22 de julho de 2023

Governo federal propõe que ataques a escolas se tornem crimes hediondos

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa de cerimônia de lançamento do Programa de Ação na Segurança (PAS), no Palácio do Planalto. (FOTO |Marcelo Camargo |Agência Brasil).


Como parte do Programa de Ação na Segurança (PAS), o governo federal vai encaminhar um projeto de lei (PL) ao Congresso Nacional. O anúncio da proposta foi feita em cerimônia no Palácio do Planalto nesta sexta-feira (21).

Segundo o governo, a proposta acata um pedido das famílias das quatro vítimas do ataque a uma creche em Blumenau (SC), ocorrido em abril deste ano. Em 2023, ao menos sete pessoas foram mortas em ações deste tipo.

No texto - cujo encaminhamento ao Congresso ainda deve ser formalizado - homicídios e lesões com resultado morte ocorridos em unidades escolares entram no rol de crimes hediondos, estabelecido na Lei 8.072 de 1990. A principal diferença entre crimes hediondos outros crimes é a inexistência de possibilidade de fiança e a vedação de concessão de graça, indulto ou anistia. Além disso, os prazo para progressão de regime são maiores.

Além de ingresso no rol de crimes hediondos, o texto prevê também que esse tipo de ação seja tipificada como crime qualificado - o que implica em pena maior. Com isso, a pena deverá aumentar em um terço para mortes em escolas. Caso a vítima seja pessoa com deficiência ou com doença que implique maior vulnerabilidade, a sanção pode aumentar em até 50%. No caso do autor ser ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima, a pena pode crescer em dois terços.

No caso de agressões, a ideia é que um novo tipo penal seja criado, chamado Violência em Instituições de Ensino. A proposta é que nas modalidades grave, gravíssima, lesão corporal seguida de morte ou cometido contra pessoa com deficiência, a pena deste novo crime seja aumentada em um terço.

De acordo com o Lula, o pacote da segurança pública é mais um dos esforços do governo federal para "trazer o país de volta à normalidade", uma das tônicas da campanha eleitoral em 2022.

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Com informações do Brasil de Fato.

Potengi - CE: população reclama de más condições de transportes

 

(FOTO | Reprodução | encaminhado à redação do blog).

Circula nas redes sociais um vídeo que mostra o prefeito de Potengi, Edson Veriato (PT) denunciando o descaso do transporte escolar, em um movimento na cidade, em 2020.

No vídeo, Edson começa dizendo que não podia “ficar calado” diante do descaso com o transporte escolar no Potengi.

É extremamente importante essa manifestação, pra tentar garantir pelo menos respeito, já que muito tempo essa situação vem se arrastando. Além de estar na rua, é preciso também garantir documentos que venha efetivar esse direito que é ter transporte escolar de qualidade”, afirma.

Em um segundo trecho, Edson comenta sobre o estado dos ônibus escolares. “Deparamos hoje com uma situação terrível por conta da má condição dos transportes escolares, na sua maioria com pneus carecas, portas são trancadas com cadeados por fora, tetos são segurados com cabos de vassouras.”

Segundo alguns moradores do município, o desrespeito com Potengi vem de muito tempo. “Esse prefeito aí [Edson Veriato] denunciou a falta de transporte escolar de qualidade pela gestão passada. Só que ele tá fazendo do mesmo jeito. Não somos bestas!”, afirmou uma moradora.

As crianças sendo prejudicadas por falta de transporte p levar elas para escola. Quando chega algum ônibus, é sucateados, sem o mínimo de segurança. Eu fico com o coração na mão quando minha neta entra em um ônibus escolar de Potengi pra escola. O povo não aguenta mais tanta mentira prefeito. O senhor tá fazendo do mesmo jeito da gestão passada. O senhor tá mentindo para o povo”, disse uma moradora que preferiu não se identificar.

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Texto encaminhado a redação do blog por Gabrielly, do blog do Boa.

Em tempo: a redação do blog informa que o espaço está aberto caso a administração de Potengi queira se manifestar.

21 de julho de 2023

Nzinga Mbandi, a saga e o trono da rainha resistente

 

Figura 01. Retrato de Nzinga Mbandi em um pergaminho conservado no mosteiro de Coimbra, ilustração presente na obra: BRÁSIO, Antônio. Monumenta Missionária Africana. Lisboa: A.G.U. 1952, 11vol. 

