NUAFRO abre inscrições para bolsistas para pesquisa sobre Antirracismo e Serviço social

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

O Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afrobrasilidade, Gênero e Família (NUAFRO), vinculado à UECE, abriu Edital de seleção para bolsistas do PROGRAMA BICT/FUNCAP (2021 – 2022) com a finalidade de preencher 02 vagas para o Projeto de Pesquisa sobre “Antirracismo e Serviço social: ánalise da questão racial na pós-graduação em serviço social.”

Segundo o NUAFRO, a seleção se dará por meio do preenchimento da ficha de inscrição no Google Forms e envio para o e-mail: laboratorionuafro@gmail.com e os/as concorrentes terão que encaminhar uma redação com o seguinte tema acerca da Questão Racial e a Formação Profissional do Serviço Social na Contemporaneidade. A proposta do texto deve ser encaminhada até às 23:59 deste sábado, 09.

De acordo ainda com o edital do NUAFRO, a seleção será composta ainda de uma entrevista no formato remoto pelo Google Meet, dos/as candidatos/as selecionados/as, o link e as demais informações serão enviados pelo e-mail inscrito na presente ficha (Dia 11/10);

Quem se inscreveu, deve ficar atento aos prazos. O resultado final dos/as candidatos/as será divulgado dia 12 do mês em curso.  Passado essa fase, será encaminhado os/as selecionados/as, dia 13, as orientações referentes ao envios das documentações de acordo com o Protocolo de Entrega de Documentos.

Para mais informações, leia o Edital aqui.

Ministério da Economia corta 92% dos recursos destinados à Ciência

Congresso aprova corte de 92% de recursos da Ciência a pedido do Ministério da Economia.(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O Congresso Nacional aprovou nesta quinta, 7, um projeto que abre crédito suplementar de R$ 690 milhões a serem investidos no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Contudo, a pedido do Ministério da Saúde, 92% da quantia será investida em outros ministérios, sobrando apenas R$ 55,2 milhões que serão destinados, de fato, à Ciência (cerca de 8%).

Dentre a lista de outros ministérios que serão beneficiados com os 92%, está o Ministério do Desenvolvimento Regional, que receberá R$ 150 milhões para ações de proteção e Defesa Civil na gestão de riscos e desastres; R$ 100 milhões para a integralização de cotas de moradia do Fundo de Arrendamento Residencial e R$ 2,2 milhões para obras de infraestrutura hídrica. O Ministério da Educação vai receber R$ 107 milhões, para a concessão de bolsas de estudo no ensino superior e o Ministério da Saúde vai ficar com R$ 50 milhões, para o saneamento básico.

Em nota enviada por oito entidades científicas ao Senado, eles afirmam que “dá-se com uma mão, para retirar com a outra”, e pedem que a retirada dos recursos seja revista

Sem o dinheiro, poderá haver a perda de bolsas e a suspensão do Edital Universal do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Atualmente, o orçamento do Conselho chegou a um dos menores valores desde 2001.

A medida segue agora para sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
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Com informações do O Povo.

Sueli Carneiro deixa conselho editorial da Folha de S. Paulo

 

Sueli Carneiro.(FOTO/ Divulgação).

A filósofa e escritora Sueli Carneiro, pediu o seu desligamento do conselho editorial do jornal Folha de S. Paulo. A informação foi divulgada pela Folha, após reunião do conselho, nesta quinta-feira (7).

A saída de Sueli Carneiro ocorre dias depois do jornal publicar uma artigo do colunista Leandro Narloch, em que ele relativiza a escravidão de mulheres negras, em texto intitulado “Luxo e riqueza das ‘sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro”. Em resposta, o advogado Thiago Amparo, que integra o conselho editorial da Folha, classificou o artigo como racista e o jornal como conivente por publicá-lo.

Na coluna, Narloch argumentou que o movimento negro de hoje deve se inspirar nos negros escravizados que ascenderam socialmente. Em um trecho ele diz: “os negros foram escravizados, assassinados e estuprados no sistema escravocrata, mas olhem para o lado bom: meia dúzia de sinhás ascenderam socialmente dentro desse sistema”.

A sinhá preta é um personagem poderoso porque complica narrativas de ativistas. As negras prósperas no ápice da escravidão são uma pedra no sapato de quem acredita que ‘o capitalismo é essencialmente racista e machista’ e que o preconceito é uma força determinante […]”, disse Narloch, em mais um trecho da coluna, utilizando a mesma tática que em seu livro “Guia do Politicamente Incorreto”.

