As Dinastias do Poder e a Luta de Classes



A Ciência não é neutra. Nada, aliás, o é. Mas a Ciência, de todas as formas de aquisição de conhecimento, é a mais objetiva e a que tem tido os melhores resultados práticos. Desde 1620, quando foi publicado o livro Novum Organum de Francis Bacon, a estruturação de uma metodologia científica tem propiciado um intenso desenvolvimento da humanidade. A aquisição de conhecimento e sua validação atingiram também a própria Ciência que se critica e reconstrói a todo o momento.

Por Fernando Horta, no GGN - É claro que vivemos um momento de anti-intelectualismo, em que o conhecimento consolidado precisa lutar por legitimidade com vídeos ou notícias apócrifas na rede mundial de computadores. E esta luta é inglória, pois o juiz frequentemente carece de ferramental cognitivo para fazer a função de julgar. Fica tudo na opinião pessoal, como se nada dali em diante pudesse ser verificado.

Pensando nisto, resolvi trazer alguns trabalhos muito bons que tive a oportunidade de acompanhar tanto na última ANPUH (Associação Nacional de Historiadores) como na SBS (Sociedade Brasileira de Sociologia). Ambos os eventos se deram em Brasília na semana que passou. E, junto com a Ciência Política e a Antropologia estão entre as disciplinas que mais tem a dizer no momento atual. E as mais negligenciadas.

Há muito que se fala na tática de consolidação do poder através de laços familiares. No plano geral, a obra de Perry Anderson, “Linhagens do Estado Absolutista”, demonstra a “política de casamentos” como forma de unificação dos Estados Nacionais europeus. No Brasil, o livro de Raymundo Faoro, “Os donos do poder”, em que pese hoje criticado, estabelece uma ligação entre o exercício do poder e as relações interpessoais para se chegar aos postos deste exercício. Faoro argumenta pelo sentido estrutural, mas existem pesquisas que vão nas micro relações.

Ricardo Costa de Oliveira, José Marciano Monteiro, Mônica Helena Goulart e Ana Christina Vanali (todos professores doutores) apresentaram um estudo das relações familiares dos integrantes da Lava a Jato e do ministério de Temer na SBS. Um pequeno fragmento dos seus trabalhos doutorais de mais fôlego. Todos estudam estas relações espúrias, daquelas famílias de “homens bons”, todos ligados ao poder. Há quem pense que é fruto de uma genética privilegiada, afinal todos da família são meritocraticamente destacados. A realidade é que a teia de poderes familiares no Brasil, vai de norte a sul sem muita diferença.

Os pesquisadores mostram, com desprendimento científico, o que advogados sabem (e sofrem), o que os membros honestos dos poderes estão cansados de saber (e calar) e o que a mídia solenemente ignora (porque frequentemente é favorecida) deixando o povo na mais completa ignorância. O poder no Brasil é uma coisa familiar. E não é por acaso que a maior crise institucional no Brasil se dá quando o congresso é composto pela maior quantidade de “herdeiros” e o judiciário, da mesma forma.

Primeiro, é preciso ressaltar que TODOS os integrantes da “Força Tarefa da Lava a Jato”, que tem na figura do Juiz Moro o principal agente acusador, estão entre o 1% mais rico da população brasileira. Mais da metade está entre o 0,1% mais rico, devido aos seus ganhos estatais. Isto apenas para recolocar a questão “antiquada” da luta de classes em seu devido lugar. Em cem anos dirão – com certeza – através de dados e pesquisas, que a Lava a Jato foi o instrumento das elites políticas e econômicas contra os projetos de diminuição da desigualdade no Brasil. Como um “cala a boca e fica no seu canto” dado pelas elites urbanas, com títulos acadêmicos (embora parco conhecimento), brancas, conservadoras e enriquecidas aos “desagradáveis”, aos “insuportáveis” e aos “desnecessários” na visão delas mesmas.

Depois, o trabalho envereda para mostrar que todo o grupo da Lava a Jato (com exceções nada honrosas) são “advindos de famílias em que pais e familiares atuaram e/ou atuam no sistema de justiça, muitos no período da última ditadura militar” (citado do original). O ministério de Temer é ainda pior.

