44,4% dos vereadores em Altaneira são professores. O que isso representa?



44,4% dos vereadores são professores.
Foto: Júnior Carvalho
O poder legislativo do município de Altaneira é composto por nove vereadores. Desse número, três são mulheres. Uma comunista, uma social-democrata e outra socialista (PCdoB, PSDB e PSB, respectivamente). Completam o quadro, mais um comunista, um progressista, dois republicanos, um democrático trabalhista e um social liberal (PCdoB, PP, PDT e PSL, nessa sequencia).

Toda via, o que chama a atenção nesse panorama político não é evidentemente, o número de mulheres na casa, o que não deixa de ter a sua importância. Tão pouco é as seis agremiações no parlamento municipal.  O que nos chama a atenção e nos deixa intrigados é que desse número, 4 (quatro) são professores, em termos percentuais representa nada mais nada menos que 44,4%.  Um número bem significativo.

O que representa ser professor (a) e vereador (a) em Altaneira? Em tese deveria significar uma melhoria na qualidade das discussões no plenário. Em tese, porque na prática o que vemos são debates (na sua grande maioria) infundados, às vezes até infantis.  Na última sessão plenária, por exemplo, realizada dia 17/09, testemunhamos um daqueles que se o caso não fosse tão sério, afinal são os “representantes do povo”, daria no mínimo para expulsar qualquer cidadão de bom senso da casa.  Parlamentares que parecem desconhecer o regimento interno e, se considerarmos que o conhece, estão a todo vapor o rasgando. No calor do debate a Vereadora e também professora Zuleide (PSDB) interrompeu o discurso do Vereador (esse só vereador) Flávio Correia (PCdoB). Este demonstrou irritação e afirmou: “tenho certeza que se eu for debater com a senhora eu saio ganhando”. Zuleide, ironicamente refutou: “é porque eu sou boazinha e deixo o senhor ganhar”.  Se não fosse tão sério, seria uma boa piada.

Ora, nenhum (a) vereador (a) está lá para se engalfinhar. Tão pouco para disputar quem tem um discurso mais bonito, ou para ver quem fala mais, etc. Não custa lembrar que cada parlamentar foi eleito pelo povo, é pago pelo povo e por este e com este deve-se trabalhar.

Segundos dados do portal da Câmara, a última sessão pouco mais de duas horas de duração e apenas um requerimento. Nada mais. Toda via, o bate rebate continua sendo um circulo vicioso entre nossos legisladores-fiscalizadores. Nenhum projeto sequer. Poderíamos até dizer que sem nenhuma discussão importante no tema livre.

Os legisladores estão preferindo ir para a sessão com as mesmas armas. A oposição para criticar por criticar (quando o passado lhe condena) e a situação para se defender e se valer do passado que mutila a frágil oposição. O resultado disso são discursos enfadonho, saturado, repetitivo e sem grandes contribuições para a melhoria da sociedade altaneirense.

Até quando iremos testemunhar isso? E o que precisa ser feito? Está na hora da juventude acordar e procurar se inserir nos espaços de poder. Deixarem de ser coadjuvante. Deixarem de discutir infantilmente e colaborar nesse processo. Afinal de contas, a juventude sempre teve papel preponderante nos movimentos sociais, emprestando a eles sua força, irreverência e capacidade de protesto contra toda e qualquer forma de tirania e ditadura. Assim, os movimentos estudantis são fontes naturais de novas lideranças políticas, essenciais para a renovação de sistemas obsoletos e que perderam a capacidade de dialogar com os anseios atuais da sociedade.


Quando religiosos acalentam o sonho de ditar regras a todos



Reproduzimos excelente artigo intitulado “Estado laico contra a intolerância religiosa” da médica Fátima Oliveira sobre a dura luta para se conseguir fazer valer o que está exposto no Artigo 19 da CF/1988. O texto foi publicado em O tempo e no Viomundo.

Vamos a ele

O fundamentalismo religioso cristão no Brasil, de extração católica e evangélica, adquiriu fôlego na última década, centrado na abolição dos direitos reprodutivos e dos direitos sexuais, vincando interferência perturbadora e preocupante, em todos os sentidos, em nome da defesa da família na vida política nacional.

