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Revolução cultural e a economia da classe trabalhadora

 

Revolução cultural e a economia da classe trabalhadora. (FOTO/ Agência Brasil).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Se constitui um elemento falso credenciar a educação e a cultura como instrumentos de transformação social. É muito comum expressões do tipo a “educação transforma um país” ou ainda “a cultura faz revolução”, os freirianos mais cautelosos  irão dizer “Educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam o mundo”, as bases dessas concepções desconsideram as condições objetivas concretas para o processo de ruptura social e elegem as ideias ( crenças, desejos, idealismo) como único e exclusivo motor para as mudanças estruturais da sociedade.

A educação a cultura estão refém da disputa do poder político e das lutas de classes. O que nos alertar para o teor ideológico e contraditório. Ao mesmo tempo que a cultura e educação podem contribuir o processo de emancipação da consciência humana podem também está ao serviço da opressão e da injustiça.

A educação e a cultura não só reproduzem os interesses da classe dominante, a partir dos seus aparelhos ideológicos, mas reverbera também a subversão contra o sistema de opressão e exploração, neste aspecto,  tanto a cultura como a educação são parte da luta política alinhada aos interesses  da classe trabalhadora  e devem ser reconhecidas dentro do campo disputa pela hegemonia política.

É preciso refletir sobre o significado de “revolução cultural”, no modo de produção capitalista, a partir da seguinte abordagem:  a desigualdade econômica e a desintegração cultural de uma país são partes da mesma discussão.  O que nos colocar diante da necessidade de defesa e de entendimento que a revolução cultural não se compõe  unicamente da educação e da cultura, mas da elevação da materialidade da cultura, em outras palavras do entrelaçamento com a economia e a democratização ( produção,  consumo, fruição e circulação) da produção cultural da humanidade ( do passado e do presente), o que  diz respeito desde  apropriação da história como o acesso as inovações tecnológicas e aos deslocamentos territoriais.  

O enfretamento dos problemas econômicos e a melhoria da qualidade de vida social e econômica da classe trabalhadora é  parte do alicerce   para impulsionar a chamada revolução cultural. A apropriação da economia pela classe trabalhadora gera novas relações sociais, consequentemente novas formas de apropriação da cultura.

Porém, não basta elevar o nível de consumo da classe trabalhadora, mas adentrar na disputa pela hegemonia cultural e política. Se existe uma cultura e ideologia da classe dominante, essas representam os interesses de manutenção social, política e econômica da classe dominante. O que exige uma contraposição pela classe trabalhadora.

A elevação das condições materiais da classe trabalhadora deve esta sintonizada com afirmação de valores emancipatórios como a solidariedade, igualdade, partilha, coletividade e defesa da vida humana. O que representa uma oposição aos valores disseminados pelas elites econômicas dominantes: competição, individualismo, segregação e exclusão.    

A revolução cultural, alinhada à economia, deve reconhecer o lugar da transversalidade e centralidade da cultura, educação e da comunicação como elevadores da consciência política e de classe, no caminho para a tomada de poder político pelo proletariado.

A revolução cultural para classe trabalhadora não se dará cantando para Faraós.

Se cada pessoa fizer sua parte?

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Uma onda festiva, harmoniosa, individualista, cheia de boas intenções e carregada de muita convicção acredita em uma tal revolução da consciência. Revolução cultural gestada de forma espontânea e a partir da autoconsciência. Baseada nas ideias “eu faço a minha parte” e de que a revolução se dará a partir do momento em que cada pessoa “tome consciência” do seu papel no processo civilizatório. Essas ideias preencheram o pensamento dos socialistas utópicos, mas não é coisa do passado, se faz presente no discurso contemporâneo, tanto do senso comum como de concepções mais elaboradas.

Essa tal revolução da consciência tem aconchego tanto na direita como na esquerda e nos ditos e enganosos movimentos livres e independentes. O que caracteriza a grosso modo esse pensamento é uma concepção que não leva em consideração a perspectiva histórica-social e as condições objetivas da sociedade. De feição idealista, ou seja, se acredita que apenas e unicamente as ideias podem fazer a transformação social. É como definir a vitória de um time de futebol sem considerar o time adversário ou escrever um romance épico sem conhecer a história.  

Essa concepção coloca em disputa para a classe trabalhadora caminhos de emancipação humana, onde o seu percurso e chegada se diferem e se antagonizam.  A esquerda enfrenta no seu seio um processo de alastramento e confusão com essas ideias, que tem ganhado capilaridade nos movimentos sociais e enfraquecido a luta da classe trabalhadora pela sua emancipação, a partir de uma compreensão histórica e social, que considera as condições objetivas da sociedade e a relação capital e trabalho, como fatores estruturantes das relações de exploração, opressão e desigualdade social.

Uma esquerda mística e carregada de idealismo pode atrasar a acumulação de forças da classe trabalhadora, como também uma esquerda sectária que não consegue enxergar para além da dimensão de uma Kombi ou que ainda faz análises conjunturais fora do tempo presente.      

A tal “revolução cultural” se encaixa como uma compressão micro de sociedade, como narrativa de grupos e ações isoladas, como um esquartejamento espacial para acomodação de grupos, pois não consegue dar conta de um projeto macro de sociedade com arquitetura e engenharia social de nação que se processa na vida real permeada de condições objetivas e de suas contradições.

Se cada um fizer sua parte não é suficiente, é paliativo, é ilusório insistir nesta tese. A revolução cultural se faz concomitantemente com a inversão das estruturas de poder. O que nos leva a crer que não se faz uma coisa independente da outra. A mudança de consciência faz parte da mudança das relações econômicas de poder, uma interfere na outra de forma dialética.

Organizar-se com a classe trabalhadora para desestruturar o poder, tomá-lo de assalto e ao mesmo tempo perceber a revolução cultural no curso deste processo é abrir alas para a construção de uma sociedade de novo tipo, onde a felicidade não esteja à venda no shopping center e a esperança de construir mudanças na estrutura social  e econômica estejam sempre vinculadas a realidade concreta.