Um ponto interessante, levantado pelos pesquisadores, é o fato de que não apenas Moro e Yousseff estiveram presentes no processo do Banestado (2003-2004), em que as lideranças do PSDB, PP e do PFL (atual DEM) estavam envolvidos em crimes de corrupção e financeiros. Os procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Januário Paludo e Orlando Martello Junior, que fazem parte da Lava a Jato também estavam naquele processo. E, pasmem, os policiais federais Marcio Anselmo e Érika Mialik também. Yousseff talvez tenha como regra para cada dez anos de ilicitude, uma delação premiada. Algo como “férias merecidas” e o apagamento de seus crimes. Mas o número elevado de membros presentes nas duas operações levanta a tese do esquema organizado. Uma espécie de “gatilho político” que as elites teriam caso o “andar de baixo” resolvesse realmente entender o que é democracia. Uma bomba institucional que ficaria ali latente até poder ser usada politicamente contra quem valesse a pena, por quem tivesse força para usar.

O caso do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima é ainda mais constrangedor. Carlos é filho do deputado estadual da ARENA, Osvaldo Santos. Deputado, promotor e presidente da assembleia em 73, apoiador da ditadura militar. Segundo os pesquisadores, Carlos foi casado com Vera Márcia que é “ex-funcionária” do Banco Banestado. E que atuava no banco, nas mesmas agências investigadas pela ação do Banestado, nas mesmas funções investigadas durante todo o período que seu esposo fazia as investigações. Depois, Vera Márcia, ainda casada com o procurador foi transferida para a Agência da Ponte da Amizade, em Foz do Iguaçu, apenas a agência com maior suspeita de fraudes e ilicitudes.

Sobre Moro, os pesquisadores levantam a já conhecida e estanha formação acadêmica “à Jato”, mas se detém em sua esposa. Rosângela Wolff de Quadros “fez parte do escritório de advocacia Zucolotto Associados, em Maringá (...) que defende várias empresas petrolíferas estrangeiras” (cito do original). Afora todas as relações da genealogia de Rosângela com a elite estatal paranaense, os pesquisadores levantam que Rosângela Moro é prima do prefeito Rafael Greca de Macedo e – agora vem a pérola de ironia histórica – “ambos descendem do Capitão Manoel Ribeiro de Macedo, preso pelo primeiro Presidente da Província do Paraná por acusações de corrupção e desvio de bens públicos em instalações estatais”. Para os que não lembram, Greca é o prefeito que tem nojo do cheiro de pobre. Tanto Moro quanto Rosângela Wolff tem parentes desembargadores no Paraná afora as relações com Flávio Arns e Marlus Arns que atuaram como advogados de réus da Lava a Jato. Os pesquisadores falam da “lucrativa indústria advocatícia da Lava a Jato” em que Moro prende, e conhecidos dele e de sua esposa são contratados para tentar soltar os réus. A preços módicos, claro.

Só para não ficar sem falar do vice-presidente, dos trinta e um ministros de Temer, dezessete “apresentaram significativos capitais sociais e políticos familiares nas suas trajetórias” mostrando que “a característica familiar do sistema judicial e do governo do Brasil” está presente em todas as regiões.


É de se entender o motivo de Temer atacar a Ciência no Brasil e em especial as humanidades. Em regimes autoritários, os primeiros ataques são aos historiadores, sociólogos e cientistas políticos. Se dirigem àqueles que têm ferramental para demonstrar a violência, criticar e abrir os processos de poder. Felizmente, ainda temos quem faça pesquisa e Ciência no Brasil. Felizmente não poderão dizer, daqui a cem anos, que a sociedade brasileira não foi avisada do caos a que está sendo levada e de como eram as relações de poder de quem a levou. Não nos furtamos, enquanto cientistas, de demonstrar que a “neutralidade” é uma mentira tão grande quanto a “meritocracia”. É a velha luta de classes em seu viés mais abominável. Travestido de institucionalidade técnica.