Por César Pereira, Colunista

Em 1571 o rei de Portugal Dom Sebastião determinou a organização de uma política colonizadora para as terras portuguesas nos territórios africanos conhecidos hoje como Angola. O objetivo do monarca europeu era criar uma estrutura colonial semelhante àquela que já estava em desenvolvimento no Brasil desde 1530.

20 de julho de 2023

Professora Cícera Nunes e Valéria Carvalho, do Grunec, receberão comenda Maria do Espírito Santo

 

Professora Cícera Nunes e Valéria Carvalho. (FOTO | Montagem | blog Negro Nicolau).

Por Nicolau Neto, editor

A prefeitura do Crato, na região metropolitana do cariri, promoverá no próximo dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, a solenidade de entrega da Comenda Maria do Espírito Santo.

O evento visa homenagear mulheres que sejam referência no desenvolvimento de ações de combate as desigualdades de estruturais de raça e de gênero. Este ano as homenageadas com a medalha serão a professora Drª Cícera Nunes, do Departamento de Educação da Universidade Regional do Cariri (URCA) e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER) e a professora aposentada e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras com atuação pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Valéria Carvalho. Além delas, receberá a comenda a líder religiosa Raimundo dos Santos, a Mãe Kum.

O evento ocorrerá no auditório da prefeitura a partir das 18h30 e foi divulgada nas redes sociais tanto do NEGRER quanto do GRUNEC.

Sobre Maria do Espírito Santo

A comenda leva o nome de Maria do Espírito Santo, conhecida popularmente por “Madrinha Espírito Santo”, que era mulher negra que pautou sua vida em prol da defesa e propagação das religiões de matriz africana, sobretudo da Umbanda – da qual foi líder (mãe de santo) em Crato. Ela foi benzedeira e atuou também como servidora pública deste município onde viveu por cerca de seis décadas.

Mulher negra no STF, nove nomes

Thiago Amparo é advogado. (FOTO | Reprodução | Twitter).

Escolha não é identitarismo, é ocupar o poder para reparação histórica.

Pessoas negras têm nome e sobrenome e trajetórias construídas coletivamente, por vezes longe dos tapinhas nas costas em Brasília ou das rodas de vinho em Portugal. É hora de pararmos de demandar em abstrato que Lula nomeie uma jurista —e, sobretudo, negra— ao STF; devemos dizer seus nomes. Escolher uma mulher negra progressista não é identitarismo. É política em sentido puro; é ocupar o poder para reparação histórica.

Listo aqui nove juristas, sem prejuízo de outras. Começo com três nomes de juízas negras, que já destoam da regra: estima-se que mulheres negras ocupem apenas 7% do Judiciário e tão somente 2% na segunda instância.

Minha favorita, Adriana Cruz é juíza titular no Rio de Janeiro, doutora em direito penal pela Uerj e professora na PUC-Rio —deverá ser secretária-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Outras duas juízas negras despontam como excelentes nomes: Karen Luise Souza, do TJ-RS, que ocupa o Comitê Executivo do Observatório de Direitos Humanos do Poder Judiciário no CNJ e auxilia Rosa Weber; e Flávia Martins de Carvalho, do TJ-SP, diretora de Promoção da Igualdade Racial da Associação de Magistrados do Brasil.

Tirar o foco do eixo sudestino também é fundamental. Outra favorita, Lívia Sant’Anna Vaz é promotora de Justiça no Ministério Público da Bahia, doutora em ciências jurídico-políticas em Lisboa e foi nomeada uma das 100 pessoas de descendência africana mais influentes do mundo. Já Vera Lúcia Araújo é advogada baiana com longa e respeitada trajetória, chegando a ter integrado a lista tríplice do TSE em 2022. Dentro da academia e advocacia pretas, não posso deixar de citar Thula Pires, Silvia Souza e Alessandra Benedito.

Já Joenia Wapichana se destaca como a primeira advogada indígena a fazer sustentação oral no Supremo, e sua nomeação seria uma reparação aos anos de morticínio.

O STF somente será equânime quando tivermos 11 mulheres na corte e ninguém achar isso estranho: não achavam quando eram apenas homens por 110 anos até os anos 2000.

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Texto de Thiago Amparo, originalmente na Folha de São Paulo e replicado no Geledés.

19 de julho de 2023

A história do Brasil nas Copas do Mundo de Futebol Feminino

 

Primeira Seleção Brasileira Feminina de futebol, em 1988. (FOTO  | Reprodução | CBF).