Durante o encontro da Folha, o economista Joel Pinheiro da Fonseca defendeu que o jornal não pode afirmar que Jair Bolsonaro mente, porque, segundo ele, isso “afasta o leitor”. José Henrique Mariante, também parte da Folha de S. Paulo, afirmou, no dia 3 de outubro, que a empresa manterá em seus quadros o jornalista Leandro Narloch.

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Com informações do Notícia Preta.

Ministro da Educação diz que Brasil tem “universidades em excesso”

 

(FOTO/ Arthur Menescal/Especial Metrópoles).

Durante evento realizado na última terça-feira (5), em uma igreja evangélica, o ministro da educação, Milton Ribeiro, que também é pastor, criticou o número de universidades públicas criadas em governos anteriores, indicando que há um excesso de instituições de ensino superior no país.

De acordo com o ministro, a maior parte das instituições de ensino superior precisa oferecer reforço aos estudantes recém-ingressos. “Meninos que chegam para fazer engenharia que não sabem fazer uma regra de três”, criticou ele.

O alicerce na educação é a alfabetização. Como é que se pode imaginar alguém construir uma casa começando pelo telhado? Quando falo em universidade, como falam que foi democratizada, encheram de telhados, esqueceram do alicerce. O que nós temos hoje: jovens que são analfabetos funcionais, não entendem o que leem”, disse Milton Ribeiro. Segundo ele, o foco do ensino deve estar nos níveis básicos, com foco na alfatabetização.

O ministro criticou ainda os governos que antecederam a gestão de Bolsonaro. Segundo Ribeiro, eles deixaram “uma herança ruim” ao país. “Tivemos 20 anos de governo de esquerda, que levaram o país a essa situação. Eu estou colhendo frutos. Estou me esforçando em um ano de pandemia, com poucos recursos. Parece que o governo Bolsonaro é essa terra arrasada”, disse o ministro, em setembro deste ano, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal.

Milton Ribeiro e outros ministros de Estado participaram do “Simpósio Cidadania Cristã”, promovido pela Confederação dos Conselhos de Pastores do Brasil (Concepab). O evento é realizado na Igreja Batista Central, em Brasília, e deve contar ainda com a presença do presidente Bolsonaro.

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Com informações do Notícia Preta.

Mais de 1 mil pessoas foram resgatadas de trabalho escravo no Brasil em 2021

(FOTO/ Valter Campanato/ Agência Brasil).

A Subsecretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) atualizou no dia 5 de outubro a plataforma de estatísticas ‘Radar SIT’, que revelou dados alarmantes sobre a realidade das condições de trabalho no país. Ao todo, cerca de 1.015 trabalhadores foram resgatados de atividades análogas à escravidão só neste ano. De janeiro a setembro, 234 estabelecimentos foram fiscalizados, tendo 102 autuados por submeter pessoas à condições subumanas.

Em comparativo com 2020, em 12 meses, o ano registrou 276 ações fiscais, mas totalizando um número inferior com este ano, tendo 936 trabalhadores resgatados. Segundo o auditor fiscal Maurício Krepskye, chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (DETRAE/CGFIT/SIT), o aumento dos resultados apurados em 2021 ocorreu, em grande parte, por causa da ‘Operação Resgate’, a maior operação para combate ao trabalho escravo já realizada no país, em parceria com diversos órgãos.

No topo do ranking de ações fiscais, Minas Gerais foi o estado com o maior número de operações de combate a esta realidade, com 54 empregadores fiscalizados e com 420 trabalhadores resgatados, quase metade do registro geral. O estado é seguido por São Paulo, com 135 trabalhadores resgatados e Goiás, com 102. No nordeste, Pernambuco desponta com 34 casos de resgate finalizados até o dia 30 do último mês e estão sendo atualizados junto à plataforma.

Sobre o perfil dos mecanismos de exploração, Carlos Silva, coordenador da Fiscalização de Combate ao Trabalho Análogo ao Escravo em Pernambuco, afirma que os exploradores do trabalho se aproveitam de diversas vulnerabilidades sociais e econômicas que atingem as pessoas exploradas, como é o caso da baixa escolaridade, da falta de emprego e trabalho e da baixa renda individual e familiar.

É uma situação de absoluta e inequívoca coisificação da pessoa humana. Nas ações fiscais os Auditores-Fiscais do Trabalho normalmente constatam que os exploradores “amarram” os trabalhadores por meio de dívidas impagáveis, desde a origem de suas cidades, até mesmo no local de trabalho, onde em algumas situações os escravizados pagam por suas ferramentas de trabalho”, conta.

