Mocidade Alegre é campeã do Carnaval de SP com enredo sobre imigrante africano no Japão

 

Mocidade Alegre no desfile pelo Grupo Especial das Escolas de Samba de São Paulo — Foto: Ricardo Matsukawa/UOL/Folhapress.

A escola de samba Mocidade Alegre é a grande campeã do carnaval de São Paulo em 2023. Com o enredo “Yasuke”, um imigrante africano que se tornou samurai no Japão, a escola chega ao 11º título, ao lado de Nenê de Vila Matilde e atrás apenas da Vai-vai em número de títulos.

Segundo historiadores, “Yasuke” teria aportado no Japão no século XVI, quando as missões jesuítas portuguesas chegaram ao país, junto com o missionário Alessandro Valignano. O rapaz seria originário de Moçambique e, até então, os japoneses nunca haviam visto uma pessoa de pele preta.

Em segundo lugar fico a Mancha Verde, seguida pela Império de Casa Verde, em terceiro lugar. Unidos de Vila Maria e Estrela do Terceiro Milênio foram rebaixadas para o Grupo de Acesso do carnaval de São Paulo. A apuração foi realizada nesta terça-feira (21), no sambódromo do Anhembi, Zona Norte da Capita paulista.

Ao todo, as 14 escolas foram avaliadas em nove quesitos e a disputa entre Mocidade Alegre e Mancha Verde foi acirrada até os 210 pontos. A Mancha Verde perdeu um décimo no peúltimo quesito, Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Nenhuma das agremiações foi únida nesta edição do carnaval da maior cidade do país, no entanto, as torcidas não puderam participar da apuração na tarde desta terça-feira. O desfile das campeãs acontece no próximo sábado (25) e vai reunir as cinco escolas mais bem colocadas do grupo especial: Mocidade Alegre; Mancha Verde; Império de Casa Verde; Acadêmicos do Tatuapé; Dragões da Real.

----------

Com informações do Notícia Preta.

Negro Sou, livro de Guerreiro Ramos

 

(Capa | Edson Ikê)

Considerado um dos pais da sociologia brasileira contemporânea, Guerreiro Ramos (1915-82) foi um dos pensadores de maior renome no país nos anos 1950 e 60. Foi também professor, ensaísta, servidor público, poeta, teórico da administração e político. Contraditório e polêmico, Guerreiro acabou sendo marginalizado e apagado do cânone das ciências sociais do Brasil por sua independência de pensamento e personalidade combativa.

"Negro sou" é uma seleção de textos sobre a temática étnico-racial escritos pelo autor entre 1949 e 1973 – muitos inéditos em livro –, que contemplam sua complexa relação com a tese da democracia racial no país, a participação ativa no Teatro Experimental do Negro e seus estudos precursores sobre branquitude e decolonialidade.

Organizado por Muryatan S. Barbosa, especialista no pensamento guerreiriano, o livro busca recuperar a atenção devida a uma obra que não apenas segue atual, mas que tem muito a acrescentar aos debates de hoje sobre racismo e identidade no Brasil.

Esta coletânea inédita de textos sobre a questão étnico-racial por um dos mais importantes pensadores brasileiros do século XX já está em pré-venda! Garanta o seu exemplar.

Lançamento: 18/04/2023

______

Com informações da editora Zahar.

Inscrições abertas para 15ª Olimpíada Nacional em História do Brasil

 

Participantes durante a final da 11ª edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil - Divulgação | ONHB.

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) abriu as inscrições para a 15ª edição da Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB), projeto voltado para estudantes e professores de escolas públicas e particulares de todo o país. O prazo para se inscrever com desconto segue até 12 de março e, sem desconto, até 27 de abril.

Para participar, os interessados devem formar equipes com um professor de História e três alunos dos Ensinos Fundamental (8º e 9º anos) ou Médio. Na última edição, em 2022, participaram da ONHB mais de 72 mil pessoas.

