28 de março de 2023

Tragédia em escola de São Paulo estaria relacionada a caso de racismo

 

Mãe de uma das professoras feridas deixa a escola após o crime – Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Após tragédia que aconteceu na Escola Estadual Thomazia Montoro (SP), um aluno relatou a repórteres que estavam no local, que a ação estaria relacionada a um caso de racismo ocorrido na semana passada, que gerou uma briga entre o autor e outro estudante.

“Ele e o menino começaram a brigar porque ele chamou o menino de preto, macaco. O menino não gostou e partiu para cima dele. Ai a Beth, que é a professora, separou. Hoje, esse menino que chamou o outro de macaco veio com uma faca e esfaqueou várias vezes”, contou o garoto em frente à escola.

A professora citada pelo aluno, é Elisabete Tenreiro, de 71 anos. Ela teve uma parada cardíaca e morreu no Hospital Universitário, da USP na manhã desta segunda-feira (27). Além dela, mais três professoras e um aluno foram atingidos e encaminhados para os hospitais das Clínicas, Bandeirantes, Universitário e São Luís. Um aluno foi socorrido em estado de choque, mas sem ferimentos.

O agressor, um aluno de 13 anos do oitavo ano na escola, foi desarmado por outras professoras, até ser apreendido por policiais e levado para o 34° DP, onde o caso foi registrado. Em entrevista a TV Globo, pais que estavam na porta da escola relataram que agressões físicas e denuncias de casos de bullying são frequentes na escola.

A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, disse em suas redes sociais que lamenta a tragédia ocorrida em São Paulo.

“Tristeza profunda pela tragédia de São Paulo que deixou uma professora morta, após ser esfaqueada por um aluno do oitavo ano. Além dela, pelo menos outras três pessoas foram feridas. Sou professora e me solidarizo muito com essa colega, com as famílias e toda comunidade escolar. Estamos disponíveis e vamos trabalhar para que as escolas sejam lugares seguros para crianças, jovens e toda a comunidade escolar”, conclui o post.

Educação como instrumento antirracista

Lavini Castro, é Educadora Antirracista Idealizadora e Coordenadora da Rede de Professores Antirracistas, e disse ao Noticia Preta sobre a importância, lei 10.639/2003, hoje alterada para a Lei 11.645/2006, que torna obrigatória a aprendizagem nas escolas, sobre o reconhecimento da pluralidade do povo brasileiro evidenciando as contribuições dos grupos raciais colocados em segundo plano ao inserir a valorização das histórias e culturas afro-brasileiras e indígenas.

Ela destaca que a aplicação da lei ajuda é uma forma de reconhecer a importância dos grupos sistematicamente excluídos e que tais leis tratam de estimular a produção de conhecimentos, gerar a valorização da cultura negra e indígena, a fim de desenvolver a noção de pertencimento étnico-racial, visando a construção de uma nação democrática, onde todos possam ter seus direitos garantidos e sua identidade valorizada.

“Na prática, busca enriquecer o currículo escolar a fim de possibilitar o reconhecimento da positivação da imagem negra através de sua história e cultura, promovendo assim condições de empoderamento e ampliação da participação de tais grupos em diferentes espaços sociais”, destaca.

Apesar da obrigatoriedade da lei, Lavini conta que a mesma ainda não vigora em boa parte das escolas do país, conforme pesquisas da área.

“Tal fato se deve a um conjunto de fatores, tais como a carência de disciplinas nas universidade para a formação de professores habilitados a discutir a temática racial e das histórias e culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas”. 

Ela também destaca que os princípios da lei devam ser aplicados pelos professores pertencentes a esse grupo racial para alunos desse mesmo grupo, muitas vezes a desculpa é “mas não temos alunos negros ou indígenas então não precisamos aplicar tal lei”, muito embora seja um problema da sociedade, mas não é visto assim.
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Com informações do Notícia Preta.

27 de março de 2023

Morta em ataque, professora tentou separar briga após aluno ser chamado de ‘macaco’ em escola

 

Elisabete Tenreiro, 71. Professora morreu em ataque na E.E. Thomazia Montoro, na Vila Sônia. — Foto: Arquivo Pessoal.


