Datafolha: 90% querem que professores discutam discriminação racial

Professor Nicolau Neto durante roda de diálogo com estudantes da EEFTI 18 de Dezembro, em Altaneira. (FOTO | Cláudio Gonçalves).


Nove em cada dez brasileiros concordam que a discriminação racial deve ser discutida pelos professores, segundo pesquisa Datafolha. No entanto, em muitas escolas, em especial da rede privada, esse debate é feito quase sem a presença de alunos e professores negros, em um país onde pretos e pardos são a maioria da população.

Kauany e Pedro são irmãos e estudam numa escola particular em Santa Fé do Sul, interior de São Paulo. Kauany, 14, é negra e sua turma de 9º ano tem três outros alunos negros. Pedro, 11, é branco e na sua turma de 6º ano tem 31 colegas brancos. Ambos têm apenas um professor negro.

Sidmar, 45, pai da Kauany e do Pedro, fez questão de colocar os filhos na rede privada para que eles pudessem ter, segundo ele, a melhor educação.

July Barbosa, 41, moradora da região metropolitana de Belo Horizonte, é mãe de três garotos negros e, como Sidmar, recorreu à rede privada, embora reconheça a escassez de diversidade na escola.

Os colégios onde essas crianças estudam não são exceções. Das 20 instituições de ensino mais bem colocadas no Enem de 2019, 19 eram escolas da rede particular.


Segundo o Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, apenas três escolas registraram 20% ou mais de alunos negros, e duas delas não registraram nenhum aluno preto ou pardo.

Para o Gemaa, embora as escolas não sejam obrigadas a coletar esses dados, a falta de informações consistentes refletiria o descaso com a temática racial. A Folha entrou em contato com a Abepar (Associação Brasileira de Escolas Particulares), mas não obteve retorno da instituição.

Com 13 anos, o filho de July está no 8º ano e diz que nunca sofreu racismo porque ele é “muito na dele”, mas admite que os outros colegas negros, às vezes, são chamados de macaco. Ele acha que isso é errado. “A gente não é animal.”

Kauany também diz nunca ter sofrido racismo na escola, mas já ouviu colegas dizerem coisas como “cala a boca, seu preto” para um aluno negro — o que a deixa muito chateada. A menina, que nasceu em Belém, diz também que, às vezes, é chamada de pernambucana devido ao seu sotaque.

Para Eneida Martins Gonçalves, psicóloga especializada em saúde da população negra, a falta de representatividade e o modo como negros são retratados, sempre associados à escravidão e à marginalidade, reforçam a sensação de não pertencimento.

Wilson Crescencio Antônio, 58, professor de artes e comunicação numa escola particular de Pirassununga, interior de São Paulo, diz que a presença dele e de outros professores negros funciona como antídoto para a sensação de solidão dos poucos alunos negros que passam pelo colégio.

O filho de July tem dois professores negros. Os outros alunos não gostam muito de um deles, o de matemática, mas ele é um dos favoritos do garoto por ser o único que o usa como exemplo nos exercícios.

Em 2020, após o episódio envolvendo o assassinato do americano George Floyd, comunidades de pais de alunos organizaram movimentos em busca de maior diversidade racial em escolas particulares. Um deles foi fundado por Evie Barreto Santiago, 49.

Ela é negra e, ao perceber que o colégio onde seu filho estuda, em São Paulo, não se posicionava de modo satisfatório contra o racismo, reuniu-se com outros pais para questionar a postura da escola.

SE TIVESSE MAIS PESSOAS NEGRAS, PENSO QUE PODERIA MELHORAR O PRECONCEITO. NÃO PARAR DE EXISTIR, MAS DIMINUIR UM POUCO

Kauany, 14

Estudante negra do 9ª ano de uma escola particular no interior de São Paulo

Desde então, ela diz que a instituição destinou bolsas integrais para alunos negros, aumentou a diversidade do corpo docente e começou a repensar o currículo escolar para garantir a aplicabilidade da lei de ensino sobre história e cultura afro-brasileira em todas as matérias.