A 15ª edição terá início no dia 8 de maio e segue até 17 de junho. Ao todo, serão realizadas seis fases online com questões de múltipla escolha e realização de tarefas, além de final presencial, que ocorrerá nos dias 26 e 27 de agosto, na Unicamp, em Campinas (SP).

A coordenadora da ONHB e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, Cristina Meneguello, explica que o principal objetivo do projeto é incentivar o estudo da História do Brasil, a análise crítica e o trabalho em equipe.

Não é necessário que os participantes tenham estudado o conteúdo previamente para participar da Olimpíada, pois é oferecido um amplo material de apoio como textos, imagens e mapas que embasam a decisão das equipes na hora de enviar as respostas. Esse modelo assemelha-se ao trabalho realizado por historiadores”, explica.

Fases da Olimpíada

As seis fases online têm duração de uma semana cada e preveem questões de múltipla escolha e realização de tarefas. O conteúdo apresentado nas questões permeiam, além da História do Brasil, assuntos interdisciplinares, como geografia, literatura, arqueologia, patrimônio cultural, urbanismo, atualidades etc. O formato oferece aos estudantes e professores a oportunidade de discutir temas que nem sempre são abordados em sala de aula ou estão presentes nos livros didáticos.

Meneguello afirma que a ONHB é uma importante ferramenta de ensino de História do Brasil. “Nesses 15 anos, pudemos observar como a Olimpíada estimula a análise crítica dos estudantes e contribui para a preparação deles para vestibulares, concursos e exames, como o Enem”, considera.

A competição também faz parte do edital ‘Vagas Olímpicas’ da Unicamp. De acordo com o desempenho, os participantes podem concorrer a duas vagas no curso de graduação em História da Unicamp, sem passar pelo vestibular.

A ONHB é realizada com apoio do Departamento de História da Unicamp, do Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp e da Associação Nacional de História (Anpuh). Conta também com a participação de docentes universitários, alunos de graduação, mestrandos e doutorandos.

____________

Com informações da Seduc-CE.

Quem são os Yanomami, o povo que segura o céu

 

(FOTO/ Mídia Ninja).

Desde o começo de janeiro, mais de mil indígenas da etnia Yanomami precisaram ser deslocados às pressas para postos médicos em Roraima, para receber cuidados de saúde. Os indígenas sofrem de casos graves de malária e de desnutrição. Segundo o Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária (Sivep-Malária), o povo Yanomami concentrou 10% dos casos da doença registrados ao longo do ano de 2022, quantidade desproporcional dado que os indígenas da etnia representam 0,013% da população brasileira. Em 2023, pelo menos seis mortes de indígenas já foram registradas.

A tragédia ganhou destaque no noticiário internacional. Era uma crise já há muito antecipada. Os problemas de saúde dos Yanomami estão diretamente relacionados à expansão do garimpo ilegal em suas terras. Predatória, essa prática polui rios, e contamina peixes — usados na alimentação dos indígenas — com metais pesados. A atividade também cria poços de água parada, onde proliferam mosquitos transmissores de doenças. “A presença de garimpeiros na terra indígena Yanomami, em Roraima, é antiga. Desde 2015, observamos o número de garimpeiros aumentar”, disse Dario Kopenawa, presidente da Hutukara Associação Yanomami (HAY), à Brasil de Direitos em 2021. “De início, eram  7 mil pessoas, subindo e descendo o rio. Alertamos as autoridades, pedimos ajuda. Nada foi feito”.

Dados da Hutukara e do Instituto Socioambiental (ISA) sugerem que o problema se agravou durante o governo Bolsonaro. Um estudo conduzido pelas duas organizações mostra que a área afetada pelo garimpo na Terra Indígena Yanomami cresceu 309% entre 2018 e 2022. Hoje, chega a 5 mil ha: algo equivalente a 6 mil campos de futebol.

O presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami, Junior Hekurari, relatou à Globonews que enviou mais de sessenta pedidos de auxílio ao longo dos quatro anos de governo Bolsonaro e nunca obteve resposta. Durante esse período, 570 crianças com menos de cinco anos morreram. Dados do jornal Sumaúma mostram que o número de mortes de crianças Yanomamis aumentou 29% durante esse mesmo espaço de tempo


Mulheres e crianças yanomami em Surucucu, na Terra Indígena Yanomami. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Essa não é a primeira vez que os Yanomami sofrem com o avanço de garimpeiros. No início da década de 1990, um ataque de garimpeiros resultou na morte de 16 indígenas, incluindo crianças. O episódio ficou conhecido como o massacre do Haximu, e foi o primeiro crime ocorrido no Brasil a ser julgado como genocídio.

Habitantes da porção norte da floresta amazônica, os Yanomami se distribuem em aldeias espalhadas entre o Brasil e a Venezuela. São regiões de difícil acesso e, em parte por causa disso, o contato dos Yanomami com não-indígenas é relativamente recente. No Brasil, esse povo ocupa um território de mais de 96 mil quilômetros quadrados. Trata-se da maior terra inígena do país, cujo processo de demarcação foi concluído em 1992.

Diante do avanço da crise humanitária, Brasil de Direitos reuniu informações sobre a cultura e a história desse povo.

Quem são os  Yanomami

Espalhados entre Brasil e Venezuela, os Yanomami somam cerca de 33 mil pessoas. Trata-se de uma sociedade que fala diversos dialetos, e que está dividida em mais de 600 comunidades distribuídas pelos dois países.  Isso “faz deles um dos maiores grupos ameríndios da Amazônia que conservam em larga medida seu modo de vida tradicional”, conta o antropólogo Bruce Albert em “A queda do Céu”, livro escrito em parceria com o xamã Davi Kopenawa Yanomami.

No idioma desse povo, “Yanomami” significa “ser-humano”. É um termo que eles usam para se referir a si mesmos, em oposição aos napë  — os “brancos” ou os “inimigos”. Na sua cosmologia, os Yanomami foram criados por um demiurgo chamado Omama, que dotou a sociedade de regras. “Omama tinha muita sabedoria”, explica Kopenawa em  A Queda do Céu. “ Ele soube criar a floresta, as montanhas e os rios, o céu e o sol, a noite, a lua e as estrelas. Foi ele que, no primeiro tempo, nos deu a existência e estabeleceu nossos costumes”.

Os Yanomamis são caçadores e agricultores que vivem em sociedades onde a vida é comunitária e onde a divisão das tarefas é feita de acordo com o gênero. Todos moram em grandes casas circulares chamadas “yanos” ou “shabonos”. Costumeiramente, as mulheres cultivam a terra, produzindo vegetais que, estima-se, respondem por 80% da alimentação das comunidades. Já os homens ficam responsáveis pela caça. De acordo com os hábitos dos yanomami, um caçador não pode comer o animal que abateu. A carne é compartilhada pelo grupo, e os homens somente consomem a carne obtida por outro caçador.

Para esse povo, tudo tem um espírito, sejam pessoas ou montanhas. Segundo suas crenças, depois de morta, uma pessoa só vai para o céu (ou para “ a terra-de-cima”) depois de todos os seus pertences serem destruído. Por isso, os Yanomami cremam seus mortos.

À morte de um Yanomami, segue-se  um longo ritual para que, tanto a comunidade, quanto aquele que a deixou, possam se desprender. Por se entenderem como parte não só do mundo material, mas de todas as dimensões existentes, visíveis ou invisíveis, os rituais podem durar anos.  Esses momentos de luto são mediados pelos xamãs e imprescindíveis para o estilo de vida dos Yanomamis, uma vez que é a partir das cerimônias ocorridas depois da cremação que o morto morre como memória e permite que os vivos sigam suas existências.


O xamã Davi Kopenawa (Foto: Reprodução / Instituto Socioambiental).

