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Cerimonialista da Consciência Negra 2022 da EEMTI Menezes Pimentel. (FOTO/ Nicolau Neto). |
Por Nicolau Neto, editor
No último
dia 25 de novembro a Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Menezes Pimentel,
do município de Potengi, no cariri cearense, realizou sua II Mostra da Cultura
Africana, Afro-brasileira e dos Povos Originários durante a pandemia do
Coronavirus e a I de forma presencial neste contexto pandêmico. O evento deste
ano referente ao Dia Nacional de Consciência Negra teve como tema ano “Nossos passos vêm de longe: as lutas do
passado devem ser sementes para as batalhas do presente”.
Composto
por muitas apresentações, o evento também teve muitas informações que tinham
como finalidade trazer para os/as presentes o histórico de resistência e de
luta da população negra durante o processo da escravização, do racismo estrutural,
mas também o grande número de negros e negras e de povos originários que estão produzindo
e escrevendo livros, sendo portanto, referência de intelectualidade. O objetivo era, portanto, demonstrar esses grupos como produtores de conhecimentos e de saberes e que ficou
nítido durante o cerimonial apresentado pelas estudantes do segundo ano Luiza
Tomaz, Luiziany Fidelis, Júlia Guedes e Luiza Severo.
Confira abaixo o cerimonial na íntegra:
Programação
do Projeto “Nossos Passos Vêm de Longe”
Ensino
da História e Culturas Afro-brasileiras e Indígenas
Tema:
As lutas do passado devem ser sementes para as batalhas do presente
Apresentação – Luiza
Tomaz, Luiziany Fidelis, Júlia Guedes e Luiza Severo
A
História do Brasil se confunde com a história do processo de escravização da
população negra e indígena. Foram séculos de violência física, mental e de
extermínio que teve como consequência um racismo estrutural. Governantes
brasileiros, de imperadores a presidentes, foram responsáveis pela promoção e
perpetuação da desigualdade racial, com leis que dificultavam o acesso de
negros, negras e povos nativos (indígenas) a direitos fundamentais como a terra
e a educação, além de os criminalizarem também por legislação. A Lei de Terras
de 1850, texto que reconhecia como propriedade apenas as terras adquiridas
através da compra e a Lei da Vadiagem de 1942, que criminalizava e punia
aqueles sem trabalho e impedidos de frequentarem as escolas (leia-se negros), são exemplos disso. (Luiza Tomaz).
Perfeitamente,
Luiza. Mas apesar desse extermínio, a população negra existe e resiste. Fora do
continente africano, o Brasil é o país mais negro do mundo. Mais da metade da
população brasileira é negra (56,10%). No Estado do Ceará, por exemplo, esse
número sobe para a casa dos 72,5%, conforme dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas (IBGE). No entanto, mesmo sendo a maioria, negros e
negras são minorias nos espaços de poder. O racismo é visto e sentido
institucionalmente. O racismo é estrutural como diz o professor e advogado
Silvio Almeida. (Luiziany Fidelis)
O
Silvio Almeida, Luiziany, citado por ti, também é filósofo, autor de vários
livros, presidente do Instituto Luiz Gama e um dos grandes intelectuais negros
do Brasil. Mas continuemos com os dados. De acordo com o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA), jovens de pele negra possuem quatro vezes mais
chances de morrer do que um branco. As mulheres negras ocupando as mesmas
funções de brancos e brancas ainda recebem os menores salários. E é esse mesmo
IPEA que relata que a chance de um negro ser alfabetizado é cinco vezes menor
do que um branco. (Luiza Severo).
Que
dados estarrecedores heim Luiza Severo. È por essas e outras que Kabengele
Munanga, professor brasileiro-congolês e doutor em antropologia diz que “nosso
racismo é um crime perfeito”, pois apesar de ser escancarado é muito difícil
eliminá-lo. Tanto que no nível superior a realidade é praticamente a mesma da
apresentada por você. Somente uma a cada quatro pessoas formadas é negra. Sem
contar os inúmeros casos de discriminação e racismo que crianças e jovens de
pele negra sofrem todos os dias nas salas de aulas. Muitos inclusive abandonam
as escolas por não serem capazes de superar esse câncer que assola o país desde
invasão dos portugueses. Nos livros didáticos, negros, negras e povos nativos
não se reconhecem. Não conseguem se perceber nele porque nosso currículo ainda
é pautado pelo viés europeu. (Júlio
Guedes).