Nunca parei pra pensar nisso, mas agora acho que poderia ter mais pessoas negras na escola. Até mesmo diretores” diz a menina Kauany. “Se tivesse mais pessoas negras, penso que poderia melhorar o preconceito. Não parar de existir, mas diminuir um pouco.”

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Com informações da Folha de S.Paulo e reproduzido no Geledés.

Concurso com 2 mil vagas para professor de Fortaleza tem inscrições prorrogadas

 

Prefeito José Sarto (PDT) sanciona lei que cria 2 mil vagas para professores da rede municipal de Fortaleza. (FOTO/Arquivo/SVM).


As inscrições para concurso público para professores efetivos do município de Fortaleza foram prorrogadas até o dia 10 de julho, conforme anunciado pelo órgão nesta segunda-feira (4). Ao todo são 2 mil vagas, sendo 1.056 para profissionais pedagogos e 944 para professores de disciplinas específicas. Os salários iniciais são de R$ 4.384,82.

O certame, que será realizado pelo Instituto de Desenvolvimento e Recursos Humanos do Município (Imparh), iria receber inscrições até este domingo (3). Os interessados podem fazer a inscrição mediante o preenchimento de um formulário, exclusivamente, pela internet.

O certame será composto por três etapas: prova objetiva, prática de didática (aula) e entrega de títulos e comprovação profissional. A prova escrita será realizada no próximo dia 7 de agosto.

Os profissionais aprovados no concurso público já devem ser incorporados ao quadro de docentes da Rede Municipal no próximo ano letivo.

As 944 vagas de professores de disciplinas específicas dividem-se nas seguintes áreas:

Ciências

Língua Portuguesa

Educação Física

Geografia

História

Língua Portuguesa/Literatura

Matemática

Ensino Religioso

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Com informações do G1 CE.

Parceria do Lacite/UFCA com Camaradas proporciona ações sobre direito à cidade

 

Parceria do Lacite/UFCA com Camaradas proporciona ações sobre direito à cidade. (FOTO | Reprodução | WhatsApp).

Por Naju Sampaio*

A parceria entre o Laboratório de Estudos em Gestão de Cidades e Territórios (LaCITE) e o Coletivo Camaradas faz parte da Incubadora dos Movimentos Insurgentes, que é uma ação capitaneada pelo LaCITE, juntamente com o Observatório de Cidades do Cariri e também com a Universidade Estadual do Ceará. A parceria se iniciou em 2018, com a colaboração no desenvolvimento de atividades e no diálogo sobre o Território Criativo do Gesso.

A Incubadora dos Movimentos Insurgentes busca apoiar os projetos que desenvolvem um conjunto de ações, como também que possuem uma trajetória na elaboração das novas possibilidades de fazer a cidade, de participar da gestão, levando em conta as vozes dos moradores e características do território.

De acordo com Raniere, professor da UFCA e coordenador tanto do Observatório quanto do LaCITE, o Coletivo Camaradas dialoga na linha de pesquisa de gestão democrática da cidade, fortalecendo o processo de participação e engajamento cidadão. Segundo ele, a parceria possibilita o debate sobre o direito à cidade, proporcionando a discussão sobre uma cidade que seja feita pelas pessoas, sobre e para as pessoas.

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* Naju Sampaio é estudante de jornalismo e bolsista/integrante do Coletivo Camaradas.

Bolsonaro dobra gastos com publicidade na TV em ano eleitoral; Globo ultrapassa Record e SBT

 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) carregando uma placa com os dizeres "Globo Lixo", em fevereiro de 2021 - Reprodução/Facebook.

Se um dia o presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou a Rede Globo uma das inimigas do país, hoje ele já nem se lembra mais. Entre janeiro e junho deste ano, o governo dobrou os gastos com publicidade na emissora, em relação com mesmo período do ano passado. 