Faltam poucos dias para a 9ª edição da Copa do Mundo e a expectativa pela Seleção Brasileira aumenta diariamente. Relembre a história do Brasil no torneio.

As Copas do Mundo de Futebol Feminino começaram em 1991, no entanto, é essencial contextualizar que o futebol feminino foi proibido no Brasil de 1941 a 1979. Os primeiros torneios nacionais começaram em 1983 e o futebol feminino brasileiro ainda iniciava a sua profissionalização em meio a poucos recursos, muita resistência e estigmas ainda mais fortes.

O início da seleção (1991)

Em 1991, a Seleção Brasileira tinha como base a equipe do Radar, que durou até 1990 e que dominou grande parte dos campeonatos nacionais nos anos 80. Em torneios internacionais, a principal experiência do Brasil foi a Invitations Cup em 1988, torneio teste para a Copa do Mundo de 91. A Seleção foi bem e terminou em 3º lugar.

A Copa de 91 foi realizada na China com 12 equipes. O Brasil caiu em um difícil grupo B, junto com Estados Unidos, Suécia e Japão. No 1º jogo brasileiro na história do torneio, vitória contra o Japão por 2 x 0. Nos dois jogos seguintes o Brasil foi superado pelos futuros campeões Estados Unidos, por 5 x 0, e pela Suécia, por 2 x 0 (com gol de Pia Sundhage, atual técnica do Brasil).

Sissi e a mudança de patamar (1995-99)

Quatro anos mais tarde, o Brasil chegou à Copa com 3 nomes históricos: Sissi, Formiga e Michael Jackson. A Seleção novamente estava em um difícil grupo, com Alemanha, Japão e as suecas, que eram as anfitriãs. Na estreia, venceram a Suécia por 1 x 0, porém nos jogos seguintes a equipe foi derrotada pelo Japão por 3 x 1 e pela Alemanha, por 6 x 1. O futebol feminino brasileiro estava no início do seu desenvolvimento, mas começava a montar uma base importante para as Copas seguintes.

Em 1999, a Copa do Mundo foi sediada nos Estados Unidos. O Brasil tinha Formiga, Pretinha, Kátia Cilene e a artilheira do torneio: Sissi, que fez 7 gols e foi eleita Bola de Ouro do torneio. A Seleção estava no Grupo B, com a Alemanha, Itália e México. Na estreia, o Brasil goleou as mexicanas por 7 x 1 e, na sequência, venceu as italianas por 2 x 0. Elas passaram em 1º no grupo ao empatar com o forte time alemão em 3 x 3.

Nas quartas, as brasileiras venceram a Nigéria por 4 x 3. Chegando pela primeira vez à semifinal, a Seleção parou nos Estados Unidos, que seriam campeão, por 2 x 0. O Brasil conquistou o 3º lugar, após empatar com a Noruega em 0 x 0 e triunfar nos pênaltis. O futebol feminino brasileiro estava oficialmente em um degrau acima das Copas anteriores, algo que perdurou nos anos 2000.


Sissi após levar o Brasil ao 3º lugar em 1999. (FOTO | FIFA).

Marta e o auge da seleção (2003-11)

Após o protagonismo de Sissi, uma jovem alagoana de 17 anos assumiu a camisa 10 da Seleção em 2003: Marta. Além dela, a jovem Cristiane também estreava e tinha ao seu lado nomes como Formiga, Daniela Alves, Rosana e Katia Cilene, que foi a artilheira brasileira com 4 gols. Em mais uma Copa sediada nos Estados Unidos, o Brasil fez uma grande primeira fase: venceu a Coreia do Sul por 3 x 0, a Noruega por 4 x 1 e empatou com a França em 1 x 1. Nas quartas o Brasil foi superado pela Suécia, que seria vice-campeã, por 2 x 1. A base de uma equipe cada vez mais forte estava formada e o auge daquele time viria em breve.

O Brasil chegou à Copa de 2007 embalado pelo título Pan-Americano, onde goleou os Estados Unidos na final. Além disso, a Seleção vinha de um vice-campeonato olímpico em 2004 e tinha Marta eleita a melhor jogadora do mundo pela primeira vez. Além disso, Cristiane estava entre as melhores do mundo, completando uma forte Seleção com Formiga, Pretinha, Rosana , Daniela Alves e muitas outras.

