1 de abril de 2022

Carlos Alberto Tolovi: A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto

 

Carlos Alberto Tolovi. (FOTO/ Reprodução/ YouTube/ Papo Social Podcast).

Em 29 de dezembro de 2018, logo após o processo eleitoral ter chegado ao fim e colocado no poder um representante da extrema direita, o Jair Messias Bolsonaro, o Blog Negro Nicolau (BNN) entrou em contato com o professor da Universidade Regional do Cariri (URCA), o Dr. Carlos Alberto Tolovi.

A entrevista foi uma das mais acessadas do Blog desde o seu lançamento em 2011 e, por isso mesmo, resolvemos republicá-la.

Naquela oportunidade, ressaltamos que o resultado das eleições trouxe a cena uma questão fundamental e com ela outras tantas. Quais os desafios do Brasil pós-eleição? Quais as estratégias que devem ser tomadas para que os a margem do poder não sejam cada vez mais massacrados nesses quatro anos vindouros? Como os movimentos sociais devem se comportar? É possível um diálogo mais eficiente entre partidos de esquerda e os movimentos sociais? Como isso deve ser feito para atingir os menos favorecidos?

Para contribuir com essas e tantas outras questões e desafios, o Blog entrevistou o filósofo, Dr. em Ciências da Religião e autor de dois livros, Carlos Alberto Tolovi. Tolovi afirma que a vitória de Bolsonaro foi uma “tragédia” social no Brasil e que ele representou a “construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente.”

O filósofo, autor dos livros “Mito, Religião e Política. Padre Cícero e Juazeiro do Norte” (Editora Prismas, 2019) e “Moral e Ética nas Relações de Poder” (Editora Brazil Publishing, 2021), ressalta que nas disputas ideológica o campo da educação é o mais importante, sendo a diversidade uma constante ameaça.

Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto, disse.

Leia a entrevista concedida por e-mail ao Blog Negro Nicolau (BNN).

Blog Negro Nicolau (BNN). Você é conhecido por ser um professor ligado aos movimentos sociais, inclusive os de linhagem religiosa. No que pese a política partidária usou muito sua rede social facebook para se manifestar contra o candidato eleito Jair Bolsoanro (PSL). A que você credita a vitória de Bolsonaro?

Carlos Alberto Tolovi. Quando um filósofo ou um sociólogo, com bases marxistas como eu, tenta entender o fato de um candidato de extrema direita se eleger com os votos de grande número de trabalhadores, nós corremos o risco de responder dentro de um esquema fechado, que não dá conta do fenômeno ocorrido. Em minha perspectiva, entre os diversos fatores que contribuíram para essa “tragédia” social no Brasil, eu coloco uma questão que se encaixa dentro de um padrão universal: sempre que for possível construir um caos social e a partir do mesmo colocar em destaque uma narrativa ordenadora, que responda aos desejos e necessidades da coletividade, é possível produzir um mito. Porém, esse mito sempre nasce com desejo de sacrifício. E nesse esquema, o sacrificado é sempre aquele que não possui poder de reação. Neste contexto, Bolsonaro não era apenas um candidato. Ele era a construção de uma narrativa organizada pela direita, que respondia aos desejos e necessidades da coletividade a partir de um caos produzido intencionalmente. Assim, em nome de um reordenamento por meio de uma moral colonialista, foi possível criar uma “onda devastadora” que diabolizou e condenou todos os focos de resistência das minorias sociais no campo da luta de classes. A partir da diabolização do Partido dos Trabalhadores foi possível rotular de forma condenatória todos os partidos e movimentos de esquerda em nosso país. Paulo Freire já nos alertava que uma das formas de dominação e opressão viria da mitologização da realidade.

BNN. O que esperar de um governo em que o eleito já demonstrou ser contra todos os direitos das maiorias sociais, porém minorias nos espaços de poder?