Essa existência é ameaçada pelos brancos, cujas atividades predatórias ameaçam fazer “o céu cair”.  Em um trabalho publicado em 1995, o antropólogo Albert explica que, de acordo com as crenças Yanomami, a terra atual surgiu depois que os xamãs ancestrais morreram. Enraivecidos, os antigos espíritos cortaram o “céu dos primeiros tempos”, que cedeu sob o próprio peso e caiu. O avanço do garimpo, que ameaça esse povo desde os anos 1980, provocou uma espécie de atualização desse mito. Hoje, os Yanomami acreditam que, se o garimpo continuar a avançar, seus xamãs morrerão, e o céu tornará a cair.

Quando todos nós tivermos desaparecido, quando todos nós, xamãs, tivermos morrido, acho que o céu vai cair. É o que dizem nossos grandes xamãs. A floresta será destruída e o tempo ficará escuro. Se não houver mais xamãs para segurar o céu, ele não ficará no lugar. Os brancos são apenas engenhosos, eles ignoram o xamanismo, não são eles que poderão segurar o céu (...) Não são só os Yanomami que morrerão, mas todos os brancos também. Ninguém escapará à queda do céu. Se morrerem os xamãs que o mantêm no lugar, ele cairá mesmo. É o que dizem nossos anciãos. Nossos grandes xamãs e nossos anciãos estão morrendo um após outro, isso me desespera. Os brancos destroem nossa floresta e nossos anciãos morrem todos, pouco a pouco, de epidemia. Isso me dá raiva.

Depoimento de Davi Kopenawa a Bruce Albert, disponível em O ouro canibal: a queda do céu e uma crítica xamânica da economia política.

A história de ataque aos Yanomami

Os Yanomami viveram em relativo isolamento até o final do século XIX. No Brasil, seu contato com não-indígenas se tornaria mais intensos por volta dos anos 1940. Foi quando o governo brasileiro criou postos do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), o órgão indigenista que antecedeu a Funai, na região. Por essa época, também se tornaram mais comuns as missões religiosas, católicas e evangélicas, que se estabeleceram no território.

O quadro se agravaria na década de 1970. Sob o regime militar, o governo federal criou projetos destinados a ocupar a Amazônia brasileira. Em 1973, o exército iniciou a construção de uma rodovia que tinha como propósito ligar toda a região. O projeto fazia parte do chamado Plano de Integração Nacional (PIN). Para os indígenas, o resultado foi trágico: com a estrada, chegaram epidemias de sarampo, malária, coqueluche e ISTs que levaram a morte aos povos da região. Em 1976, o planejamento foi paralisado. 

Em 1975, o governo detectou a presença de ouro no território Yanomami. A descoberta levou a uma corrida para a região: calcula-se que, nos anos 1980, cerca de 40.000 garimpeiros brasileiros invadiram o território Yanomami. Mais de mil indígenas morreram.

Nos anos seguintes, a Survival International, ONG britânica ainda sem mobilização no Brasil, fez denúncias sobre a situação na OEA (Organização dos Estados Americanos) e na ONU (Organização das Nações Unidas). É nesse período que ganha destaque o xamã Davi Kopenawa. Porta-voz de seu povo, Kopenawa se tornou um ferrenho defensor da demarcação da Terra Indígena Yanomami.


          

Kopenawa nasceu por volta de 1956, no extremo norte do estado do Amazonas. Em A Queda do Céu, Albert conta que, na infância, Kopenawa viu todo o seu grupo de origem ser dizimado por epidemias. Por um tempo, o xamã conviveu com missionários de organizações religiosas: foram eles que lhe deram o nome “Davi”. Rompeu com os religiosos no final dos anos 1960, quando uma epidemia de varíola, levada pela filha de um dos missionários, matou os membros que restaram de sua família. A invasão garimpeira da década 1980, e a morte de Yanomamis que se seguiu a ela, trouxeram a ele memórias dolorosas de sua infância. Nos anos 1980 e 1990, Kopenawa visitou diversos países, denunciando os males do garimpo e o avanço da destruição no território Yanomami. Em 1989, foi convidado pela ong Survival International a aceitar, em nome da organização, o prêmio Right Livelihood, considerado o “Nobel alternativo”.


