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140 anos sem Luiz Gama: o advogado que libertou centenas de escravizados

 

Luiz Gama. (FOTO | Reprodução).

Há 140 anos, o Brasil perdia um dos maiores defensores da liberdade que o país já conheceu. “Jamais esta capital [São Paulo], quiçá muitas outras, viu mais imponente e espontânea manifestação de dor e profunda saudade de uma população inteira para com um cidadão”, escrevia o jornal A Província de São Paulo, dando dimensão do tamanho da perda.

Era Luiz Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama: o menino que só aprendeu a ler e escrever aos 17 anos; que nasceu livre e foi vendido como escravizado pelo próprio pai; um importante jornalista e escritor de muitos artigos, poemas e livros celebrando sua cor e denunciando o racismo que tantos sofriam por causa dela e o advogado que aprendeu sobre as leis sozinho e ajudou a libertar mais de 500 pessoas negras escravizadas.

Considerado um dos maiores abolicionistas, tendo dedicado a vida não só a luta pela libertação de negros e negras, como pelo fim absoluto da escravidão, o legado deixado por Gama hoje é um farol a ser seguido.

Hoje, Ecoa separou curiosidades sobre esta figura histórica para você conhecer um pouco mais quem era Luiz Gama:

Aprendeu sozinho sobre advocacia

Luiz Gama nasceu em Salvador, no ano de 1830. Era filho de um português branco e rico e de uma ex-escravizada que àquela época já estava livre. Pela lei, filho de mãe livre, também era livre, mas aos 10 anos, seu pai o vendeu como escravizado.

Assim, Gama veio parar em São Paulo, onde permaneceu nessas condições até os 18 anos, quando conseguiu reunir provas de que era ilegal mantê-lo como escravizado. Então, fugiu.

Um ano antes da fuga, aprendeu a ler e escrever, a partir desse momento se tornou um estudioso das letras. E em 1850 decidiu se candidatar ao curso de Direito do Largo de São Francisco – sendo recusado por ser negro. Mesmo assim, estudioso que era, aprendeu sozinho a advogar.

Legalmente, libertou mais de 500 escravizados

Um de seus feitos mais marcantes e importantes para a história foi o uso da advocacia para ajudar na libertação de pessoas escravizadas. Em uma época em que a escravidão já estava abolida em outros países, o Brasil até dava sinais de que começaria a mudar com a proibição do tráfico transatlântico, mas a verdade era que, por baixo dos tapetes, milhares de negros africanos continuavam sendo sequestrados e trazidos a força para serem escravizados aqui – o que já era ilegal até para a época.

Luiz Gama, no entanto, estava atento e disposto a reverter esse cenário. Em uma das descobertas mais recentes, feita pelo historiador Bruno Rodrigues de Lima, é possível ver essa movimentação.

O ano era 1869, Luiz Gama folheava um jornal quando se deparou com a notícia da morte de um senhor de escravos em Santos (SP), que deixava explícito em seu testamento a vontade de libertar todos após sua morte. Gama logo foi atrás de descobrir se isto havia acontecido, e só parou quando todos estavam libertos de fato, após uma briga na justiça. Mas a Justiça falhou com Gama e os escravizados: as 217 pessoas foram forçadas a mais 12 anos de trabalho escravo antes de serem realmente livres.

Ao que se sabe, foram no mínimo 500 pessoas libertadas por ações de Luiz Gama. Mas a verdade é que este número pode ser ainda maior, já que o Tribunal de Justiça de São Paulo apresenta uma centena de processos com seu nome.

Uma coisa que ele fez foi desenterrar a bendita lei de 1831 [lei feijó, que proibia a importação de escravos para o brasil], colocando na cabeça dos outros. ele era um defensor dos direitos. dizia ?nós temos leis?. pedia que as leis existentes fossem aplicadas. então ele puxava as leis e pegava no pé dos juízes, lembrando que ele mesmo era filho de uma africana, que ele mesmo tinha sido escravizado. ele sabia o que era ser africano. o que era ser escravo. ele mexeu no vespeiro.

Foi a primeira pessoa negra a ter estátua em SP

Mesmo com tanta luta pela liberdade, Luiz Gama não viveu para ver a escravidão ser abolida oficialmente no país, em 1888. Morreu em um 24 de agosto como hoje, em 1882.

