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As pessoas não acionam o botão de saída das plataformas digitais, acabam ficando de prontidão para estar aptos a responder. (FOTO | Geralt | Pixabay). |
O avanço tecnológico e o uso das redes sociais trouxeram mudanças consideráveis para toda a sociedade. Novas formas de trabalho, estudo, obtenção de informação. Contudo, nos tornamos reféns, ficamos conectados o tempo todo, sempre aguardando mensagens e informações. Por vezes, sentimos ansiedade e obrigação de visualizar, comentar, responder e não perdermos contato com o mundo virtual. A esse processo dá-se o nome de “Folo” – fear of logging off –, ou, medo de ficar desconectado.
É
sobre a conexão o tempo todo que uma pesquisa tem foco. Sobretudo para entender
o papel que as redes sociais desempenham no nosso cotidiano, o quanto nossas
vidas estão alicerçadas na conexão full time, o quanto o nosso desempenho
profissional e educacional e ainda as nossas relações interpessoais são
afetadas positiva ou negativamente pela conexão ininterrupta nas redes sociais.
A
Pesquisa da Consultoria em Marketing Digital Conversion (2021) mostra que os
brasileiros ficam conectados em média quatro horas e oito minutos diariamente
nas redes sociais. A média mundial é de duas horas e vinte e cinco minutos. A
pesquisa evidencia que o WhatsApp é a rede mais acessada. Na sequência, estão
Facebook e Instagram.
Pesquisadores
afirmam que se antes era comum acessarmos a internet e sairmos, hoje é
praticamente impossível, pois estamos constantemente conectados aos
computadores e smartphones. O tempo todo. As pessoas não acionam o botão de
saída das plataformas digitais. Acabam ficando de prontidão para estarem aptas
a responder, interagir, compartilhar tudo, a qualquer momento. Essa conexão
gera o sentimento de estarmos logados a tudo e a todos a qualquer momento.
Contudo isso tem um custo. Traz a ansiedade, a exaustão, e o sentimento de que
é preciso estar atento a todo o momento.
Medo de ficar desconectado
O
“Folo” é algo recorrente essencialmente nos jovens. Foi o que identificou a
pesquisadora Denise De Micheli, chefe do departamento de Psicologia da Unifesp,
a partir de uma pesquisa com 264 adolescentes entre 13 e 17 anos, de escolas
públicas e privadas.
O
propósito da pesquisa foi identificar a influência do uso das redes socais na
qualidade de vida destes jovens. A
pesquisa revelou que 68% sofrem de dependência moderada em relação às
tecnologias e mídias sociais, e 20% estavam enquadrados na dependência grave.
Os jovens enquadrados como dependência leve apresentam melhor qualidade de vida
nos aspectos físico, social e sentimental. Já os outros dois grupos apresentam
médias menores na qualidade de vida física, sentimental, social e escolar.
A pesquisadora conclui que é urgente que o
Transtorno da Dependência Digital (TDI) seja incluído na listagem do Manual
Estatístico de Transtornos Mentais.
Diante
das pesquisas, é possível perceber que o uso excessivo pode se tornar um vício.
Especialistas afirmam que pode haver danos ao cérebro, tais como dificuldade na
aprendizagem, depressão, insônia, solidão e risco de dependência tecnológica.
Os likes geram uma sensação de euforia, desta forma o cérebro compreende que o
acesso às redes sociais traz uma recompensa para o organismo, libera a dopamina,
gerando a dependência.
Neste
sentido, foi efetuada uma pesquisa com jovens da região do ABC. Houve a
aplicação de um questionário eletrônico com duas seções, uma para identificar o
perfil dos respondentes e a outra com questões acerca do comportamento do uso
das redes sociais. O questionário foi inserido nas redes sociais (WhatsApp, Facebook,
Instagram e LinkedIn).
Foram
recepcionados 183 questionários. A pesquisa teve como maior incidência pessoas
do gênero feminino, na faixa etária de 18 a 21 anos, solteiros, alunos na
modalidade presencial e com ensino superior incompleto. O ramo de atividade de serviços
no formato presencial.
