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Manifestantes pró-Bolsonaro na praça Giradouro, em Juazeiro do Norte-Ce. (FOTO/Reprodução/Redes Sociais). |
Texto | Leonardo Sakamoto, em seu blog
As
manifestações em defesa de Jair Bolsonaro, deste domingo (26), não foram
desprezíveis, mas também não ultrapassaram os protestos de estudantes e
professores do último dia 15, tendo menos capilaridade que eles. Como resultado
imediato, teremos uma semana de guerra de narrativas nas redes sociais, entre
grupos pró e contra o governo e o aumento da polarização.
Independentemente
disso, elas devem trazer um resultado imediato: aumentar os protestos marcados
por estudantes e professores e apoiados por movimentos sociais, na próxima
quinta (30), contra os cortes na educação.
Foram
recebidas com repúdio nas redes mais progressistas e liberais as imagens de
manifestantes arrancando uma enorme faixa que dizia "Em defesa da
educação" do Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba.
Repórteres que registravam a cena foram agredidos de forma covarde.
Marcelo
Fonseca, reitor da UFPR, postou em sua conta no Twitter: "Neste exato
momento manifestantes retiraram, com muitos aplausos, uma faixa no Prédio
Histórico da UFPR em que estava escrito: "Em defesa da educação".
Inacreditável".
Também
não foram bem digeridos os cartazes cutucando estudantes e professores,
afirmando que "quem trabalha protesta ao domingo". Ou as entrevistas
de manifestantes dizendo que a mídia e estudantes mentem ao falarem em cortes
no orçamento da educação. Ou, ainda, os comentários de influenciadores digitais
da extrema direita provocando os atos do dia 30.
Guilherme
Boulos, coordenador nacional do MTST, avalia as manifestações de hoje como
"pouco expressivas, com exceção de SP e RJ e, mesmo assim, menores que o
dia 15". Ele explica que Bolsonaro esperava e precisava de muito mais.
O
fracasso da tática do bolsonarismo deixa claro que o governo perdeu apoio
social e pode ser derrotado nas ruas. Isso representa uma derrota ao governo e
dá mais força para a mobilização do dia 30", afirma.
Isso
sem falar que as manifestações não decepcionaram e contaram com a cota de
doidos autoritários e golpistas pedindo morte do Supremo Tribunal Federal,
prisões de seus ministros, cassação de parlamentares e, claro, a velha
"intervenção militar constitucional" – vulgo golpe. Sem falar das
indefectíveis faixas "Olavo tem razão" – que funcionam como uma
declaração de insanidade. Pelos relatos dos colegas que chegam de todo o país,
houve mais manifestantes que rechaçaram a presença da imprensa do que a dos
malucos que protestavam contra a democracia.
Isso
mostra que o Bolsonarismo-raiz, aquele pessoal que está com o capitão para o
que der e vier, que não votou nele apenas pelo antipetismo, foi às ruas. Fazem
barulho, mas (ainda) não o bastante para assustar como a convulsão do
impeachment em 2015 e 2016. E a depender do que aconteça com a economia, nem
venha a fazer.
A
reprovação do governo Bolsonaro ultrapassou nominalmente a aprovação na última
pesquisa XP/Ipespe. A somatória de "ruim e péssimo" atingiu 36% e o
"ótimo e bom" chegou a 34%. Desde o início do ano, a reprovação
passou de 20% para 36% e a aprovação de 40% para 36%..
Apesar
de terem reunido um bom público nas avenidas Paulista, em São Paulo, e
Atlântica, no Rio, as manifestações em defesa do governo tiveram menos
capilaridade que os protestos contra os cortes na educação no último dia 15 de
maio. Estes se estenderam por 222 municípios em 26 estados e no Distrito
Federal. Neste domingo, foram 156 municípios, também em todo o país, de acordo
com o levantamento do portal G1.
Na
Paulista, o ato se concentrou em três quarteirões e teve manifestantes
espalhados de forma discreta por outros sete, enquanto a manifestação convocada
por estudantes e professores lotou quatro quarteirões. A diferença é que a
anterior saiu em marcha depois da concentração e a de hoje, não.
As
manifestações deste domingo também elegeram o presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia, como o grande vilão, ao lado do "centrão",
com direito a um pixuleco seu ao lado do de Lula no ato do Rio de Janeiro.
Quase ao mesmo tempo, durante um culto na capital carioca, Bolsonaro dizia que
as pessoas foram às ruas com o "propósito de dar recado àqueles que teimam
com velhas práticas não deixar que esse povo se liberte". Analisando o
contexto, o presidente acusou de escravizar a população aqueles dos quais dos
votos depende.
Não
sabemos se era a intenção do presidente terminar de implodir as pontes com o
parlamento, mas talvez ele tenha conseguido.
Os
atos foram insuficientes para Bolsonaro mostrar que pode tentar governar
passando por cima do parlamento e a oposição na sociedade, mas o bastante para
mostrar que ele conta com certo apoio. As reações, agora, estão com o Congresso
e com os insatisfeitos na sociedade. E não prometem ser tranquilas para o
presidente.
Talvez
ele prefira assim. Uma pessoa que sempre promoveu a guerra não consegue
governar costurando paz.
Enquanto
isso, como já disse aqui, uma maioria da população que não sairia para
protestar nem contra, nem a favor do governo, segue preocupada se vai conseguir
trabalhar amanhã para alimentar a família em um país que conta com 13,4 milhões
de pessoas que procuram serviço e não conseguem. E um governo mais preocupado
em estimular "manifestações espontâneas" que se esquece de lançar uma
política nacional para fomento de emprego e renda.
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