Sérgio Camargo é exonerado da Fundação Palmares

Sérgio Camargo. (FOTO/ Agência Brasil).


Sérgio Camargo, então presidente da Fundação Cultural Palmares, foi exonerado do cargo nesta quinta-feira (31). A decisão foi publicada no Diário Oficial da União. A publicação não informava quem será seu substituto.

Jornalista de formação, ele acumulou polêmicas enquanto representante do órgão. Atacou as religiões de matriz africana, o movimento negro e até Moïse Kabagambe, espancado até a morte no Rio de Janeiro depois de exigir o pagamento de pendências trabalhistas.

Camargo chegou a dizer que Moïse “era um vagabundo morto por outros vagabundos”, gerando críticas não só no governo como também no Judiciário. O ministro Gilmar Mendes disse que ele precisava ser contido no seu comportamento discriminatório.

Na terça, dia 29 de março, Sérgio Camargo se filiou ao Partido Liberal (PL), mesmo partido de Jair Bolsonaro. "Filiei-me ao PL! Negros não precisam ser vítimas. Negros são livres. Pretos e brancos unidos. Palmares digna. Bolsonaro até 2026. Sigamos, patriotas!", escreveu ele no Twitter, mas não chegou a divulgar qual cargo deve disputar.

A Fundação Cultural Palmares é de federação brasileira e, através da Lei nº 7668, serve para a preservação e promoção de valores culturais e sociais de negros e afro-brasileiros no país. É uma fundação vinculada ao Ministério da Cultura, com a lei criada em 1988.

Agora ex-presidente da Palmares, Camargo também foi acusado de assédio moral por funcionários do órgão. Segundo as denúncias, ele perseguia pessoas com pensamentos próximos ao do movimento negro.

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Com informações do Alma Preta.

Entrevista com Nilma Lino Gomes (UFMG), vencedora do prêmio Carolina Bori/SBPC 2022

Nilma Lino Gomes.(FOTO/ Reprodução).

A professora e pesquisadora Nilma Lino Gomes (UFMG) foi a vencedora do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher de 2022. A partir da indicação da ANPEd para a categoria Humanidades, a associada teve sua trajetória reconhecida e celebrada. O percurso da professora emérita da Faculdade de Educação da UFMG reverbera a luta antirracista e pelas ações afirmativas. Foi fundadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Afro-brasileiros (GIEAB) e do grupo Educação e Diversidade Étnico-Cultural (EDEC),  presidiu a Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), integrou a CEB/CNE (2010/2014), foi reitora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) e ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2015) e do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos (2015-2016). Atualmente é coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Educação, Relações Étnico-raciais e Ações Afirmativas (NERA/CNPq). Dentre seus livros, referência para a área de Educação e outros campos, destacam-se "O movimento negro educador" (2017) e "O negro no Brasil hoje" (2006), dentre outros. Nilma é pesquisadora ativa do GT 21 da ANPEd, de Educação e Relações Étnico-Raciais.

Confira entrevista concedida pela pesquisadora ao portal da ANPEd, reforçando o caráter coletivo de sua trajetória e premiação, o imperativo de se discutir desigualdades incorporando questões de gênero e raça, além da importância da pesquisa e dos movimentos sociais para esse avanço.

Você recebeu o Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, da SBPC. O que ele significa para sua trajetória pessoal e de pesquisadora?

Nilma Lino Gomes - Significa uma honra para mim, um reconhecimento do meu trabalho como pesquisadora engajada na luta contra o racismo, a discriminação e todo tipo de violência. Significa, também, o reconhecimento da trajetória de tantos intelectuais negras e negros, do passado e do presente, que lutamos para que a raça seja considerada como uma categoria de análise importante para a compreensão da realidade brasileira e para que o campo de estudos das relações raciais passe a ter a devida importância no campo das humanidades. Penso que nenhuma abordagem das humanidades que queira compreender a complexidade das relações históricas, sociais, culturais, políticas e econômicas, no Brasil, pode desconsiderar o peso das relações raciais, a forma como o racismo opera nas estruturas sociais e no cotidiano das pessoas. Receber o prêmio, para mim, reforça que a minha trajetória tem se construído coletivamente, pois se não fosse a nossa organização coletiva como negras e negras em movimento e como pesquisadores negros e negras, não teríamos chegado a esse patamar epistemológico e político. Ainda falta muito, tenho certeza, mas já demos passos muito importantes, seguindo o caminho de sabedoria deixado pelos nossos e nossas ancestrais.