O reconhecimento de seu legado, apesar de importantíssimo para a história do Brasil, para a abolição da escravidão e para a construção da autoestima do povo negro no país, demorou para chegar.

Só em 2017 a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco o homenageou dando seu nome a uma sala e dois anos antes, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), concedeu o título de advogado a Luiz Gama.

Ele também foi a primeira pessoa negra a ter uma estátua na cidade de São Paulo. Em 1931, foi inaugurado um busto do advogado no Largo do Arouche, centro da cidade.

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Com informações do Geledés.

'Doutor Gama': filme sobre a vida do abolicionista estreia nesta quinta


(FOTO/ Divulgação).

A fascinante trajetória do abolicionista negro Luiz Gama será finalmente contada pelo cinema brasileiro. A missão de narrar essa história, pouco conhecida pelos brasileiro, foi cumprida por Jeferson De em 'Doutor Gama', filme cuja estreia está marcada para esta quinta-feira, 5 de agosto.

O longa, ambientado no Brasil escravista do século 19, é uma coprodução da Globo Filmes e Paranoid. O roteiro aborda desde a infância até a vida adulta de Gama, para traçar um panorama da luta popular contra a escravidão.  O fime estreia nos cimenas de todo o país e é produção associada da Buda Filmes e distribuição da Elo Company.

A construção do abolicionista na fase adulta, por exemplo, que é interpretado pelo ator César Mello, levou em conta as diversas atividades e talentos dele.

Eu li diversas vezes livros sobre ele e lia em voz alta os seus textos para achar um tom, uma maneira de chegar nesse Gama que é diverso e não pode ser definido em uma única palavra, uma única atividade. Ele foi múltiplo e incansável”, afirma o ator.

Gama nasceu livre na Bahia e, muito jovem, foi vendido pelo próprio pai para mercadores de pessoas escravizadas. Sua mãe, Luiza Mahin, foi uma liderança importante na Revolta dos Malês. Em São Paulo, o jovem Gama caminhou mais de 100km a pé, acorrentado, até chegar na capital.

De todos os abolicionistas importantes da história do Brasil, Gama foi o único que nasceu livre e foi escravizado. Foi o único que conheceu a escravidão e sabia o tão cruel ela foi. Por isso, o seu empenho tão forte em libertar outros negros”, pontua Mello.

A direção de Jeferson De, um diretor negro, coloca no filme um olhar diferente e profundo sobre a violência contra corpos negros, que procurou evitar a exploração e o fetiche da dor.

Não queria ceder a esse lugar. Eu estou falando de mim, estou falando dos meus antepassados. Além do prazer de fazer um filme, paradoxalmente, tem também muita dor em falar sobre isso. Em muitos momentos, eu sentia em mim e nos atores que isso nos tocava de uma maneira muito forte”, lembra o diretor.

Segundo De, o filme faz uma apresentação muito digna de Luiz Gama e dos demais personagens da obra. A atriz Mariana Nunes, que já tinha trabalhado com o diretor no longa 'M8 Quando a Morte Socorre a Vida', de 2018, faz Claudina, mulher de Gama. É a primeira vez que uma atriz negra faz um filme de época sem interpretar uma pessoa escravizada. Mariana destaca a importância de um diretor negro contar a história do abolicionista.

As coisas que ele me falava durante a direção me acessam de um particular. A gente [pessoas negras] têm códigos e vocabulários em comum para contar bem uma história como essa”, pontua a atriz.

Em seu elenco, além de César Mello e Mariana Nunes, estão, Teka Romualdo, Johnny Massaro, Romeu Evaristo, Sidney Santiago, Dani Ornellas, Erom Cordeiro, Nelson Baskerville, além das participações especiais de Zezé Motta e Isabél Zuaa.

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Com informações do Alma Preta.



Luiz Gama recebe título Honoris Causa

 

Luiz Gama é considerado o Patrono da Abolição no Brasil. ( FOTO|Reprodução).


Uma das figuras negras centrais na luta pela abolição, Luiz Gama se tornou Doutor Honoris Causa pela Universidade de São Paulo (USP), nesta terça-feira (29), em uma reunião realizada de forma virtual. A proposta foi feita pela Escola de de Comunicações e Artes (Eca) e acatada pelo Conselho Universitário, tornando Luiz Gama o primeiro negro brasileiro a receber o título na Instituição.