Elisabete Tenreiro, de 71 anos, professora da Escola Estadual Thomázia Montoro, morreu nesta segunda-feira (27) após ser esfaqueada por um aluno dentro da sala de aula. Outras três educadoras e um aluno ficaram feridos. Eles não correm risco de vida, de acordo com a secretaria de de educação de São Paulo.

De acordo com o relato de um dos alunos que se escondeu para escapar do ataque, há alguns dias, o agressor xingou outro aluno de “macaco”, o que ocasionou uma briga.

Ainda de acordo com o estudante, a professora que foi atacada pelo aluno foi a responsável por ter apartado a confusão e, após isso, aluno jurou vingança. A Polícia Civil apura essa versão.

Durante coletiva de imprensa, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, disse que a diretora confirmou a versão do aluno e que conversou com o estudante agredido na sexta e que conversaria com o agressor nesta segunda.

Ainda de acordo com o relato de Gabriel, o aluno xingado de “macaco” não estava na escola nesta segunda-feira, somente a professora que foi atacada com golpes de faca.

Foi assim: chamou o menino de preto e macaco. O outro menino (vítima de racismo) não gostou e partiu para cima dele. A professora “‘Beth’ separou. Aí hoje esse menino que chamou o outro de macaco veio com com uma faca e esfaqueou várias vezes a professora aqui e aqui. Ele já falou que iria fazer isso, mas ninguém acreditava. Ele estava atrás de mim tentando me matar. Na hora, eu corri e me escondi ali atrás e fiquei cerca de uns 40 ou 60 minutos esperando a polícia chegar”, contou Gabriel, aluno que estuda na mesma sala do autor adolescente, autor das agressões.

Violência dentro das escolas

Em setembro de 2019, um estudante de 14 anos esfaqueou um professor no Centro Educacional Unificado (CEU), em Aricanduva, zona leste de São Paulo.

Também em 2019, no dia 13 de março, dois ex-alunos invadiram e dispararam em direção a um grupo de alunos. A coordenadora pedagógica Marilena Ferreira Umezu foi uma das vítimas.

Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) contabilizou 23 registros de ataques com violência extrema em escolas no Brasil nos últimos 20 anos. Entre 2002 e 2023, 24 estudantes morreram, além de quatro professores e dois profissionais de educação, como a professora da escola estadual de São Paulo de 71 anos morta a facadas nesta segunda-feira (27) por um aluno.

O mapeamento ainda está em andamento e os dados são inéditos, obtidos em primeira mão pelo Estúdio i, da Globonews.

Para a pesquisadora Telma Vinha, da Faculdade de Educação e Coordenadora do Grupo “Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública” do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, os ataques podem ser evitados se houve um trabalho que acompanhe alunos e o comportamento deles não só na escola, mas também no seu dia a dia.


Ataques (2002 – 2023):


Escolas estaduais: 12

Escolas municipais: 7

Escolas particulares: 4

Vítimas fatais (2002 – 2023):


Estudantes: 24

Professores: 4

Profissionais de educação: 2

Motivação:


Vingança, raiva

Usuários de cultura extremista

Fonte: Instituto de Estudos Avançados da Unicamp.

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Com informações do G1 e Mídia Nígia.

26 de março de 2023

Livro relata últimos seis anos como período mais cruel pós-ditadura para povos indígenas

 

(FOTO/ Alan Santos/ PR).

O Instituto Socioambiental (ISA) lançou na última semana o livro Povos Indígenas no Brasil 2017-2022. A publicação debruça sobre “o período mais cruel pós-ditadura para indígenas no Brasil”, de acordo com o instituto. São relatos e dados sobre o contexto dos povos originários no país no período após o golpe parlamentar contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016. Desde então, o cenário se agravou com a política de extrema direita do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A 13ª edição da publicação da ISA reúne mais de 100 artigos sobre o tema. Além dos ataques diretos aos povos originários por, entre outros, garimpeiros apoiados pelo ex-presidente, pesou no período o desmatamento recorde na Floresta Amazônica. “A natureza está falando há muito tempo. E nós, povos indígenas, também estamos falando há muito tempo. Destruir a floresta leva às consequências que estamos vendo hoje”, disse a liderança Txai Suruí, durante lançamento, na segunda-feira (21), em São Paulo.