Você recebeu uma premiação que destaca as mulheres como cientistas. De que forma a data de 08 de março, Dia da Mulher, pode ser trazida para debates necessários e urgentes, tais como desigualdades, opressões e feminicídio?

O 08 de março não é um dia de comemoração. É um dia de debate político sobre a importância da mulher na construção da nossa sociedade e de denúncia. Ainda vivemos  em uma sociedade de bases patriarcais e machistas que se reproduzem nas mais variadas instituições. Todo e qualquer debate sobre desigualdades sociais, políticas e econômicas precisa incorporar a questão de gênero e raça. Assim, poderemos desvendar as hierarquias de gênero e raça, entender como operam e reivindicar políticas públicas que superem essa situação. A discussão sobre o feminicídio e os seus impactos na vida das mulheres e na garantia de direitos é urgente. É também urgente denunciar e compreender mais uma perversidade e desdobramento do feminicídio: o feminicídio negro. O feminismo negro tem formulado muito bem a análise e a denúncia sobre esse desdobramento da violência contra as mulheres negras. Por isso, o movimento feminista e o feminismo negro lutaram para que  o feminicídio fosse reconhecido pelo Estado e pela Lei como um crime. Denunciar, desvelar e se contrapor ao feminicídio é se posicionar a favor da democracia e por uma vida com direitos para as mulheres. É também punir o agressor que, nas sociedades patriarcais e machistas, tende a ficar impune e se esconde atrás da frase machista e violenta de "matar em defesa da honra". Que honra é essa que autoriza  a morte da mulher pelo fato de ela ser uma mulher? E de ser considerada um ser inferior?  A educação ocupa um papel primordial nesse processo de reeducação nas relações de gênero. Por isso os grupos reacionários e conservadores reagem  com tanta resistência quando fazemos a discussão pedagógica e política sobre a questão de gênero na escola.

Você é uma docente e pesquisadora com passagens importantes pela gestão pública. Qual o papel da pesquisa para o desenvolvimento e efetivação de políticas públicas? O que tem pesquisado mais propriamente neste momento?

A pesquisa possibilita teorização, reflexão e uma refinada análise sobre a situação social, cultural, racial, política, de raça e gênero sobre a qual as políticas públicas incidirão. Por meio de dados recolhidos das pesquisas, das estatísticas formuladas contendo as mais variadas categorias para analisar a sociedade nas suas  diversas áreas: saúde, educação, trabalho, emprego, moradia, assistência, etc os gestores e as gestoras públicas podem ter um mapeamento dos pontos nevrálgicos sobre os quais as políticas públicas precisam incidir e, inclusive, construir novas políticas ou dar novas orientações aquelas já implementadas. A pesquisa também ocupa um papel crítico ao analisar o impacto ou não, o cumprimento ou não de políticas públicas sobre as mais diversas áreas.  Junto com a importância da pesquisa para o campo das políticas públicas quero destacar também a atuação dos movimentos sociais. Os movimentos sociais exercem um duplo papel nesse contexto: eles impactam o Estado e realizam o controle social das políticas já existentes indicando a urgência do atendimento de determinados setores em situação de maior desigualdade na sociedade e também indagam as pesquisas  e as ciências revelando lacunas e desigualdade no trato de determinados temas e questões urgentes para o aprimoramento das políticas. São os movimentos sociais que cobram e exigem que as pesquisas sejam realizadas por uma diversidade de pesquisadores: negros, brancos, indígenas, quilombolas, mulheres, pessoas do campo, com deficiência LGBTQUIA+ no campo da produção do conhecimento. Pesquisadores e pesquisadoras diversos enriquecem  a ciência e a análise das políticas pública realizadas em nosso país.