Para o professor e diretor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, Floriano Peixoto de Azevedo, Gama sempre foi um jurista por excelência. “Ele frequentou a Faculdade de Direito do Largo São Francisco e teve respeito de muitos dos professores, tido como um verdadeiro jurista, ainda que não formado. Ele tem uma trajetória fundamental para a história do Brasil e também para a história do Direito no país”, disse o professor durante a reunião do Conselho.

Lígia Ferreira, professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ressalta a importância do reconhecimento e da luta de Gama para a comunidade negra. “É um reconhecimento póstumo, porém justo. Ele foi um pioneiro da campanha abolicionista e republicana. A obra de Luiz Gama nos mostra a importância dele na divulgação de ideias que foram fundamentais para o Brasil da época”, enfatiza.

Ligia comentou ainda que Gama precisa ser lido sempre e cada vez mais, principalmente para fortalecimento dos movimentos negros. “Certamente o título de Honoris Causa é uma maneira de enxergarmos a trajetória de uma pessoa que libertou mais de 500 escravos, que trabalhou pelos direitos humanos e que sempre valorizou o conhecimento. Luiz Gama é um monumento que os brasileiros precisam conhecer urgentemente”, disse.

Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador (BA), em 1830, era filho de mãe negra e livre, mas foi vendido aos 10 anos pelo seu pai e permaneceu analfabeto até os 17 anos. Considerado o Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil, Gama foi um abolicionista, orador, jornalista e escritor.

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Com informações do Notícia Preta.

Advogado negro e abolicionista, Luiz Gama vira história em quadrinhos


Advogado negro e abolicionista, Luiz Gama vira história em quadrinho. (FOTO/Divulgação/ Alma Preta).
Figura ícone da resistência abolicionista no Brasil, o advogado Luiz Gama (1830-1882) será personagem principal do quadrinho “Província Negra”, de autoria de Kaleb Kanbour. O HQ será lançado nesta quarta-feira (12), na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo (SP), a partir das 19 horas.

Líder abolicionista Luiz Gama terá seu nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria


De escravo a líder abolicionista, Luiz Gama libertou mais de 500 pessoas por vias judiciais. Por conta do preconceito racial ele não conseguiu se formar em Direito, mas assistia às aulas como ouvinte e se tornou rábula, com direito a exercer a profissão em juízo. Por conta da sua atuação jurídica, Luís Gonzaga Pinto da Gama – Luiz Gama ficou conhecido como “o advogado dos escravos”.

Agora, duas leis, que acabam de entrar em vigor, o homenageiam. A Lei 13.628/2018, resultante do PLC 220/2015, inscreve o nome do abolicionista no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. Já a Lei 13.629/2018, criada a partir do PLC 221/2015, declara Luiz Gama como Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil.

Os dois projetos são de autoria do deputado Orlando Silva (PCdoB/SP). Para o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) as duas leis são importantes para “nossas crianças saberem que ele existiu, saberem quem ele foi, e tomarem como exemplo um homem que soube lutar por uma causa humanista e a favor de seu país”, elogiou. A reportagem é de Marciana Alves, da Rádio Senado. (Com informações do CEERT).

(Foto: Angelo Agostine/ Acervo Estadão).


Vida de Luiz Gama é retratada no filme “prisioneiro da liberdade”



Dirigido por Jeferson De, “Prisioneiro da Liberdade” retrata a vida de Luiz Gama, homem negro que, apesar de nascer livre, é vendido pelo próprio pai e sofre na pele todas as dores de um escravo. O filme, que tem o apoio do Instituto Luiz Gama e distribuição garantida da Europa Filmes, retrata uma jornada cheia de drama e aventura, que retrata um herói pouco conhecido dos brasileiros.


Mesmo com os preconceitos e as dificuldades que lhes são impostas, Luís Gama consegue se alfabetizar, estudar e se tornar não só seu próprio advogado, mas também um dos melhores profissionais da época. Foi um intelectual que libertou mais de mil pessoas nos tribunais usando as leis e se transformou um ícone na luta pela abolição da escravatura.