Logo no início do livro, a jornalista Tainá Aragão e a antropóloga Fany Ricardo descrevem o cenário. “Ao longo dos seis últimos anos, quatro deles governados por Bolsonaro e dois sobrepostos a uma crise pandêmica, os povos indígenas resistiram sistematicamente ao método genocida aplicado por um governo anti-indígena. Ou seja, o aparelho do Estado foi utilizado contra os territórios e os corpos originários em nome de uma ordem e um progresso assassinos”.

O trabalho está disponível para download gratuito no site do acervo do ISA.

Protagonismo e resistência de povos indígenas

A obra dá voz a lideranças indígenas de diferentes povos originários do Brasil. “Os anos que passaram foram muito desafiadores para cada um de nós, principalmente para o Alto do Rio Negro”, diz Francy Baniwa. “Para meu povo Baniwa, território significa um lugar sagrado, porque o povo Baniwa se originou de um lugar sagrado chamado ripana, que é o umbido do mundo”, define sobre a ligação dessas culturas com a floresta.

O desrespeito a essas populações está intrínseco à devastação da floresta. “Terra é atemporal, espiritual, cultural e tradicional. A terra é tradicional dos povos indígenas, a gente surgiu da terra e a gente está na terra, assim como a terra está para nós. Há esse processo de cuidado com a terra, de defesa pela terra. A terra é nossa mãe. A gente não bate na nossa mãe. Então a gente luta defendendo essa nossa mãe”, resume João Victor Pankararu.

Adeus, Bruno

A publicação também faz homenagem aos mortos, indígenas e ativistas desses povos no Brasil, em defesa da floresta. Entre eles, o indigenista Bruno Pereira, assassinado em junho de 2022 em razão de seu trabalho de preservação dos povos e do território. Ele morreu ao lago do amigo, o jornalista inglês Dom Phillips, do The Guardian. Agora, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta preservar seu legado.

Enterramos Bruno, nosso irmão mais velho. Hoje, a terra onde ele nasceu o recebe, seu corpo reencontra o barro, as raízes das plantas, a água e o calor do solo. Seu corpo carrega o perfume salgado do mar e o aroma denso da mata que ele defendeu até que os destruidores da floresta o mataram de forma traiçoeira. Nossos olhos misturam lágrimas de tristeza profunda e de revolta intensa”, afirma texto do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI).

Bruno era grande e forte de corpo e de alma, sua voz era firme para estar junto na defesa da terra e suave para encantar-se com a beleza dos povos da floresta. Era incapaz de permanecer em silêncio quando a avidez e a violência do Estado e dos predadores da mata arrancavam a vida das Terras Indígenas. Ao mesmo tempo, ouvia calado a voz dos mais velhos nas aldeias, e aprendia deles outras maneiras de resistir no mundo”, completa.

Esperança

Pontuadas as tragédias ambientais do governo Bolsonaro, a publicação destaca, em contrapartida, a esperança em dias melhores. Em especial, pela participação mais ativa de povos indígenas na política do Brasil. Desse modo, um dos exemplos mais marcantes é a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

Sonia Guajajara, que já presidiu a Apib, tomou posse como ministra dos Povos Indígenas. A Funai agora integra o novo ministério e passa a ser chefiada por uma mulher indígena, a ex-deputada federal Joenia Wapichana. O Ministério da Saúde também ganha representação indígena pela primeira vez. A Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) agora é dirigida pelo advogado Weibe Tapeba. A participação cada vez mais marcante das mulheres indígenas na luta pelos seus direitos e na construção de um Brasil mais inclusivo é tema de destaque desta edição”, destaca o ISA.

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Com informações da RBA.

25 de março de 2023

“O amanhã não está à venda”, livro de Ailton Krenak, está disponível para download

 

Ailton Krenak em entrevista ao projeto Produção Cultural no Brasil. Foto tirada em 24/06/2010 pelo Garapa - Coletivo Multimídia.


