Força ancestral: dos 87 quilombos do Ceará, 35 são liderados por mulheres


Força ancestral: dos 87 quilombos do Ceará, 35 são liderados por mulheres.
(FOTO/ Reprodução/ Diário do Nordeste).

O Estado do Ceará tem quilombo? Cristina, Socorro, Cleomar e Maria responderão quantas vezes for preciso que sim. Mulheres negras e quilombolas, elas exercem cargos de liderança nas comunidades as quais estão vinculadas, em quatro geografias diferentes: região metropolitana, serra, litoral e sertão. E num processo de autoafirmação, resistem à tentativa de apagamento de suas narrativas ancestrais, levantando a voz para contar “a história que a história não conta”.

Professor Nicolau Neto conversa sobre políticas públicas e relações étnico-raciais na educação com altaneirenses


Professor Nicolau em conversa com altaneirenses sobre políticas públicas e
relações étnico-raciais na educação. (FOTO/ João Alves).

Texto: Valéria Rodrigues

Na manhã desta quarta-feira, 20, docentes, estudantes, secretários e secretárias do município de Altaneira, diretores das escolas da rede municipal e estadual e demais servidoras/es públicos reuniram-se no auditório da Secretaria de Assistência Social para participarem de uma conversa com o professor e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras pelo Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC), Nicolau Neto.

Minibiografia de Nicolau Neto


Nicolau Neto durante manifestação em Nova Olinda em 2016.  (FOTO | Acervo pessoal).

Por Valéria Rodrigues

O professor e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, José Nicolau da Silva Neto, é um dos mais importantes sujeitos políticos e atuantes contra o processo de discriminação na região do cariri cearense e se tornou referência regional e nacional na defesa da educação para as relações étnico raciais. Nascido em 14 de março de 1986, na cidade de Assaré, no sul do Estado do Ceará, é filho dos agricultores João Nicolau da Silva e Neusa Lourenço da Silva, hoje aposentados.

 

A família composta por 10 filhos saiu de Assaré com destino a Altaneira, também no sul do Ceará em 06 de maio de 1990 e durante anos viveu de aluguel. Pouco tempo depois, o falecimento de um dos filhos, Edson, abalou a família. Com o pai trabalhando na roça e a mãe tendo que deixar de ajudar o companheiro na agricultura para trabalhar na vizinha cidade de Crato visando adquirir renda extra, o sustento e a educação dos filhos foi garantida. Com muito trabalho conseguiram moradia própria.

 

Terceiro na lista dos mais jovens, Nicolau Neto sempre estudou em escola pública. Iniciou a vida estudantil aos 4 anos na Escola Municipal de Educação Infantil Disneylandia, hoje denominada de Escola Municipal de Educação Infantil Professora Fausta Venâncio. O Ensino fundamental foi feito nas Escolas Joaquim Rufino de Oliveira (antes um anexo da Escola 18 de Dezembro) e nesta própria. Concluiu o Ensino Médio na Escola Estadual Santa Tereza em 2006. Ainda neste ano prestou vestibular na Universidade Regional do Cariri (URCA), campus do pimenta, em Crato, vindo a figurar entre os 10 primeiros colocados para o curso de História.


No período da universidade, Nicolau teve a oportunidade de ter uma ampla formação educacional influenciada pelos valores de sua própria cultura e da cultura europeia. Com isso, o futuro professor e ativista político e social conseguiu diferenciar como o pensamento colonial se impôs no meio educacional, influenciando de forma decisiva o ambiente educacional, vindo a dizer quais os lugares que pretos e indígenas podiam e deviam ocupar. Foi também no ambiente universitário que Nicolau teve a oportunidade de se inserir nas lutas e nos movimentos sociais que lutavam e ainda lutam contra as desigualdades sociais e contra a discriminação racial.

 

Seu ativismo veio junto com a função de professor, onde prestou seleção pública da Secretaria da Educação do Estado Ceará (Seduc) em 2012, vindo a lecionar História e Filosofia na Escola Estadual Santa Tereza, em Altaneira. Em 2013 deixa à docência para exercer a função de Assistente Técnico junto a Secretaria Municipal de Educação de Altaneira. Mas a paixão pela sala de aula falou mais alto e mais uma vez presta seleção pública e em abril de 2014 vai lecionar na recém-criada Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, em Nova Olinda, que atende além de alunos desta, os de Altaneira e Santana do Cariri em regime de consórcio. Nesta instituição de ensino, Nicolau exerceu também a função de Diretor de Turma no Curso Técnico em Redes de Computadores. Seu trabalho voltado principalmente para atender uma educação para a cidadania, politização e para as relações étnico raciais levou a escola a ter reconhecimento nacional a partir do projeto “Cultura Afro-brasileira e Indígena”.

 

Em 2016, seu trabalho como professor foi mais uma vez interrompido, tendo que deixar a escola em março em virtude de ter logrado êxito em dois concursos públicos, em Nova Olinda e Altaneira. O namoro com a professora Valéria Rodrigues, hoje sua esposa e que conhecera naquela escola, o fez optar por Altaneira, pois esta também tinha passado neste mesmo concurso.


