de injúria racial como crime de racismo e aumentar a pena de todas as manifestações de crime de racismo porque, atualmente, mesmo quando as pessoas são condenadas, elas são condenadas a três semanas ou pagam a pena com uma cesta básica e coisas dessa natureza”, afirma Adilson, que é também autor dos livros “O que é racismo recreativo?” e “Pensando como um negro”.

De acordo com o professor, é preciso explicar que a injúria racial é quando se ofende a honra subjetiva de um indivíduo, utilizando a raça, o xingamento racista para atingir a honra de alguém.

Já o crime de racismo, acrescenta, é um tipo de crime que ofende ou é praticado contra uma coletividade de indivíduos.

Na legislação brasileira, o crime de racismo é regulado pela Lei nº 7716, de 1984, que tornou o racismo crime inafiançável. A injúria, crime contra a honra, é um tipo de crime regulado pelo Código Penal.

Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Anatalina Lourenço, é urgente tipificar a lei de injúria racial como crime inafiançável também. É até pedagógico, diz ela, lembrando o grande número de casos desse tipo de crime no Brasil.

“Em alguma medida a legislação precisa ter caráter pedagógico, tem que ensinar a população que racismo é crime e tem punição severa. Não basta pagar fiança e ser liberado para praticar novamente. Se não vai pelo bem, vai pela lei”, diz a secretária.

A certeza da impunidade

O caso da idosa no Distrito Federal não é isolado. Em julho deste ano, o juiz Caramuru Afonso Francisco decidiu que a acusação do Ministério Público do Estado de São Paulo contra o youtuber Júlio Cocielo, que se tornou réu, em 2020, acusado de racismo após comentários racistas nas redes sociais, é improcedente.

Segundo o juiz, que inocentou Cocielo, “ele não agiu com dolo, culpa grave nem se apresenta como exemplo negativo, não é racista nem jamais defendeu o supremacismo racial.”

Outro caso chocou passageiros de ônibus em Praia Grande, no litoral paulista, em abril deste ano. Uma mulher foi presa em flagrante após fazer ofensas racistas contra um passageiro dentro do transporte público. O caso também foi registrado como injúria racial e ela foi solta após pagar fiança.

“É curioso que quando nós lemos as defesas das pessoas acusadas tanto do crime de racismo como a injúria racial, elas sempre mencionam “não posso ser racista porque a minha empregada é negra, a babá dos meus filhos é negra, porque eu tenho um amigo negro, porque tive uma professora negra”, critica o professor.

Com informações do Geledés. Clique aqui e leia o texto completo.

Parecer do voto impresso é derrotado na Câmara

(FOTO/ Reprodução).

O substitutivo à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 135, do voto impresso, foi derrotado por 23 votos a 11. Foi uma derrota do governo no debate que levou a constantes ataques presidenciais à Justiça Eleitoral. Realizada na noite desta quinta-feira (5), a sessão da comissão especial da Câmara durou menos de uma hora. Mas o tema ainda deve ir a plenário, com novo parecer. O encarregado de elaborar novo texto, pela rejeição, é o deputado Júnior Mano (PL-CE).


O parecer apresentado ontem pelo agora ex-relator, Filipe Barros (PSL-PR), provocou ainda mais críticas, em especial pela regra de apuração manual dos votos. “Na nossa opinião, o sistema de voto eletrônico tem mecanismos vários de aferição em que o voto do cidadão é respeitado”, disse o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), logo depois da votação no colegiado. “Em 25 anos, ainda não veio a público nenhuma fraude documentada. (…) Que o presidente da República aprenda que as instituições querem a democracia.”

Fabio Trad (PSD-MS), por exemplo, disse que seria o “primeiro a votar” a favor da PEC caso o presidente da República tivesse apresentado alguma prova de fraude. Já Aliel Machado (PSB-MG), presidente da Comissão da Ciência e Tecnologia (CCT), desistiu de votar a favor. Ele afirmou que o que estava sendo votado “não são vídeos do WhatsApp e de redes sociais”. E criticou a proposta do relator de impor a apuração manual dos votos, em vez da sugestão anterior, de ter uma porcentagem de votos impressos para possível auditoria. “Está se alterando o sistema de votação, para que a apuração volte a ser no papel. Isso aqui é o caminho para a fraude. Isso é retrocesso.”

Fake news e delírios

Para Orlando Silva (PCdoB-SP), havia um “falso debate” na questão da PEC do voto impresso. Causado, segundo ele, “por fake news, insinuações e delírios de Bolsonaro”. Tanto seu partido como o Psol, além de orientar o voto contrário, pediram o arquivamento.