A Amazon Brasil disponibilizou para download gratuito o livro “O amanhã não está à venda”, do líder indígena, escritor e jornalista, Ailton Krenak (foto). A obra, publicada pela editora Companhia das Letras, foi elaborada em 2020, a partir de 3 entrevistas concedidas por Krenak aos jornais Estado de Minas, O Globo e Expresso, de Lisboa.

O autor concedeu as entrevistas após ter retornado ao território do povo Krenak, no vale do Rio Doce, para o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus. Nas breves nove páginas que compõem a narrativa principal do livro, Krenak destaca elementos da filosofia de seu povo que contribuem para a interpretação e enfrentamento dos desafios que assolam o Brasil durante a pandemia do novo coronavírus.

Segundo Krenak, os povos indígenas e outras populações minorizadas, no Brasil e no mundo, têm enfrentado o isolamento social há bastante tempo. O autor sugere que vale a lembrança permanente de que os seres humanos são natureza e que simplesmente esperar a volta da “normalidade” da época pré-pandemia, sem exercer uma reflexão atenta dos recados da natureza à humanidade, seria uma forma de colocar o amanhã à venda.

Em reflexões críticas, que localizam as responsabilidades de líderes políticos e de empregadores que menosprezaram a letalidade do vírus em preferência aos lucros, Krenak afirma que a natureza nos convida a silenciar. Para o autor, perceber que a natureza seguirá seu curso independente dos seres humanos, mas que o contrário não se confirma, é uma das chaves para repensarmos o presente e darmos início à construção de novos amanhãs, a começar hoje.

Para ter acesso à obra e realizar o download gratuitamente, basta possuir uma conta Kindle e clicar aqui, para o acessar o livro. Boa leitura!

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Com informações do Café História.

24 de março de 2023

Precisamos enegrecer os espaços de poder

 

(FOTO | Nelson Junior/STF).

Se olharmos as instituições do executivo, legislativo e judiciário no Brasil, nós vamos ver, sem muito esforço, que os cargos de poder destas instituições tem como retrato, quase que na sua totalidade, um homem branco, de meia idade, de família com tradição ou dinheiro, talvez as duas coisas. Chega a ser escandaloso, num país com 56% de população negra, a completa ausência de negras e negros nos cargos de poder das instituições brasileiras.

A luta do movimento negro, os avanços das discussões, das conquistas, das pautas caras a população negra ainda não se refletiram numa maior diversidade na composição destas instituições.

A população negra precisa que as instituições brasileiras tenham um mínimo de letramento racial, sensibilidade e empatia para que a leitura das suas necessidades sejam feitas com cuidado. Para que isso aconteça, precisamos enegrecer estas instituições. A diversidade racial coloca olhares de sujeitos de formações diferenciadas e isto enriquece nossa realidade.

Em breve, o STF passará por uma renovação [devido à aposentadoria do ministro Ricardo Lewandowski] e é 8*agora a hora. Nós podemos ter uma mulher negra, trazendo novos elementos sociais para a suprema corte, o que daria provas de que estamos caminhando para novos tempos de verdade.

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Texto de Regina Lúcia dos Santos e Milton Barbosa, coordenadora estadual do MNU-SP e um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU, respectivamente. Publicado originalmente no Alma Preta.

23 de março de 2023

Seduc lança cartilha de orientações visando ao fortalecimento dos grêmios estudantis

Grêmio Estudantil da EEMTI Menezes Pimentel, de Potengi -CE. (FOTO | Prof. Nicolau Neto).

A Secretaria da Educação (Seduc) disponibiliza a cartilha “Grêmio Estudantil: protagonismo e cidadania na escola”, com o objetivo de orientar os alunos da rede pública estadual de ensino acerca do funcionamento das entidades representativas de estudantes junto à gestão das escolas. O lançamento da publicação ocorre no período que antecede as eleições dos grêmios, que devem se realizar entre os dias 10 e 24 de abril próximo.