De pai para filho: família que está há 196 anos no Congresso prepara dois sucessores


Os deputados com parentes na política são maioria em 21 bancadas estaduais. Todos os representantes do Tocantins e do Rio Grande do  Norte na Câmara são de famílias de políticos. Entre os maiores partidos, o PSD (78%), o PTB (76%), o PDT (74%) e o PMDB (70%) são os que mais reproduzem a prática na atual legislatura. Mas é do PSDB de Minas Gerais que vem o caso de maior longevidade familiar de que se tem notícia no Parlamento de um país democrático. Aos 87 anos, o deputado Bonifácio de Andrada, que está em seu décimo mandato, representa a quinta geração de um clã que começou a trajetória parlamentar em 1821, ainda nas Cortes Portuguesas, em Lisboa. Lá se vão 196 anos.

Do Congresso em Foco - Descendente de José Bonifácio de Andrada, o Patriarca da Independência, o deputado tucano prepara um filho e um neto para sucedê-lo na Câmara. Desde 1894 não houve uma legislatura sequer em que um Andrada tivesse ficado de fora do Congresso.

É o DNA que empurraram pra cima da gente e a psicologia do cenário. Tal como o filho de carpinteiro tem mais habilidade para mexer com serrote e martelo, o filho de político também tem para a vida pública”, diz Bonifácio. Da família dele saíram 15 deputados e senadores, quatro presidentes da Câmara, oito ministros de Estado e dois ministros do Supremo, além de governadores, prefeitos e vereadores. Já no PT, o caso mais expressivo é o da família Tatto. O deputado Nilto Tatto (SP) tem quatro irmãos políticos: dois são vereadores em São Paulo, um é deputado estadual e outro foi deputado federal. Procedentes de uma família de pequenos agricultores do Paraná, eles se estabeleceram em uma das regiões mais pobres da capital paulista, a Capela do Socorro, onde começaram a militância na Igreja Católica. Dos dez irmãos Tatto, nove são filiados ao PT.

A regra e as exceções

Os três representantes de dez estados no Senado têm ou tiveram parentes políticos. No DEM, de Ronaldo Caiado (GO) e José Agripino Maia (RN), no PDT e no PR, ninguém foge desse perfil. A mesma situação se repete com 19 dos 22  peemedebistas. Já no PSDB, quem tem a árvore genealógica mais enraizada na política é o senador Cássio Cunha Lima (PB), filho do ex-senador Ronaldo Cunha Lima,  pai do deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) e parente de quase uma dezena de outras lideranças.

Quatro senadores escolheram em casa os eventuais substitutos: Acir Gurgacz (PDT-RO) e Ivo Cassol (PP-RO) escalaram o pai como suplente; Eduardo Braga (PMDB-AM), a mulher e Edison Lobão (PMDB-MA), o filho. Todos já  provaram o gostinho de ser senador.

Dez das 13 senadoras também têm parentesco político. Somente Fátima Bezerra (PT-RN), Regina Sousa (PT-PI) e Lídice da Mata (PSB-BA) escapam à regra. Professora, Fátima é a exceção que confirma a regra em seu estado. “Sou a primeira representante de origem popular do Rio Grande do Norte nos últimos 50 anos. Isso evidencia o quanto o tradicionalismo e o patrimonialismo estão presentes na política. A maioria dessas famílias têm o controle dos meios de comunicação e dinheiro. Não é razoável que o parentesco seja traço marcante na nossa política”, critica.


Bonifácio de Andrada representa a quinta geração da família do Patriarca da Independência na Câmara.

Conheça a Campanha “O Brasil é Quilombola, Nenhum Quilombo a Menos” e assine a petição


Dia 16 de agosto talvez seja o dia mais importante para as Comunidades Quilombolas. Será julgado a ADI 3239 ajuizada pelo DEM que pede a inconstitucionalidade do Decreto 4.887/03. Isso significa que caso passe no STF, todos os títulos já expedidos às comunidades quilombolas serão anulados. Por favor, contribuam assinando a petição.


Do Ceert - Em agosto, o futuro de milhões de quilombolas será decidido no Supremo Tribunal Federal (STF).

           

Em 2004, o Partido Democratas (DEM) entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no STF, questionando o decreto 4887/2003 que regulamenta a titulação das terras dos quilombos. O julgamento se estende desde 2012 e será retomado no dia 16 de agosto.

Todos os títulos de quilombos no país podem ser anulados. O futuro das comunidades está em perigo. Novas titulações não serão possíveis sem o decreto. Mais de 6 mil comunidades ainda aguardam o reconhecimento de seu direito.