Casado com Valéria, bacharel e licenciada em Biologia, Nicolau tem uma filha, Beatriz. Antes de conhecer sua esposa, ele teve um filho, Saullo.

 

O ambiente escolar e as universidades sempre são os locais mais frequentados por Nicolau. Em 2012 resolveu fazer pós-graduação em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Católica do Cariri (FCC), em Crato. Ao concluir o curso, Nicolau passou a fazer com constância palestras em escolas e em universidades, tendo como temáticas principais a educação, desigualdades sociais e raciais, preconceitos, discriminação, políticas afirmativas (como cotas raciais) e as leis 10.639/2003 e 11.645/2008 que versam sobre a obrigatoriedade da história e cultura africana e afro-brasileira e história e cultura indígena no ensino básico.

No dia 25 de junho de 2016, em um encontro em Crato, Nicolau resolveu integrar sua luta e defesa da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil junto ao Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec). Naquela oportunidade, ele chamou a atenção para a volta de pautas que colocavam em riscos o direito da juventude pobre e preta deste país, como, por exemplo, a Proposta de Emenda à Constituição que faz menção a Redução da Maioridade Penal (PEC 171/93), assim como aquela que tinha como objetivo colocar a margem e censurar as manifestações artísticas e sociais do Estado do Ceará através de um projeto de lei apresentado pela Deputada Silvana Oliveira com mandato pelo PMDB que disciplina, no âmbito do estado do Ceará, manifestações sociais, culturais e/ou de gênero e outras providências.

No dia 21 de julho de 2018 a Academia de Letras do Brasil/Seccional Araripe elegeu Nicolau como seu mais novo integrante para ocupar a cadeira de número 33. Ele percebeu a Academia como mais um espaço para buscar um reconhecimento pelo que cotidianamente luta e que externa também em forma de textos, se referindo as relações étnico-raciais e os efeitos dela resultantes, como as desigualdades e o racismo. Sua posse ocorreu em 12 de outubro de 2019 em Araripe, tendo como patrono João Zuba, o mestre da banda cabaçal de Altaneira.

 

Em 2018, Nicolau prestou concurso público para professor junto à Secretaria da Educação do Estado Ceará (Seduc), vindo a figurar na lista dos aprovados. Com a homologação ocorrida em 27 de dezembro de 2019, ele integrou em agosto de 2021 o quadro de professores efetivos da rede estadual de ensino.

 

Além de professor, ativista dos direitos civis e humanos das populações negras, membro da Academia de Letras, Nicolau também é blogueiro. Ele atua na blogosfera desde de abril de 2011. Nunca usou o espaço para práticas de sensacionalismo e de elitismo para conseguir mais acessos. O único objetivo do blog é estar sempre A SERVIÇO DA CIDADANIA, EMPODERAMENTO e DIVERSIDADE e, para tanto, sempre buscou oportunizar os menos favorecidos, os que por algum motivo não tem voz através da comunicação. O Blog, inclusive, se tornou uma importante ferramenta pedagógica e coletiva visto que abriu espaço para escritores e escritoras. Atualmente conta com seis colunistas.

Onde é feriado no dia 20 de novembro? Confira a lista


Zumbi dos Palmares. (FOTO/Reprodução).

O Dia da Consciência Negra é comemorado na data da morte de Zumbi dos Palmares, em 20 de novembro. Ele foi o último líder do maior quilombo no período colonial, o de Palmares.

Brasil tem mais de 300 células nazistas em funcionamento


Brasil tem mais de 300 células nazistas em funcionamento.
(FOTO/Wikimedia Commons).


O Brasil contém 334 células nazistas em atividade no Brasil, de acordo com uma pesquisa feita por Adriana Abreu Magalhães Dias, antropóloga da Unicamp. A maioria dos grupos se concentra nas regiões Sul e Sudeste e se dividem em até 17 movimentos distintos, entre hitleristas, supremacistas/separatistas, de negação do Holocausto ou seções locais da Ku Klux Klan.

O problema do tratamento das questões raciais e de gênero como pautas identitárias


(FOTO/ Coletivo Di Campana).

O tratamento das questões racial e de gênero como questões identitárias é um problema porque ofusca as relações de exploração que estruturam essas construções. No caso da questão racial, a sublocação da força de trabalho negra na economia é evidente em estatísticas recentes do mercado de trabalho brasileiro.

A um público de mais de 200 mil pessoas, Lula exaltou o povo nordestino. "Nordeste é exportador de dignidade"


Mais de 200 mil pessoas cantaram pela democracia com mais de 40 artistas
por mais de 8 horas de shows. (FOTO/ Ricardo Stuckert).

Em um discurso carregado de gratidão às pessoas que o apoiaram na Vigilía Lula Livre e por meio dos comitês espalhados por todo o país durante os 580 dias encarcerado na sede da Polícia Federal em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  exaltou o povo nordestino no Festival com Lula Livre, no começo da noite de hoje (17), em Recife.

O ‘novembrismo’ da mídia


Carvall. 


Cobertura do mês da Consciência Negra mostra quão racista somos e precisa ser ampliada.

Na grande imprensa, o mês da Consciência Negra se consolidou como o período de se divulgarem dados sobre desigualdade entre negros e brancos.