Tanto evangélicos (dia e estatuto do nascituro, cura de gays, projetos de lei da grife “Estuprobrás”, as recentes infelicidades felicianas satanizadoras…) quanto católicos (concordata Brasil-Vaticano, obra de Lula, ai, meus sais!) acalentam o sonho de ditar regras de comportamento de suas visões de mundo para todo o povo.

Lembremo-nos da interferência do Vaticano nas últimas eleições presidenciais, indicando o voto no beato Serra! Vide Eleições presidenciais 2010: em leilão, os ovários das mulheres!  Os fundamentalistas cristãos brasileiros lutam por leis que transformem a nossa República democrática e laica numa teocracia!

E, ao mesmo tempo, as manifestações de intolerância religiosa não param de crescer, seja intramuros nas religiões ou nas seitas – caso da desassociação de Testemunhas de Jeová – ou na vida pública, sobretudo de algumas igrejas evangélicas contra as religiões de matrizes africanas.

Além da perplexidade causada pela lassidão do governo brasileiro diante dos fatos, não avancei muito na compreensão de tais nefastos fenômenos, sobretudo porque a responsabilidade maior de garantir a liberdade de religião e de assegurar os princípios da República laica é da Presidência do Brasil, que, dolorosa e praticamente, tem silenciado, mas tem cedido muito, em especial para o intuito da Igreja Católica de satanizar as mulheres.

Se a Presidência da República cede quanto aos direitos reprodutivos, como registrei em Governo Dilma submete corpos das brasileiras ao Vaticano, assiste à carruagem da intolerância religiosa passar e avançar sobre os princípios da República e faz de conta que não lhe diz respeito, estamos a pé mesmo…

Todavia, sou teimosinha, teimosinha e continuo firme em meu propósito: “Quero o aconchego de uma República laica e nada mais” (O TEMPO, 31.5.2011). Então, urge enfrentar quem mina os alicerces da República!

Em tal peleja, tenho refletido sobre o papel do secularismo e do laicismo diante da intolerância religiosa.
Compreendo secularismo, grosso modo, como o princípio de separação entre Estado e religiões de qualquer naipe, garantindo e defendendo a liberdade religiosa.

E laicismo é “uma visão filosófica que defende e promove a separação do Estado das igrejas e das comunidades religiosas, bem como a neutralidade do Estado em matéria religiosa”; tem como valores a liberdade de consciência; a igualdade entre cidadãos em matéria religiosa e a origem humana – todos, pilares da liberdade em questões de fé.

Na prática, e é uso consagrado, se diz Estado secular ou Estado laico ou Estado não confessional como significando a mesma coisa: o Estado não professa religião e protege quem tem ou não uma fé, como agnósticos e ateus.




PCdoB realizará Conferência em Altaneira




Professor Nonato é o novo presidente do PCdoB
O Partido Comunista do Brasil – PCdoB, do município de Altaneira, realizará neste domingo, 22, a Conferência Municipal da agremiação.

A informação da conferência está fixada na Câmara Municipal, sede da reunião e tem como objetivo a renovação do Diretório Municipal e a discussão das novas propostas do partido para a realização das conferencias estadual e nacional a ser realizada até o final deste ano. 

É digno de registro que meses atrás, diversos membros da agremiação estiveram reunidos no auditório do legislativo municipal e, na oportunidade, houve o anúncio de desfiliação, dentre elas a do ex-presidente, o servidor Antonio de Kaci. Iranildo Lima, Socorrinha Lima, Francisco de Assis Gomes, dentre outros deixaram a agremiação.

Ainda naquela ocasião, o professor Antonio Nonato foi eleito como o novo presidente do Partido. Deza Soares afirmou que se faz necessário uma forte campanha de mobilização objetivando conseguir novos membros, mas com critérios. “O importante não é quantidade, mas qualidade”, reforçou.

Hoje a Câmara Municipal tem em seu quadro dois vereadores comunistas, a saber, Flávio Correia e a atual presidente da casa, Lélia de Oliveira.