As comunidades quilombolas são parte da nossa história, do nosso presente e também do nosso futuro.

Assine a petição e diga ao STF que não aceite a ação do Partido Democratas! Junte-se à luta dos quilombolas pelo seu direito constitucional à terra.

O Brasil é quilombola! Nenhum quilombo a menos!

Imagem capturada no vídeo acima.

Quantos negros e mulheres há no judiciário brasileiro?


O judiciário brasileiro é uma casta.

Uma casta conservadora, racista, preconceituosa e, nos últimos tempos, golpista.

Do Cafezinho - A ditadura militar foi substituída pela ditadura da toga.

Assim como os militares, usam a mídia para assumir o controle político do país e, com isso, atenderem os seus próprios privilégios e aqueles da elite a qual prestam serviço.



Prefeito Dariomar e vereadores participam do anúncio da construção da CE- 388 que liga Altaneira a Assaré


O Governo do Estado do Ceará anunciou na manhã desta segunda-feira, 31, em Fortaleza, um investimento de mais de R$ 400 milhões em obras de restauração e duplicação de rodovias e pavimentação asfáltica, vindo a contemplar cerca de 27 municípios.

O anúncio ocorreu durante o lançamento da 2ª etapa do Programa Ceará de Ponta a Ponta e, segundo o governo, mais de 3,7 milhões de pessoas serão beneficiadas com as obras que serão custeadas com recursos do Tesouro Estadual e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Dentre as ações, destaque para a construção rodovia CE – 388, que liga os municípios de Altaneira a Assaré. O portal do município divulgou que o prefeito Dariomar Soares (PT) liderou uma comitiva para participar da solenidade. Estiveram junto ao gestor a primeira dama e Secretária de Assistência Social, o Assessor Assis Filho e representantes do legislativo municipal, como os vereadores Antonio Leite, Cier Bastos e Valmir Brasil, todos com assentos na Câmara pelo PDT e Silvânia Andrade (PT),

Conforme informações constantes do site do município de Altaneira, Dariomar discorreu acerca da importância da obra para os munícipes. Ele afirmou que a rodovia foi colocada como prioridade nesta nova fase do programa e que esta irá impulsionar de forma significativa o desenvolvimento estrutural, econômico e social de Altaneira e regiões vizinhas.

O prefeito foi taxativo ao frisar que o sonho que ora se encontra muito perto de se concretizar teve a contribuição de muitas pessoas, citando que ela era um desejo antiga não só da população, mas também de ex-gestores que durante seus mandatos cobraram de insistentemente, como João Ivan Alcântara, Delvamberto e Dedé Pio. Realçou ainda que o apoio e de igual modo as recentes cobranças de vereadores e vereadoras foram fundamentais e fez questão de ressaltar o papel decisivo do vereador Flávio Correia que mesmo não estando na capital, foi um dos que mais reivindicou a rodovia.

Não foi informado, entretanto, quando as obras irão ter início. Mas conforme informações colhidas, o Programa Ceará de Ponta a Ponta deve ser concluído até o fim de 2018.

Prefeito Dariomar e vereadores durante solenidade da 2ª etapa do Programa Ceará de Ponta a Ponta, em Fortaleza. 
Foto: Divulgação.




Rafael Braga e Breno Borges: 9 gramas de racismo pesam mais que 129 quilos de maconha


No dia 8 de abril o empresário Breno Fernando Solon Borges, que é dono de uma metalúrgica e serralheria em Campo Grande no Mato Grosso do Sul, foi preso carregando junto com outras pessoas em dois carros, 130 quilos de Maconha, uma pistola nove milímetros e 199 munições de fuzil calibre 7,62, de uso exclusivo das forças armadas.

Por Henrique Oliveira, no Justificando. As investigações da Polícia Federal sobre as ações de Breno já vinham sendo realizadas desde o mês de fevereiro, o grupo foi abordado pela Polícia Rodoviária Federal na BR 262, quando transportava as drogas e as munições para São Paulo.

Breno Borges é filho da presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Mato Grosso do Sul, a Desembargadora Tânia Garcia Freitas Borges, e uma das autoridades que preferiu anonimato, segundo o Conjur, o empresário deu o nome da sua mãe para não ser preso.

