Game de produção nacional coloca mulher negra e nordestina como heroína


No jogo com elementos de exploração e sobrevivência, a personagem Cícera auxilia os sertanejos a superarem a seca. (Foto: Reprodução/ AOCA).

"Qual o botão que atira?", essa é a pergunta mais frequente dos jogadores que buscam novas experiências por meio de jogos eletrônicos. Na contramão do padrão dessa indústria, o game baiano Árida surge com o objetivo de divertir, mas ao mesmo tempo educar, desconstruir estereótipos e ser uma plataforma de reconhecimento identitário.

Inserido no contexto do sertão nordestino durante o século 19, o jogo é uma aventura com elementos de exploração e sobrevivência. Ele traz a história da jovem Cícera, que auxilia os sertanejos a superar a seca. O protagonismo da mulher negra e nordestina é considerado uma "ocupação" dentro do universo do jogo.

De acordo com Filipe Pereira, game designer e diretor geral da Aoca – produtora responsável pelo jogo –, é difícil sair do clichê dos jogos desenvolvidos no Brasil e no mundo. "Todos os componentes que estão no nosso jogo colocam a gente num percentual bastante diminuído pela indústria, não só pelo local do sertão, mas também pelo viés mais social. Sem falar do protagonismo de uma personagem mulher, negra e nordestina, o que não vemos nos outros jogos", afirma à RBA.

Inicialmente, o jogo seria ambientado na região de Canudos, interior da Bahia, durante o confronto entre o Exército e os integrantes do histórico movimento popular liderado por Antônio Conselheiro, no fim do século 19. Entretanto, após iniciarem as pesquisas, os desenvolvedores decidiram agregar questões simbólicas de outras regiões do sertão baiano. Para isso, o grupo recebeu a colaboração de historiadores e especialistas na Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

"A gente fez a pesquisa em campo após seis meses de projeto, em Canudos e região, o que foi muito bom. Nós validamos caminhos que já tínhamos traçado. Uma coisa curiosa é que lá encontramos personagens como retratávamos já no game. É algo que vai de encontro com vários paradigmas que a gente tem na nossa história, como não conseguir se organizar socialmente, com um viés de resistência e utopia. Canudos, guardados as devidas proporções, é o socialismo na prática", explica Filipe.

Identidade visual

As visitas ao sertão e o próprio desenvolvimento do projeto permitiram a ampliação de repertório da linguagem visual. Contrastes entre as texturas, a contemplação do horizonte como um elemento de reforço à imensidão do ambiente foram características estratégica adotadas, com o objetivo de oferecer alternância e antecipação à experiência de jogo.

Victor Cardozo, diretor de arte do projeto, explica que há um cuidado especial para o público que não conhece o nordeste, mas que possui uma imagem estereotipada. "A gente contempla o horizonte porque lá é um ambiente muito único. Desde o solo até a flora local, então queríamos passar outra visão, mostrando que há um ambiente duro, mas também bonito."


            


A franquia será dividida em quatro episódios. A data de lançamento do primeiro episódio do game está prevista para o primeiro trimestre de 2019, com o computador como plataforma inicial. Victor explica que haverá um amadurecimento e uma dramatização do ambiente, na qual a arte será transformada ao decorrer da história. "As mecânicas vão evoluir também. Hoje, tem diversos aspectos universais e uma paleta de cores diversa; já no capitulo dois vamos explorar mais os detalhes, terá mais textura. O capitulo três será menos saturado, com mais aspectos de dramas e cores mais frias", conta.

Em 2017, a Agência Nacional do Cinema (Ancine) selecionou o jogo em seu edital de games. De acordo com o programa, é previsto que Árida receba R$ 250 mil para investir no projeto. O valor deverá ser usado para a elaboração do terceiro e quarto episódio.

"A gente foi o único da Bahia a ganhar. Ao mesmo tempo que estamos orgulhosos, estamos tristes por saber que há outros talentos que poderiam ser contemplados. O fato da Ancine elogiar nosso projeto é um alento, ao mesmo tempo que produzimos socialmente algo forte, também é interessante para o mercado", comemora Victor.