O documento servirá para nortear o procedimento dos jovens com relação a aspectos como legislação, organização de pleitos, plano de ação e material para inspirar novas iniciativas. Atualmente, a rede pública estadual do Ceará tem 522 grêmios estudantis ativos.

Acesse a cartilha

A Seduc, ao longo dos anos, promove ações de fortalecimento das agremiações escolares, procurando firmar parcerias com instituições que possam contribuir para o processo. Um dos parceiros é o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE), que por meio de um Termo de Cooperação desenvolve o Projeto Eleitor do Futuro. A medida promove palestras e seminários nas unidades de ensino, como também cede urnas eletrônicas, desde 2018, para o processo eleitoral dos grêmios. Em 2023, 87 escolas da rede farão uso das urnas eletrônicas no processo eleitoral, após terem aderido à proposta.

Atribuições

O grêmio estudantil é uma entidade autônoma, criada e dirigida por estudantes de uma mesma escola, que exercem papel importante na implementação da gestão escolar democrática. É da competência do grêmio construir espaços de debate, contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem e zelar pela tomada de decisões coletivas, garantindo o exercício da cidadania.

Como representação dos estudantes dentro e fora da escola, o grêmio tem o papel de representar o corpo discente; defender os interesses individuais e coletivos dos alunos; incentivar a cultura literária, artística e desportiva; promover cooperação entre estudantes, gestão e comunidade escolar; entre outras funções.

A eleição do grêmio estudantil deve ser realizada por meio de voto direto e secreto do corpo discente. Quando a escola não tiver grêmio instituído, deve-se convocar assembleia geral para aprovar a fundação da entidade representativa.

As chapas candidatas poderão divulgar suas propostas durante o período de campanha previsto no edital; participar do debate expondo suas ideias para toda a comunidade discente; tornar pública a campanha nas redes sociais, em cartazes e grupos de Whatsapp.

Visando à consolidação das ações dos grêmios na rede, mediante a proposição de reflexões e o oferecimento de insumos, a Seduc realiza duas grandes ações anuais: os Fóruns Regionais e o Fórum Estadual dos Grêmios Estudantil. Este último contou com 2.500 participantes em 2022.

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Com informações da Seduc Ce.

22 de março de 2023

Educação antirracista é tema da edição de 2023 do Escola Espaço de Reflexão

 

Professor Nicolau Neto durante "Colóquio 9 - Cosmopercepção dos Povos Originários", nesta quarta, 22 pelo Google Meet.

A Secretaria da Educação (Seduc) deu início, nesta terça-feira (21), a mais uma edição do “Escola Espaço de Reflexão”, iniciativa criada em 2017 com o objetivo de mobilizar as unidades de ensino da rede estadual em torno do debate sobre a formação crítica e reflexiva dos estudantes. Nesta ocasião, o tema escolhido foi “o letramento racial e os desafios para uma escola antirracista”. O evento está sendo realizado de maneira virtual, por meio do canal no Youtube da Coordenadoria Estadual de Formação Docente e Educação a Distância (Coded/CED), e segue até esta quarta-feira (22).

A webinar de abertura contou com a participação da secretária da Educação, Eliana Estrela; da procuradora de Justiça Elizabeth Almeida, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Educação do Ministério Público do Estado (Caoeduc/MPCE); e da coordenadora executiva do Fórum Permanente de Educação e Diversidade Étnico-racial do Estado do Ceará, Glória Bernardino.

Eliana Estrela aponta que o Seminário é uma oportunidade para refletir sobre o processo de ensino e aprendizagem, levando em conta a realidade vivenciada nas unidades de ensino. A partir disso, segundo a gestora, pode-se criar estratégias com o intuito de fazer da escola uma instituição mais equânime e plural.

Temos desafios e sabemos que precisamos avançar. Seguimos na defesa de uma educação de qualidade e, por isso, criamos a Secretaria Executiva da Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil. Queremos fortalecer a pauta da diversidade e do respeito mútuo. Já tínhamos uma caminhada nesta direção, com formações de professores, compartilhamento de boas práticas nas escolas e disponibilização de material didático. Mas, buscamos meios para estar mais próximos das temáticas que precisam de um olhar sensível”, enfatiza a secretária.