WhatsApp é a rede de maior uso
A
rede social de maior uso é o WhatsApp, seguido pelo e-mail, Instagram, YouTube,
Facebook, LinkedIn, Tik Tok, Twitter, Messenger, Pinterest, WKwai e Tinder.
Questionados
sobre os motivos pelos quais fazem uso das redes sociais, sobressai a
comunicação social, seguido pela comunicação profissional e entretenimento.
Quanto
ao tempo de conexão diariamente, chama a atenção os que ficam acima de cinco
horas (20,2%) e os que ficam até cinco horas (12,6%).
Quanto
ao acesso das redes sociais no ambiente de trabalho, 91 (49,7%), alegam que o
acesso é feito somente nos horários de intervalo. Já 59 (32,2%) acessam durante
o expediente, a qualquer momento. Outros 29 (15,8%) afirmam que apesar de a
empresa permitir o acesso, preferem acessar fora do ambiente de trabalho. Apenas
4 (2,2%) dos respondentes afirmam que a empresa proíbe o acesso durante o
expediente.
Questionados
se o acesso às redes sociais trouxe algum tipo de prejuízo ao rendimento
profissional ou escolar, 74 (40,4%) alegam que não tiveram nenhum prejuízo; 53
(29%) tiveram prejuízo no rendimento profissional e escolar; 37 (20,2%) no
rendimento escolar e 19 (10,4%) no rendimento profissional.
Diante
dos resultados, é possível perceber que o uso constante e inadequado das redes
sociais inviabiliza a produtividade tanto no ambiente profissional quanto
escolar.
Ansiedade
Em
relação aos sentimentos e comportamentos, ficou evidente que a ansiedade está
presente nas respostas. Fato que demonstra uma evidente necessidade de
aceitação das postagens. Outro fator que merece menção, é o relacionado ao
recebimento e compartilhamento de fake news, sem a comprovação da veracidade das
informações recebidas.
Ficou
evidente nas respostas que a conexão constante já causou algum tipo de
interferência nas relações interpessoais.
Quanto
ao uso do celular, 108 (59%) dos respondentes priorizam deixar o celular sempre
por perto para verificar as notificações.
Outro
achado importante na pesquisa é o fato de que apenas uma minoria adota uma
rotina para responder as mensagens recebidas e que alguns preferem responder
imediatamente, podendo causar danos à produtividade.
A
questão relacionada à visualização de mensagens no celular enquanto dirige é
outro ponto que merece destaque e causa preocupação. A despeito de haver
incidência de multas de trânsito relacionadas ao uso do celular, a pesquisa
demonstrou que 35,5% dos respondentes alegam já terem deixado de prestar atenção
no trânsito por visualizar as mensagens.
Foi
solicitado que os respondentes atribuíssem uma nota de 1 a 10, para o grau de
dependência das redes sociais. Sendo que quanto mais próximo de 10, maior é a
dependência, já quanto mais próximo de 1 menor é a dependência. A média final
foi 5,76, fato que indica que existe uma dependência de nível moderado para
forte das redes sociais.
Resultados
Os
resultados possibilitam concluir que é inegável a contribuição das inovações
tecnológicas no nosso cotidiano. Contudo o uso exagerado, descontrolado e
desmedido pode acarretar prejuízo aos usuários, visto a tendência demonstrada
em ficar conectado o tempo, e os sentimentos de ansiedade e preocupação ante a
possibilidade de desconexão.
A
pesquisa corrobora os resultados levantados nas pesquisas relacionadas. A
dependência tecnológica ficou evidente sobretudo pelo número de horas que as
pessoas ficam conectadas às redes sociais e a necessidade de constante
verificação dos comentários e compartilhamento das postagens. Fato que indica a
necessidade de aprovação.
Outro
fato que merece destaque é quanto ao acesso das redes sociais nos ambientes de
trabalho e de estudos, levando a prejuízos na produtividade, soma-se a isso a
interferência causada nas relações interpessoais.
Conclui-se
que a sociedade precisa se conscientizar dos males trazidos pela necessidade
constante de conexão, de interação, de compartilhar, de responder, de ser
visualizado. A dependência tecnológica é um tato real que está ocorrendo no
nosso meio de convívio.
______
Com informações da RBA.
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