Tolovi. Hoje é muito comum encontrar pessoas que não votaram em Bolsonaro com o seguinte discurso: “vamos esperar, quem sabe ele não seja tão ruim como nos parece! Quem sabe ele nos surpreende?” Por outro lado, os que contribuíram com a sua eleição afirmam: “ele nem assumiu ainda e vocês já estão condenando!” Em meio a esses discursos, uma coisa já aprendemos nas lições da história: o que vimos de bom especificamente para os mais pobres vindo da classe política denominada como direita? Você poderia destacar uma conquista social, como os direitos da classe trabalhadora, que não veio com suor e sangue de pessoas inseridas nas lutas denominadas como esquerda? Pois é! Se Bolsonaro se elegeu canalizando as energias e investimentos da elite do nosso país, como os banqueiros, os fazendeiros, os médicos, enfim, os que podem ser chamados de burguesia, o que podemos esperar desse governo? Que ele traia a classe que o elegeu ou que ele sacrifique as minorias no campo do poder para saciar a fome dos capitalistas inescrupulosos?

BNN. O presidente eleito irá colocar no Ministério da Educação o professor e filósofo colombiano Ricardo Velez Rodriguez. Ele foi indicado pelo escritor e jornalista Olavo de Carvalho e teve o apoio da bancada evangélica. É possível ter uma educação voltada para o reconhecimento e valorização da diversidade nesse governo?

Tolovi. Bem, se foi indicado por Olavo de Carvalho – um intelectual banal  e “prostituto” da direita; se foi aprovado pela bancada evangélica – tendo como referência Edir Macedo e Silas Malafaia, dois grandes representantes da religião como forma de dominação; e se foi aprovado por Bolsonaro, então, o que esperar desse ministro? Não podemos nos esquecer que, na guerra ideológica, o campo da educação é um dos mais importantes. Principalmente em um movimento fascista como esse que estamos vendo. A diversidade sempre foi vista como uma ameaça para um sistema de poder que quer ser absoluto.

BNN. Houve mudanças no quadro do congresso nacional que foi eleito nessas últimas eleições. Acreditas que essas mudanças se darão também em ações que beneficiem aqueles a margem do poder?

Tolovi. Quando vemos um ator pornô, um palhaço, e tantos outros personagens que chegaram ao poder na “onda do golpe”, desencadeado pelo legislativo, apoiado pelo judiciário e alimentado pela grande mídia, nos perguntamos: o que devemos esperar? Sabemos que na Câmara dos Deputados e no Senado Federal teremos certamente focos de resistência em defesa dos que estão à margem do poder. Contudo, se não ocorrer o fortalecimento e a união dos movimentos sociais, fortalecendo os partidos de esquerda em nosso país, é muito difícil esperar políticas públicas voltadas aos menos favorecidos.

BNN. A grande sacada de Bolsonaro e de seus seguidores eleitos para o campo da educação é o projeto “Escola sem Partido”. Se aprovado, didaticamente falando qual o efeito que ele terá?

Tolovi. Como o campo da educação está em disputa tendo em vista o controle do Estado, precisamos desmontar essa narrativa ideológica. Em primeiro lugar, você conhece alguma “Escola com partido”? Aqueles que sustentam os partidos de direita e extrema direita em nosso país, propõem uma “Escola sem Partido". Mas, estão fazendo essa proposta pensando em todas as escolas? É claro que não! Apenas para as escolas públicas, onde estão as crianças, os adolescentes e jovens dos trabalhadores. Afinal, é nas escolas que estes poderiam despertar, fazendo uma leitura crítica da realidade e não aceitando ser mão de obra barata para o mercado de trabalho. Os dominadores já perceberam que as escolas e Universidades públicas representam focos de resistência diante de suas propostas de “colonização moderna”.

BNN. Certa vez no programa “Esperança do Sertão”, da Rádio Comunitária Altaneira FM, você chegou a afirmar “quer acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação e a cultura". Um seguidor militar de Bolsonaro e que fala sobre educação chegou a dizer que é preciso trazer “a verdade” sobre o período da ditadura civil-miliar no Brasil para os livros escolares. Que efeito prático tem essa frase?

Tolovi. Somente pela educação e pela cultura é possível desencadear um processo de colonialidade – uma forma de colonização da subjetividade. A maneira de fazer o colonizado assumir a visão de mundo e a defesa do colonizador. Sem esquecer que a moral e a religião encontram-se nesse campo cultural. Afinal, são duas dimensões essenciais para fazer o explorado defender o seu próprio explorador, pois o dominado assume os valores morais da classe dominante.