Carlos ressalta que também há retenção salarial, de documentos e uso de violência física e psicológica, além de sistemas de remuneração por produção que fomentam o trabalho até a exaustão.

A Subsecretaria de Inspeção adiantou que mais de R$5 milhões de reais foram pagos diretamente aos trabalhadores durante as ações de resgate registradas este ano como resposta aos direitos trabalhistas que não foram respeitados durantes os períodos de atividades.

Para denunciar

A SIT informa que denúncias de trabalhos análogos à escravidão podem ser feitas de forma remota e sigilosa através do ‘Sistema Ipê’. A plataforma, lançada no primeiro semestre de 2020, funciona em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

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Com informações do Alma Preta.

Historador Jones Manoel lança livro Revolução Africana na próxima quarta

 

O Historador e comunicador pernabucano Jones Manoel. (FOTO/ Divulgação).


Conhecido pelos vídeos no Youtube, onde debate política e filosofia, o historiador e comunicador pernambucano Jones Manoel realiza, desde 15 de setembro, um giro por diversos Estados para promover debates e lançamentos dos livros da coleção Quebrando as Correntes.

Em Salvador, o livro será lançado na próxima quarta-feira (6), às 18h, no Espaço Glauber Rocha, na Praça Castro Alves.

Iniciativa de editora Autonomia Literária, a coleção Quebrando as Correntes conta já com títulos como “Revolução Africana – Uma antologia do pensamento marxista” e “Raça, classe e revolução – A luta pelo poder popular nos Estados Unidos”, que fortaleceram o debate sobre marxismo e questão racial no Brasil a partir de textos inéditos em português de autores africanos e organizações estadunidenses.

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Com informações do Política Livre.

Quem apertou o gatilho?

 

Alexandre Lucas, Colunista. (FOTO/ Divulgação).

Por Alexandre Lucas, Colunistas

Teve um tiroteio, bem no meio da barriga, daqueles que não matam. Era uma noite de sexta-feira, tinha preparado um verso para encher a noite de felicidade. Dizem que as sextas-feiras é cheia de ministério. Teve um tempo que esses tiroteios apareciam todos os dias.   Parecia uma festa de São João. 

Sempre pensei que iria morrer. É dor passageira, faz destroços e passa, mas não passa eternamente, volta sem anúncio prévio.  Fazia um rosário no pensamento para contar o silêncio. Os tiros acabaram desaparecendo, aos poucos começava a dançar uma valsa, apenas com a respiração.

Tem dias que os tiroteios parecem não acabar. No interior da casa, um corpo é encolhido com receios dos tiros de verdade, aqueles que matam, que atravessam a carne. Poças de lágrimas e gritos se misturam ao sangue.  A criança toma leite, os mais velhos assistem atentamente a tragédia, como se assistissem a uma comédia comendo pipoca. 

As balas ficam cravadas, os tiroteios apenas cessam. Os corpos estendidos são publicados sem limites. Encolhidos, outros corpos, escondem as marcas das balas que peneiram os pensamentos.

Os gatilhos estão soltos.

Marighella’, o filme, tem estreia confirmada para 4 de novembro, data do assassinato

Filme já teve aproximadamente 30 exibições pelo mundo e passou por festivais. (FOTO/ Divulgação/ Montagem/ RBA).

O filme Marighella, dirigido por Wagner Moura e com Seu Jorge no papel principal, vai enfim estrear no Brasil. A data marcada é 4 de novembro, quando se completam 52 anos do assassinato de Carlos Marighella, em uma emboscada na cidade de São Paulo. Pré-estreias estão marcadas para o dia 1º.

O longa, o primeiro dirigido pelo ator Wagner Moura, sofreu sucessivos adiamentos, incluindo desentendimento com a Agência Nacional de Cinema (Ancine). A dificuldade estaria relacionada com o histórico do personagem retratado. O comunista Marighella, criador da Ação Libertadora Nacional (ALN), foi um dos principais opositores da ditadura. O filme foi exibido em vários países e festivais, com boa recepção. Foram aproximadamente 30 exibições nos cinco continentes.

Além de Seu Jorge na figura do guerrilheiro, Bruno Gagliasso encarna o policial Lucio, que o persegue. Na vida real, Marighella foi caçado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, até ser morto a tiros na alameda Casa Branca, no bairro paulistano dos Jardins.