Áreas de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami vistas em sobrevoo ao longo do rio Mucajaí. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil.

Em 1992, após uma longa campanha, a Terra Indígena Yanomami foi demarcada. O território homologado possui 9,6 milhões de hectares, sendo atualmente a maior Terra Indígena do Brasil.

Um ano após a vitória, no entanto, um grupo composto por quinze garimpeiros entrou na aldeia de Haximu e assassinou 16 indígenas Yanomami, que eram majoritariamente crianças, adolescentes, idosos e até um bebê. Em 1996, cinco homens foram identificados e condenados por genocídio, o primeiro caso tipificado nesse crime no Brasil.

Um novo genocídio

A crise humanitária que os Yanomami vivem atualmente já é, por muitos, considerada um novo genocídio. Foi assim que o jurista Luciano Mariz Maia, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), classificou o quadro em entrevista à Agência Brasil. Em 1992, Maia foi um dos três procuradores da república responsáveis por denunciar os garimpeiros que praticaram o massacre de Haximu.  No dia 30 de janeiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a abertura de um inquérito que deve investigar se autoridades brasileiras negligenciaram a crise entre os Yanomami, e se houve tentativa deliberada de exterminar esse grupo étnico.

As doenças causadas pelo acesso restrito à comida ou sua contaminação devido ao garimpo na região já tinham sido pauta da UNICEF, em 2019, quando divulgaram dados preocupantes a respeito do tema no “Seminário Nacional sobre os Determinantes Sociais da Desnutrição de Crianças Yanomami”.

Nele, foi apontado que oito em cada dez crianças menores de 5 anos pesquisadas apresentavam desnutrição crônica e 67,8% estavam anêmicas. Um relatório mais recente, lançado em 2022 pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), apontou outro problema: dos 37 Polos Base (unidades básicas de saúde indígena) existentes na Terra Yanomami, 18 tinham registro de desmatamento causado pela mineração ilegal.

______

Com informações do Brasil de Direitos.

Por que é tão difícil e importante abordar sobre as designações de gênero na Educação?

 

(Foto: Adobe /Stock).

As salas de aula são sempre provocativas. Ser professora ou professor é desafiador e não é necessário aqui abordar todos os motivos, mas entre alguns deles, há as dificuldades de aprendizagem – cada vez mais latentes – as sócio econômicas e as psicológicas. A escola (sobretudo a pública) no Brasil opera no limite: salas superlotadas, docentes exaustos devido às longas jornadas de trabalho e falta de apoio básico técnico e mental. Estudantes também clamam por uma escola inclusiva e que realmente seja para todos e todas na prática e não somente na bela teoria pedagógica que aprendemos. 

A estrutura da escola, a disposição dos corpos em salas de aula nos diz muito sobre as dificuldades ou a problemática da inclusão. Como declarou Foucault, “em qualquer sociedade, o corpo está preso no interior de poderes muito apertados, que lhe impõem limitações, proibições ou obrigações” (1987, p. 163). Há espaço mais disciplinador e organizador de corpos que a escola?