Pouco conhecido da maioria dos brasileiros, a Panaoid começa a trabalhar em seu novo longa-metragem, sob o comando de Jeferson De, o mesmo de Bróder (2010) e de Dogma Feijoada (2005). A produtora será responsável por levar aos cinemas esse evento histórico que marcou o século XIX.

Em entrevista ao Jornal Meio Norte, Jeferson De relata que a intenção é mostrar este personagem desconhecido para muitos brasileiros, sobretudo, os mais jovens, mas que lutou pela a liberdade, por aspectos importantes do que hoje se chama exercício de cidadania.

Nossa idéia é retratar a infância de Luiz Gama, na Bahia, ao lado de sua mãe, mostrando o cotidiano de um menino negro livre que é vendido pelo próprio pai. Sua trajetória como escravo até tornar-se o mais importante defensor da liberdade em São Paulo”, diz o diretor.

O título, segundo o diretor, conta muito sobre do que se pretende mostrar. “Luiz Gama desejou a sua liberdade com uma intensidade extrema, em seguida pensou além de si, por isso o chamamos de Prisioneiro da liberdade”, diz, acrescenado que o roteirista Luis Antonio conseguiu narrar um momento da história brasileira que diz respeito ao fim da escravidão e o fim do império através do olhar de um menino que torna-se um dos homens mais importantes da história brasileira, cujo ideal de vida foi a liberdade e não somente noque se refere a escravidão. “Gama foi além de um abolicionista, este é apenas um aspecto de sua vida. O prisioneiro tratará de corrigir esta visão”, declara.

Jeferson diz que “Prisioneiro da Liberdade” trata-se de uma biografia histórica que requer muita preparação. “Desta forma é importante cuidar de cada detalhe da produção. Demanda tempo para que tudo saia como queremos”, diz, lembrando que o filme está ainda na fase bem inicial, com alguns pontos definidos, como as locações nas cidades de Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo.

O diretor conta que o elenco segue em aberto. “Ficamos nos últimos dois anos trabalhando junto com nosso roteirista e dimensionando o tamanho e o que será o filme. Escolher o elenco é sempre um momento delicado e pretendemos realizar testes para encontrar parte deste grupo. Obviamente, alguns nomes surgem em nossas reuniões e sempre comentamos e debatemos as possibilidades”, explica.

A respeito da vida de Gama, o diretor diz que é difícil saber se ele superou o trauma de nascer livre, ser vendido pelo paí e sofrer todas as agruras da escravidão. “Acho que não. Depois que foi vendido, nunca mais encontrou sua mãe, imagino que seja um acontecimento insuperável. Mas acho que ele soube conviver com a dor. Para mim -e o filme não deixa de ser uma visão pessoal- ele continuou a caminhar. Luiz Gama foi um ótimo observador do Brasil e entendeu profundamente o que estava acontecendo a sua volta”, comenta.


Mais de um século depois, OAB reconhece jornalista NEGRO Luiz Gama como advogado


Cento e trinta e três anos após sua morte, Luiz Gama, ex-escravo, jornalista, poeta, ativista político e líder abolicionista, que com sua oratória brilhante e inflamada, ajudou a libertar mais de 500 negros nos Tribunais, será finalmente reconhecido oficialmente como advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

A cerimônia vai acontecer na próxima terça-feira (03/11) na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Segundo o presidente do Conselho Federal da OAB, Marcus Vinicius Furtado Coelho “no atual modelo de advocacia é a primeira vez que isso ocorre”.

Gama nasceu em 1.830 e morreu em 1.882 e, além da sua história (filho de um português com uma escrava liberta foi vendido pelo pai quando tinha apenas 10 anos), foi um ativista de enorme prestígio não apenas entre os negros, mas também entre setores liberais da sociedade da época. Ele estudou Direito por conta própria e passou a exercer a função de advogado (rábula) após conseguir a alforria aos 17 anos.

É dele uma frase que o colocaria hoje como um militante radical:

O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata sempre em legítima defesa”.

Embora não fosse advogado, Gama era um grande defensor da abolição e sua atuação como rábula livrou inúmeras pessoas dos grilhões escravistas”, acrescenta o presidente da OAB.