O elenco tem ainda Adriana Esteves (como Clara Charf, companheira do líder comunista), Herson Capri e Luiz Carlos Vasconcellos, entre outros. Com filmagens na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro, o longa tem Fernando Meirelles como produtor associado. Foi inspirado no livro Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo (Companhia das Letras), escrito pelo jornalista Mário Magalhães e lançado em 2012.

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Com informações da RBA.

Educação antirracista: como a escola pode combater as desigualdades educacionais entre negros e brancos?

 

Educação antirracista: como a escola pode combater as desigualdades educacionais entre negros e brancos?/(FOTO/ Reprodução/NOVA ESCOLA).

Nós somos geneticamente capacitados, como qualquer pessoa branca. Se o Projeto Genoma já disse isso, se a Ciência já legitimou isso, por que é que a gente está congelado naquele lugar do não saber?”, pergunta Benilda Brito, pedagoga e mestre em Gestão Social, neste vídeo em que explica como a discriminação influencia no processo de aprendizagem e resulta, entre outras consequências, no baixo rendimento escolar de crianças e jovens negros. “Rendimento escolar tem a ver com afetividade. Não se discute Ideb [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica] sem discutir racismo. Não se discute avanço educacional sem trabalhar a autoestima da criança negra”, afirma. Ou seja, não dá para pensar o sistema educacional sem considerar o racismo estrutural refletido nele.

A primeira coisa que temos de pensar quando falamos do papel da escola [na luta antirracista] é que ela não é um disco voador que baixa nos territórios. Ela tem uma função social importante e deve articular saberes construídos ao longo da história” Este deve ser o pensamento, segundo a coordenadora executiva adjunta da Ação Educativa Ednéia Gonçalves.

As escolas desempenham um papel fundamental na construção e na garantia da equidade racial. Além de lidar com o racismo institucional, as instituições de ensino precisam construir e aplicar uma educação antirracista. Para isso, foi alterada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 2003 com a Lei 10.639, que prevê a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana — alterada, por sua vez, pela Lei 11.645 de 2008, que fez o mesmo com os povos indígenas e sua cultura — dentro dos componentes curriculares.

Para os gestores e professores, isso implica implementar em toda sua dimensão e de forma prática o que traz o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Estão ali a história da África e dos povos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura e o papel do negro na formação da sociedade nacional, assim como a história e a cultura indígena e sua participação na construção da identidade brasileira. Como a questão das relações étnico-raciais é transversal, ela atravessa todas as áreas de conhecimento.

Para isso acontecer no dia a dia, a professora e formadora de educadores Gina Vieira afirma que é necessário superar o mito da democracia racial. “Ano passado, durante minhas palestras, eu fiquei assustada com a quantidade de professores e professoras que falavam frases do tipo: ‘Não estou entendendo o que você está falando. Você está dizendo que somos diferentes? Mas somos um só povo. Isso que você está falando vai provocar uma divisão’”, conta.

Um levantamento do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa da Uerj (Gemaa), divulgado em maio, aponta que menos de um em cada dez alunos (9,75%) se autodeclara preto ou pardo nas 20 escolas com as maiores notas no Enem 2019 no país. Dessas, apenas uma é pública. De acordo com dados do IBGE, só em 2019 as universidades tiveram mais alunos negros (50,3%) do que brancos. E as carreiras mais concorridas e com maior remuneração têm percentual menor de pretos e pardos, como Medicina (39,9%), Engenharia (40%), Odontologia (38,7%) e Direito (43,8%).

Para Edneia, as salas de aula não estão e nem devem estar descoladas da realidade do Brasil. “Temos de considerar que existe a escola que é racista, e isso acontece porque ela foi construída, assim como todos os outros sistemas no país, para a manutenção de privilégios — e eles não eram dos pretos e dos indígenas”, explica.

Apesar de a legislação prever o ensino de história e cultura afro-brasileira, Gina aponta que as escolas têm um currículo “que privilegia os autores brancos e a história contada pela perspectiva do colonizador”.

A professora conta também que é comum ouvir histórias em que o docente responde “não liga para isso, você é linda”, após uma criança negra relatar ter ouvido comentários racistas a respeito de seu cabelo, por exemplo. “Essa é uma resposta acrítica porque dizer para uma criança não ligar para o que ela está sentindo é dizer que o que ela está sentindo não é importante”, explica Gina. “É ignorar que essa criança vive dentro de uma estrutura que diz o tempo todo que ela é feia”.