Médico que mandou "negra voltar para África" não responderá por injúria racial




Ministério Público pediu condenação de Heverton Otacílio
(foto) por injúrio racial/Divulgação.
Médico que ofendeu atendente em cinema não vai responder por injúria racial. Juiz alega que não existem provas de que o psicanalista tenha ofendido "a dignidade da vítima, fazendo referências a sua cor"

De acordo com a sentença da 2ª Vara Criminal de Brasília, o médico Heverton Octacílio de Campos Menezes praticou somente o crime de injúria contra a atendente Marina Serafim dos Reis, na bilheteria do Liberty Mall. Em abril do ano passado, ele fugiu do shopping depois de ofender a funcionária de um cinema.

O juiz descartou que o psicanalista tenha feito comentários de cunho racista à jovem, à época com 25 anos, e o absolveu do crime de injúria racial, conforme pedia o Ministério Público.

Heverton recebeu uma pena que será cumprida com medidas alternativas. Ainda cabe recurso. Segundo a decisão, não existem provas de que o psicanalista tenha ofendido “a dignidade da vítima, fazendo referências a sua cor”.

Durante o anúncio do parecer, o juiz declarou que “a ofensa não se deu em um contexto de discriminação racial, restando provado que o desentendimento entre os dois ocorreu apenas em razão da discordância sobre o momento em que deveria ter sido feito o atendimento”.

A acusação tentou culpá-lo pelo crime de injúria racial a partir das frases que o acusado teria dito no dia em que aconteceram as supostas ofensas: “Sua negra, volta para a África. Você está no lugar errado. O seu lugar não é aqui lidando com gente, mas e com animais”.


Via Pragmatismo Político/Correio Brasiliense



Câmara de Altaneira bate feio no frágil Estado Laico




A grande maioria das pessoas não segue uma religião específica. Outra parte, também não muito pequena, se diz católica não praticante, o que na prática não muda muito o cenário. Toda via, uma minoria frequenta igrejas e templos de denominações neopentecostais, cujo ensino da Bíblia é feito sem o mínimo de reflexão e, ou, sem o menor questionamento.

Um Padre leva anos até concluir o seminário e ser ordenado. Pastores de outras denominações passam um bom tempo estudando e interpretando a Bíblia. Para essas novas denominações que além de templos gigantescos possuem rede de Rádio e de TV, para ser pastor basta conhecer a Bíblia e pregá-la, ou seja, decorar e ajudar a memorizar. Mas o que isso tem a ver com política? E com o Estado Laico?

Não é fácil convencer o eleitor. O ex-presidente Lula (PT) participou de três eleições nacionais antes de se tornar Presidente da República vindo a vencer na quarta tentativa. E para tanto, mudou o discurso. Mas só mudar o discurso não foi suficiente. Assim, a forma de se representar diante do eleitorado também passou por transformações. Seu maior adversário, agora não tanto assim, o José Serra, também vem mudando a forma como se apresenta para o eleitor, mas não consegue alavancar.  Afinal, só muda o que tem para mudar. E o Serra... (deixa pra lá).

Por que então, o eleitor é tão volátil? Porque ele possui capacidade de questionar. Eleitores se questionam o tempo todo. Questionam o porquê de votar em um candidato em detrimento de outro.

Aquela minoria frequentadora de templos e crentes na Bíblia cresceu, ainda sendo minoria, é uma grande minoria capaz de eleger vereadores, deputados e senadores. Não é à toa que possuem até partido político, o Partido da República – PR, que na verdade está mais para o Partido Religioso. Temos ainda, o PSC, esse sim, de bases e discursos religiosos completamente, cujo um dos seus membros utilizou muito bem a suas bases discursivas religiosas para deflagrar contra as minorias o qual, contraditoriamente, ele, “democraticamente”, foi eleito para representa-las.

Mas, insistamos na pergunta, o que essa minoria religiosa tem a ver com a política? E de forma específica, com o já tão fragilizado estado laico? São eleitores que não questionam, assim como fazem com a Bíblia, creem no que o Pastor lhes diz. Se o pastor é o próprio candidato, votam sem questionar. Se o pastor apresenta outro candidato, fazem o mesmo. Ou seja, são uma grande minoria do eleitorado que é de fácil convencimento. Facilita até a contabilidade da corrupção. Em vez de pagar a cada cabeça, o dinheiro pode ir direto para o pastor, considerando o número de fieis, evidentemente. Quanto ao outro lado da moeda, o fato se dá da mesma forma. Os eleitores católicos creem no que o padre lhes diz e, fica tudo em casa.