Triste
realidade, Júlia. É dentro desse contexto que necessitamos construir uma
educação voltada para a diversidade, para a pluralidade e que esteja
direcionada a combater cotidianamente o racismo. (Luiza Tomaz).
Exatamente,
Tomaz. A nossa educação precisa ser antirracista e um dos caminhos para isso é
o debate, a reflexão e promoção de ações que perceba negros, negras e povos
nativos não só como contribuidores na formação do país, mas principalmente como
produtores de conhecimentos e de saberes. (Luiziany
Fidelis).
Sintam-se
todas e todos acolhidos nesse evento referente ao Dia Nacional de Consciência
Negra da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Menezes Pimentel que tem como
tema este ano “Nossos Passos Vêm de Longe: As lutas do passado devem ser sementes
para as batalhas do presente”. (Luiza Severo).
Perfeito,
Luiza Severo. E para abrir nosso evento convidamos as representações da direção e coordenação da Escola Menezes Pimentel.
(Júlia Guedes).
Ótimo,
ótimo. O que fundamenta nossa discussão nesta noite? Para falar um pouquinho
sobre isso, convidamos a professora Cecélia.
(Luiza Tomaz).
Gente,
vamos pausar um pouquinho dados e acompanhemos a mística “A voz da Resistência”
protagonizada por estudantes dos primeiros, segundos e terceiros anos. A
orientação foi da professora Cecélia e os dados para a realização desta
apresentação foram retirados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do IBGE
e Organização Mundial da Saúde. Vamos lá. (Luiziany
Fidelis).
Muitas
mãos e mentes contribuíram para que eventos como esses tenham vida. Convidamos
com entusiasmos as estudantes Keury Lourenço, nossa parceira de apresentação
Luiza Severo e o estudante Luiz Gustavo para apresentarem o promunciamento de
Abdias do Nascimento em Homenagem a Zumbi dos Palmares durante sessão do senado
em 1998. Nascimento foi um dos intelectuais brasileiros referência na luta
antirracista. A orientação foi do professor Nicolau Neto. Vamos lá, gente? (Julia
Guedes).
Que
discurso, heim? Vamos acompanhar mais arte? Chamamos agora os estudantes Pablo
e Gabriela com a mística “Stand UP” que foi orientado pelas professoras Adeiane
e Dárlin. (Luiza Tomaz)
Que
lindo. A escrita é uma das nossas armas de denúncia e os poemas uma das balas
que dispomos. Por isso chamamos estudantes da Eletiva “Vivências Poéticas” sob
orientação da professora Kinha para apresentarem o coral “Consciência Negra”. (Luiziany Fidelis).
Que
profundo não é? Então, continuemos nesse ritmo e vamos acompanhar estudantes
dos primeiros anos A e C para a peça sob orientação da professora Edilene
intitulada “Negro não Nego”. (Luiza
Severo).
A
representatividade é muito importante e o autoreconhecimento também. Por isso,
recebamos com entusiasmos as estudantes Maria Luiza Rodrigues e Maria Luiza da
Silva falando sobre isso. Sobre identidade que teve a orientação de Cecélia. (Júlia Guedes).
Que
riqueza de detalhes. Para ampliar essa discussão, o professor Sobrinho argumenta
que nada mais importante do que quem está na luta falar. Expor suas vivências. E nesse campo, um dos temas que mais
chama a atenção é a intolerância religiosa contra religiões de matriz africana
e convidou a estudante Maria Luiza Rodrigues para falar sobre sua realidade.
Vamos ouvir? (Luiza Tomaz).
Quanta
história, quanta cultura ausente dos livros didáticos, heim? Para enriquecer
ainda mais essa noite, chamamos a estudante Júlia Vitória em parceria com
estudante do 2 F da noite para apresentarem sob a orientação de Adeiane e
Darlin a música “Voz da Resistência”. (Luiziany
Fidelis).
Que
potente. Chamamos o Pedro Wanderson, nosso parceiro forte, para cantar a música
“Ideologia”. (Luiza Severo).
A
professora Sandra Arruda tem uma eletiva de Cordel e seus estudantes irão
apresentar um sobre Baquaqua. Vamos ouvir. (Júlia Guedes).
