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O jornalismo vai ser viral?, por Alana Maria


Alana Maria. Foto/facebook.
A contínua ascensão da internet em nossas vidas transformou, entre tantos outros serviços, trabalhos e aspectos, a experiência jornalística. Poder acompanhar as notícias de sua cidade, do país e do mundo a uma simples combinação de toques numa tela faz parte do cotidiano de muitas pessoas e, veja bem, isso é ótimo. Essas mudanças aproximaram o leitor da notícia, difundiram um maior nível de informações e possibilitaram a exploração e combinação de novas ferramentas para se contar histórias.

E com os benefícios, vieram também os desafios: como manter o jornalismo relevante diante de um cenário cada vez mais pulverizado? Como a reportagem ganha o interesse em meio às listas de gifs dos ‘24 gatinhos mais fofos da internet’? Como manter a qualidade e acompanhar a velocidade desse novo meio? Como fazer um jornalismo viral? Como rentabilizar a notícia na era digital? Essas questões vêm ecoando há algum tempo na cabeça de muitos repórteres e editores.


Alguns caminhos estão sendo testados: a correria nas redações para acompanhar a “novidade”, muitas vezes pulando etapas básicas de apuração, resultando em textos mau elaboradores, com informações falsas ou descontextualizadas. Erratas correm a torto e a direito nos grandes portais de notícia 24h. Essa já se mostrou desqualificada. Já estratégias Buzzfeed, The Huffington Post ou OMG Facts de artigos colaborativos, com um banco infinito de listas e mais listas com as ‘25 situações que só quem usa óculos vai entender’ e derivados, ou Dose.com e Hypeness com matérias recicladas diversas vezes por dezenas de outros grandes sites captam a atenção, perdem em qualidade, mas atraem likes, views e shares.

Em reportagem de fôlego, a The New Yorker explica o efeito:

No rodapé de uma postagem no Dose, em geral se vê um hat tip (H/T), uma pequena menção à fonte da informação. Muita gente nem nota, se é que o texto é lido até o fim. No primeiro dia de existência do site, a lista que fez mais sucesso trazia o título “Vinte e três fotos de pessoas do mundo todo e o quanto cada uma come por dia”. Era uma sacada inteligente da diversidade, mas também da desigualdade global. Um caminhoneiro americano segurava uma bandeja com hambúrgueres e frappuccinos do Starbucks, ao passo que uma mulher masai exibia 800 calorias em leite e mingau. Abaixo da última fotografia, um textinho em cinza dizia “H/T Elite Daily”. Era um link para uma postagem que o Elite Daily, um website nova-iorquino, havia publicado um mês antes (“Veja as diferenças incríveis no consumo diário de comida ao redor do mundo”), postagem esta que, por sua vez, provinha do UrbanTimes (“Oitenta pessoas, trinta países e quanto cada uma come por dia”). O UrbanTimescreditava a informação ao Amusing Planet (“O que as pessoas comem no mundo todo”), que, na realidade, apenas citara uma entrevista radiofônica de 2010 com Faith D’Aluisio e Peter Menzel, a escritora e o fotógrafo por trás daquele projeto – na verdade, um livro intitulado What I Eat.

Lançamento da ferramenta Instant Articles para editores pelo facebook/reprodução.
Se cada vez mais acessamos notícias pela internet, o destaque aqui fica para o local onde encontramos essas notícias: a maior rede social da atualidade, o Facebook. Em 2015, a empresa de Zuckerberg entrou no jogo do mercado de notícias e recentemente anunciou que todos os editores poderão criar e depositar seus conteúdos diretamente na rede social, a partir da nova ferramenta Instant Articles para dispositivos móveis.

A novidade promete atrair tanto o pleito de usuários quanto os editores pela sua facilidade de interação, rapidez no carregamento e nível de qualidade na experiência de leitura das matérias. Até então, acessar esse tipo de conteúdo a partir do Facebook podia ser lento e desastroso para os padrões da empresa, perdendo o leitor em menos de 10 segundos.

Agora mesmo você pode logar em sua conta e testar a ferramenta já estreada por alguns parceiros do projeto, The New York Times, BBC News, Buzzfeed, The Guardian The Huffington Post, Nacional Geographic, entre outros. Todo conteúdo poderá ser rentabilizado com venda de publicidade. Videos com auto-play, introdução de áudio no meio do texto e zoom interativo em fotos de auto resolução são algumas das vantagens.

Alguns analistas de medias sociais, designers e editores consideram a mudança mais uma estratégia na disputa dos espaços de informação na internet. É mais uma mutação desse jornalismo que vive em crise, quase sempre em estado frágil, mas que ainda não quebrou e se adapta.

Texto publicado originalmente no Cariri Revista