Pré-candidato à reeleição, hoje Bolsonaro utiliza o espaço da maior rede de TV do país para fazer campanha e divulgar o que fez em três anos e meio de governo. Há cerca de um ano, em fevereiro de 2021, Bolsonaro chegou a levantar uma placa com a frase “Globo Lixo”, durante viagem para a entrega do Centro Nacional de Treinamento de Atletismo do município de Cascavel, no Paraná.

Entre 1º de janeiro a 21 de junho do ano passado, foram pagos R$ 6,5 milhões à TV Globo pela veiculação de materiais publicitários. Em 2022, houve um aumento de 43% desse valor, chegando a R$ 11,4 milhões, segundo dados da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência (Secom), reunidos pelos UOL.

O valor investido somente nesse período equivale a 42% de todo recurso destinado à compra de espaço publicitário na Globo durante os quatro anos de mandato, considerando os seis primeiros meses de cada ano. 

Juntas, Globo, SBT, Rede TV, Record e Band receberam R$ 33 milhões no primeiro semestre. É o maior valor desde 2009, quando foram pagos R$ 30,4 milhões em valores líquidos. O montante destinado à TV Globo nesses primeiros seis meses do ano superou o montante pago à Record e à SBT, emissoras próximas do presidente Jair Bolsonaro.

Campanhas institucionais

Mas não foram só os valores pagos à TV Globo que mudaram. O modelo de propaganda que mais recebeu investimento também passou por modificações. Se em 2021, a Secom comprou mais inserções publicitárias para veicular informações de “utilidade pública”, neste ano priorizou materiais institucionais. 

Em 2021, foram 46 propagandas de utilidade pública e 10 para materiais institucionais na TV Globo. Neste ano, entre janeiro e junho, foram 72 campanhas institucionais e somente duas de utilidade pública. As campanhas institucionais são aquelas que contém informações sobre os feitos da gestão e ajudam a levantar a popularidade do presidente.

Na Record, o volume de materiais institucionais saiu de seis para 53. No total, as cinco maiores emissoras do país receberam um aumento de 69% na quantidade desse tipo de material veiculado, em relação ao primeiro semestre do ano passado.

Os recursos destinados à TV Globo passaram a aumentar depois que o Tribunal de Contas da União (TCU) obrigou a Secom a direcionar os investimentos com propaganda de acordo com critérios técnicos, como os números de audiência dos veículos de comunicação. 

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Edição: Vivian Virissimo, originalmente no Brasil de Fato.

Senado aprova Dia Nacional do Candomblé

 

O relator foi o senador Paulo Paim Foto: Geraldo Magela/Agência Senado


O plenário do Senado aprovou, nesta quinta-feira (30,) o PLC 69/2018, que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé, a ser comemorado anualmente no dia 21 de março. Como houve alteração no texto da Câmara, a matéria retorna para a avaliação dos deputados.

O texto inicial, de autoria do deputado Vicentinho (PT-SP), estabelecia a comemoração no dia 30 de setembro. Entretanto, o relator na Comissão de Educação (CE), senador Paulo Paim (PT-RS), propôs alterar a data, já que o dia 21 de março foi escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para estabelecer o Dia Internacional Contra a Discriminação Racial.

A ocasião relembra o massacre de 69 pessoas negras que protestavam pacificamente contra o regime de segregação racial na África do Sul, em 1960”, explicou.

Em plenário, o senador Paulo Paim agradeceu ao autor por aceitar a mudança para o dia 21 de março, e reafirmou a importância simbólica da proposta, que retornará para votação na Câmara dos Deputados.

Ainda na sua análise, Paim ressaltou que até os anos 1960, os praticantes do Candomblé se concentravam principalmente nos estados da Bahia e de Pernambuco, além de outras regiões pontuais habitadas por grupos de descendentes de escravos. Com os movimentos migratórios de nordestinos para a região Sudeste do país, segundo o senador, o Candomblé se expandiu. Somente na cidade de Salvador, existem 2.230 terreiros registrado e cerca de 3 milhões de brasileiros são praticantes da religião.