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Com informações da Anped.

Sueli Carneiro é eleita Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti

 

(Foto: Marcus Steinmayer).


A filósofa Sueli Carneiro, uma das principais teóricas do feminismo negro do Brasil, será a Personalidade Literária do Ano a ser homenageada na 64ª edição do Prêmio Jabuti. O anúncio foi feito na manhã desta terça-feira (29) em coletiva de imprensa realizada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL), que promove a premiação, a mais prestigiosa das letras brasileiras. Este ano, a cerimônia de entrega dos prêmios voltará a ocorrer presencialmente após dois anos de edições virtuais . A festa, que também será transmitida pela internet, acontecerá em novembro, embora a data e o local ainda não tenham sido definidos.

Fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e autora de livros como “Escrito de uma vida” e “Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil” , Carneiro luta há décadas por políticas públicas para a população negra, como a implementação das cotas raciais e a demarcação de terras quilombolas. A filósofa é a primeira autora de não ficção eleita Personalidade Literária do Ano, distinção já concedida a poetas e romancistas como Thiago de Mello , Adélia Prado, Conceição Evaristo e Ignácio de Loyola Brandão.

“Com muita esperança, homenageamos a trajetória e a obra de Sueli Carneiro. Ela é referência mundial não só de pesquisadora e intelectual orgânica, mas também nosso grande exemplo de escritora afeita ao debate aberto e franco, um modelo para quem busca um pensamento de práxis agregadoras. Em torno dela, na cerimônia, veremos reunirem-se muitas das forças culturais que buscam construir o Brasil plural que desejamos”, afirmou o curador do prêmio, Marcos Marcionilo, em nota divulgada após a coletiva.

Elogio à Semana de 22

Para homenagear o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 , o Jabuti convidou cinco grafiteiros, de todas as regiões do país , para repaginar a identidade visual do prêmio. São eles: o amazonense Raí, a cearense Tereza de Quinta, o mato-grossense Rafael Jonnier, o paulista Ciro Schumann e o gaúcho Marcelo Pax. Segundo Marcionilo, a escolha dos grafiteiros foi influenciada pela Antropofagia modernista , que pregava a canibalização de referências estrangeiras na construção da identidade nacional.

— Ao assumir o grafite, retomamos a Semana de 22 e a Antropofagia dos modernistas, que é capaz de mover nosso pensamento e nossa arte — afirmou o curador. — O grafite brasileiro é reconhecido no mundo todo e é desejo do Jabuti assimilá-lo e assemelhá-lo às nossas Literaturas.

Também foram anunciadas mudanças em duas categorias. A antiga Biografia, Documentário e Reportagem foi renomeada Biografia e Reportagem. E a categoria Ciências Humanas passa a considerar também obras de crítica literária. O Jabuti conta com quatro eixos (Literatura, Não Ficção, Produção Editorial e Inovação) e 20 categorias. Cada um dos premiados receberá uma estatueta e R$ 5 mil. Os vencedores das categorias dos eixos Literatura e Não Ficção concorrem ao Livro do Ano, cujo prêmio é de R$ 100 mil. No início do ano, jurados do prêmio reclamaram ao GLOBO do processo de escolha “quase aleatório” do Livro do Ano .

As inscrições do Prêmio Jabuti começam às 12h desta terça-feira no Portal de Serviços da CBL e se estendem até às 18h do dia 26 de maio. Pelo sexto ano consecutivo, os valores das inscrições não formam alterados e variam entre R$ 285,00 e R$ 515,00. Haverá desconto de 10% para todas as inscrições realizadas nos próximos 30 dias.

Presidido por Marcos Marciolino, sódio da Parábola Editorial, o conselho curador do Jabuti também é composto por Bel Santos-Mayer, Camile Mendrot, Luiz Gonzaga Godoi Trigo e Rodrigo Casarin.