Posto que a instituição escolar tenha ainda muitos aspectos inspirados nos séculos passados, o mundo não é mais o mesmo há tempos e a juventude acompanha tudo de forma eficaz. Aqueles que foram jovens nos anos 80 e 90 – história recente – já impressionam-se sobre como ficaram para trás, sobre como a liberdade que tinham (ou achavam que possuíam) não é mais a mesma. Não é possível dissociar que jovens das décadas passadas frequentaram uma escola pós regime militar, o que nos diz muitas coisas sobre o tipo de aprendizado e o teor das discussões. Todavia, o docente que acredita que formou-se para transmitir conteúdos e somente isso, sofre e sofrerá cada vez mais frustrações. A escola pode ser a reprodutora de corpos dóceis (Foucault, 1987) mas as lutas e a resistência em favor da diversidade desorganizam essa polida estrutura.  
Pois bem, em se tratando de designações de gênero, abre-se diante de nossos olhos o questionamento que Guacira Lopes Louro nos trouxe: qual é o gênero da escola? A autora segue então em duas possíveis “respostas”: pode ser feminina, no sentido que é majoritariamente constituída por mulheres ou, como outros afirmam, masculina devido ao nosso conhecimento produzido ser historicamente construído por homens. Continua afirmando que o que fica evidente é que a escola é atravessada pelos gêneros, não é possível pensar a instituição sem refletir sobre as construções do que é o masculino e o feminino, isto é, do significado de gênero (2021, p.93). É ainda um espaço binário, em que as diferenças e as diversas designações ainda não são compreendidas e o mais lamentável, não são respeitadas. 

Em algumas rodas de conversa com estudantes do ensino fundamental sobre o assunto, alguns sentiram-se envergonhados em abordar a temática, possivelmente pela educação que recebem em suas casas; mas a grande maioria precisava e ansiava debater o assunto. Um dos maiores problemas é que entre a vasta quantidade de conteúdos ditados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e o conservadorismo familiar que foi ainda mais exaltado com o último presidente da República brasileira, o espaço para estes debates é reduzido ou inexistente. E aos docentes que se “arriscam”, não é incomum serem acusados de propagarem a fantasiosa ideologia de gênero quando se propõem a trabalhar sobre a diversidade, questões relativas ao corpo, à proteção da mulher ou o não binarismo. As consequências da falta de debate são vistas nas estatísticas: evasão escolar, abusos sexuais, suicídios, feminicídios e o ranking que tanto nos envergonha, de o Brasil ser “campeão” em mortes de pessoas trans. Sim, a escola tem muito a ver com tudo isso.

Pois bem, por mais retrógrada e sexista que a instituição escolar pode ser, é lá que formamos grande parte do que somos e do que levamos para o mundo. E por mais que o processo seja coletivo – estudantes, mantenedoras e gestores – são os professores e professoras que estão no front. Logo, há muito trabalho a fazer. O início consiste em perceber que pessoas estão ali e que a atividade docente não é mecânica. Nesse sentido, bell hooks nos ensina: “Para começar, o professor precisa valorizar de verdade a presença de cada um. Precisa reconhecer permanentemente que todos influenciam a dinâmica da sala de aula, que todos contribuem. Essas contribuições são recursos” (2017, p.18).

O segundo ponto que pode parecer óbvio, mas precisa ser elucidado, é que docentes não podem ser preconceituosos. A exclusão é feita pelo olhar, pelos gestos, pelas ironias. São violências simbólicas. Quando relacionadas às mulheres e estudantes LGBTQIAP+, são ainda mais dolorosas, porque a sociedade já se encarrega de exercer a violência seja ela simbólica ou física. A escola deve, ao contrário, acolher. Como elucidou Paulo Freire, “ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação” (2003, p.35). Não há como ocorrer a essencial relação de cumplicidade sem que haja de fato a inclusão. 

Outro ponto é o diálogo. Não formamos estudantes sem as listas de conteúdos, porém é essencial o entendimento de que não é somente isso, é isso, mas também a pesquisa, o importar-se, o olhar, o debate. Um exemplo clássico em que há diversas discordâncias é a Educação Sexual nas escolas. A expressão é formal e parece reguladora, contudo, deveria ser responsabilidade de toda a escola, não de profissionais em específico. E por educação sexual, entende-se aqui algo muito maior do que estudar a genitália ou os métodos contraceptivos das aulas de ciências: compreende o respeito ao corpo, à diversidade, ao entendimento de gênero, da identidade de gênero, das diversas orientações e fenótipos que seres humanos podem ter. É levar adiante que a heteronormatividade ou cisnormatividade são palavrões vazios, é indagar, afinal, o que é “normal”. E para isso, não precisa ser de alguma área específica da Educação.