A Seleção foi irretocável na primeira fase: fez 5 x 0 na Nova Zelândia, 4 x 0 na China e 1 x 0 na Dinamarca. Nas quartas, o Brasil venceu a Austrália por 3 x 2. Na semifinal, um dos jogos mais icônicos dessa geração: pouco após golear os Estados Unidos no Pan, o Brasil voltou a vencer as estadunidenses, na casa delas, por 4 x 0.

Na final, o Brasil infelizmente parou na Alemanha por 2 x 0. Entretanto, a mobilização nacional rumo à maior popularização e investimentos no futebol nacional ganhavam força. Marta, que se consolidou ainda mais como o maior nome do futebol, foi artilheira com 7 gols e ganhou todos os prêmios de melhor do mundo até 2010.

A geração vice-campeã do mundo manteve boa parte de sua base em 2011 e foi renovada com nomes como Thaisinha e Maurine. Na Copa da Alemanha, o Brasil fez mais uma grande primeira fase, vencendo a Austrália por 1 x 0, a Noruega por 3 x 0 e Guiné Equatorial também por 3 x 0. O Brasil era um dos favoritos e tinha boas chances de ser campeão. Porém nas quartas enfrentou o forte time dos Estados Unidos, empatando por 0 x 0 e caindo nos pênaltis.

Jogadoras brasileiras pedem mais apoio após a final em 2007. (FOTO | Reprodução).

Renovações e novos ciclos (2015-23)

Em 2015, o Brasil foi renovado com jogadoras como Gabi Zanotti, Andressinha, Tamires e Maurine, além da manutenção da geração Marta, Cristiane e Formiga. Na Copa sediada no Canadá, o Brasil venceu: a Coreia do Sul por 2 x 0, a Espanha por 1 x 0 e Costa Rica, também por 1 x 0. Nas oitavas, a Seleção parou na Austrália, com 1 x 0.

Em 2019 o futebol feminino brasileiro vivia um outro momento: cada vez mais profissionalizado e com mais espaço para os clubes midiaticamente. Este crescimento, que deve se tornar cada vez maior, tem grande influência da geração comandada por Marta, Cristiane e Formiga.

A Copa de 2019 foi a última dessa geração e, em 2023, Marta se despedirá das Copas. Em 2019, o Brasil também teve novidades como Debinha, Geyse, Bia Zaneratto e Ludmila. Na última Copa, realizada na França, o Brasil estreou com vitória de 3 x 0 sobre a Jamaica, com 3 gols de Cristiane. Na 2ª rodada, a Seleção perdeu por 3 x 2 para a Austrália e, na sequência, venceu a Itália por 1 x 0. Nas oitavas, diante das anfitriãs, o Brasil caiu apenas na prorrogação, por 2 x 1.

Em 2023 a Seleção chega renovada e terá a última Copa de Marta, a maior de todos. Debinha e Geise chegam à segunda Copa do Mundo em grande momento e uma nova geração se constrói após os avanços das últimas 3 décadas.

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Texto de Patrick Simão, do @alemdaarena e reproduzido na Mídia Ninja.

18 de julho de 2023

Constituição Federal é traduzida para língua indígena pela primeira vez na história

 

(FOTO | Ana Pessoa | Mídia Ninja).

A primeira tradução oficial da Constituição Federal para línguas indígenas será lançada na próxima quarta-feira (19). A lançamento será feito pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber.

O evento será realizado em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. A tradução, que visa tornar mais acessível o entendimento dos direitos dos povos originários e promover a democracia, foi realizada por indígenas bilíngues da região do Alto Rio Negro e Médio Tapajós, para o idioma Nheengatu, conhecido como o "tupi moderno".

Além disso, a iniciativa acontece no marco da Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032) das Nações Unidas.

[...] Ao traduzir a nossa Lei Maior ao idioma nheengatu, preservado por inúmeras comunidades distribuídas por toda a Região Amazônica, buscamos efetivar a igualdade em sentido substantivo, assegurando o acesso à informação e à justiça e permitindo que os povos indígenas conheçam os direitos, os deveres e os fundamentos éticos e políticos que dão sustentação ao nosso Estado Democrático de Direito”, afirma a ministra Rosa Weber.

O processo de tradução da Constituição Federal para o idioma Nheengatu aconteceu devido à parceria do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJ-AM) e da Escola Superior da Magistratura do Estado do Amazonas, além do apoio da Fundação Biblioteca Nacional e da Academia da Língua Nheengatu.