Aquela típica frase: “você sabe com quem você está falando?” uma expressão que remete a identificação social do seu enunciador no topo da hierarquia, demonstrando ter algum tipo de autoridade, que busca através do apadrinhamento político burlar as leis, conseguir proteção e vantagem.

Breno estava preso desde 8 de abril, e conseguiu no dia 17 de julho o direito de aguardar seu julgamento em liberdade, pois a sua defesa conseguiu um laudo médico psiquiátrico no qual Breno é diagnosticado com “Síndrome de Borderline”, uma doença que consiste no desvio de comportamento do indivíduo, se manifestando através das alterações de cognição, de afetividade, de funcionamento interpessoal e controle dos impulsos.

O também Desembargador, Ruy Celso Barbosa Florecence, concedeu liberdade para que Breno cumpra tratamento psiquiátrico adequado, sob a tutela e responsabilidade da sua mãe, que se comprometeu a levá-lo em todas as audiências do processo.

E essa foi a segunda vez que a defesa de Breno Borges tentou intervir para tirá-lo da prisão com argumentos médicos, a própria desembargadora e mãe se ofereceu para ser tutora do filho, para que fosse internado em uma clínica médica, com alegação que ele sofre de problemas psicológicos, mas teve o pedido negado em um juizado de primeira instância.

O direito de responder em liberdade sob alegação médica, é mais um caso onde presos com dinheiro e influência política conseguem produzir laudos médicos para ganhar prisão domiciliar ou internação em clínica, enquanto milhares de presos estão sendo infectados e morrendo nas nossas cadeias por sífilis, tuberculose, HIV e convivendo em meio a ratos e baratas.

E mostra que membros da classe média/alta, quando são flagrados cometendo crimes, são enquadrados como doentes, desequilibrados, imaturos, sempre existindo um argumento atenuante, que visa afastar o estigma do criminoso para o do que precisa de ajuda.

Breno Borges não é o primeiro caso esse ano, em que um sujeito tem sua prisão revogada, por causa de alianças político-familiares com membros do poder judiciário.

Em janeiro no estado da Paraíba o também empresário Rodolpho Carlos Silva atropelou e matou o agente do Detran em uma blitz da Lei Seca.

Rodolpho chegou a ter a sua prisão preventiva decretada, mas doze horas depois o desembargador Joás de Brito concedeu um habeas corpus.

O desembargador é amigo da família de Rodolpho Carlos, que é filho do dono Grupo São Braz, um dos maiores produtores de café torrado do país, além de ser neto de José Carlos da Silva, ex vice-governador da Paraíba. Além de serem donos da afiliada local da Rede Globo.

Enquanto isso, Rafael Braga, um jovem negro e pobre, catador de material reciclável, e que não é filho de uma desembargadora, foi condenado a 11 anos de prisão, por tráfico e associação tráfico, por portar em um flagrante forjado 0,6 gramas de maconha e 9,6 gramas de cocaína.

No dia 19 de julho a defesa de Rafael Braga entrou com um pedido de apelação à sentença condenatória, alegando que não houve fundamentação por parte do juiz sobre a não retirada das algemas de Rafael durante as audiências, e a não autorização da realização de diligências para o esclarecimento do caso, como acesso as imagens da câmera da viatura em que Rafael Braga foi levado para a delegacia no dia 12 de janeiro de 2016.

É mais uma etapa do calvário que Rafael Braga vem passando desde a sua primeira condenação por porte de Pinho Sol e água sanitária, no contexto das manifestações de junho de 2013.

Esses dois casos envolvendo Rafael Braga e Breno Borges evidenciam toda a contradição da política criminal de drogas e a seletividade do poder judiciário; apesar de Breno Borges ter direito a responder o processo em liberdade, esse mesmo direito não é garantido a mais de 40% dos presos brasileiros, que são compostos por presos provisórios.

A política de proibição das drogas quando relacionada com questões sócio-raciais, consegue produzir uma total inversão de proporcionalidade, onde 9 gramas de racismo, pesam mais do que 129 quilos de maconha.

*Henrique Oliveira é graduado em História e mestrando em História Social pela UFBA e militante do Coletivo Negro Minervino de Oliveira/Bahia


Foto: Reprodução.