Consciência de todos

Elizabeth Almeida considera o seminário como de grande relevância, por propiciar debates sobre temas essenciais para o desenvolvimento da educação, reconhecendo o ambiente escolar como local de promoção da cidadania.

O momento de hoje reflete os esforços para a realização de uma educação antirracista e de uma sociedade que consiga, efetivamente, promover o bem de todos, conforme previsto na nossa constituição federal. A luta pela superação do racismo é tarefa de todos e de qualquer educador, independentemente do seu pertencimento étnico-racial, crença religiosa ou posição política”, ressalta a procuradora.

Glória Bernardino defende a necessidade de que o currículo se aproxime da realidade dos estudantes. “Queremos construir uma educação que leve o estudante em conta como ele realmente é. A educação do Ceará é feita por negros, brancos, surdos, cegos, autistas, entre muitos outros. E todos nós queremos ter o prazer de nos ver na escola, de forma inclusiva, cultivando valores. É possível educar para a prática da liberdade. O racismo afeta a cada um de nós. A cor da pele, muitas vezes, ainda determina o nosso destino nesse país. Temos que acabar com esse processo. Racismo é opressão”, aponta.

Após a abertura, foi apresentada a conferência “20 anos da Lei 10.639: por uma educação antirracista e equânime”, ministrada pela pesquisadora Zuleide Fernandes, membro do Fórum Permanente de Educação das Relações Étnico-raciais do Ceará, que atua na área de educação, gênero, negritude e violência. O debate também contou com a exposição da professora Lorena Francisco de Souza, coordenadora do Núcleo de Estudos Africanos e Afrodiaspóricos na Universidade Estadual de Goiás (UEG). O diálogo foi mediado pelo secretário executivo da Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil da Seduc, Helder Nogueira.

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Com informações da Seduc Ce.

Beata Maria de Araújo ganha estátua em Juazeiro, reflexo da luta popular por reconhecimento

 

Colocar essa estátua num dos principais locais da cidade de Juazeiro do Norte é um importante passo na reconstrução de nossa memória coletiva. - Foto: Lívio Pereira.


Essa semana fui a Juazeiro do Norte para uma reunião de trabalho e ao passar pela praça Padre Cícero me deparo com três novas estátuas que compõe a paisagem sociocultural e geopolítica da cidade – Beata Maria de Araújo, Monsenhor Murilo e Padre Cícero. Não é que eu não soubesse delas, já havia visto nas redes de uma amiga e tinha lido algo a respeito no portal da prefeitura. Mas o encontro, a experiência estética de estar com as estátuas é única.

Primeiro elas fazem parte dessa linha de estátuas que estão no chão, logo podemos chegar perto, contorná-las, tocá-las, tomar várias perspectivas de algo que está ao nosso alcance. Diferente daquelas que ficam em cima de grandes torres de concreto, criando um distanciamento entre nós reles mortais e os imortalizados em bronze ou outro material em seus pedestais de poder, mesmo depois de mortos e transformados em terra.

Até onde sei, vale deixar aqui explicitado, essa é a primeira estátua em homenagem a Beata Maria de Araújo, que é a personagem principal do milagre em Juazeiro. Fora o Museu de Cera na Colina do Horto, claro. Até imagens em gesso, material clássico na produção santeira da cidade, são bem raras. Não gente, não foi Cícero quem fez o milagre, foi Maria, ele apenas estava no momento. Claro, para quem acredita que houve milagre. Não venho aqui defender fé nenhuma, mas tratar do que representa essa imagem ser colocada na principal praça da cidade, onde toda romeira e todo romeiro ou mesmo turistas não ligados a religião passam, assim como a população em geral.

Para mais elementos sobre a parte religiosa existem várias biografias do padre Cícero que tratam da história dele, do milagre e mesmo sobre Juazeiro, que sempre vem como cenário para Cícero e nunca como protagonista, mas sugiro fortemente a leitura do livro da historiadora Dia Nobre – O Teatro de Deus: as beatas do Padre Cícero e o espaço sagrado de Juazeiro, que foi um dos livros lançados no centenário da cidade.