Muitos docentes podem e vão pensar que a teoria é bonita e fácil, mas que empiricamente falando, são questões bem mais complexas. O interessante é envolver-se, ler, procurar entender conceitos, ficar atentos e atentas às violências de gênero que acontecem nas salas de aula diariamente. Como sugeriu o título, ninguém disse que seria fácil, mas certamente é compensador. 

¹ Professora de História, Mestranda em Educação pela Universidade La Salle na área de Gênero, sob a orientação da Dra Denise Quaresma da Silva

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 27 ed. Rio de Janeiro, Vozes, 1987. 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, saberes necessários à prática educativa. 26 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2003.

hooks, bell. Ensinando a transgredir – A educação como prática da liberdade. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2017.

LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. 16ª edição. Rio de Janeiro, Vozes, 2014.
-----------------
Com informações do Geledés.

Após 10 anos, governo anuncia reajuste nas bolsas de pesquisa

 

Bolsas ficaram 10 anos sem reajustes – Foto: Freepik. 

Sem aumento desde 2013, o Governo Federal anunciou, nesta quinta-feira (16), o reajuste das bolsas para pesquisa no Brasil. Os auxílios para Mestrado, iniciação em pesquisa, doutorado e pós-doutorado tiveram os percentuais de reajuste informados.

Ao todo, as bolsas de mestrado e doutorado terão aumento de 40%, enquanto os auxílios para pós-doutorado subirão mais 25%. As bolsas de iniciação científica no ensino médio serão triplicadas. Já a Bolsa Permanência para alunos em vulnerabilidade nas universidades, terão aumento entre 55% e 75%.
Bom dia. Anunciaremos hoje o aumento das bolsas de graduação, pós-graduação, iniciação científica e Bolsa Permanência, que não tinham reajuste desde o governo Dilma. Um dia importante para nossa educação, pesquisa e ciência. O Brasil voltará a valorizar estudantes e nosso futuro”, publicou o presidente Lula em uma rede social.

O valor das bolsas, mesmo reajustados ainda não atendem aos estudantes e pesquisadores, segundo Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “Diante da impossibilidade [desse aumento], queremos que o governo apresente esse reajuste [de 40%] como um plano de curto prazo”, afirma Vinicius Soares, presidente da Instituição.

Ainda segundo ele, o ideal seria um reajuste de, pelo menos, 75% “para compensar a defasagem dos valores atuais”, afirma. ele também elenca alguns dos motivos do percentual ser o citado. De acordo com Vinicius, três consequências de salários baixos para os pesquisadores são fundamentais para mantê-los nas universidades.

“Existem vários bolsistas em vulnerabilidade social, além disso, existe uma migração de cientistas para outras áreas do mercado de trabalho, e, por fim, falta de mecanismos para atrair novos talentos às carreiras científicas”, pontua.

De acordo com o governo Federal, o reajuste das bolsas vai gerar um investimento de R$ 2,38 bilhões anuais aos cofres públicos. Esses valores sairão dos ministérios da Educação e de Ciência e Tecnologia.
-------------
Com informações do Notícia Preta.

Lula confirma salário mínimo de R$ 1.320 e isenção de R$ 2.640 no IR a partir de maio

 

(FOTO |Reprodução).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta quinta-feira (16), em entrevista à CNN Brasil, que o salário mínimo será reajustado de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de maio. A expectativa é que o anúncio oficial seja realizado no Dia do Trabalho, junto com uma nova política de valorização do piso salarial nacional.