Consideramos, portanto, meritório o projeto. É inegável a importância do Candomblé para a formação da Nação Brasileira e para a identidade cultural e religiosa de relevante parcela da população”, concluiu.

Segundo o autor da proposta, deputado Vicentinho, o Candomblé desembarcou no Brasil junto com as grandes levas de escravos no século XVI. “Atualmente reconhecido como religião, o Candomblé foi bastante marginalizado num passado não muito distante. Inicialmente proibida e considerada como ato criminoso, a prática do Candomblé chegou a ser impedida por vários governos, sendo seus adeptos perseguidos e presos pela polícia.”

Histórico

O Candomblé nasceu no continente africano, na região onde hoje se situa a República Federal da Nigéria, e acompanhou as inúmeras levas de escravos que aportaram em solo brasileiro no século XVI. Proibida e discriminada por séculos, com seus praticantes tendo sofrido prisões e perseguições rotineiramente, a religião fez uso do sincretismo como forma de legitimação, associando os Orixás aos santos católicos. Cada um dos Orixás possui, assim como os santos, características e preferências específicas, como danças, comidas, cores, instrumentos e saudações. Os rituais são vivenciados em locais conhecidos como terreiros, casas ou roças. A liderança de cada um dos locais pode ser matriarcal, com a figura das ialorixás, ou mães de santo, ou patriarcal, onde exercem a liderança os babalorixás, ou pais de santo. Há, ainda, os locais de prática que admitem liderança mista.

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Com informações da Agência Senado e reproduzido no Geledés.

“Nossa história, nossa ancestralidade”: conheça a história do quilombo Flores

Gerson e Geneci são as lideranças do Quilombo Flores. (FOTO/ Fabiana Reinholz).

 

Em artigo, a escritora mineira Conceição Evaristo afirmou que "é tempo de formar novos quilombos, em qualquer lugar que estejamos, e que venham os dias futuros. A mística quilombola persiste afirmando: ‘a liberdade é uma luta constante". O tempo de se aquilombar está vivo em muitos tempos e espaços.       

Há mais de seis décadas, o Quilombo da Família Flores tem reafirmado a sua ancestralidade e lutado por pertencimento territorial no bairro Glória, Zona Sul de Porto Alegre. Situado na rua Manduca Rodrigues, o quilombo é o sétimo autorreconhecido da capital gaúcha.

Assim como ocorre com outros quilombos, os Flores vêm sofrendo com ações de reintegração de posse. O episódio mais recente aconteceu em 2015, quando a comunidade foi surpreendida pelo esbulho cometido pela Fundação Marista - Unidade Assunção, localizada ao lado do território. Embora alegue ser proprietária do terreno, a entidade não apresentou registro em seu nome até o momento.

O primeiro esbulho foi numa terça-feira. A gente ouviu um barulho de máquina, fomos ver e o maquinário ia entrando. Eu fui lá para tentar dialogar com o pessoal, entre eles estava um representante do Marista. Eu falava e a máquina continuava tocando, e ele não me deu ouvidos. Tive que chamar o meu advogado, que trouxe os papéis do terreno, dizendo que a gente já tinha, há três meses, reaberto uma ação de usucapião. Havia uma ação que estava arquivada, de 1983. Uma prova que o meu pai já tinha tentado, por meio judicial da lei branca, fazer as coisas corretas. E mesmo assim não fomos ouvidos, mesmo assim eles tentaram passar por cima”, relembra Geneci Flores, liderança do território.

Quilombo para mim é onde a pessoa se sente bem, é onde a pessoa possa vir e se sentir livre. Onde ela mostra o que tem de bom, onde se passa a sua cultura. Um quilombo é a nossa terra, a mãe-terra, onde a gente não se vende
 

Desde o começo do processo, o quilombo perdeu dois terços da área. E, segundo a família, a tentativa de remoção tem como objetivo a ampliação do estacionamento do Colégio Marista Assunção.