Confira os eixos e categorias no Prêmio Jabuti:

– Eixo Literatura (oito categorias): Conto; Crônica; HQ; Infantil; Juvenil; Poesia, Romance Literário; Romance de Entretenimento.

– Eixo Não Ficção (seis): Artes; Biografia, Documentário e Reportagem; Ciências; Ciências Humanas; Ciências Sociais; Economia Criativa;

– Eixo Produção Editorial (quatro categorias): Capa; Ilustração; Projeto Gráfico; Tradução;

– Eixo Inovação (duas categorias): Fomento à Leitura; Livro Brasileiro Publicado no Exterior.

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Com informações do Geledés. 

Após 43 anos, processo do assassinato que motivou criação do MNU vem a público

(FOTO/ Reprodução/ Alma Preta).

Após 43 anos da prisão, tortura e morte de Robson Silveira da Luz, a família e a sociedade poderão acessar os documentos do processo judicial do crime. O jovem de 21 anos foi morto na 44° Delegacia de Polícia de São Paulo no dia 4 de maio de 1978. O caso é um dos impulsionadores da criação do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho daquele mesmo ano.

A disponibilização dos documentos faz parte de uma mobilização de Lucas Scaravelli, pesquisador cuja tese de doutorado será sobre a vida de Robson. “Eu fui atrás dos arquivos e agora a partir da força de articulação com pesquisador, desembargador, consegui a liberação e acho que é um momento importante para todas as lideranças”, conta. A pesquisa será desenvolvida pela área de antropologia social da Universidade de São Paulo (USP).

O protesto vai contar com a participação de Carlos Cardoso, advogado do caso na época, ativistas do movimento negro e a família de Robson.

O caso foi sentenciado em 1988, com a responsabilização do delegado Luiz Alberto de Abdalla e os policiais José Maximino Reis e José Pereira de Matos. O primeiro foi afastado do cargo e os outros dois exonerados da polícia civil. A família só recebeu a indenização e a sentença aos policiais só foi cumprida em 1996, 18 anos depois da morte de Robson Silveira da Luz.

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Com informações do Alma Preta. 

"Cara no fogo": fala de Bolsonaro sobre Milton Ribeiro viraliza; veja repercussão da demissão

 

Bolsonaro troca ministro da Educação pela quarta vez após denúncias de corrupção contra Ribeiro; na foto, o ex-ministro durante posse no Palácio do Planalto - Clauber Cleber Caetano/PR

Uma fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a honestidade do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que pediu demissão nesta segunda-feira (28), viralizou nas redes sociais.

Eu boto a minha cara no fogo pelo Milton. Uma covardia o que estão fazendo”, disse o presidente, na última quinta-feira (24), sobre as denúncias sobre a existência de um "gabinete paralelo" formado por pastores lobistas no Ministério da Educação.

Quando o cara quer armar, ele vai pelado na piscina, para a praia, pro meio do mato, não bota na agenda”, afirmou o presidente, que exigiu provas da corrupção praticada na pasta.

Milton Ribeiro pediu demissão do cargo de ministro com uma carta direcionada ao presidente. Ele admitiu que deixa o cargo em função das denúncias sobre o suposto favorecimento de pastores na distribuição de verbas do ministério.

A demissão

Mais cedo, o Brasil de Fato mostrou que Bolsonaro demitiria Ribeiro por pressão da bancada evangélica no Congresso Nacional. O chefe do Ministério da Educação (MEC) está no centro do escândalo dos pastores lobistas na pasta desde a semana passada.

Na tarde desta segunda-feira, a CNN Brasil e o G1 obtiveram uma versão da carta escrita por Ribeiro a Bolsonaro. Ele diz que a decisão da saída do MEC é um "até breve" e termina o texto com o slogan eleitoral de Bolsonaro: "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos".

Nas redes sociais, o nome de Milton Ribeiro era o terceiro tópico mais comentado do Brasil no Twitter, às 17h. Uma grande parte das publicações relembra a fala de Bolsonaro sobre a honestidade do ministro demissionário.

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Com informações do Brasil de Fato. Clique aqui e veja a repercussão.