O universo do jogo mistura o cartoon com o realismo. A arte nordestina também faz bastante parte da ambientação do jogo, com a música e o cordel, sendo utilizados para a história. "Dentro da pesquisa nas artes conceituais, pegamos um novo olhar e trouxemos o grafite para dentro do jogo e chamamos o Bigode (Josivaldo Santos Silva), de Salvador, que atua há 20 anos aqui", acrescenta Cardozo.

Reconhecimento identitário

Com o mercado gamer escorado no eixo Rio-São Paulo, os desenvolvedores acreditam que Árida, carregando a identidade nordestina, pode mudar esse cenário. Ao participar de diversos eventos do gênero pelo país, eles enfrentam a xenofobia e o rótulo de "jogo nordestino".

"Porém, ao estarmos nesses ambientes, é uma intervenção não só para consumidores, mas para os desenvolvedores também. Muitas pessoas de São Paulo, por exemplo, são filhos de nordestinos, então tem uma identificação com essa raiz. É uma forma de reconhecimento identitário que as pessoas terão", conta Filipe.

A experiência do jogo pode rever os olhares que tinham para o nordeste, acredita Victor. "Nós vamos levar a informação e cultura para o público, mas de uma forma divertida. Ensinar o que é cacimba ou um caçuá são coisas que fazem parte do Brasil que muitas pessoas não têm contato", explica o diretor de arte.

A ideia é levar a franquia para o mundo dos quadrinhos. Apesar da equipe que conta com sete pessoas, hoje, eles buscam ampliar os colaboradores para tornar o projeto ainda maior, conta o diretor geral. "O jogo tem um universo que permite expandir a narrativa em outras plataformas e até com maior qualidade." (Com informações da RBA).

A ideia de que há gente descartável é a verdadeira violação de direitos, diz Boaventura de Sousa Santos



Dedicando a palestra ao deputado federal eleito Marcelo Freixo (Psol-RJ), que teve um plano de atentado contra sua vida descoberto recentemente, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos fez uma análise pouco convencional sobre os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o futuro da luta por direitos no mundo. Uma luta que, segundo ele, deve ser fundamentada nos ideais anticapitalista, anticolonialista e antipatriarcal. Para o diretor do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, estes três elementos se articulam desde o século 16 contra os direitos do homem. 

Boaventura diz que a Declaração Universal foi usada na Guerra Fria “para mostrar a superioridade do capitalismo”.
(Foto: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL).
O drama da nossa sociedade é que o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado atuam juntos, enquanto nossas lutas estão fragmentadas e desarticuladas”, afirmou Boaventura de Sousa Santos, durante palestra na noite de terça-feira (18), no Sesc Bom Retiro, na região central de São Paulo.

O sociólogo acredita que o colonialismo praticado durante séculos pelos países europeus segue existindo, porém, de outra forma. Assim como defende que o capitalismo em vigor em nada se parece àquele formulado nos séculos 17 e 18, sendo hoje, em sua estrutura financeira e mercadológica, um instrumento de violação de direitos. “Temos negros sub-humanos, mulheres sub-humanas, refugiados que não são tratados verdadeiramente como gente. A ideia de que há gente descartável, para mim, é a verdadeira violação de direitos humanos. Continuamos a viver a dicotomia trágica de quem é verdadeiramente humano e quem é sub-humano”, afirmou. 

Para ele, a compreensão de que o capitalismo se “aproveita” do ideário dos direitos humanos vem desde a própria promulgação da Declaração Universal, em 1948. E neste ponto ele se desvia das análises convencionais sobre o tema, normalmente focadas na influência trágica das duas guerras mundiais em solo europeu para o nascimento da Declaração Universal. Boaventura acredita que o documento passou a ser usado como um instrumento da Guerra Fria, “para mostrar a superioridade do capitalismo sobre o comunismo”, uma narrativa que ao longo dos anos de 1950, 1960 e 1970 tentou mostrar que não havia violações de direitos humanos no mundo capitalista ocidental, apenas no “outro lado do muro de Berlim”.