E com relação a afirmação do professor sobre a “verdade da ditadura”, nos serve para refletir sobre esse termo: a verdade. Para um povo que assumiu as verdades dos invasores e colonizadores, denominados como “descobridores”, não é de se estranhar uma afirmação como essas. O estranho foi descobrir nessas últimas eleições a quantidade de professores preconceituosos, machistas e fascistas que temos em nossas escolas. Nos faz refletir sobre os nossos processos formativos em nossas Universidades.

BNN. Bolsonaro já formou seu quadro de ministros que irão exercer suas funções a partir de janeiro. Qual avaliação você faz dessas escolhas?

Tolovi. Sem novidades! Pessoas que desprezam a diversidade, a educação pública, as políticas públicas, as manifestações culturais e as necessidades dos negros e dos índios, etc. etc.. Inclusive com Sergio Mouro, para passar uma imagem de um governo sério. Afinal, se o desejo é o sacrifício dos menos favorecidos para atender à “necessidade” de concentração de renda, é preciso um “Capitão do Mato” para caçar os “escravos rebeldes”. É preciso alguém que ajude a conter os movimentos de esquerda. Por isso tantos militares também no poder.

BNN. A democracia está em risco com o governo Bolsonaro?

Tolovi. Penso que não esteja em risco, mas já profundamente comprometida.

BNN. Fernando Haddad (PT) foi colocado de última hora para disputar a presidência. No fundo, a ala petista ainda acreditaria na soltura do Lula. Chegou no segundo turno, porém não venceu. A escolha do PT em apostar todas suas fichas no Lula foi um erro?

Tolovi. Não creio que o PT acreditava na soltura de Lula. O esquema do golpe foi bem montado e era preciso tirar Lula do caminho para que o mesmo funcionasse até o fim. O que o PT não contava era com a eficiência da estratégia do esquema montado em torno de Bolsonaro. Favorecido pela facada, que justificou a sua ausência nos debates e possibilitou o seu “silêncio”, alimentando a imagem da vítima com poder de reação por meio das redes sociais que alimentou incessantemente o ódio por tudo o que representava a diversidade frente a moral eurocêntrica.

BNN. Tu acreditar que Lula é um preso político?

Tolovi. Certamente! Porque devemos aderir à campanha do “Lula Livre”? Porque a trama que envolve a prisão de Lula faz parte de um golpe ainda em curso, com características de fascismo que, como afirmei anteriormente, compromete a nossa “jovem” democracia.

BNN. Guilherme Boulos (PSOL) é tido como a grande aposta do campo da esquerda para 2022, embora tenha tido uma votação inexpressiva. Qual sua avaliação sobre ele?

Tolovi. Foi o candidato que mais apresentou um plano de governo que serviria de alternativa viável frente ao capitalismo neoliberal. Foi quem mais denunciou de forma competente o sistema hegemônico vigente e quem mais apontou caminhos para a saída desse impasse gerado equivocadamente pela tentativa de “conciliação de classes”. Precisamos de alguém que assuma de fato algumas bandeiras socialistas viáveis nesse momento histórico, e não tenha medo de se assumir representante da Esquerda, voltado para as necessidades dos menos favorecidos.

BNN. O aparecimento de Bolsonaro acabou por acender a chama dos movimentos sociais. Boaventura de Sousa Santos disse em novembro último que os movimentos sociais são a chave para a reinvenção das esquerdas. Você concorda?

Tolovi. Certamente! São os movimentos sociais que alimentam e fortalecem os partidos de esquerda. São os movimentos sociais que são capazes de desencadear uma narrativa desmitologizante. São os movimentos sociais que fomentam o empoderamento das bases, onde se encontram os núcleos de resistência e de luta.

BNN. Que lição se pode tirar dessas eleições?

Tolovi. Um dos maiores erros do PT no poder - entre tantos outros -, foi ter assumido uma roupagem de conciliador. Enquanto incorporou diversas lideranças sociais ao poder executivo, acomodando os movimentos e as organizações de base, ofereceu espaço e tempo para que a elite brasileira formulasse um “golpe fatal”. Diante disso temos de aprender: a luta pela justiça social e equidade vai muito além de uma proposta de igualdade. Exige uma cultura de organização das bases, resistência e mobilizações permanentes.