Rosa Weber já havia se comprometido em realizar essa iniciativa em março deste ano, em sua primeira viagem à Amazônia oficialmente como presidente do STF. Estabelecer o documento de modo acessível aos povos originários é uma forma de contribuir para a equidade social da justiça brasileira.

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Com informações Revista Fórum.

17 de julho de 2023

O STF e a classe trabalhadora: uma contradição federal

 

(FOTO | Valter Campanato | Agência Brasil).

Depois do esmagamento da frente popular, traduzido na derrubada de Dilma e na prisão do Lula, uma reação poderosa se arrastou na esteira desses acontecimentos, expressa sobretudo em uma ofensiva brutal contra os direitos da classe trabalhadora.

A “reforma” trabalhista, realizada no governo do golpista Temer, e a da previdência, levada a cabo pelo inelegível, retiraram do arcabouço legal uma série de conquistas dos(as) trabalhadores(as).

Desde a época em que essas investidas contra a nossa classe foram ganhando vulto, a crítica aos governos e ao parlamento não deixou de ser um aspecto prioritário e necessário na pauta cotidiana dos sindicatos e de entidades afins. Muitas vezes, e de modo acertado, se disse cobras e lagartos do executivo e do legislativo, uma vez que eles eram sujeitos políticos identificáveis dos ataques.

Estranha-me, no entanto, o silêncio quanto à atitude do Supremo Tribunal Federal como parte das operações que, nessa quadra política em exame, são responsáveis por uma investida excepcionalmente cruel contra as conquistas e as proteções das pessoas que constituem o chamado mundo do trabalho.

É desse estranhamento que se nutre este artigo.

O STF e o esvaziamento dos direitos da classe trabalhadora

Se é com a análise concreta que se começa a política, como escreveu Trotsky, não custa analisar como o STF tem respondido aos reclames das representações sindicais quanto à proteção dos direitos violados por governos e patrões.

Não é difícil demonstrar como, em geral, a principal instituição do judiciário brasileiro atua no sentido de consolidar a política neoliberal de retirada ostensiva dos direitos adquiridos ao longo de décadas de lutas da classe que vive da venda de sua força de trabalho.

Irei me ater a quatro exemplos que dão materialidade às inclinações do STF no sentido de, em harmonia com os demais poderes do Estado, convalidar agressões contra os direitos da classe trabalhadora.

Dito isso, um exemplo palpável pode ser observado nos questionamentos à contrarreforma trabalhista. Uma das contestações apreciadas pelo STF referia-se ao regime de trabalho de 12/36, que, a partir da mencionada contrarreforma, poderia ser objeto de acordos individuais entre as partes e não mais o resultado de negociações coletivas. Pois bem, a mais alta corte do país tirou o sindicato do meio do caminho e deixou a estrada livre para que o empregador “negocie livremente” com o empregado.

Há quem diga que o STF está dividido entre os juízes “garantistas” e os “punitivistas”. Nesse caso, ficou nítido que as únicas garantias que são asseguradas pelo Supremo, quando refere-se às relações capital e trabalho, são as que dizem respeito aos interesses dos grandes capitalistas e de seus sócios menores. Sob os protestos de vozes virtualmente abafadas, o retrocesso promovido pela “reforma” trabalhista foi sacramentada pelos juízes da principal corte de justiça do Brasil. O punitivismo uniu todos eles.

Há um segundo caso, igualmente doloso. Trata-se do tema do valor da pensão por morte, que antes da Contrarreforma da Previdência, correspondia a 100% do benefício. O que fizeram o inelegível e o Congresso Nacional? Rebaixaram esse valor a 50% sobre o valor da aposentadoria, acrescida de cotas de 10% por dependente, que, evidentemente, não poderá ultrapassar 100%. Apesar desse acréscimo, o que de fato conta é que o valor da pensão por morte, em termos objetivos, foi reduzido pela metade, e um direito adquirido se viu gravemente lesado. A quem apelar? A questão alcançou o STF, que tomou o direito adquirido e lhe aplicou o golpe final, reconhecendo a legalidade da infâmia.

Mas essa postura do Supremo Tribunal Federal não se restringe às contrarreformas. Mesmo quando trabalhadores(as) arrancam uma conquista, a principal instância do judiciário nacional não se furta a um alinhamento inequívoco com os patrões e as políticas neoliberais, conforme se estabeleceu diante das controvérsias em torno do piso da enfermagem.