A Guerra Fria tinha um duplo critério. Do lado comunista, tudo era visto com lupa, mas o que acontecia no Ocidente, não. Até mesmo as ditaduras na América do Sul eram para defender os direitos humanos do comunismo”, pondera. De acordo com o sociólogo, professor da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, estabeleceram-se então no mundo paradigmas complexos: comunismo/socialismo versus capitalismo/direitos humanos.

Um paradigma que desmorona junto com a queda do Muro de Berlim, em 1989, fato histórico interpretado como uma vitória do capitalismo e dos direitos humanos. “O curioso e o trágico é que nesse momento ocorre a crise dos direitos humanos. Começa a narrativa de que o Estado de bem-estar social na Europa é muito caro, é preciso cortar benefícios, privatizar, os direitos passam a ser atacados e usados na estrita medida em que ajudam o capitalismo global. Os direitos humanos viram um instrumento do capitalismo, usado para validar sua vitória”, explica Boaventura de Sousa Santos.

Direitos prioritários e novos

Os direitos humanos são uma grande narrativa da dignidade humana, mas não é a única. Todos os povos têm seus conceitos de dignidade humana”, destacou, citando como exemplo as diferenças que tal conceito tem para índios brasileiros ou povos árabes. “Os direitos humanos têm diferentes leituras em diferentes contextos e, para entender, é preciso conhecer a história.”

O sociólogo português ponderou que ao longo da história sempre houve um “direito prioritário”. Para John Locke, o “pai do liberalismo”, explicou Boaventura, o direito à propriedade era o mais importante. E o fato do filósofo inglês ter enriquecido como sócio de uma empresa que traficava escravos em nada arranhou sua imagem — porque afinal, negros não eram considerados humanos.

Não é a lógica dos direitos humanos que define o que é prioritário, é o poder”, explica Boaventura. O sociólogo exemplifica sua afirmação com algo comum nos dias atuais: a preocupação diária em saber como “o mercado” vai reagir diante de qualquer ação política. Antes de saber se a ação ou política pública irá ou não beneficiar a sociedade, importa primeiro ter a aprovação do “mercado”. “Há sempre um direito prioritário que comanda o outro na lógica do capitalismo, tal como no colonialismo.”

Olhando para o futuro, ele propõe três novos direitos humanos que serão determinantes para a causa: direitos da natureza; direitos à memória e à história; e o direito à diversidade cultural, econômica e política.

Sobre os direitos da natureza, o sociólogo considera uma “omissão” ele não ter sido criado até hoje, pois sem a preservação ambiental, o planeta Terra será inviável para os humanos num futuro próximo. Como exemplo, citou decisão recente do parlamento da Nova Zelândia que declarou como "sagrado" um rio importante para os índios maoris, incluindo a reparação pelos impactos sofridos por contaminação.

Com relação ao direito à memória e à história, Boaventura acredita que a justiça social está atrelada à justiça cognitiva, ou seja, o conhecimento indígena é imprescindível para a preservação da Amazônia e, portanto, esse próprio conhecimento deve ser preservado. Dessa forma, a história e a sabedoria de povos nativos devem ser mantidos e respeitados como direitos humanos.

O direito à diversidade cultural, econômica e política proposto pelo sociólogo português não é menos desafiador. Para ele, é preciso haver outras formas reconhecidas de associações comunitárias e econômicas em paralelo ao direito da propriedade privada.

Há zonas de resistências que não aceitam que haja só uma forma de desenvolvimento. Deve haver outra e para isso é preciso novos direitos e deveres. Se conseguirmos esse equilíbrio, conseguiremos ter os direitos humanos contra essa ótica que devasta a natureza e a diversidade”, finalizou. (Com informações da RBA).

Quem foi Maria Madalena?


Quem foi Maria Madalena? (Foto: Divulgação).

Não só as novelas bíblicas da TV Record estão preocupadas em exumar, com requintes de duvidoso realismo, as figuras nebulosas do Velho e do Novo Testamento.