Voltemos
ao ritmo dançante. Resistência aqui também. Sob a orientação das professoras
Dárlin e Adeiane, os estudante do 2 F irão apresentar uma dança. (Luiza Tomaz).
Voltemos
a linguagem poética. Chamamos com alegria o estudante José Carlos com a música
“Favela vive três”. (Luiziany Fidelis).
Quanta
coisa para gente pensar e refletir. Quanto protagonismo de nossos estudantes.
Alessandro, do 2C irá recitar o poema “Ao suplico de um povo”. Com você meu
querido. (Luiza Severo).
Ainda
no campo da poesia vamos chamar os estudante do 1 D com o poema “Não Desiste”.
(Júlia Guedes).
Agora
a gente vai acompanhar a dança “Sou negão, negro lindo e preto” protagonizada
por nossos estudantes Eduardo e Yaskla. (Luiza
Tomaz).
Se
autoreconhecer negra é um processo profundamente necessário e no Brasil,
urgente. Chamamos com entusiasmo as estudantes Maria Luiza Rodrigues e Graziele
para falar sobre Vidas Negras. (Luiziany
Fidelis).
Pensa
que acabou? Não. Calma. E vocês que me perdoem o trocadilho, viu. Pois a
próxima atração é um coral do 3º C com o título “Calma”. (Luiza Severo).
Perfeito,
perfeito. Continuemos nessa pulsação. Conta pra gente Antônio do 2º F essa
história da coreografia do Trabalho Escravo: ecoou um canto forte na senzala...
(Júlia Guedes).
E
ainda não acabou. Nem os poemas e muito menos a nossa noite. Vamos receber de
volta o estudante José Carlos com a música “Eu não sou racista” e logo na
sequência o grupo de dança com Raires e Davi. Entenderam, galerinha: (Luiza Tomaz)
Que
discussão interessante, gente. Mas vamos continuar. Chega pra cá Kaio Wislei. O
Kaio vai interpretar o poema de Lucas Penteado. (Luiziany Fidelis).
Para
abrilhantar ainda mais a nossa noite, chamamos Ana Lis, Iasmyn e Ezequiel para
apresentarem o poema Nossa Luta. (Luiza
Severo).
As
meninas Lis e Yasmyn permanecem aqui, pois vão apresentar o poema da grande
professora e ativista Beatriz Nascimento com o título “Sonho”. (Júlia Guedes).
Beleza.
Vamos para o teatro. Recebamos com alegria Jayssa que irá representar a cena “a
solidão tem cor, a solidão é preta”. (Luiza
Tomaz).
José
Carlos, José Carlos. Volta para cá e recite para nós o poema “desbafo de um
jovem negro”. (Luiza Severo).
Estamos
quase chegando ao final. Mas agora é hora de ouvirmos Vitor, Vinícius e João
Carlos com o poema a luta contra o racismo. (Júlia Guedes).
Vamos
voltar o contexto das religiões afro-brasileiras. Chamamos agora Maria Clara
Araujo e seu companheiro para uma dança da Umbanda. (Luiza Tomaz).
Vamos
falar de cotas raciais? Ao centro chamamos os estudantes do 2º F para mística
“cota não é esmola”. (Luiziany Fidelis).
Quantas
atividades maravilhosas, heim? Estamos chegando ao fim. Mas ainda tem algumas
ações. Chamamos Keury, Joaquim, João Vitor, João Gabriel, Gabriel e Maria
Eduarda que nos contarão sobre o livro “o que o sol faz com as flores”. (Luiza Severo).
As
nossas últimas apresentações é para relaxarmos e dançarmos ao mesmo tempo. Convidamos
com alegria as representações de beleza negra para o desfile: Ana Karen (1ª A)
e Júnior Laurindo (2º E); Stefani (2º C) e Micael (1º A); Carla Soraya (1º A) e
Jardellysson (1º B). E logo na sequência, para encerrarmos, vamos acompanhar a
dança de capoeira/maculelê com estudantes do 1º D e 3º D da noite. (Júlia Guedes).
Que
lindeza. Agradecemos a todos. A gente lembra que esse evento é uma realização
da Escola Menezes Pimentel. Boa noite a todos e todas.