19 de setembro de 2024

As raízes do Brasil seguem atreladas à mentalidade escravocrata, diz Jessé Souza

 

Sociólogo analisa a ideologia escravocrata no Brasil e discute, a partir de um embate teórico com a herança portuguesa de corrupção, como isso ainda molda o pensamento do brasileiro até hoje. (FOTO | Reprodução).

Engana-se quem pensa que a escravidão no Brasil teve seu fim em 1888 com a assinatura da Lei Áurea feita pela princesa Isabel. As raízes do nosso país seguem atreladas à mentalidade escravocrata, seja nas relações de trabalho, seja na condenação do povo negro e mestiço ou nas relações pessoais. É a partir dessa herança que o sociólogo Jessé de Souza busca discutir como esse fato moldou e ainda molda a sociedade brasileira.

Na videoconferência intitulada Desafios da sociedade e da cultura atual à missão evangelizadora da Igreja hoje, promovida pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE, o sociólogo comenta que a atitude escravocrata e, consequentemente, racista segue dando as cartas na elite brasileira como forma de legitimar a dominação social e política. “Toda vez que se tentou redimir os pobres nesse país, a elite e a classe média branca saiu histérica, gritando contra a corrupção, mas no fundo não tem nada a ver com isso. É para manter o povo negro no seu lugar, sem direitos, andando de bicicleta por 14 horas para entregar a pizza quentinha na casa do burguês”, pontua.

Segundo ele, é preciso entender que o legado da corrupção, ideia provida por intelectuais como Sérgio Buarque e usada pela elite nacional para reprimir os impactos da escravidão na sociedade, é secundário em relação ao racismo enraizado até hoje em todos os brasileiros. “Essa herança vai ser interpretada como ‘o povo brasileiro é corrupto e, portanto, eleitor de corruptos’. A elite de São Paulo se via como americana e a classe média branca como europeia pela origem. Então o inconfiável, o eleitor de corrupto vai ser o negro e o mestiço que antes eram vítimas de preconceito racial, mas agora são vítimas do preconceito cultural. Ninguém mais fala em raça, é ciência”, afirma.

A atividade integra o 3º Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral: A pastoral da Igreja do Brasil no século XXI: balanço, incidências, perspectivas, iniciativa do Grupo de Pesquisa Teologia Pastoral, da FAJE, em parceria com outras instituições de ensino de Teologia.

Clique aqui para conferir a conferência de Jessé de Souza no formato de entrevista.

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