Tataraneto

Na cerimônia, Luiz Gama será representado por um tataraneto, o empresário Benemar França, 68 anos, um de seus 20 e tantos descendentes vivos, o engenheiro e empresário Benemar França, 68. “Tomei contato com a biografia desse meu antepassado quando estava no 2º ano ginasial e um professor de história pediu que pesquisássemos, cada um, sobre as nossas famílias, a nossa genealogia”, conta o empresário. “O que descobri encheu-me de orgulho”, acrescenta.

Além da condecoração póstuma, o evento Luiz Gama: Ideias e Legado do Líder Abolicionista prevê dois dias de palestras e debates no Mackenzie.

Morte e enterro

O enterro do líder abolicionista no Cemitério da Consolação foi um dos maiores já registrados em S. Paulo à época com 40 mil habitantes: 10% da população paulistana compareceu. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, não houve transporte oficial para o cortejo fúnebre. Do Brás, onde morava, o caixão foi passando de mão em mão até chegar à sepultura.

Personalidades Negras que Mudaram o Mundo: Luiz Gama


Em 23 de setembro de 1870, 12 anos antes de sua morte, em São Paulo, Luiz Gama legava como herança para o seu único filho, Benedito Graco Pinto da Gama, conselhos e exemplos de vida de um homem que fez de sua existência na terra uma luta constante e incansável pela abolição da escravidão e pelo fim da monarquia no Brasil. No século XIX, ser negro não era necessariamente sinônimo de ser escravo. Havia africanos livres que vieram para terras brasileiras por conta do comércio transatlântico e aqui viviam, alguns aqui nasciam e permaneciam livres e outros tantos que conseguiram comprar a própria liberdade e até mesmo provar na Justiça que eram livres. Luiz Gama, paradoxalmente, viveu essas duas realidades.

No rol dos brasileiros esquecidos, negligenciados pela historiografia, despontou, durante muitos anos, Luiz Gama. Graças, no entanto, ao esforço de intelectuais, pesquisadores e instituições, felizmente esse cenário vem mudando nos últimos anos.

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador, Bahia, em 21 de julho de 1830, filho de uma negra livre, Luíza Mahin, e de um fidalgo branco de origem portuguesa (cujo nome jamais citou). Gama veio ao mundo na condição de negro livre. Sua mãe, segundo ele mesmo conta, participou da Revolta dos Malês, em 1835, a maior rebelião de escravos do Brasil, e da Sabinada, em 1837, que proclamou a República Bahiense, era uma verdadeira revolucionária. Devido à participação nessas revoltas, Luiza teve que fugir para o Rio de Janeiro, deixando Gama aos cuidados do pai e sem qualquer informação posterior sobre ela. Por um ano, Luiz Gama viveu sob os cuidados do pai, que o vendeu quando contava dez anos de idade, na condição de escravo, segundo consta, para pagar dívidas de jogo. Foi assim que, da noite para o dia, um ser humano livre e dono de si, tornou-se uma “peça”, um escravo. Daí iniciou a trajetória de superação que faria de Luiz Gama um exemplo para negros e brancos na sua luta obstinada pelo fim da escravidão.

Na condição de escravo, Gama fora contrabandeado para o Rio de Janeiro onde foi vendido ao negociante, contrabandista e alferes, Antônio Pereira Cardoso e levado para ser revendido em São Paulo. O fato de ser baiano fazia de Gama um escravo indesejado onde quer que fosse colocado à venda. A história de revoltas de escravos na Bahia dava aos negros vindos de lá o título de revoltosos e insubordinados. Foi assim que, não conseguindo vender a criança e outro escravo também baiano a nenhum fazendeiro no estado de São Paulo, restou a Antônio Cardoso levá-los para a sua própria fazenda. O jovem Luiz aprendeu a trabalhar como copeiro e sapateiro, a lavar e consertar roupas.