Vereadores durante sessão plenária nesta terça-feira, 17 de
setembro. Foto: Júnior Carvalho
Altaneira não é um município católico. Uma maioria não é capaz de falar pela minoria. Altaneira ainda é, apesar do grande crescimento do número de protestante nos últimos anos, um município de católicos, protestantes, espíritas, ubandistas, do candomblé, budistas, ateus, agnósticos, deístas, etc. Querer empurrar goela abaixo, impor valores católicos ou protestantes a todos esses guetos é agir com tirania. Todos esses subgrupos possuem valores comuns e são esses valores que devem se respeitados e prevalecer, diga-se de passagem.

O espaço público e as leis são para todos, ou ao menos assim está escrito. Governar com valores cristãos é imprimir aos não cristãos uma cultura adversa as suas (deles, não cristãos). Um governo laico não impõe nada contrário ao que esses grupos acreditam. Permitam-nos mencionar aqui exemplos: O governo laico ao realizar o aborto não obriga que a cristã aborte, tão somente dá a opção a quem não crê na Bíblia. Se o governo laico permite o casamento civil homoafetivo, fato esse que está em debate, o cristão ou budista ou ainda o ateu não é obrigado a casar, tão somente os homossexuais terão o direito de fazê-lo sem que com isso fira os preceitos bíblicos.

Os efeitos da Bíblia devem ser restritos somente a quem nela crê, se não reproduziremos as disputas religiosas que tanto envergonharam os tempos medievais. Permitir que os que não vivem sob os ditames religiosos se comportem diferentemente da Bíblia é o primeiro passo para garantir a convivência de todos no mesmo espaço público. Da mesma forma que é assegurada ao religioso andar vestido de acordo com sua crença e com a Bíblia na mão, deve ser assegurado o direito aos descrentes em denominações religiosas de se comportarem de acordo com o que acreditam e a Lei permita. 

Vereadora Lélia de Oliveira em sessão plenária.
A blusa é mera coincidência.
Foto de arquivo
Permitam-nos agora citar mais um exemplo que recentemente ocorreu e que, não nos sentimos excluídos, mas no mínimo um estranho frente a um aglomerado de religiosos. Na abertura dos trabalhos da Audiência Pública que discutiu e colheu propostas para solucionar o problema da venda e consumo de entorpecentes no município, realizada em 09 de abril do corrente ano, a presidenta do Legislativo frisou: “Na pessoa do Pároco Alberto saúdo todos os católicos e na pessoa do representante dos evangélicos (não vou entrar no mérito desde conceito), Vinícius Freire, saúdo todos os evangélicos”.  Essa frase nos deixou intrigado até o final da Audiência. Ficamos pensando. E os que não corroboram com nenhuma desses seguimentos religiosos? E os espíritas que, talvez estivessem ali? E os que seguem o candomblé?  E os Ateus? Eles não se sentiam saudados?

Esse fato, embora tenha passado despercebido permite que se faça uma reflexão sobre a relação ainda reinante e repugnante entre religião e política-partidária em Altaneira. Permite ainda que se perceba que o quão o Estado Laico está longe de ser respeitado.  Na Câmara, se se fizer um levantamento, não é difícil perceber que dos nove parlamentares atuais, 100% seguem os preceitos do Catolicismo.  A gestão de outrora, também o era. Não é atoa que já dura um bom tempo o quadro do personagem histórico Jesus Cristo fixado no plenário da casa, ferindo duramente o Estado Laico. 

O tema em xeque se quer foi cogitado a ser discutido, nem pela sociedade, nem pelos parlamentares. Talvez seja porque não há controvérsia entre os legisladores e fiscalizadores municipal. Todos estão amparados pelos mesmos preceitos católicos, sejam praticantes ou não. Mas porque a sociedade altaneirense, tão diversificada religiosamente não atentou para esse fato? Será que a distância dela para com o legislativo explicaria? Isso contribui, mas não é só. A grande maioria dos altaneirenses ainda não está acostumada a entrar em debate sobre esses temas.