A missão de entender a natureza, em carne e osso, de criaturas edulcoradas pela narrativa religiosa incorre, na visão dos crentes, no pecado do sacrilégio, mas nem todos os estudos recentes e as últimas encenações têm como objetivo impor uma visão iconoclasta e desmistificadora em relação às Escrituras e à tradição dos cultos.

Esta Maria Madalena que a Netflix está botando no ar, por exemplo, filme de produção própria, trafega por um fio que desmente mentiras e mal-entendidos sem ofender a fé. Pode, portanto, agradar aos crentes dando uma piscadela para os céticos. De todo modo, arrisca-se a sugerir uma intimidade entre o Cristo e sua companheira que o pudor episcopal teima em esconder.

!Maria Madalena é, ela mesma, um enigma tão intrincado, tão polêmico e tão atraente quanto aquele que envolve o Cristo histórico.

Os Evangelhos a citam 14 vezes, ao passo que a própria mãe do Cristo só merece sete menções. É um incontestável atestado de sua presença ao pé do Nazareno numa época em que o papel das mulheres era meramente figurativo – e reprodutivo.

Maria, a que veio de Magdala, não era como as outras. Estava com Jesus na Galileia, onde ele anunciava o reino de Deus e curava os enfermos e os aleijados. Acompanhou Jesus quando ele partiu para Jerusalém, de acordo com a profecia. Quando foi pregado na cruz pelos romanos, abandonado pelos discípulos, a Madalena estava presente.

Ela assistiu ao corpo ser levado para a tumba, fechada com uma pedra. No terceiro dia, Maria Madalena descobriu que o túmulo estava vazio. Ouviu uma voz, ela se virou e viu Jesus. Estendeu a mão para tocá-lo. Devia ter essa prerrogativa. Mas ele disse: “Não me toques”. E pediu a ela para espalhar ao mundo a boa-nova.

“A mulher é em todas as coisas inferior ao homem”, escreveu o historiador judaico-romano Flavius Josephus acerca da lei da Torá. “Deixem-na, portanto, ser submissa, não para sua humilhação, mas para que ela possa ser dirigida; porque a autoridade foi dada por Deus para o homem.”

Não por acaso, a Maria de Magdala ingressara com ressalva maliciosa na narrativa bíblica, via Evangelho de Lucas (8:1-3), já fazendo parte da comitiva devota que acompanha as pregações do Cristo no ministério da Galiléia. Ela “fora de quem saíram sete demônios”.

No melhor dos casos, pode significar que ela tivera sete homens, o que reforça a confusão que se estabelecera, no mesmo Evangelho de Lucas, com aquela “mulher da cidade”, “um pecadora”, a qual, ao saber da presença do pregador por ali “trouxe um vaso de alabastro com bálsamo e colocou-se a seus pés, chorando, e começou a lavar seus pés com lágrimas, e os enxugava com os cabelos, e beijou os seus pés e os ungiu com unguento… E ele disse a ela: ‘Os teus pecados estão perdoados’” (Lucas, 7: 37-50).

Só em 1969 é que o Vaticano se incumbiu de desfazer a confusão, conta o historiador americano Michael Haag, em seu Maria Madalena, que acaba de ser publicado no Brasil. Confusão que foi por séculos e séculos conveniente, diga-se, para o cânone eclesiástico, no qual as mulheres ou tinham de se submeter ao papel mundano, suspeito, secundário da discípula de Magdala ou eram espiritualizadas, divinizadas, destituídas de toda e qualquer condição humana, como a Virgem Maria.

Como atesta o jornalista e pesquisador brasileiro Luiz Cesar Pimentel, em seu Jesus, uma Reportagem, os sucessivos concílios e sínodos desde a Idade Média só trataram de emoldurar a trajetória do Cristo e seus seguidores – e seguidoras – de acordo com a doutrina da Igreja. Em cruas palavras: mulher, tal como Madalena, ou era santa ou era puta.

Revisar historicamente os fatos relatados pelas Escrituras pode pôr em xeque, sim, velhos dogmas e antigos mitos. Os quatro Evangelhos, base para a narrativa cristã, foram escritos décadas depois da morte do Cristo, a partir de relatos orais nem sempre precisos.