Aos dezoito anos de idade, Luiz Gama aprendeu a ler e escrever com a ajuda do jovem Antônio Rodrigues do Prado Júnior, que se hospedava na casa de seu senhor. Nessa idade, Gama conseguiu “secretamente”, segundo ele, as provas de sua liberdade. Foge da casa do seu dono e ingressa na Marinha de Guerra, na qual serviu por 6 anos, alcançando a patente de cabo-de-esquadra. Após ato de insubordinação a um oficial, nas suas palavras, insolente, Gama ficou 39 dias preso, sendo expulso em seguida daquela força. Em 1856, torna-se amanuense  da Secretaria de Polícia da Província de São Paulo. Gama frequentou, por algum tempo, como ouvinte, a Faculdade de Direito de São Paulo, onde sofreu preconceito e repulsa de professores e estudantes, à época todos brancos e quase sempre de origem aristocrática. Sem diploma de bacharel em Direito, torna-se um rábula  e liberta, pela via judicial, mais de 500 escravos do cativeiro. Um feito sem igual na história mundial da advocacia Quando não conseguia libertar um escravo nos tribunais, comprava a alforria com dinheiro arrecadado por ele mesmo através de esmolas, às vezes com a ajuda dos irmãos da Maçonaria ou dos membros do Círculo Operário Italiano.

Poeta, Luiz Gama lança, em 1859, o livro Primeiras Trovas Burlescas, conjunto de poemas líricos e de crítica social e política. A partir da década de 1860, passou a contribuir ativamente em vários jornais da imprensa paulista, entre eles o Diabo coxo (1864-1865) e Cabrião (1866-1865), primeiros periódicos ilustrados de São Paulo, os quais ele ajudou a fundar. Durante sua vida, sempre utilizou da imprensa em prol da causa abolicionista e republicana.

O prestígio de Gama, amealhado por conta das suas sucessivas vitórias nos tribunais na libertação de cativos, muitos escravizados ilegalmente, ultrapassou as fronteiras de São Paulo atraindo escravos de outras províncias. Nesse período, ele ganhou o epíteto “O terror dos fazendeiros”. Junto ao título de libertador vieram as ameaças de morte por parte daqueles que se sentiam incomodados com a ação de Gama. Foram essas ameaças que o levaram a escrever a carta- herança a seu filho em 1870.

Na esfera política, a luta de Gama caracterizou-se pela defesa de uma república brasileira, os “Estados Unidos do Brasil”. Fez parte da Convenção de Itú em que fora criado o Partido Republicano Paulista (PRP). Consciente de que naquele espaço dominado por fazendeiros e senhores de escravos suas ideias abolicionistas não encontrariam apoio, passou a denunciá-los e condená-los de todas as formas. Apesar das decepções com o PRP, Gama continuou fiel às ideias republicanas.

Com o passar dos anos, o vigor mental do revolucionário abolicionista permanecia irretocável, todavia o seu corpo não mais respondia com tanta vontade. Em 1882, o diabetes já dificultava sua locomoção. Na manhã de 24 de agosto daquele mesmo ano, Gama perdeu a fala e, mesmo diante dos esforços de mais de vinte médicos, faleceu naquela mesma tarde, aos 52 anos de idade.

Nunca antes tinha se visto tamanha quantidade de pessoas em um cortejo fúnebre na cidade de São Paulo. As ruas foram enfeitadas como nas mais importantes datas festivas do ano e o comércio cerrou as portas em sinal de luto. Brancos, negros, pobres e ricos, anônimos e figuras ilustres, muitos foram aqueles que acompanharam o féretro de Luiz Gama. Entre paradas e discursos, o povo conduziu o corpo do herói abolicionista por mais de três horas, de sua casa, onde esteve sendo velado, até o Cemitério da Consolação. Sobre o seu caixão, juraram todos manter viva a luta em favor da abolição da escravidão e pelo fim da monarquia.

Luiz Gama legou à causa antiescravagista o Centro Abolicionista, com forte participação de seu amigo Antônio Bento, que tinha como presidente Alcides Lima. Alguns dias antes de sua morte, foi publicado o primeiro jornal do Centro, o Ça Ira, em 19 de agosto de 1882. No jornal, um artigo de Raul Pompéia tinha como subtítulo a frase de Gama: Perante o Direito, é justificável o crime de homicídio perpetrado pelo escravo na pessoa do senhor.

Sob a inspiração e influência de Luiz Gama, seu amigo, o advogado e maçom Antonio Bento de Souza e Castro organizou os Caifazes, movimento radical de libertação de escravos, que organizava fugas coletivas de escravos das fazendas e os encaminhava para o quilombo do Jabaquara, nas cercanias da cidade de Santos.

Luiz Gama, poeta, jornalista e advogado, defensor dos oprimidos, pobre por opção, é o patrono da cadeira nº 15 da Academia Paulista de Letras.