Estamos na Justiça Federal, na luta até agora”, frisa Geneci. Nesta ocasião, os Maristas construíram um muro no local. Em 2017, a Fundação Cultural Palmares reconheceu a Família Flores como remanescentes de quilombos.

No final de 2019, técnicos do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram até o local para dar início à elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). No processo de titulação quilombola, o RTID é uma etapa obrigatória. Na ocasião, Bethânia Zanatta, antropóloga do Incra responsável pela realização do RTID, havia dito que a situação do Quilombo Flores “é urgente em função da expropriação do terreno”, realizada em 2015 a mando da União Sul Brasileira de Educação e Ensino (USBEE), mantenedora do Colégio Marista Assunção. De acordo com Geneci, em 2021, um funcionário do Incra esteve medindo o terreno. A comunidade ainda segue no aguardo.

Início de tudo

Geneci, 44 anos, juntamente com o seu irmão, Gerson Luís Flores da Silva, 45, são as atuais lideranças do quilombo e salvaguardam a história de seus ancestrais. Nascidos e crescidos no território, contam que na infância costumavam brincar em um córrego do Arroio Cascata que passa nos fundos do território. Nesse “riachinho”, como se refere Geneci, ela relembra que sua mãe o usava para lavar roupas.

Antigamente dava pra tomar banho. Nós tomávamos banho, andávamos de cipó e pulávamos na água, mas devido à poluição, não tem como a gente utilizar. As pessoas estão botando o esgoto todo ali”, lamenta. De acordo com o Atlas da Presença Quilombola em Porto Alegre/RS, o Arroio Cascata era ponto de encontro de mulheres negras e libertas do século XX. Ali, elas lavavam juntas as suas roupas.

Foi o pai de Geneci e Gerson que deu início aos vínculos da família no local. Natural da cidade de Bom Retiro do Sul (RS), migrando para a capital na década de 1930, onde se instalou na região da antiga Ilhota. Em 1955, se mudou para o terreno na Glória, onde se casou com a primeira esposa, que trabalhava para a família Azambuja, dona do lugar, que deu permissão para que eles vivessem ali. Contudo tempo depois, segundo relata Geneci, tentaram retirá-los. “Meu pai tinha esse pressentimento, o medo de que no dia que ele se fosse [falecesse], como ele era uma pessoa doente, eles iam tentar fazer isso. Aí ele entrou na justiça com uma ação de usucapião”, conta.

Após o falecimento da primeira esposa, o patriarca Adão Fausto Flores da Silva conheceu Rosalina da Costa Vasconcelos, mãe de Geneci e Gerson. Juntos, continuaram vivendo no local. “Eles se conheceram num terreiro da prima do meu pai, na grutinha da Glória. Ele batia tambores, fazia o canto. Foi ali onde conheceu a minha mãe”, conta Geneci. Quando se conheceram, Adão era viúvo e Rosalina tinha cinco filhos, frutos de seu primeiro casamento. Eles se casaram em 1975, e Rosalina, que até então morava na Estrada dos Alpes, se mudou, junto de seu pai, Eurico Lopes da Costa, e seus filhos para o território onde hoje se localiza o quilombo.

Da união de Adão e Rosalina, 45 famílias se constituíram. “Tenho irmãos que não moram aqui no quilombo, mas eles sabem que independente de onde forem, são do Quilombo Flores. Eles se autodeclaram quilombolas e isso é muito importante, esse reconhecimento de sua origem”, ressalta Geneci. Atualmente, quatro famílias residem no local.