Cordel sobre as culturas de Potengi - CE: Memória, História e Diversidade*

 

Reisado de Caretas de Couro – Potengi – CE | Foto: Jr. Panela.
 

Eita povo arretado

O povo Potengi

Lugar da mestre Zefinha

E do mestre Françuli

Conhecido no Brasil inteiro

É a terra do ferreiro

Da região do Cariri


Da cultura dos caretas

Do mestre Antônio Luiz

Casa de pássaros do sítio pau preto

Lugar de gente feliz

Potengi é um acervo de história

Da comunidade quilombola

Que reside bem aqui


As três horas da manhã

O ferreiro acorda o povo

O ferro canta na rua

Anunciando o dia novo

O trabalho aqui é duro

Começa ainda escuro

E volta no outro dia de novo


A cultura de Potengi

É vasta e magistral

Na literatura daqui

Tem trabalho artesanal

É uma fonte de talento

Que se destaca há muito tempo

Oh lugar sensacional


Dona Zefinha nos presenteou

Com sua arte refinada

Com os fios de algodão

Sua arte foi registrada

Hoje nossa história saúda

Os bilros de macaúba

E sua arte bem criada


Agradecemos a dona Zefinha

Pelo tear da nossa cultura

Por meio do novelo de linha

Construiu a arte pura

Você sempre será a primeira

Espelho da mulher rendeira

E expoente da literatura


As danças de tradição

Do município de Potengi

Representam a emoção

Do povo que mora aqui

A comunidade quilombola

Tem relato e tem história

Que você precisa ouvir


Nosso estilo de linguagem

Nosso jeito de falar

O reisado bem pisado

É gostoso de dançar

Nossa história tá enraizada

E sempre será lembrada

Na cultura popular

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Por Jailton Alves. Ele possui graduação em Letras com habilitação em Inglês/ português e literatura pela Universidade Regional do Cariri. (2014), especialização em língua Inglesa pela Universidade Regional do Cariri, (2016). Atua como professor de língua Inglesa e linguística pela Urca desde 2017 e professor pelo Estado na EEMTI Menezes Pimentel desde 2019. A habilidade em criação de cordel e facilidade para aprender línguas o fez escolher o curso de letras. O cordel publicado neste Blog foi apresentado no aniversário de 64 anos de Potengi em 2021.

Regina Sousa: primeira mulher a governar o Piauí é negra e ativista contra a pobreza

Regina Souza toma posse de mandato de nove meses à frente do Piauí. (FOTO/ Governo do Piauí/Divulgação).

Regina Souza (PT) tomou posse nesta quinta-feira (31) como a primeira mulher governadora do Piauí. Então vice-governadora, ela assume o cargo no lugar de Wellington Dias (PT), que vai disputar uma cadeira ao Senado nas eleições deste ano. “O foco do meu mandato será a redução da pobreza”, disse a governadora, em cerimônia na Assembleia Legislativa do Piauí.

Regina afirmou que pretende fazer uma gestão de “continuidade, e não um novo governo”. Por outro lado, destacou que não será “tutelada” pelo ex-governador, mas disse contar com a sua ajuda.

Isso é um pensamento machista de que mulheres precisam ser guiadas por homens em cargos públicos”, disse a governadora Regina, que vai comandar o estado por nove meses. “Não hesitarei em pedir opiniões, afinal não é todo mundo que tem um amigo com experiência de quatro mandatos como governador”, ressalvou, em referência a Dias.

Além disso, a nova governadora prometeu “um olhar mais apurado” para alguns temas como segurança, sistema prisional, saúde, educação e agricultura familiar. Também prometeu um “olhar social” para as comunidades tradicionais e população de rua. Assim, como prioridades, citou o fortalecimento de políticas para as mulheres, o combate ao racismo e à homofobia, além de ações para juventude e idosos.

Nem nos meus sonhos mais dourados sonhei estar aqui, como governadora”, afirmou Regina no discurso de posse. “Estou aqui, mulher negra, governadora sim, colocando um tijolinho no empoderamento das mulheres”, destacou. Assim, como primeira ação à frente do governo, Regina entregou de títulos de terras a mulheres quebradeiras de coco. Esta foi uma das primeiras atividades exercidas por ela na adolescência.