Vereadora Zuleide cala ante crime ambiental e no contraponto
surra estado laico propondo construção de estátua 

de Santa Tereza na entrada do município
Na sessão plenária dessa terça-feira, 17, o legislativo municipal deu mais um passo contra a laicidade exposta na CF/88. A Vereadora Zuleide Oliveira (PSDB) cogitou a construção de uma estátua de Santa Tereza D´Ávila na entrada do município. O fato chama-nos a atenção não somente por, de certo modo surrar o estado laico, mas também porque foi iniciado um debate nas redes sociais, no Blog de 
Altaneira e neste portal de comunicação sobre o crime ambiental que a igreja católica está cometendo para sustentar a tradição do pau da bandeira sem levar em consideração a preservação ambiental. 

Chamamos para o debate os vereadores, por se tratar de um tema importante, mas nada foi discutido. Uma palavra sequer foi levantada pelos vereadores que acima de tudo estão lá para defender e lutar pela comunidade e, para que isso ocorra, há a necessidade de debater assuntos que interferem na vida destas.  Outro ponto a ser colocado e tão grave quanto, é o fato do assunto além de não ter sido ventilado, foi proposto por uma geógrafa a construção da estátua. Mas o meio ambiente.... Nada. Os legisladores estão preferindo ir para a sessão com as mesmas armas. A oposição para criticar por criticar (quando o passado lhe condena) e a situação para se defender e se valer do passado que mutila a frágil oposição.

No canto superior direito imagem de Jesus na casa
legislativa municipal. Foto de arquivo
Apesar de Altaneira não ser um município católico, mas um território de maioria católica imprime vergonhosamente uma cultura do indesejável, um costume intolerável onde os espaços destinados a abraçar as causas de todos, acaba abraçando apenas as causas de um gueto, ou até da polarização religiosa, católicos e protestantes.

Por fim, chamamos aos que estão lendo este artigo para o debate. Afinal, a Câmara Municipal de Altaneira, espaço de domínio público, onde aparece fixado o quadro com imagens de Jesus, está ferindo brutalmente o que foi conquistado com muita luta e colocado na constituição, à laicidade.  A construção da estátua, se se concretizar também.


Deputado Chico Alencar, do PSOL, publica carta sobre cogitação de seu nome a presidência




Reproduzimos abaixo carta do Deputado Chico Alencar, com assento no legislativo federal pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL, sobre a cogitação de seu nome para representar a sigla na disputa da Presidência da República em 2014. A carta foi publicada também no Blog do jornalista Jorge Alexandre Lucas.


Vamos a ela

Deputado Chico Alencar diz que o objetivo central da
sigla é ocupar espaços no legislativo, sobretudo
na Câmara Federal.
SOBRE SER PRESIDENCIÁVEL - Chico Alencar

Camaradas:

1. Agradeço a grande honra de ter sido lembrado para esta bela, dura, desafiadora e tentadora missão. Minha gratidão vai especialmente para a APS Novos Rumos, para o Coletivo Rosa Zumbi, para o ex-Enlace e para a APS Corrente Comunista, segmentos do PSOL que levantaram essa ideia. E para os que, militantes ou não, individualmente, simpatizaram com a possibilidade. Destaco que em momento algum houve qualquer pressão indevida: apenas o bom debate político, a ‘cobrança' saudável;

2. Desde o início coloquei-me aberto a esta reflexão, e tentei fazer dela uma oportunidade de encontro ‘desarmado' e diálogo construtivo entre TODAS as correntes do nosso partido. Também pensei bastante nas capacidades e limitações que teria para cumprir tal tarefa (sei que essas decisões, em última instância, serão sempre pessoais e intransferíveis);

3. Destaquei que a candidatura majoritária nacional do PSOL tem que ser do partido inteiro (obviedade que não se realizou em 2010, absurdamente), e expressão de um programa básico nacional (que, aliás, as teses ao IV Encontro Nacional já esboçam, com alto grau de concordância entre os diversos textos, mas valorizar pontos de aproximação não tem sido o nosso forte). Só assim ela será capaz de colocar na cena pública questões cruciais para os rumos futuros do nosso país e do que lhe dá sentido: o povo que aqui habita;