Localizado em uma zona de classe média da capital gaúcha, Geneci comenta que os moradores do entorno já os reconhecem como quilombo e procuram saber sua história. Situação divergente da que passaram seus pais. “Existia um pouco de preconceito da nossa vizinhança, tudo que acontecia de ruim nas esquinas eles apontavam: ‘deve ser aquela família lá’, quando meus irmãos eram adolescentes, ‘ah deve ser aquela negrada lá do canto’. Tudo que acontecia de errado na rua eles apontavam para nós, a ‘negrada’ do canto da rua, sendo que o nosso reconhecimento vinha mesmo através da comunidade, através da periferia”, desabafa.

Agora, afirma a liderança, a nova geração é uma geração que não se deixou abater. “A geração da minha mãe é uma geração que não tinha muita defesa. A nossa geração agora é uma geração que já tem mais estudo, que tem mais convívio com a população”, complementa.

Sob a proteção de Bará e a herança dos pais

Em frente à casa de Gerson, na entrada do quilombo, uma pequena casinha vermelha chama atenção: trata-se da morada do Bará, de quem Gerson é filho espiritual. Para as religiões de matriz africana, o Orixá Bará é o mensageiro divino, guardião dos templos, casas e cidades. É o dono de todas as portas, de todas as chaves e de todos os caminhos.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e leia o texto completo.

Associação Cristã de Base (ACB) celebrará 40 anos

 

Feira Agroecológica de Crato. (FOTO | Reprodução | Diário do Nordeste).

Por Nicolau Neto, editor

No próximo dia 4 de julho a Associação Cristã de Base (ACB) completará 40 anos de atuação.

Segundo Nelzilane Oliveira, comunicadora popular, é mais um ano que brota do chão "nossas esperanças em dias melhores que cheguem em nossos lares luzes de alento em dias tão difíceis que atravessamos do ano passado até o momento." Ela se solidarizou com as famílias que perderam entes querido nessa pandemia acometidos pelo coronavírus.

Ainda quando da passagem do 39° aniversário, Nelzilane destacou a caminhada por um sonho coletivo, de muitos corações engajados e muito trabalho, além da dedicação em ver uma transformação de vida no cenário tão batido de escassez, fome e miséria. "Foram anos que passamos para ver o país sair do mapa da fome, anos de muito esforço coletivo para levar melhores condições de vida aos povos do semiárido", asseverou.

A ACB nasceu da luta de um grupo que se desprendeu de um coletivo ligado a igreja, mulheres e homens que passaram pela Ditadura Militar e tiveram em seus corações o desejo de ver o povo da zona rural com uma vida digna. Foram anos de muita batalha, muitas pessoas passaram pela escola ACB, é assim que muitos a chamam, uma verdadeira escola. Escola que em sua trajetória pode ver voos de muitos que por ela passaram, pessoas que seguiram rumos que foram trilhados o início de seus aprendizados nesta escola que esteve sempre ligada aos ensinamentos de Paulo Freire, na valorização da sabedoria popular.

"Cada uma e cada um que por essa escola passou pode deixar parte de si e levou um pouco da instituição em sua vida. Ano passado tivemos a passagem de nosso querido Jeová que será sempre lembrado por seu legado e alegria. Agroecologista, plantador de árvores, militante, lutador, pai, amigo e sonhador. Jeová brotou no Céu. Aqui na Terra semeou sonhos e deixou muitas saudades. Partilhou sabedoria por onde passou", disse.

Naquela mesma oportunidade, Nelzilane também lembrou o papel importante dos maus experientes na caminhada da ACB. "Os mais experientes que ainda fazem parte dessa caminhada são fonte de sabedoria e partilham suas experiências ao longo desses 39 anos de luta e resistência. Nomes que carregam traços de uma instituição que segue rumo ao bem viver, que na roda da vida traz a agroecologia como engrenagem que une os ensinamentos do povo e do tecnicismo das universidades”, destacou.

Este ano, as comemorações ocorrerão dia 8 de julho a partir das 7h00 da manhã e forma presencial. O encontro se dará no espaço da Feira Agroecológica e da Agricultura Familiar no município do Crato. No mesmo evento haverá a celebração dos 19 anos da feira.