Piauí está no caminho certo”, disse Dias. “Saio com a certeza de que a primeira governadora mulher do seguirá lutando por esse sonho de termos um Piauí cada vez melhor e maior”, acrescentou.

Trajetória

Maria Regina Sousa tem 71 anos. Ela é formada em Letras, com habilitação em língua portuguesa e francesa, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Logo depois, em 1983, ela foi aprovada no concurso público do Banco do Brasil.

Anteriormente, desde 1978, Regina passou a atuar junto ao movimento sindical. Primeiramente, fez parte da luta do magistério na educação básica. Posteriormente, passou a atuar junto à classe bancária. Ao lado de Dias, foi vice-presidente do Sindicato dos Bancários, e depois presidenta.

Ela também é uma das fundadoras do PT no Piauí. Na sequência, tornou-se presidenta estadual da legenda. Regina Sousa esteve à frente do diretório piauiense do partido por seis mandatos alternados. Também comandou a Secretaria de Administração por dois mandatos, durante a primeira passagem de Dias como governador.

Em 2010, Regina foi eleita suplente do então senador Wellington Dias. Da mesma maneira, quando Dias venceu a disputa pelo governo estadual, em 2014, ela passou a ocupar a cadeira no Senado no ano seguinte. Naquele momento, também foi a primeira mulher negra a representar o Piauí naquela Casa legislativa.

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Com informações da RBA.

31 de março de 2022

Sérgio Camargo é exonerado da Fundação Palmares

Sérgio Camargo. (FOTO/ Agência Brasil).


Sérgio Camargo, então presidente da Fundação Cultural Palmares, foi exonerado do cargo nesta quinta-feira (31). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União. A publicação não informava quem será seu substituto.

Jornalista de formação, ele acumulou polêmicas enquanto representante do órgão. Atacou as religiões de matriz africana, o movimento negro e até Moïse Kabagambe, espancado até a morte no Rio de Janeiro depois de exigir o pagamento de pendências trabalhistas.

Camargo chegou a dizer que Moïse “era um vagabundo morto por outros vagabundos”, gerando críticas não só no governo como também no Judiciário. O ministro Gilmar Mendes disse que ele precisava ser contido no seu comportamento discriminatório.

Na terça, dia 29 de março, Sérgio Camargo se filiou ao Partido Liberal (PL), mesmo partido de Jair Bolsonaro. "Filiei-me ao PL! Negros não precisam ser vítimas. Negros são livres. Pretos e brancos unidos. Palmares digna. Bolsonaro até 2026. Sigamos, patriotas!", escreveu ele no Twitter, mas não chegou a divulgar qual cargo deve disputar.

A Fundação Cultural Palmares é de federação brasileira e, através da Lei nº 7668, serve para a preservação e promoção de valores culturais e sociais de negros e afro-brasileiros no país. É uma fundação vinculada ao Ministério da Cultura, com a lei criada em 1988.

Agora ex-presidente da Palmares, Camargo também foi acusado de assédio moral por funcionários do órgão. Segundo as denúncias, ele perseguia pessoas com pensamentos próximos ao do movimento negro.

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Com informações do Alma Preta.

Entrevista com Nilma Lino Gomes (UFMG), vencedora do prêmio Carolina Bori/SBPC 2022

Nilma Lino Gomes.(FOTO/ Reprodução).

A professora e pesquisadora Nilma Lino Gomes (UFMG) foi a vencedora do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher de 2022. A partir da indicação da ANPEd para a categoria Humanidades, a associada teve sua trajetória reconhecida e celebrada. O percurso da professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG reverbera a luta antirracista e pelas ações afirmativas. Foi fundadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Afro-brasileiros (GIEAB) e do grupo Educação e Diversidade Étnico-Cultural (EDEC),  presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), integrou a CEB/CNE (2010/2014), foi reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2015) e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos (2015-2016). Atualmente é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Relações Étnico-raciais e Ações Afirmativas (NERA/CNPq). Dentre seus livros, referência para a área de Educação e outros campos, destacam-se "O movimento negro educador" (2017) e "O negro no Brasil hoje" (2006), dentre outros. Nilma é pesquisadora ativa do GT 21 da ANPEd, de Educação e Relações Étnico-Raciais.

