Estudantes do 3º Ano A, da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE. (FOTO | Prof. Nicolau Neto). |
Por Valéria Rodrigues, Colunista
A sub-representação feminina na política e como fator associado a violência política de gênero foi tema de um minicurso idealizado pelo professor Nicolau Neto, da EEMTI Padre Luís Filgueiras, em Nova Olinda-CE, e ministrado junto a estudante do 3º Ano A desta instituição, Jamile Bispo. A ação foi desenvolvida em cinco turmas: 3º A, 3º B, 3º C, 3º D e 2º A.
O
Brasil é o país em que as mulheres são maioria tanto em população (51,5%,
conforme o último dado do IBGE, censo 2022) quanto em eleitorado. Dados recentes
do Tribunal Superior Eleitoral revelaram que 52,4% das pessoas aptas a votar
são do gênero feminino, o que corresponde a 81,8 milhões de pessoas. “Maioria em população/eleitorado, mas minoria
na política e nos cargos elegíveis. Essa conta não fecha”, disse o
professor Nicolau ao apresentar o minicurso que foi mediado também pela
estudante Jamile.
“É uma história de sub-representatividade que
vem se arrastando por mais de 500 anos, apesar de percebermos avanços frutos de
muita luta dos movimentos sociais, sobretudo feminista, negro, indígena e LGBTQIA+.
Mas nós, enquanto escola, precisamos contribuir para que tenhamos uma sociedade
que seja o espelho dela mesma nos cargos de decisão, ou seja, diversa. E isso
passa por encontrarmos alternativas em nossas ações enquanto professor,
professora e trabalhar diariamente temas dessa importância e tão caro ao Brasil”,
pontuou Nicolau.
Card de divulgação. |
Foi
dentro dessa ambiência que Jamile Bispo se colocou para a turma em que estuda.
Para além da conceituação e do como a violência política de gênero se aplica,
ela enveredou pelo caminho da legislação brasileira que é uma das mais
avançadas nesse quesito, o de prevenção e proteção as vítimas, como por
exemplo: Lei 14.192/2021, que criminaliza a violência de gênero; a que
estabelece cota para mulheres em eleições proporcionais a partir de 30%;
proibição de propagandas políticas que visem a discriminação do gênero feminino
na política, dentre outras. Mas é, ao mesmo tempo, o que mais as transgride e
citou como exemplo, as constantes fraudes nas cotas de gênero.
“A lei das eleições exige no mínimo que 30%
do partido seja integrado por mulheres. No entanto, cabe ressaltar que
frequentemente são identificadas fraudes, por meio das populares ‘candidaturas
laranja’, artifício utilizado para simular o preenchimento mínimo de 30%”,
destacou Jamile.
Recortes
dentro dessa sub-representação foram feitos. Para além de constatar e debater o
óbvio, como os números que afirmam que as mulheres ocupam apenas 16% das
cadeiras nas câmaras municipais de todo o país; são só 12,3% no senado e
somente 17,7% na câmara federal. Some-se a isso o fato de que nenhuma capital
tem no comando uma mulher e que em apenas 13% dos municípios do país tem uma
mulher prefeita. É preciso ainda trazer para o debate o óbvio dos óbvios, visto
que a situação é ainda mais gritante quando se faz o recorte racial. As
mulheres negras representam irrisoriamente 8% do congresso nacional (quando
junta as duas casas legislativas – câmara e senado), o que só reforça a
importância de uma educação antirracista.
Os
números nos municípios pequenos não são diferentes. Em Altaneira, das nove
cadeiras no legislativo, apenas 3 são ocupadas por mulheres (33%). Em Nova
Olinda, dos 11 assentos, apenas 3 são de mulheres (27%). Os dados são da atual
legislatura nos dois municípios cearenses.
Para
Jamile, é preciso encarar o tema de forma firme e cotidiana. Denunciar as violências,
as transgressões e insistir em se levantar contra o machismo que é um dos
impedimentos da participação feminina nos espaços de poder, especialmente os
elegíveis. É preciso também que a escola seja de fato um espaço de promoção de
debates constantes visando construir uma educação cidadã e politizada.
Jamile falou sobre sua experiência em
mediar um tema de tamanha importância e responsabilidade:
"Em primeira análise, eu não possuía muito
conhecimento sobre o assunto, mas após iniciar a pesquisa sobre o tema fui
capaz de analisar diferentes fatores sobre a realidade de muitas mulheres que
adentraram/ adentram na politica. Além de mostrar as diferentes táticas de
partidos a fim de impedir a participação de muitas mulheres por meio das ‘candidaturas
laranja’, ao buscar adquirir mais conhecimento sobre essa temática e apresentá-la
para a minha turma me fez perceber a deficiência existente tanto na vontade de
aprender sobre/ e a baixa quantidade de acesso a tais informações no meio
acadêmico, o que tornou a experiência ainda mais marcante."
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