Dos evangelistas, só João foi contemporâneo dos fatos. Mas a exegese crítica visa, como anuncia Pimentel, muito mais uma busca, ao estilo jornalístico, da verdade dos fatos do que um desafio à versão proposta pela fé.

Pimentel cita profusamente as investigações de um fórum multidisciplinar e pluriconfessional denominado Jesus Seminar, que, a partir de 1985, reuniu mais de 200 experts para um mergulho isento, mas minucioso em toda a literatura cristã.

Do revisionismo, a nova Madalena vai emergindo, com direito até a certas liberdades, digamos, poéticas. No filme da Netflix, por exemplo, ela aparece ao lado direito do Cristo naquela que seria a Última Ceia. Na antológica versão iconográfica de Leonardo da Vinci (1452-1519), a figura andrógina seria São João, o mais jovem dos discípulos.

Dan Brown, no bombástico O Código da Vinci, insiste que é Madalena, credenciada pela circunstância de ser a consorte do Cristo. Ele a amava como um homem ama uma mulher, defende Brown. Costumava beijá-la na boca, o que era um escândalo. Os outros discípulos tinham ciúme dela e se queixavam abertamente. Casaram-se em Canaã (as tais bodas em que faltou vinho, para desespero de sua mãe Maria, eram do próprio Cristo). Tiveram uma filha, Sara, cuja descendência prossegue no tempo, até hoje.

Após a morte de Jesus, Madalena e Sara, ajudadas por José de Arimateia, refugiaram-se no sul da França – onde a verdade sobre o Cristo foi preservada ao longo dos tempos.

Os hereges cátaros conheciam o segredo. Na igrejinha de Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, na Provença, estariam os ossos da mulher do Cristo. Ou em Vézelay, na Borgonha. A tradição gnóstica, que redimiu Madalena do ostracismo, aceitava Jesus como profeta, mas não como Deus. Descria da ressurreição. Mas esta já é outra história. (Com informações de CartaCapital).

O que 2018 trouxe de bom para os negros?


Foto: UNEAFRO.

O ano de 2018 foi muito intenso. Seja nos aspectos culturais, sociais ou, principalmente, políticos, foi possível observar acontecimentos de grandes impactos para o Brasil e o mundo. A Intervenção Federal no Rio de Janeiro, os documentos da CIA sobre a ditadura brasileira, o assassinato de Marielle Franco, o incêndio no Museu Nacional, o atentado no Irã, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à presidência e tantos outros episódios marcantes tornaram-se lembranças dolorosas.

Contudo, as lutas pedem espaço. É preciso encarar tais acontecimentos, construir resiliências e novas narrativas. É necessário relembrar também os incontáveis momentos bons que 2018 trouxe e observá-los sob uma perspectiva esperançosa. Por isso, relembre agora algumas dessas conquistas.

Jean-Michel Basquiat no Centro Cultural Banco do Brasil

Aberta no dia 25 de janeiro, a exposição “Jean-Michel Basquiat — Obras da Coleção Mugrabi”, no Centro Cultural Banco do Brasil, fez uma retrospectiva das obras e trajetória de vida de Basquiat, reunindo mais de 80 quadros e gravuras. O público teve contato com a emblemática personalidade artística do nova-iorquino que viveu durante as décadas de 70 e 80.
A mostra ficará disponível até o dia 07 no Rio de Janeiro.

Pantera Negra lota as salas de cinema

Com seu elenco completamente negro, o filme Pantera Negra, lançado em 15 de fevereiro, conquistou uma série de prêmios e indicações em diversas celebrações importantes no mundo do Cinema, chegando a tornar-se o primeiro filme de super-herói a concorrer na categoria “Melhor Filme” no Globo de Ouro. Além de explorar elementos da Fantasia, Aventura e Ação, o longa-metragem retrata consequências da colonização europeia na África e diversos aspectos históricos, mitológicos, políticos e culturais do continente.
Jamaica, Jamaica

Contrariando o forte esteriótipo em que a cultura jamaicana está submetida, a exposição “Jamaica, Jamaica”, inaugurada em 15 de março no Sesc 21 de Maio, quebrou preconceitos retratando a pluralidade e diversidade do país, sobretudo no âmbito musical. Fotos, áudios, documentos, instrumentos musicais e outros importantes materiais da história da música jamaicana foram expostos, acompanhados de uma vasta programação que incluía cursos, palestras, encontros e oficinas.