Confira entrevista concedida pela pesquisadora ao portal da ANPEd, reforçando o caráter coletivo de sua trajetória e premiação, o imperativo de se discutir desigualdades incorporando questões de gênero e raça, além da importância da pesquisa e dos movimentos sociais para esse avanço.

Você recebeu o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, da SBPC. O que ele significa para sua trajetória pessoal e de pesquisadora?

Nilma Lino Gomes - Significa uma honra para mim, um reconhecimento do meu trabalho como pesquisadora engajada na luta contra o racismo, a discriminação e todo tipo de violência. Significa, também, o reconhecimento da trajetória de tantos intelectuais negras e negros, do passado e do presente, que lutamos para que a raça seja considerada como uma categoria de análise importante para a compreensão da realidade brasileira e para que o campo de estudos das relações raciais passe a ter a devida importância no campo das humanidades. Penso que nenhuma abordagem das humanidades que queira compreender a complexidade das relações históricas, sociais, culturais, políticas e econômicas, no Brasil, pode desconsiderar o peso das relações raciais, a forma como o racismo opera nas estruturas sociais e no cotidiano das pessoas. Receber o prêmio, para mim, reforça que a minha trajetória tem se construído coletivamente, pois se não fosse a nossa organização coletiva como negras e negras em movimento e como pesquisadores negros e negras, não teríamos chegado a esse patamar epistemológico e político. Ainda falta muito, tenho certeza, mas já demos passos muito importantes, seguindo o caminho de sabedoria deixado pelos nossos e nossas ancestrais.

Você recebeu uma premiação que destaca as mulheres como cientistas. De que forma a data de 08 de março, Dia da Mulher, pode ser trazida para debates necessários e urgentes, tais como desigualdades, opressões e feminicídio?

O 08 de março não é um dia de comemoração. É um dia de debate político sobre a importância da mulher na construção da nossa sociedade e de denúncia. Ainda vivemos  em uma sociedade de bases patriarcais e machistas que se reproduzem nas mais variadas instituições. Todo e qualquer debate sobre desigualdades sociais, políticas e econômicas precisa incorporar a questão de gênero e raça. Assim, poderemos desvendar as hierarquias de gênero e raça, entender como operam e reivindicar políticas públicas que superem essa situação. A discussão sobre o feminicídio e os seus impactos na vida das mulheres e na garantia de direitos é urgente. É também urgente denunciar e compreender mais uma perversidade e desdobramento do feminicídio: o feminicídio negro. O feminismo negro tem formulado muito bem a análise e a denúncia sobre esse desdobramento da violência contra as mulheres negras. Por isso, o movimento feminista e o feminismo negro lutaram para que  o feminicídio fosse reconhecido pelo Estado e pela Lei como um crime. Denunciar, desvelar e se contrapor ao feminicídio é se posicionar a favor da democracia e por uma vida com direitos para as mulheres. É também punir o agressor que, nas sociedades patriarcais e machistas, tende a ficar impune e se esconde atrás da frase machista e violenta de "matar em defesa da honra". Que honra é essa que autoriza  a morte da mulher pelo fato de ela ser uma mulher? E de ser considerada um ser inferior?  A educação ocupa um papel primordial nesse processo de reeducação nas relações de gênero. Por isso os grupos reacionários e conservadores reagem  com tanta resistência quando fazemos a discussão pedagógica e política sobre a questão de gênero na escola.

Você é uma docente e pesquisadora com passagens importantes pela gestão pública. Qual o papel da pesquisa para o desenvolvimento e efetivação de políticas públicas? O que tem pesquisado mais propriamente neste momento?