Vale pontuar que muitos gestores e professores podem encarar a questão apenas como bullying, mas vai muito além disso. É de racismo que estamos falando, e adotar uma postura silenciosa diante de acontecimentos é perpetuar a discriminação.

Situações como essa, ressalta Gina, podem desestimular o aluno a denunciar casos de racismo, além de prejudicar seu desenvolvimento socioemocional – essencial para uma educação integral. E acabam, ainda que de maneira inconsciente, reforçando o preconceito e a discriminação. “Ao silenciar o sofrimento dessa criança, você transforma a escola em um ambiente totalmente hostil para que ela consiga estudar e ter acesso a espaços onde ela possa expressar seu modo de vida, sua cultura e sentimentos”, explica Ednéia.

O Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, divulgado em agosto, aponta que apenas 48% das instituições de ensino brasileiras afirmaram ter projetos para tratar relações étnico-raciais. E esse espaço está diminuindo. O levantamento indica, que apesar de o debate avançar na sociedade, nas salas de aula acontece o inverso. Entre 2013 e 2017, mais de 70% das escolas tinham projetos sobre a temática.

A falta de exemplos africanos ligados à inovação é outro motivo citado por Ednéia para ampliar a desigualdade entre alunos pretos e brancos. “As grandes inovações que o Brasil experimentou vieram do continente africano. Precisamos pensar o quanto os conhecimentos de engenharia, arquitetura e filosofia são importantes para a identidade e para o desenvolvimento do brasileiro”, diz ela. 

O professor de Artes Edmar Galiza, da rede pública do Distrito Federal, alerta que muitas escolas, “para cumprirem tabela”, discutem o tema apenas na semana da Consciência Negra, em novembro. “Não se aprofunda em nada. E eu sempre digo: não somos negros apenas em novembro, mas 24 horas por dia”, ressalta.

Ednéia conta também que a visão e o posicionamento dos professores nesse processo é essencial. Por isso, o educador ou gestor escolar precisa se atentar aos preconceitos que tem ao avaliar que crianças negras são mais violentas ou mais indisciplinadas. “Falamos o tempo inteiro, por exemplo, de dados de evasão, mas não os discutimos como um fator necessário para ampliar a qualidade da escola em cumprir a sua função social”, completa.

É importante ter em mente, segundo os professores ouvidos por NOVA ESCOLA, que educadores, gestores e alunos brancos são responsáveis por desconstruir e colaborar para uma educação antirracista.

Como agir para uma educação antirracista?

Depois de entender o impacto do racismo na desigualdade educacional, é importante saber como colocar em prática a educação antirracista na sala de aula e na formação de professores.

O professor Edmar Galiza recomenda, em primeiro lugar, que os projetos e as aulas sejam “estudados, debatidos e pesquisados”. Para ele, é importante que professores brancos, negros e de diferentes raças trabalhem coletivamente e com uma periodicidade grande, evitando que o tema seja abordado apenas em novembro.

Aliado a isso, a formadora Gina Vieira orienta também que as escolas ofereçam qualificação a seus funcionários. “Não se promove uma educação antirracista sem uma qualificação técnico-profissional. As pessoas precisam ler e se capacitar para entender por que as culturas silenciadas no currículo são trabalhadas de maneira estereotipada”, explica.

Realizar um diagnóstico entre os professores, antes das reuniões de formação, pode ajudar o gestor a entender também o perfil de cada educador e o nível de entendimento do tema. “Quando Paulo Freire fala de uma educação emancipadora, em resumo é disto que ele está falando: de uma Educação que nos traga consciência de como os sistemas de opressão operam nos planos simbólico, discursivo e material”, complementa Gina.

Já Ednéia recomenda um acervo bibliográfico diverso e que o espaço da escola fique aberto, acolhendo também alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), que acabam sendo predominantemente negros. O documento “Indicadores da Qualidade na Educação ? Relações Raciais na Escola” pode ajudar muito, pois visa contribuir com a superação do racismo nas escolas abordando desde atitudes e relacionamentos, currículo e proposta político-pedagógica, atuação dos profissionais de Educação e gestão democrática, entre outros pontos. Esse material faz parte da coleção “Educação e Relações Raciais: Apostando na Participação da Comunidade Escolar”, elaborada com apoio da Comissão Europeia no Brasil, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), do Instituto C&A e do Save the Children UK.