4. Abri, na contramão do timing das decisões exigidas a quem dirige a máquina partidária, uma consulta sobre a oportunidade da candidatura. Ouvi os grupos que constroem e/ou se referenciam no nosso Mandato: a equipe que o faz, cotidianamente; os componentes do Conselho Político; as pessoas que nos acompanham mais de perto, chamados de ‘Amigo(a)s do Mandato'; meu entorno familiar e afetivo. Todo(a)s, vivamente interessados, contribuíram diretamente - cerca de duas centenas de cidadã(o)s! - com suas opiniões generosas e instigantes, ajudando democraticamente na minha decisão (ou aprofundando as dúvidas...). A estes também sou muito grato. Traduzindo em porcentuais, o retorno foi de 61% mais favoráveis a uma recandidatura a deputado federal, 21% animados com uma candidatura presidencial e 19% em dúvida;

5. A proposta do encontro entre correntes para construção de uma candidatura unitária não teve êxito. Ao contrário, em função da dinâmica do IV Congresso, ela até refluiu, consolidando o que considero um ‘blocamento' bipolar e um discurso, crescente nesses períodos, de crítica ácida ao caráter quase ‘destrutivo' do antagonista, caso o adversário mantenha ou venha a ter a hegemonia na Direção Partidária;

6. A posição que defendo, junto com outros valorosos companheiro(a)s, expressa na tese ‘Para o PSOL continuar necessário', está evidentemente secundarizada no debate nacional - como, de resto, o debate político sobre a conjuntura mundial e nacional. As questões ali colocadas, embora respeitadas, não repercutem muito. O que parece galvanizar é a disputa - magnificada, em vários momentos - sobre a ‘encruzilhada' do partido, que, de acordo com o ponto de vista de cada setor, ou cai no fisiologismo corrompido e no adesismo à ordem, situando-se como mera ‘esquerda do governo e/ou do PT' e aberto a alianças com a direita, ou no esquerdismo sectário, baluartista, autoproclamatório e isolacionista, como ‘um PSTU com um pouco mais de densidade eleitoral'. Já nós entendemos que - sem afrouxar no combate aos desvios, cuja gravidade os episódios recentes no RJ revelam, em tons dramáticos! - é preciso construir um espaço democrático de convivência respeitosa entre os grupos internos, sem blocamentos definitivos e perspectivas catastróficas, evitando despender tanta energia com o ‘inimigo interno' - sempre o mais fácil de atacar, por sinal (até em abomináveis agressões). Reconheço que esta visão tida como ‘conciliadora demais' é hoje, no PSOL, minoritária (talvez não entre os nossos 105.331 mil filiados nacionais, mas certamente entre os militantes que participaram dos encontros de base. Estes somaram menos de 10% deste total nas convenções de base, o que deveria nos preocupar: por que nossos debates internos, por mais animados que sejam, atraem poucos filiados e até, em alguns casos, os desestimulam?);

7. A conjuntura que se abre nos é mais favorável, como em nenhum outro período de nossa existência de oito anos. Seria uma irresponsabilidade colocar tudo a perder por procedimentos incompatíveis com nosso ideário, por nossas querelas internas e, fixados nelas, por um insuficiente debate político sobre o mundo ‘lá fora', com suas complexidades. As chamadas ‘Jornadas de Junho', ainda que marcadas, naquele momento massivo, pela rejeição à política e aos partidos, vai se decantando e acolhendo com simpatia o que pareça nova forma de se fazer política. O PSOL, em certa medida, é identificado como portador dessa possibilidade;

8. Este cenário relativamente promissor não elide - ao contrário, acentua - nossa imensa debilidade orgânica. Para além do problema das práticas apequenadas e manipuladoras, aqui e ali, temos Diretórios impedidos de receber o Fundo Partidário. Mesmo a campanha majoritária de Plínio, tão parca de recursos, ainda não teve a prestação de contas aprovada. Mais que dolo, há inexperiência, descuido (alguns consideram que essas tarefas administrativas não são ‘revolucionárias', e as relegam ao último plano) e incompetência;

9. É imperativo também se repensar as formas do dinamismo partidário, nesses tempos em que os núcleos presenciais, sempre serão importantes, perdem espaço para os grupos de debate na internet (dispensando os autofágicos). Urge capacitar o partido com instrumental teórico para melhor inserção e incidência nos conflitos da sociedade de classes do século XXI e para superar nosso dilema ‘partido de quadros X partido de massas', falso mas repetidamente proclamado;