A ACB é uma das sete parceiras do Blog.

Pesquisadores debatem equidade racial na educação básica na 1ª Jornada Anansi

 

Pesquisadores debatem equidade racial na educação básica na 1ª Jornada Anansi.

Evento aconteceu em 24 e 25 de maio e contou com a apresentação de projetos e pesquisas no campo da educação antirracista.

No evento foram apresentados projetos pedagógicos e práticas de gestão antirracistas que acontecem em escolas públicas das cinco regiões do país, além de indicadores qualitativos e quantitativos, fruto de estudos e pesquisas sobre questões étnico-raciais na educação básica, realizados por pesquisadores, em sua maioria, mulheres negras com pós-graduação no campo da Educação, que compõem uma rede de articulação e sustentação do Anansi Observatório de Equidade Racial na Educação Básica. Assista aqui.

“São iniciativas de extrema pertinência, relevância e resiliência que, apesar das condições adversas agravadas pela pandemia, constituem uma resposta ativa de pesquisadoras negras a partir do chão da escola, mobilizando redes de gestores e professores de todo o Brasil para trabalharem pela promoção da equidade racial na educação” afirmou a Profa. Dra. Cida Bento, fundadora e conselheira do CEERT.

O evento marcou o lançamento da plataforma que tem como objetivo monitorar e sistematizar informações para o controle social do cumprimento das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 nos sistemas de ensino. Acesse a plataforma aqui.

Na abertura, no dia 24, Daniel Bento Teixeira, diretor executivo do CEERT, e os representantes das instituições parceiras do Anansi, Angela Dannemann (Itaú Social) e Ricardo Henriques (Instituto Unibanco) ressaltaram a importância da promoção da equidade racial para avanço da qualidade da educação básica, desde a educação infantil até o ensino médio.

Na primeira mesa temática, com a mediação da Profa. Dra. Cida Bento, conselheira do CEERT, o pesquisador Alan Alves Brito, coordenador do Projeto “Zumbi-Dandara dos Palmares: desafios estruturais e pedagógicos da Educação Escolar Quilombola para a promoção da equidade racial no Brasil do século XXI” apresentou uma análise e indicadores inéditos sobre o cenário da educação escolar quilombola, com base em projetos que envolveram 142 escolas e 15 mil pessoas. 

No dia 25, o debate mediado pelo Prof. Dr. Delton Aparecido Felipe, representante da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), explorou temas relacionados à educação infantil a partir do projeto “Por uma infância escrevivente: práticas de uma educação antirracista”, coordenado pela Profa. Fátima Santana Santos, coordenadora pedagógica do CEMEI Dr. Djalma Ramos (BA), selecionado no Edital “Equidade Racial na Educação Básica”. A Profa. Graça Gonçalves da Universidade Federal Fluminense) e consultora do CEERT também contribuiu com a discussão. 

A educação da adolescência e juventude foi o tema da última mesa da jornada, mediada por Sonia Dias, coordenadora de programas no Itaú Social, a partir da experiência do Projeto “Ressignificando as Relações Étnico-raciais e de Gênero: pensando os conteúdos, conhecimentos, saberes e práticas escolares a partir das africanidades”, coordenado pela Profa. Vanderleia Reis, e selecionado pelo Edital “Equidade Racial na Educação Básica''. O debate contou com a participação da Profa. Wilma de Nazaré Baía Coelho, da Universidade Federal do Pará e da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd). Confira a íntegra do segundo dia da jornada aqui.

O evento online e ao vivo teve uma participação ativa da audiência pelo chat, que demonstrou interesse principalmente pelos materiais pedagógicos desenvolvidos no escopo dos projetos apresentados, disponibilizados na plataforma do Anansi Observatório de Equidade Racial na Educação Básica.

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Com informações do CEERT.