Aprovado pelo parlamento, depois de uma longa jornada de luta da categoria, “O piso estava suspenso desde setembro de 2022, por decisão liminar do ministro Roberto Barroso, depois confirmada pelo restante do STF, após uma provocação do setor patronal privado”. (Jornal Extra, 14/07/2023). Agora, finalmente, o Supremo se posicionou, piorando a lei, e não simplesmente a interpretando.

Os patrões da saúde terão 60 dias para negociar, ou seja, chorar pitangas, ameaçar, coagir, e, por fim, quem sabe, puxar o piso para baixo. De fato, só a União está obrigada a cumprir, sem reservas, a lei do piso, uma vez que Municípios, Estados e unidades de saúde que atendam 60% pelo SUS devem pagar o valor aprovado no Congresso Nacional à medida que recebam repasses federais para atender a esse fim.

Contou para realização dessa operação sinistra a firme unidade do “punitivista” Roberto Barroso e do “garantista” Gilmar Mendes com o bolsonarista Nunes Marques e o antibolsonarista Alexandre de Moraes. Em suma, na hora de demolir o edifício das proteções sociais e trabalhistas, as distintas alas do STF se unificam. Foi isso que, no caso do piso da enfermagem, assegurou uma goleada de 8×2 contra os profissionais da saúde, visto que se piorou o conteúdo da lei aprovada no parlamento.

Por fim, e não menos importante. Não custa recordar que a “reforma” trabalhista constituiu também uma “reforma” sindical, em que os sindicatos foram deixados aos tubarões, praticamente sem fontes de financiamento. Há conversações do movimento sindical com o governo Lula no sentido de dotar as entidades representativas dos(as) trabalhadores(as) de fontes de financiamento minimamente estáveis, mas ainda sem um arremate.

Muito bem. Enquanto as conversações prosseguem, o tema da “taxa” assistencial está nas mãos da alta corte de justiça. Nesse momento, a votação no plenário do Supremo está 5×0 para o reconhecimento da contribuição assistencial, mas não custa lembrar que tudo estava andando relativamente bem até o ministro Alexandre de Moraes fazer um pedido de vista, interrompendo assim o julgamento, que só agora retornou. Enquanto isso, os sindicatos esperam debaixo do sol.

O que fica nítido é que as críticas a Moraes por comandar o processo que acabou na inelegibilidade do ex-presidente da extrema-direita, deveriam voltar suas baterias em outra direção. Os juízes do TSE, cuja composição engloba integrantes do STF, tornaram o antivacina inelegível porque se convenceram da incompatibilidade entre o neofascismo e o funcionamento ordinário do judiciário, incluindo aí a integridade física de seus membros. Foi uma decisão de sobrevivência (o fato de Alexandre de Moraes – junto com a família – ser hostilizado no aeroporto de Roma é apenas um indício dessa circunstância).

Esse é um lado da questão. Mas há outro, que diz respeito à atitude de solidariedade do judiciário brasileiro, encabeçado pelo Supremo, em relação às forças de mercado e ao receituário neoliberal, que, em última hipótese, reforça a retórica de que melhores condições laborais representam uma perigosa ameaça às empresas. Calar a esse respeito, certamente, é tão inaceitável quanto criminoso.

Que conclusões extrair desta leitura?

A classe trabalhadora e suas organizações não devem assistir inertes aos conflitos que se desenrolam entre as instituições do Estado. Será sempre necessária uma análise concreta de cada situação, mas essa análise reclama posições políticas. Do contrário, os movimentos sociais e a esquerda se transformarão em meros expectadores. Nessa perspectiva, era correto se posicionar contra o inominável no tema da inelegibilidade. Era preciso fazer recair a responsabilidade sobre os seus ombros, sem perdão, sem anistia.

Isso significa renunciar em fazer as denúncias contra o poder que, momentaneamente, enfrenta o ex-presidente fascista, à medida que esse poder afronta os direitos da classe trabalhadora? Seguramente, não! É necessário descobrir com exatidão o ponto principal de seus ataques contra a nossa classe. Partindo daí, é essencial e urgente enfrentar esses ataques. O primeiro lance nessa direção passa por elucidar o papel de classe desempenhado por esse poder do Estado.

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Por Fábio José de Queiroz, originalmente no Esquerda Online