10. Para a disputa institucional de 2014, junto com as candidaturas e o programa, insisto que é preciso definir nosso objetivo central de ocupação de espaços, em especial nos Legislativos, sobretudo na Câmara federal - minha inclinação de contribuição, inclusive para possivelmente (mas não seguramente) ampliarmos a bancada fluminense, já que não se apresentaram muitos nomes com significativa densidade eleitoral. É importante constituir frentes de luta mais relevantes nos parlamentos. Elas são instrumentos de reverberação dos movimentos sociais, propagação de nossas propostas e crescimento do partido, pequeno mas com vocação de grandeza. Claro que candidaturas majoritárias nos estados, aos governos e ao Senado, junto com a candidatura presidencial, ajudarão muito nisso, em sua tarefa realística de marcar posição e acentuar nossa identidade. Para esta peleja não faltam nomes capazes, como os já colocados dos ex-deputados federais Luciana Genro e Milton Temer, do ex-vice de Plínio, Hamilton de Assis, e do ex-candidato à prefeitura de Fortaleza, Renato Roseno. O mundo acadêmico militante, que não entrou no silêncio acrítico na Era Lula, pode ser procurado: um Vladimir Safatle ou um Ricardo Antunes agregariam também muita qualidade na campanha que se avizinha, por sintonizados e comprometidos com os movimentos vivos dos trabalhadores e da juventude.

Ao fim e ao cabo, com a certeza cerzida no provisório de toda escolha, amparo-me na sabedoria oriental milenar (que nossa racionalidade cartesiana pouco valoriza), que me chegou em uma das respostas à consulta: "não há de fato uma decisão certa a ser tomada. O certo é decidir e seguir em frente com a escolha".

Em frente!
Vamos juntos.
Chico Alencar

Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2013

Brasil sem Miséria deve incluir mais 600 mil famílias no ano que vem, diz ministra





Desde o início do Brasil sem Miséria, há dois anos, 22 milhões de pessoas saíram da extrema pobreza no país, disse a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, ao abrir hoje (16) seminário sobre o programa. A ministra lembrou que 910 mil famílias foram incluídas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e no Bolsa Família nos últimos dois anos e meio.

A meta para o ano que vem é incluir mais 600 mil famílias, informou Tereza, em balanço sobre o programa, durante o 2º Seminário Nacional sobre Pactuação Federativa no Brasil sem Miséria.
Entre os dados apresentados no encontro, a ministra destacou que 13,8 milhões de famílias recebem o Bolsa Família, cujo orçamento alcança quase R$ 24 bilhões – o equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. “Os dados mostram que o Bolsa Família não só beneficia a população pobre, mas também a beneficia a economia do Brasil. ” Segundo ela, o programa tem sido a forma de a população pobre ter acesso à renda e a outros benefícios.

Tereza Campello também ressaltou que, pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec-Brasil sem Miséria), foram feitas 700 mil matrículas em 503 tipos de cursos. No programa Microempreendedor Individual, dos quase 3 milhões de beneficiários, 642 mil estão inscritos no CadÚnico. No programa Água Para Todos, criado em 2011 para universalizar o acesso à água no Semiárido, foram construídas 370,7 mil cisternas, e meta é contemplar 750 mil famílias até o ano que vem. “A população pobre trabalha e quer se engajar no Brasil que trabalha e que cresce”, afirmou.

O ministro de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, mostrou que, para cada real investido no Bolsa Família, há retorno de R$ 1,78 para a economia. “A cada real gasto no Bolsa Família, o PIB cresce R$ 1,78 e o consumo, R$ 2,4. O Bolsa Família tem efeitos multiplicadores maiores que outros programas sociais. O programa ajudou na crise, porque faz girar a economia”, disse Neri.

Segundo ele, o programa teve impacto de 13% na redução da desigualdade social. “O Brasil reduziu a pobreza em 57,8% em oito anos, sendo que 52% desse total devem-se à redução da desigualdade e 48% ao crescimento da economia.”

No Distrito Federal (DF), há mais de 241 mil famílias inscritas no CadÚnico e 91 mil recebem o Bolsa Família. Dessas, 34 mil têm um complemento na renda de R$ 70 e recebem, no total, R$ 140. A expectativa, segundo o governador do DF, Agnelo Queiroz, é reduzir a “maior desigualdade do país”.

Via Agencia Brasil