“Falta de temática étnico-racial nas escolas causa desinteresse pela educação”, alerta pesquisadora

 

(FOTO/ Pixels).

As atitudes racistas geralmente se iniciam no ensino infantil, quando as crianças reproduzem falas e comportamentos aprendidos no meio familiar, ou ao serem vítimas de diferenciação no tratamento docente. Uma pesquisa recente feita em uma creche pública em Minas Gerais mostrou que bebês negros são vítimas dos próprios professores em atos simples como não terem direito a tomar banho.

Uma escola e um professor que não valorizam o pertencimento étnico-racial dos estudantes criam um desinteresse pela educação. A criança e o jovem passam a querer faltar, a não ligar para as tarefas, muitos ficam agressivos. A internalização de estereótipos também é um fator que leva à não aceitação de si mesmo, da sua origem”, explicou a pesquisadora e professora de História da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Ana Cristina Juvenal da Cruz, em entrevista ao jornal O Globo.

Ainda na reportagem sobre educação antirracista, Jaqueline Santos, consultora de equidade racial do Projeto Seta (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista), pontua que é preciso planejar uma gestão educacional entre governos e profissionais da educação. Ela também ressalta que é preciso reconstruir materiais didáticos e implementar atividades que tragam o debate para o ambiente escolar. “Secretarias de Educação e Ministério da Educação devem assumir essa agenda em todas as suas necessidades: fortalecimento do marco legal, formação de profissionais da educação, financiamento de pesquisa e produção de materiais didáticos e paradidáticos, gestão democrática com foco em equidade racial e comunidade escolar sensibilizada, comprometida e engajada na temática, condições institucionais com recursos financeiros, materiais e humanos e monitoramento e avaliação. Tudo isso dá base para a implementação efetiva da temática.”, explica a consultora.

Vale destacar que racismo é crime previsto na Lei 7.716/89 e sempre deve ser denunciado. A legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores. A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

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Com informações do Notícia Preta.

PCB e PCdoB celebram centenário

O PCdoB, por sua vez, realiza o Festival Vermelho, em Niterói (RJ). O evento tem início nesta sexta-feira (25) e encerra no sábado (26) com atividades culturais e políticas no centro cultural Caminho Niemeyer.(FOTO/ Reprodução).

O Partido Comunista do Brasil foi fundado há exatos 100 anos, em 25 de março de 1922. Duas siglas que seguem atuantes no cenário político do país festejam o centenário, completado nesta sexta-feira: PCB e PCdoB. Ambas as legendas têm origem no mesmo ato de fundação. No entanto, separaram-se em 1962. O PCB herdou a sigla, com uma sutil alteração no nome, para Partido Comunista Brasileiro. O PCdoB, com essa sutil mexida na sigla, herdou o nome de batismo, Partido Comunista do Brasil.

Para marcar a data, o PCB realizar um evento presencial em São Paulo. Neste sábado (26), os militantes do partido vão se reunir, às 16h, para o Samba Centenário, na sede do Sindicato dos Metroviários, próximo ao Tatuapé.

Em um texto publicado em seu site, o partido afirma que “o PCB segue leal a essa trajetória de luta revolucionária do proletariado brasileiro – e, como tal, legítimo herdeiro desse legado”.

Em Porto Alegre (RS), militantes do PCB fizeram uma série de intervenções na cidade resgatando o nome de lideranças políticas que foram ligadas ao partido.

PCdoB tem festival e presença de Lula

O PCdoB, por sua vez, realiza o Festival Vermelho, em Niterói (RJ). O evento, com início nesta sexta, vai até o sábado (26) com atividades culturais e políticas no centro cultural Caminho Niemeyer.

Com o tema “Floresce a Esperança”, o festival vai reunir diversas lideranças políticas como o ex-presidente Lula, o ex-ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, a ex-deputada Manuela D’ávila, a vereadora Cida Pedrosa e o prefeito de Niterói, Axel Grael.