Para trabalhar a educação antirracista, a coordenadora da Ação Educativa sugere também que a escola seja um espaço de proteção para jovens negros. De acordo com o Atlas da Violência, 75,7% das vítimas de homicídio no Brasil eram negras em 2018. No contexto histórico, de 2008 a 2018, o número de homicídios de pessoas negras no país aumentou 11,5%; já entre pessoas não negras, caiu 12,9%.

Precisamos discutir o genocídio dessa população, analisar as estatísticas e trazer o tema para dentro do PPP (projeto político-pedagógico)”, explica.

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Com informações do Nova Escola.

Um pesadelo de mil dias, por Silvio Almeida

 

O jurista Silvio Almeida. (Imagem: CHRISTIAN )PARENTE/DIVULGAÇÃO.

“Nada não está tão ruim que não possa piorar”. A frase dita no último dia 27 pelo presidente da República durante solenidade que marcou os mil dias de seu governo pode ser considerada histórica. Isso porque foi das raríssimas vezes em que o presidente falou algo aparentemente verdadeiro e que, levando em consideração o que tem sido seu governo e sua personalidade, soou como um “lapso de lucidez”.

A frase é também uma boa síntese dos mais de mil dias de horror da gestão de Jair Bolsonaro. De fato, instalou-se no Brasil um governo em que as expectativas são sempre de que tudo vai piorar. Não há absolutamente nada que dê ao menos a impressão de que algo no país funcione, que irá melhorar ou de que algum dos inúmeros problemas nacionais pode ao menos ser encaminhado. É uma mistura fantástica de incompetência, insanidade, crueldade e corrupção.

Em um jantar nos Estados Unidos realizado em 2019, o presidente da República disse que em seu governo seria necessário “desconstruir” muita coisa no Brasil antes que algo pudesse ser construído. Depois de mil dias de governo percebe-se que o presidente, seguindo o padrão que lhe é habitual, não disse a verdade, ao menos não completamente. Este governo não é tão somente de destruição, mas de lesão, de sofrimento e de dor. Matar não é suficiente: é preciso torturar, humilhar e levar à loucura.

É também um governo corrupto, e não apenas no sentido usual do termo. É corrupto no sentido filosófico, já que inverte a finalidade das instituições, fazendo com que operem de forma contrária aos propósitos que declaradamente motivaram sua criação. Exemplos disso são os ministérios.

O Ministério da Economia se torna o fiador da miséria e da pobreza; o Ministério da Justiça promove perseguição e vingança; o Ministério do Meio Ambiente lidera a destruição da natureza; o Ministério da Saúde serve para espalhar a doença e assim por diante.

Os efeitos da decadência civilizatória representada pelo governo brasileiro se apresentam nos mais diversos setores da vida nacional. Na economia, além dos índices de desemprego, de desalento e do aumento progressivo da miséria, o país se vê à mercê de pessoas que, tendo o dever de agir, assistem com cinismo a milhões de pessoas passando fome, comendo restos de carcaças, revirando latas de lixo e sufocando por causa de uma doença para qual já existe vacina.

Na política, as reformas propostas pelo governo e seus aliados têm o claro propósito de facilitar a captura do Estado por interesses privados, seja de grupos econômicos, seja de organizações criminosas. Neste momento, a reforma administrativa é a ponta de lança deste movimento que visa a fragilização dos mecanismo de controle social do Estado brasileiro.

Mas talvez o pior de todos os efeitos destes mil dias de trevas sejam os produzidos na alma dos brasileiros. Desassossego, desesperança, tristeza e ódio são os sentimentos que talvez melhor descrevam este estado suicidário, racista e assassino no qual estamos todos metidos. O governo brasileiro não inventou, mas deu sustentação, potencializou e conferiu legitimidade a uma cultura de morte e cinismo que se disseminou na sociedade brasileira.

Sair deste pesadelo que tem custado milhares de vidas e interditado o futuro irá exigir uma grande recusa dirigida aos propagadores do ódio e aos lesadores que integram ou apoiam o governo, suas ideias e suas ações.

Para isso, instituições como esta Folha tem que assumir a responsabilidade que lhe cabe como o jornal mais lido do país e decidir se quer participar da construção de um país digno ou continuar investindo na criação de polêmicas artificiais em nome de uma suposta “pluralidade”.

Racismo e falsificação histórica nada têm a ver com postura democrática. Quem abre espaço para este tipo de indigência intelectual e moral, que prestigia irresponsáveis e fanfarrões, colabora, ainda que indiretamente, para que esse pesadelo jamais tenha fim.

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Sílvio Almeida é jurista e professor. Publicado originalmente no Geledés.