Pelo governo, Sanderson (PSL-RS) afirmou que o projeto “atende aos anseios nacionais”, enquanto Vitor Hugo (PSL-GO) disse que o presidente da República “apresentou provas” de fraudes. Já pela oposição, Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que o objetivo da PEC não era de realizar um debate efetivo, “é impedir que as eleições ocorram em bases seguras, é gerar desconfiança”.
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Com  informações da RBA.

'Doutor Gama': filme sobre a vida do abolicionista estreia nesta quinta


(FOTO/ Divulgação).

A fascinante trajetória do abolicionista negro Luiz Gama será finalmente contada pelo cinema brasileiro. A missão de narrar essa história, pouco conhecida pelos brasileiro, foi cumprida por Jeferson De em 'Doutor Gama', filme cuja estreia está marcada para esta quinta-feira, 5 de agosto.

O longa, ambientado no Brasil escravista do século 19, é uma coprodução da Globo Filmes e Paranoid. O roteiro aborda desde a infância até a vida adulta de Gama, para traçar um panorama da luta popular contra a escravidão.  O fime estreia nos cimenas de todo o país e é produção associada da Buda Filmes e distribuição da Elo Company.

A construção do abolicionista na fase adulta, por exemplo, que é interpretado pelo ator César Mello, levou em conta as diversas atividades e talentos dele.

Eu li diversas vezes livros sobre ele e lia em voz alta os seus textos para achar um tom, uma maneira de chegar nesse Gama que é diverso e não pode ser definido em uma única palavra, uma única atividade. Ele foi múltiplo e incansável”, afirma o ator.

Gama nasceu livre na Bahia e, muito jovem, foi vendido pelo próprio pai para mercadores de pessoas escravizadas. Sua mãe, Luiza Mahin, foi uma liderança importante na Revolta dos Malês. Em São Paulo, o jovem Gama caminhou mais de 100km a pé, acorrentado, até chegar na capital.

De todos os abolicionistas importantes da história do Brasil, Gama foi o único que nasceu livre e foi escravizado. Foi o único que conheceu a escravidão e sabia o tão cruel ela foi. Por isso, o seu empenho tão forte em libertar outros negros”, pontua Mello.

A direção de Jeferson De, um diretor negro, coloca no filme um olhar diferente e profundo sobre a violência contra corpos negros, que procurou evitar a exploração e o fetiche da dor.

Não queria ceder a esse lugar. Eu estou falando de mim, estou falando dos meus antepassados. Além do prazer de fazer um filme, paradoxalmente, tem também muita dor em falar sobre isso. Em muitos momentos, eu sentia em mim e nos atores que isso nos tocava de uma maneira muito forte”, lembra o diretor.

Segundo De, o filme faz uma apresentação muito digna de Luiz Gama e dos demais personagens da obra. A atriz Mariana Nunes, que já tinha trabalhado com o diretor no longa 'M8 Quando a Morte Socorre a Vida', de 2018, faz Claudina, mulher de Gama. É a primeira vez que uma atriz negra faz um filme de época sem interpretar uma pessoa escravizada. Mariana destaca a importância de um diretor negro contar a história do abolicionista.

As coisas que ele me falava durante a direção me acessam de um particular. A gente [pessoas negras] têm códigos e vocabulários em comum para contar bem uma história como essa”, pontua a atriz.

Em seu elenco, além de César Mello e Mariana Nunes, estão, Teka Romualdo, Johnny Massaro, Romeu Evaristo, Sidney Santiago, Dani Ornellas, Erom Cordeiro, Nelson Baskerville, além das participações especiais de Zezé Motta e Isabél Zuaa.

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Com informações do Alma Preta.



Uma síntese breve de “racismo e sexismo na cultura brasileira” e “a categoria político-cultural da amefricanidade” de Lélia González

 

Lélia Gonzales. (FOTO/ Reprodução).

Por Maria Raiane, Colunista

Lélia González tem uma atuação ampla e é considerada um dos maiores nomes do movimento negro e de mulheres negras, não só no Brasil, mas no mundo. Além de ser historiadora, antropóloga e filósofa sua atuação percorreu partidos políticos e o Movimento Negro Unificado (MNU), movimento em que auxiliou na fundação.

Vim por meio dessa nota, compartilhar a leitura com vocês. São textos magníficos, onde Lélia González nos instiga a pensar como o mito da democracia racial vai agir de forma específica em relação às mulheres negras e como a africanização do Brasil está presente no nosso cotidiano, mesmo que o racismo queira apaga-lo a todo custo. São inúmeros os motivos que me faz vos instigar a ler os escritos das mulheres negras e indígenas desse país. Nisso, pensei na proposta desse breve resumo para instigar-lhes a essa imersão.