A programação inclui debates, lançamento de livros, feira gastronômica, shows, cinema e espaço para crianças. O acesso é livre e gratuito, mediante apresentação do comprovante de vacinação contra a covid-19.

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Com informações da RBA.

Combate à desigualdade racial é decisivo na redução da pobreza 

 

(FOTO/ Fernando Frazâo/ Agência Brasil).


Neste ano, a Lei 12.711 de 2012 – mais conhecida como Lei de Cotas -, será reavaliada. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a presença de negros nas universidades dobrou de 9%, em 2011, para 18%, em 2019. Os números são referentes a estudantes que frequentam o ensino superior, entre 18 e 24 anos.

Segundo Wanderson Pinheiro, advogado do Movimento Negro Unificado, é inegável que o combate ao racismo seja um compromisso de toda a sociedade, mas não se pode negar o papel central do Estado na elaboração de ações afirmativas para o enfrentamento dos desafios. Exemplo disso é o comparativo de rendas mensais em nossa estrutura social: enquanto brancos ganham, em média, R$ 2.796 mensais, a renda de negros não passa de R$ 1.608. “Com dados tão discrepantes, manter a política de cotas é fundamental para promover uma sociedade mais igualitária”, afirma o advogado.

O modelo constitucional brasileiro propõe um sistema de discriminação positiva, com o intuito de alcançar a igualdade substancial, que é tratar os desiguais na medida de suas desigualdades. Nessa esteira, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a constitucionalidade da política de cotas, que foi capitaneada pela Universidade de Brasília (UnB). Segundo Pinheiro, nesse julgamento, o STF buscou reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais no Brasil.

Assim, surgiu a Lei de Cotas, com a premissa de permitir a superação das desigualdades decorrentes de situações históricas. Todavia, esse marco legal prevê uma revisão única, que ocorrerá na próxima sessão legislativa, em 2022. Fato é que não serão 10 anos de vigência da lei de cotas que irão corrigir 348 anos de tráfico e tortura de pessoas negras relegadas à própria sorte após a abolição”, explicou Wanderson. Para ele, é de suma importância trazer luz aos projetos legislativos que têm sido farol na construção da perspectiva material do princípio constitucional da isonomia.

De acordo com a deputada estadual pelo PSOL-RJ, Dani Monteiro, a universidade é um sonho para a maioria dos jovens negros no Brasil. Com as cotas, o espaço privilegiado de excelência e saber tornou-se acessível. “Foi assim comigo. Na universidade, eu me formei militante e ativista, porque mesmo com o acesso facilitado, é preciso lutar pela permanência, já que a maioria de nós ainda tem de trabalhar enquanto estuda”, pontua.

Para a deputada, a estabilidade do aluno negro e pobre no ensino superior segue uma tarefa material e simbolicamente árdua. “Por isso mesmo, a luta pela melhoria do ensino superior público precisa ser uma bandeira de todos nós”, assegura. “Ainda temos uma batalha pela frente, por isso é importante que o assunto esteja sempre em nossas mentes, que as crianças pretas e pobres já sejam habituadas a pensar que, sim, elas têm direito e têm um lugar legítimo a ocupar. Como a educação e a boa formação, a universidade também é para nós”, conclui Dani Monteiro.

Também cotista pela Universidade Católica de Minas Gerais, a vereadora em Contagem pelo PT, Moara Saboia, lembra que a cota faz parte da história de sua família: os irmãos são estudantes cotistas da Universidade Federal de Minas Gerais e os pais se formaram depois dos 60 anos por intermédio, também, das cotas.

Ela diz acreditar que o sistema de cotas é uma grande possibilidade, a abertura de uma porta para os sonhos. “Você não vai escolher o que vai ser para sempre a partir da cor da sua pele. As cotas nos permitiram sonhar com sermos aquilo que exatamente quiséssemos: eu faço engenharia, meus irmãos também, mas a gente poderia ser médico, psicólogo, cientista social, a gente poderia ser qualquer coisa”, garante a vereadora.