Segundo, historicamente as estátuas colocadas em praças e outros espaços públicos, foram para homenagear os protagonistas da narrativa oficial, então vemos imperadores, marechais, duques, bispos, presidentes, militares… Logo, homens brancos cis e com poder econômico, que são os sujeitos políticos que dominam a história oficial, seja protagonizando seus marcos seja escrevendo sobre eles. Mulheres e pessoas negras, principalmente mulheres negras, são personagens muito raros nessa construção simbólica da memória em espaços públicos, assim como pessoas LGBTQIAPN+, sobretudo pessoas trans. Não esqueçam, as estátuas representam símbolos nacionais, logo, pessoas negras, mulheres, dissidentes de gênero e pobres não podem ser protagonistas de uma narrativa que segue sendo supremacista branca, cisheteropatriarcal e colonial capitalista.

Um elemento para se pensar sobre essas figuras é que a Beata uma mulher negra cis pobre analfabeta e leiga (pessoa religiosa que não é padre) não foi colocada sozinha ou com outras beatas da época, mas ladeada por dois homens brancos cis padres letrados e com posses. Por que ela não merece uma estátua em sua homenagem em que ela seja a protagonista de fato? Ao colocar o monsenhor Murilo e Cícero ao lado, este que além de uma estátua imensa no Horto tem estátuas em materiais diversos espalhados por toda cidade, inclusive tem outra bem antiga em bronze na mesma praça; reduz-se sua importância. Mas reitero que foi um marco importante para a cidade.

A Igreja Católica durante muito tempo agiu para o silenciamento do suposto milagre, mas ao não conseguir silenciar a história optou por embranquecê-la e institucionalizá-la ao transferir o protagonismo para Cícero. Na época, a Igreja censurou trechos de músicas do cancioneiro católico popular que faziam referência a Beata Maria de Araújo, recolheu escapulários e outros artigos religiosos que tinham sua foto, proibiu confecção de imagens. Se alguém dúvida basta ler a forma como os enviados de Roma para analisar o caso se referiam a Beata, está aí na rede para quem quiser ver. Eu prefiro não reproduzir nenhum trecho aqui, pois as palavras selecionadas por eles é de uma violência absurda. Vale lembrar ainda que os restos mortais de Maria de Araújo sumiram do local onde ela foi enterrada, o que é no mínimo estranho, e dizer que uma das formas de definir se uma pessoa é santa ou não para Igreja envolve a análise de seus restos mortais, então fica a pergunta – quem sumiu com os restos mortais da Beata Maria de Araújo?

Colocar essa estátua num dos principais locais da cidade de Juazeiro do Norte é um importante passo na reconstrução de nossa memória coletiva, na forma como entendemos que os fatos ocorreram, mas para isso cabe a nós cidadãos juazeirenses disputar a narrativa, pois a estátua por si só não afetará a forma como as pessoas leem a história. Precisamos nos apropriar do que foi que aconteceu de fato, entender os interesses por trás e assumir uma posição.

O Movimento pela Reabilitação da Memória da Beata Maria de Araújo propôs junto a Câmara Municipal uma Lei que torna obrigatório no âmbito do município a presença da foto da Beata Maria de Araújo, em moldura e dimensões idênticas as fotografias já existentes do Padre Cícero, projeto aprovado e sancionado em 2021. Outras propostas do Movimento são a escavação do Cemitério do Socorro no intuito de descobrir onde estão os restos mortais de Maria e a construção do Memorial Maria de Araújo.

Por fim, dizer que Ranilson Viana, escultor da obra, acertou na construção da imagem de Maria de Araújo, pois não embranqueceu ela, pelo contrário, me parece muito bem inspirado em como acreditamos que Maria se parecia. Digo como acreditamos que ela era, pois temos acesso a pouquíssimos registros dela. Se vocês jogarem em qualquer buscador de imagens na internet para testar verão o que estou falando.

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Artigo de Lívio Pereira, originalmente no Brasil de Fato CE.