Um pouco sobre os textos:

O racismo é apontado como o elemento que constitui e caracteriza a sociedade brasileira e quando se junta ao sexismo, se torna um duplo fator que violenta de forma particular as mulheres negras. González traz para a discussão a importância de pensarmos as mulheres negras para além das paredes socioeconômicas que nos atravessam e impõe ao debate outras categorias, que seria a noção de mulata, doméstica e mãe preta.

Essas classificações citadas anteriormente (mulata, doméstica e mãe preta) são fundamentais para a compreensão do texto e a referida autora utilizará o exemplo do carnaval para exemplificar o mito da democracia racial e o seu simbolismo nessa época de festejo. Seria esse o período onde a mulher negra (mulata) vai sair do seu anonimato para ser o centro das atenções nos desfiles das escolas de samba. O carnaval se configura nesse evento, em que o sujeito negro sai das matérias policiais, para aparecer nas capas de revistas, é quando o mundo vai voltar seus olhos para a negritude que deixa de ser marginal para se tornar o símbolo. Nesse caso, se caracteriza o único momento onde o branco “aceitaria o protagonismo” que se dá a partir da imagem da “mulata” que representará para o mundo a fora, a “harmonia brasileira entre as raças”.

O mito da democracia racial vai agir diferente em relação a mulher negra, porque para além do “endeusamento” que o carnaval vai impor a “mulata”, tem o outro lado que também irá compor essa mulher perante a sociedade, que será quando a mesma se transfigura na doméstica. No caso, os dois conceitos (mulata-doméstica) fazem parte da mesma mulher negra e a forma com que ela será vista vai depender da situação que estarão postas. Chegando nas “mucamas”, que seria a mulher negra que por muitas vezes foi a ama de leite, quem criou os filhos das mulheres brancas e que era obrigada a satisfazer o senhor de engenho, chegamos também à "mãe preta”, que seria aquela que cuidou, deu banho e ensinou a falar.

A mãe preta seria aquela mulher que cumpriu a função materna no lugar da mulher branca e com essa função, a mesma passaria os valores que tinha para a criança tida como “brasileira” que irá praticar o pretuguês, que havia aprendido com ela. O pretuguês, segundo González (1983) seria uma marca da africanização do Brasil, principalmente, no que diz respeito às trocas das letras “L” por “R” em algumas palavras, exemplo: framengo, pois no idioma africano não existiria a pronúncia da letra “L”. Isso foi um dos porquês que Gonzalez procurou amadurecer mais o que estava pensando e que logo viraria conceito, que seriam as categorias “amefricanos” e améfrica ladina.

González vai revelar que por conta de marcas iguais às citadas anteriormente (sobre a linguagem, marca da africanização) era preciso uma elaboração de um novo conceito que pensasse a América como um todo, pois quando se falava em “americano” automaticamente as pessoas associavam aos Estados Unidos. Então o que seríamos nós, pessoas localizadas nos outros lugares da América central, insular, sul, norte?

Então nos explica que o fato dos Estados Unidos ser imperialista fazia com que as pessoas dos outros países das regiões já citadas ficassem passivas politicamente e ideologicamente. Por isso a urgência de refletirmos sobre amefricanidade. O termo “afro-americano” também vai parecer que só existem negros nos Estados Unidos e mais uma vez González (2019) destaca a importância de usarmos o conceito “amefricanos” para categorizar a todes nós, pois seria um termo mais democrático e não ficaria limitado a questões territoriais, linguísticas e ideológicas.

E ai, gostaram do que leram? Deixo aqui as referências para que se aprofundem mais nas intelectuais tão necessárias para as ciências humanas e sociais desse país. A relevância de compreendermos conceitos cunhados por mulheres negras faz com que nós enquanto humanidade reconhecêssemos a potência que está nos nossos saberes. Quem como eu, escreve como quem denuncia o mundo? 

Referências

GONZALEZ, Lélia. A Categoria Político-Cultural da Amefricanidade. In: Pensamento Feminista –Conceitos Fundamentais. BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa (org.). Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, pp. 340-352.

GONZALEZ, Lélia. Racismo e Sexismo na Cultura Brasileira. In: SILVA, Luiz Antônio Machado et alii. Movimentos sociais urbanos, minorias étnicas e outros estudos. Brasília, ANPOCS, p.223-44, 1983.