De acordo com a filósofa e educadora Sueli Carneiro, as cotas permitiram que a universidade faça parte do sonho das famílias negras. Para ela, o fim da discriminação passa efetivamente pela política de cotas e pela consequente igualdade econômica. Confira suas ideias na entrevista exclusiva da Revista Mátria reproduzida abaixo:

Em 2010, a senhora foi convidada para uma audiência no STF sobre política de acesso ao ensino superior. Defendeu e ressaltou a importância das cotas e da igualdade econômica para o fim da discriminação. De lá para cá, como a senhora enxerga o percurso das cotas no Brasil?

Com as cotas raciais, promovemos a democratização do acesso ao nível universitário e tornamos os campi universitários num espetáculo inédito de diversidade racial e étnica; elas vêm permitindo ainda a ampliação do horizonte epistemológico em diferentes áreas do conhecimento com as novas perspectivas que os cotistas agregam aos estudos acadêmicos. Como efeito positivo adicional, é o fato de as cotas para negros nas universidades terem colocado a universidade no imaginário das famílias negras. Fazer uma faculdade não era uma ambição da minha geração; é ambição das atuais. E, por fim, as cotas raciais retiraram os racistas do “armário” e os obrigaram a saír em defesa dos privilégios que sempre desfrutaram no acesso às vagas das universidades públicas no Brasil.

Como a senhora vê a relação entre escravidão, o racismo e a atual onda de autoritarismo que vivenciamos no país?

Não se passa impunemente por quase 400 anos de escravidão, sucedida por uma abolição inconclusa, que não previu nenhuma estratégia de inclusão dos ex-escravizados à sociedade brasileira, mas que ao contrário foram considerados estoques populacionais indesejáveis no novo país que seria forjado pela República. Por isso, sob a influência do “racismo cientifico”, ideologia corrente à época, essas populações deveriam ser substituídas por imigrantes europeus, para criar um novo povo e embranquecer o país. As ideias de superioridade e inferioridade racial, propagadas pelo “racismo científico” sobre a diversidade humana, impactaram e permanecem impactando a sociedade brasileira, por mais falaciosas que sejam, como já foi amplamente demonstrado pelas ciências contemporâneas.

Um dos argumentos que sustentam a negação da aplicação das cotas é que ela não focaria na questão estrutural da desigualdade, que seria a pobreza. Como a senhora enxerga esse argumento?

Considero esse um argumento que está a serviço da postergação no enfrentamento do problema. Defende-se a luta para garantir uma escola pública universal, gratuita e de boa qualidade, como se isso não tenha sido uma prioridade na luta dos negros desde a abolição; basta assinalar que era a principal reivindicação da Frente Negra Brasileira na década de 1930. Os que se aferram a esse argumento entendem, a meu ver, que enquanto a escola pública de qualidade não vem, os negros devem esperar, de preferência “bem quietinhos”, pois a reivindicação de cotas raciais não seria suficientemente transformadora segundo alguns dos seus críticos.

Portanto, a defesa da escola pública de qualidade, velha reivindicação das classes populares, entra na retórica das classes média e alta como remédio para impedir que os excluídos do direito ao conhecimento de qualidade conspurquem com o seu ‘‘baixo nível’’ o reduto de reprodução das elites em que se constituem as universidades públicas por elas privatizadas.

Por outro lado, em diferentes estudos, sobretudo os realizados pelo IPEA, se demonstrou que o problema da pobreza no Brasil não resulta de falta de recursos, mas sim de um alto grau de desigualdade. A segunda constatação é que as políticas universalistas não têm sido capazes de reduzir as desigualdades. A terceira é que o combate à desigualdade tem impacto superior sobre a redução da pobreza do que via crescimento econômico. É mais rápido e mais barato.

Segundo a socióloga Márcia Lima, um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base na Pnad-2007, realizou projeções para a diminuição da desigualdade racial e apontou que seria necessário manter o mesmo ritmo de queda durante, ao menos, quarenta anos para que se consolidasse uma sociedade racialmente mais igualitária. Mas os opositores das cotas passam, intencionalmente, ao largo dessas evidências.

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Com informações do Geledés.