"Eu sei de que lado estou. Na minha vida, já
mudei muito. Às vezes para melhor, outras, segundo algumas pessoas, até para
pior. Mas eu nunca mudei de lado", afirmou a presidenta Dilma
Rousseff, durante encontro com os movimentos sociais, realizado nesta quinta-feira
(13). Na reunião, foi anunciada a criação, em setembro, do Fórum Nacional de
Debates sobre Trabalho, Renda, Emprego e Previdência Social, que será mais um
canal de diálogo do Executivo com os movimentos sociais.
Movimentos sociais gritam palavra de ordem como "não vai ter golpe" e alertaram: "È pra nós que você deve governar" |
Dilma
afirmou que está tomando medidas para que o país volte ao caminho do
crescimento e que está na presidência para resolver todos os problemas do país
até 31 de dezembro de 2018, quando deixará o governo. A presidenta voltou a
citar os versos do compositor Lenine: "quando
a lida está má, a gente enverga, mas não quebra".
A
presidente foi recebida por centenas de representantes de movimentos sociais,
que gritavam palavras de ordem, como "não
vai ter golpe". Em seguida, líderes das entidades sociais apresentaram
os assuntos de maior importância para cada segmento. Um item foi quase unânime:
a retomada do projeto debatido durante a campanha eleitoral e que a diferenciou
do projeto representado por seu adversário, Aécio Neves (PSDB).
"Foi aquela agenda que nós elegemos. Este
ajuste fiscal, como está sendo posto, não condiz com o programa que elegemos.
Este programa econômico é neoliberal e está alinhado com as políticas
norte-americanas", disse Alexandre Conceição, um dos coordenadores do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para ele, a reunião com a
presidenta foi importante, porque os movimentos puderam passar recados tanto
para o governo, como para a oposição que hoje tenta articular um golpe.
O
repúdio à ameaça de golpe foi outro ponto comum em todas as falas dos líderes
de entidades. "Golpistas, nós somos
construtores da democracia. Nós iremos para as ruas, entrincheirados, se
necessário. Nós seremos o exército que vai enfrentar a burguesia nas ruas",
afirmou Vagner Freitas, presidente da CUT, aplaudido de pé pelos militantes.
Freitas
enfatizou, a cobrança dos movimentos sociais para que o governo Dilma ouça mais
a base social que a elegeu e retome a "agenda vencedora" em
2014. "É para nós que estamos aqui
que a senhora tem de legislar", alertou. O presidente da CUT associou
a ampliação do apoio social ao governo também à forma como conduzirá a
recuperação da economia.
“Ajuste fiscal é reforma tributária que
reduza a carga de impostos pagos pelos mais pobres e aumente a dos mais ricos.
O que precisa ser feito é fazer andar a pauta dos trabalhadores de forma
efetiva e consistente”, cobrou o dirigente. “Esse povo que está aqui tem
condição de fazer a transformação do Brasil. Não é o mercado que vai garantir a
governabilidade. É esse povo que está aqui, presidenta Dilma. Todos juntos por
um Brasil melhor, com Dilma e contra o golpe.”
Outra
reivindicação comum, entre os líderes das entidades, foi o pedido para que
Dilma vete a Lei antiterrorismo, aprovada pelo Congresso Nacional. "Essa Lei visa apenas uma coisa: criminalizar
os movimentos sociais", afirmou Carina Vitral, presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE). Carina pediu que a educação não seja afetada
pelo ajuste fiscal e que os movimentos sociais sejam incluídos na discussão da
agenda política brasileira.
Alberto
Broch, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), reivindicou a manutenção dos direitos agrários, maiores investimentos
na reforma agrária, na agricultura familiar, nos empreendimentos agroecológicos
e a retomada do programa Minha Casa Minha Vida. A presidenta Dilma respondeu
que programa foi reformulado e que, em setembro próximo, será lançada a
terceira etapa.
Representando
o Movimento de Articulação Nacional de Mulheres Pescadoras Artesanais, Eleonice
Sacramento falou da importância de manutenção dos territórios das comunidades
tradicionais, que hoje se encontram sob ameaça. "Não teremos vida para defender esse governo, se não tivermos
nossos territórios", afirmou Eleonice, que reivindicou também a
criação de uma Política Nacional para Povos e Comunidades Tradicionais.
O
presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, foi
enfático ao falar sobre a ameaça de impeachment da presidenta Dilma: "Faço um alerta aos golpistas. Essa turma do
Leblon, dos Jardins e do Lago Sul não representam o povo brasileiro".
Boulos deixou claro, porém, que o MTST rechaça a política econômica e não
aceita que o povo pague a conta da crise. Cobrou da presidenta que o ajuste
fiscal deve ser feito usando a taxação das grandes fortunas e dos bancos, e
ainda com auditoria da dívida pública.
Para
Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, o ajuste
fiscal proposto pelo governo não pode impedir os avanços conquistados. "Queremos a taxação das grandes fortunas, o
combate à sonegação, a punição aos que mantêm contas no exterior. Queremos
também a manutenção de um diálogo efetivo com o governo, a repetição desse
evento e a implementação da pauta eleitoral", disse.
A
demarcação das terras indígenas também foi reivindicada por Alexandre
Conceição, do MST. Ele pediu ainda a redução dos gastos do governo em
publicidade oficial diretamente com a Rede Globo.