A pesquisa possibilita teorização, reflexão e uma refinada análise sobre a situação social, cultural, racial, política, de raça e gênero sobre a qual as políticas públicas incidirão. Por meio de dados recolhidos das pesquisas, das estatísticas formuladas contendo as mais variadas categorias para analisar a sociedade nas suas  diversas áreas: saúde, educação, trabalho, emprego, moradia, assistência, etc os gestores e as gestoras públicas podem ter um mapeamento dos pontos nevrálgicos sobre os quais as políticas públicas precisam incidir e, inclusive, construir novas políticas ou dar novas orientações aquelas já implementadas. A pesquisa também ocupa um papel crítico ao analisar o impacto ou não, o cumprimento ou não de políticas públicas sobre as mais diversas áreas.  Junto com a importância da pesquisa para o campo das políticas públicas quero destacar também a atuação dos movimentos sociais. Os movimentos sociais exercem um duplo papel nesse contexto: eles impactam o Estado e realizam o controle social das políticas já existentes indicando a urgência do atendimento de determinados setores em situação de maior desigualdade na sociedade e também indagam as pesquisas  e as ciências revelando lacunas e desigualdade no trato de determinados temas e questões urgentes para o aprimoramento das políticas. São os movimentos sociais que cobram e exigem que as pesquisas sejam realizadas por uma diversidade de pesquisadores: negros, brancos, indígenas, quilombolas, mulheres, pessoas do campo, com deficiência LGBTQUIA+ no campo da produção do conhecimento. Pesquisadores e pesquisadoras diversos enriquecem  a ciência e a análise das políticas pública realizadas em nosso país.

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Com informações da Anped.

29 de março de 2022

Sueli Carneiro é eleita Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti

 

(Foto: Marcus Steinmayer).


A filósofa Sueli Carneiro, uma das principais teóricas do feminismo negro do Brasil, será a Personalidade Literária do Ano a ser homenageada na 64ª edição do Prêmio Jabuti. O anúncio foi feito na manhã desta terça-feira (29) em coletiva de imprensa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), que promove a premiação, a mais prestigiosa das letras brasileiras. Este ano, a cerimônia de entrega dos prêmios voltará a ocorrer presencialmente após dois anos de edições virtuais . A festa, que também será transmitida pela internet, acontecerá em novembro, embora a data e o local ainda não tenham sido definidos.

Fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e autora de livros como “Escrito de uma vida” e “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” , Carneiro luta há décadas por políticas públicas para a população negra, como a implementação das cotas raciais e a demarcação de terras quilombolas. A filósofa é a primeira autora de não ficção eleita Personalidade Literária do Ano, distinção já concedida a poetas e romancistas como Thiago de Mello , Adélia Prado, Conceição Evaristo e Ignácio de Loyola Brandão.

“Com muita esperança, homenageamos a trajetória e a obra de Sueli Carneiro. Ela é referência mundial não só de pesquisadora e intelectual orgânica, mas também nosso grande exemplo de escritora afeita ao debate aberto e franco, um modelo para quem busca um pensamento de práxis agregadoras. Em torno dela, na cerimônia, veremos reunirem-se muitas das forças culturais que buscam construir o Brasil plural que desejamos”, afirmou o curador do prêmio, Marcos Marcionilo, em nota divulgada após a coletiva.

Elogio à Semana de 22

Para homenagear o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 , o Jabuti convidou cinco grafiteiros, de todas as regiões do país , para repaginar a identidade visual do prêmio. São eles: o amazonense Raí, a cearense Tereza de Quinta, o mato-grossense Rafael Jonnier, o paulista Ciro Schumann e o gaúcho Marcelo Pax. Segundo Marcionilo, a escolha dos grafiteiros foi influenciada pela Antropofagia modernista , que pregava a canibalização de referências estrangeiras na construção da identidade nacional.

— Ao assumir o grafite, retomamos a Semana de 22 e a Antropofagia dos modernistas, que é capaz de mover nosso pensamento e nossa arte — afirmou o curador. — O grafite brasileiro é reconhecido no mundo todo e é desejo do Jabuti assimilá-lo e assemelhá-lo às nossas Literaturas.

Também foram anunciadas mudanças em duas categorias. A antiga Biografia, Documentário e Reportagem foi renomeada Biografia e Reportagem. E a categoria Ciências Humanas passa a considerar também obras de crítica literária. O Jabuti conta com quatro eixos (Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação) e 20 categorias. Cada um dos premiados receberá uma estatueta e R$ 5 mil. Os vencedores das categorias dos eixos Literatura e Não Ficção concorrem ao Livro do Ano, cujo prêmio é de R$ 100 mil. No início do ano, jurados do prêmio reclamaram ao GLOBO do processo de escolha “quase aleatório” do Livro do Ano .

As inscrições do Prêmio Jabuti começam às 12h desta terça-feira no Portal de Serviços da CBL e se estendem até às 18h do dia 26 de maio. Pelo sexto ano consecutivo, os valores das inscrições não formam alterados e variam entre R$ 285,00 e R$ 515,00. Haverá desconto de 10% para todas as inscrições realizadas nos próximos 30 dias.