1º Prêmio Marielle Franco

Um mês após o assassinato da quinta vereadora mais votada nas eleições municipais de 2016 do Rio de Janeiro, a rede de núcleos estudantis UNEAFRO realizou o 1º Prêmio Marielle Franco, prestigiando pessoas, instituições e organizações que lutam pelos Direitos Humanos. O evento foi realizado em 14 de abril, no auditório de Geografia da Universidade de São Paulo e premiou nomes como Regina Militão, Milton Barbosa, Maria José Menezes, Jupiara Castros, Núcleo de Consciência Negra, e Sueli Carneiro.

Seydou Keïta

A exposição “Seydou Keïta” foi inaugurada em 17 de abril, no Instituto Moreira Salles (IMS), para apresentar 130 obras do fotógrafo que é considerado um dos precursores dos retratos de estúdio na África. A mostra ainda estará disponível no Rio de Janeiro até o dia 27 do próximo mês.

Memorial sobre escravidão é inaugurado nos Estados Unidos

O Memorial Nacional pela Paz e Justiça, inaugurado dia 26 de abril, no Alabama, foi projetado para homenagear os negros estadunidenses que foram linchados pela supremacia racial branca nos Estados Unidos durante e após a chamada “Era Jim Crow”, período em que a segregação étnica no sul do país foi institucionalizada. Entre 1877 e 1950 mais de 4 mil negros foram enforcados, queimados vivos, abatidos, afogados e espancados até a morte por multidões brancas, sob uma campanha de terror apoiada pelo Estado.


Escola Professora Fausta Venâncio, em Altaneira, promove formatura do ABC


EMEI Professora Fausta Venâncio promove formatura do ABC. (Foto: Divulgação).

O Ginásio Poliesportivo Antônio Robério Carneiro, em Altaneira, foi sede na noite desta quinta-feira, 20, da solenidade de formatura do ABC da Escola de Educação Infantil Professora Fausta Venâncio.

Informações colhidas junto ao portal oficial do município dão conta de que a professora Socorro Lino, diretora da instituição, fez um discurso cheio de emoção, vindo a ressaltar a importância das professoras nesse processo e a dedicação da gestão à educação. “Esse é o início de uma nova etapa na vida dessas crianças, isso mexe com o nosso emocional. E essa gestão tem aplicado muito carinho e dedicação, então, para nós, é muita emoção. É muito bom saber que você está participando de um sonho e incentivando o aluno para que ele continue sua vida escolar”, teria declarado.

Ainda de acordo com as informações, o prefeito Dariomar Rodrigues (PT) também falou no evento. Ele disse se sentir feliz e orgulhoso, ao tempo que externou os parabéns a toda a equipe da educação pelo trabalho desenvolvido. “Fico orgulhoso em ver uma festa assim acontecer. Parabenizo toda a equipe da educação pelo trabalho que vem fazendo. Se hoje temos uma educação de boa qualidade é porque temos o melhor quadro de funcionários e toda a dedicação voltada para nossa população”, destacou ele.

Cerca de 90(noventa) crianças receberam na solenidade de ontem o diploma de “doutores” do ABC.




Centro de Educação Básica de Nova Olinda conquista cinco medalhas na Olimpíada de Astronomia


Centro de Educação Básica de Nova Olinda conquista cinco medalhas na Olimpíada de Astronomia.
(Foto: Reprodução/Frame Produções).

A participação na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA) rendeu a estudantes do Centro de Educação Básica (CEB), do município de Nova Olinda, na região do cariri cearense, cinco medalhas.

A provas que são compostas por sete questões de Astronomia e outras três de Astronáutica, rendeu ao CEB três medalhas de ouro e duas de pratas. Ana Larissa, Rávilla Soares e Davi Nogueira, todos do sexto ano, ganharam o ouro. A prata ficou com Monique Evelin e Gustavo Ruan, do sexto e do nono ano, respectivamente.