“Já combinamos com movimentos sindicais, com Ministério do Trabalho, com o ministro Haddad, que vamos, em maio, reajustar para R$ 1.320 o valor do salário mínimo, e estabelecer nova regra para o piso, levando em conta, além da reposição da inflação, o crescimento do PIB [Produto Interno Gruto], porque é a forma mais justa de distribuir o crescimento da economia”, disse Lula, segundo à emissora.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta quinta-feira (16), em entrevista à CNN Brasil, que o salário mínimo será reajustado de R$ 1.302 para R$ 1.320 a partir de maio. A expectativa é que o anúncio oficial seja realizado no Dia do Trabalho, junto com uma nova política de valorização do piso salarial nacional.

“Já combinamos com movimentos sindicais, com Ministério do Trabalho, com o ministro Haddad, que vamos, em maio, reajustar para R$ 1.320 o valor do salário mínimo, e estabelecer nova regra para o piso, levando em conta, além da reposição da inflação, o crescimento do PIB [Produto Interno Gruto], porque é a forma mais justa de distribuir o crescimento da economia”, disse Lula, segundo à emissora.

-------------

Com informações do Brasil de Fato.

Revolução cultural e a economia da classe trabalhadora

 

Revolução cultural e a economia da classe trabalhadora. (FOTO/ Agência Brasil).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Se constitui um elemento falso credenciar a educação e a cultura como instrumentos de transformação social. É muito comum expressões do tipo a “educação transforma um país” ou ainda “a cultura faz revolução”, os freirianos mais cautelosos  irão dizer “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, as bases dessas concepções desconsideram as condições objetivas concretas para o processo de ruptura social e elegem as ideias ( crenças, desejos, idealismo) como único e exclusivo motor para as mudanças estruturais da sociedade.

A educação a cultura estão refém da disputa do poder político e das lutas de classes. O que nos alertar para o teor ideológico e contraditório. Ao mesmo tempo que a cultura e educação podem contribuir o processo de emancipação da consciência humana podem também está ao serviço da opressão e da injustiça.

A educação e a cultura não só reproduzem os interesses da classe dominante, a partir dos seus aparelhos ideológicos, mas reverbera também a subversão contra o sistema de opressão e exploração, neste aspecto,  tanto a cultura como a educação são parte da luta política alinhada aos interesses  da classe trabalhadora  e devem ser reconhecidas dentro do campo disputa pela hegemonia política.

É preciso refletir sobre o significado de “revolução cultural”, no modo de produção capitalista, a partir da seguinte abordagem:  a desigualdade econômica e a desintegração cultural de uma país são partes da mesma discussão.  O que nos colocar diante da necessidade de defesa e de entendimento que a revolução cultural não se compõe  unicamente da educação e da cultura, mas da elevação da materialidade da cultura, em outras palavras do entrelaçamento com a economia e a democratização ( produção,  consumo, fruição e circulação) da produção cultural da humanidade ( do passado e do presente), o que  diz respeito desde  apropriação da história como o acesso as inovações tecnológicas e aos deslocamentos territoriais.  

O enfretamento dos problemas econômicos e a melhoria da qualidade de vida social e econômica da classe trabalhadora é  parte do alicerce   para impulsionar a chamada revolução cultural. A apropriação da economia pela classe trabalhadora gera novas relações sociais, consequentemente novas formas de apropriação da cultura.

Porém, não basta elevar o nível de consumo da classe trabalhadora, mas adentrar na disputa pela hegemonia cultural e política. Se existe uma cultura e ideologia da classe dominante, essas representam os interesses de manutenção social, política e econômica da classe dominante. O que exige uma contraposição pela classe trabalhadora.

A elevação das condições materiais da classe trabalhadora deve esta sintonizada com afirmação de valores emancipatórios como a solidariedade, igualdade, partilha, coletividade e defesa da vida humana. O que representa uma oposição aos valores disseminados pelas elites econômicas dominantes: competição, individualismo, segregação e exclusão.    

A revolução cultural, alinhada à economia, deve reconhecer o lugar da transversalidade e centralidade da cultura, educação e da comunicação como elevadores da consciência política e de classe, no caminho para a tomada de poder político pelo proletariado.

A revolução cultural para classe trabalhadora não se dará cantando para Faraós.