Presidido por Marcos Marciolino, sódio da Parábola Editorial, o conselho curador do Jabuti também é composto por Bel Santos-Mayer, Camile Mendrot, Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Rodrigo Casarin.

Confira os eixos e categorias no Prêmio Jabuti:

– Eixo Literatura (oito categorias): Conto; Crônica; HQ; Infantil; Juvenil; Poesia, Romance Literário; Romance de Entretenimento.

– Eixo Não Ficção (seis): Artes; Biografia, Documentário e Reportagem; Ciências; Ciências Humanas; Ciências Sociais; Economia Criativa;

– Eixo Produção Editorial (quatro categorias): Capa; Ilustração; Projeto Gráfico; Tradução;

– Eixo Inovação (duas categorias): Fomento à Leitura; Livro Brasileiro Publicado no Exterior.

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Com informações do Geledés. 

28 de março de 2022

Após 43 anos, processo do assassinato que motivou criação do MNU vem a público

(FOTO/ Reprodução/ Alma Preta).

Após 43 anos da prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, a família e a sociedade poderão acessar os documentos do processo judicial do crime. O jovem de 21 anos foi morto na 44° Delegacia de Polícia de São Paulo no dia 4 de maio de 1978. O caso é um dos impulsionadores da criação do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho daquele mesmo ano.

A disponibilização dos documentos faz parte de uma mobilização de Lucas Scaravelli, pesquisador cuja tese de doutorado será sobre a vida de Robson. “Eu fui atrás dos arquivos e agora a partir da força de articulação com pesquisador, desembargador, consegui a liberação e acho que é um momento importante para todas as lideranças”, conta. A pesquisa será desenvolvida pela área de antropologia social da Universidade de São Paulo (USP).

O protesto vai contar com a participação de Carlos Cardoso, advogado do caso na época, ativistas do movimento negro e a família de Robson.

O caso foi sentenciado em 1988, com a responsabilização do delegado Luiz Alberto de Abdalla e os policiais José Maximino Reis e José Pereira de Matos. O primeiro foi afastado do cargo e os outros dois exonerados da polícia civil. A família só recebeu a indenização e a sentença aos policiais só foi cumprida em 1996, 18 anos depois da morte de Robson Silveira da Luz.

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Com informações do Alma Preta. 

"Cara no fogo": fala de Bolsonaro sobre Milton Ribeiro viraliza; veja repercussão da demissão

 

Bolsonaro troca ministro da Educação pela quarta vez após denúncias de corrupção contra Ribeiro; na foto, o ex-ministro durante posse no Palácio do Planalto - Clauber Cleber Caetano/PR

Uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a honestidade do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que pediu demissão nesta segunda-feira (28), viralizou nas redes sociais.

Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Uma covardia o que estão fazendo”, disse o presidente, na última quinta-feira (24), sobre as denúncias sobre a existência de um "gabinete paralelo" formado por pastores lobistas no Ministério da Educação.

Quando o cara quer armar, ele vai pelado na piscina, para a praia, pro meio do mato, não bota na agenda”, afirmou o presidente, que exigiu provas da corrupção praticada na pasta.

Milton Ribeiro pediu demissão do cargo de ministro com uma carta direcionada ao presidente. Ele admitiu que deixa o cargo em função das denúncias sobre o suposto favorecimento de pastores na distribuição de verbas do ministério.

A demissão

Mais cedo, o Brasil de Fato mostrou que Bolsonaro demitiria Ribeiro por pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional. O chefe do Ministério da Educação (MEC) está no centro do escândalo dos pastores lobistas na pasta desde a semana passada.

Na tarde desta segunda-feira, a CNN Brasil e o G1 obtiveram uma versão da carta escrita por Ribeiro a Bolsonaro. Ele diz que a decisão da saída do MEC é um "até breve" e termina o texto com o slogan eleitoral de Bolsonaro: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Nas redes sociais, o nome de Milton Ribeiro era o terceiro tópico mais comentado do Brasil no Twitter, às 17h. Uma grande parte das publicações relembra a fala de Bolsonaro sobre a honestidade do ministro demissionário.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e veja a repercussão.