A professora Wiliane Lopes, coordenadora pedagógica, afirmou que recebeu a informação com entusiasmo e que os resultados são frutos de um trabalho desenvolvido ao longo do ano, uma vez que uma das estratégias da instituição é incentivar o interesse dos alunos pela área.

O mesmo sentimento foi compartilhado pela professora de Geografia Jaqueline Diniz, a quem atribuiu o mérito ao esforço e dedicação dos estudantes.

Afrânio Jardim, um dos maiores juristas do Brasil, anuncia abandono do Direito após decisão de Tofolli



O jurista Afrânio Silva Jardim, considerado um dos maiores processualistas do Brasil, anunciou nesta quinta-feira (20), em sua conta no Facebook que está se retirando “deste ‘mundo’ falso e hipócrita” do Direito. O jurista diz ainda que a sua decepção e muito grande e pergunta: “Como lecionar direito com um Supremo Tribunal Federal como este???”.

Afrânio Jardim. (Foto: Reprodução/Revista Fórum).
A decisão do jurista foi tomada após o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tofolli, vetar, na noite desta quarta-feira (19), a liminar expedida por seu colega, Marco Aurélio Mello, que libertaria presos condenados em segunda instância, inclusive o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Afrânio aponta em dez tópicos as razões para a sua drástica medida, após quase 39 anos lecionando direito processual penal e 31 anos atuando no Ministério Público. Apesar do tom cáustico e pessimista, o jurista avisa que vai “procurar outra ‘trincheira’ para uma luta mais eficaz em prol de um outro modelo de sociedade. A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para mim”, disse.

A minha decepção e desgosto é muito grande. Como lecionar direito com um Supremo Tribunal Federal como este??? Estou me retirando deste “mundo” falso e hipócrita.

Após quase 39 anos lecionando direito processual penal e 31 anos atuando no Ministério Público do E.R.J., diante da notória perseguição do nosso sistema de justiça contra o ex-presidente lula, confesso e decido:

1). Não mais acredito no Direito como forma de regulação justa das relações sociais.

2). Não mais acredito em nosso Poder Judiciário e em nosso Ministério Público, instituições corporativas e dominadas por membros conservadores e reacionários.

3). Não vejo mais sentido em continuar ensinando Direito, quando os nossos tribunais fazem o que querem, decidem como gostariam que a regra jurídica dissesse e não como ela efetivamente diz.

4). Não consigo conviver em um ambiente tão falso e hipócrita. Odeio o ambiente que reina no Fórum e nos tribunais. Muitos são homens excessivamente vaidosos e que não se interessam pelo sofrimento alheio. O “carreirismo” talvez seja a regra. Não é difícil encontrar, neste meio judicial, muito individualismo e mediocridades.

5). Desta forma, devo me retirar do “mundo jurídico”, motivo pelo qual tomei a decisão de requerer a minha aposentadoria como professor associado da Uerj. Tal aposentadoria deve se consumar em meados do ano que se avizinha, pois temos de ultrapassar a necessária burocracia.

6). Vou procurar outra “trincheira” para uma luta mais eficaz em prol de um outro modelo de sociedade. A luta por vida digna para todos é perene, pelo menos para mim.

7). Confesso que esta minha decisão decorre muito do que se tornou o Supremo Tribunal Federal e o “meu” Ministério Público, todos contaminados pelo equivocado e ingênuo punitivismo, incentivado por uma mídia empresarial, despreparada e vingativa.
Com tristeza, tenho de reconhecer que nada mais me encanta nesta área.

8). Acho que está faltando honradez, altivez, cultura, coragem e honestidade intelectual em nosso sistema de justiça criminal.

9). Casa vez menos acredito no ser humano e não desejo conviver com certas “molecagens” que estão ocorrendo em nosso cenário político e jurídico.

10). Pretendo passar o resto de meus dias, curtir a minha velhice em um local mais sadio… (Com informações da Revista Fórum).