Estudantes protestam contra disciplina que incorpora racismo


Estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (EAD-UFMG) divulgaram no ultimo dia (27) nota de repúdio à disciplina “Casa Grande”, ministrada pelo professor Otávio Curtiss. O motivo, segundo os alunos, é o racismo e o desrespeito de um projeto proposto em sala de aula, na qual os estudantes deveriam elaborar um projeto de alto padrão em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.

Da RBA - O projeto prevê cinco suítes com banheiro completo e rouparia e uma zona de serviço composta de cozinha, lavanderia, despensa, depósito, quartos e banheiros para oito empregados. Segundo os alunos, o projeto “incorpora a senzala e reforça os moldes de dominação em pleno século 21”.

Após 129 anos da abolição da escravidão no Brasil, no entanto, a estrutura escravocrata ainda segue presente no cotidiano brasileiro. Como discutido em diversas disciplinas na EAD-UFMG, o quarto de empregada, por exemplo, tem como origem a segregação escravista. Ele surge como uma solução para separar empregados e patrões que permaneceram vivendo juntos após a abolição, em 1888. Com o crescimento das cidades e a verticalização urbana, as novas soluções de moradia mantiveram soluções arquitetônicas que perpetuam a separação entre patrões e empregados”, diz trecho da nota publicada pelo diretório acadêmica da Escola de Arquitetura e Urbanismo da UFMG.

No texto os estudantes questionam a construção da grade curricular do curso e o modelo de arquitetura estimulado pela universidade direcionado para uma classe elitista da qual parte dos estudantes, que são negros e originários de escolas públicas, não pertencem.

Com essa proposta, o professor Otávio Curtiss reforça os padrões sociais que vão ao encontro das estruturas do Brasil Colônia e fogem da realidade da maioria dos indivíduos que compõem a população brasileira, utilizando a proposta da disciplina para justificar a produção de uma arquitetura racista”, afirma a nota. “O racismo institucional presente na Escola de Arquitetura vai de encontro a todos os esforços de inclusão expressados pela UFMG. Mais uma vez, os setores reacionários da universidade estão pouco preparados para receber a diversidade sociocultural do novo perfil de seus estudantes, reforçando suas estruturas racistas e como elas representam uma forma de dominação na sociedade atual.

Na rede social, a reclamação dos alunos tanto ganhou adeptos quanto recebeu críticas. Procurado pelo jornal Estado de Minas, o professor respondeu, por e-mail: “Não tenho interesse em entrar nessa questão. Os alunos não são obrigados a cursar essa disciplina para obterem o grau de arquitetos”.

Em seu perfil no Facebook, o ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro comentou: “Não sei o que é mais esquisito, numa faculdade paga com o dinheiro da sociedade (isto é, pública): o tamanho de 800 metros quadrados, a área de empregados ou o nome da disciplina, ‘Casa Grande’".

Para os estudantes, projeto reforça as estruturas sociais do Brasil Colônia. Gravura de Frans Post.

Série de fotografias denuncia o racismo e silenciamento sofrido pela mulher preta


Fotografia: Rás Akanni.
A imagem acima faz parte da obra “O embranquecimento da mulher preta através da estética” que, por sua vez, faz parte do projeto fotográfico “Racismo em percurso”, realizado pelo fotógrafo Rás Akanni, com o objetivo de aborda as diversas facetas do racismo e suas consequências no corpo negro

Do Ceert - Rás se juntou a maquiadora Carol Romero a fim de criar as fotos que estão disponíveis na página “Afrotografia”. As imagens, que trazem elementos provocativos acerca do racismo e em embranquecimento, já alcançaram mais de 40 mil pessoas.


O objetivo é invocar na pessoa negra a memória de cada momento vivido em que ela tenha sido potencialmente silenciada, ou embranquecida esteticamente para se tornar aceita a em algum grupo, uma vez que a ideia social de beleza é racista e exclui a estética negra.

É importante acentuar que o mercado da beleza ainda tem resquícios eugenistas, onde os processos de desenvolvimento e promoção dos produtos tem foco em peles claras, em corpos magros ou robustos(…). Por este motivo escolhemos uma modelo com a melanina acentuada, pois o mercado não olha para estas mulheres com o potencial de consumo. Mulheres pretas, gordas e retintas não são vistas como concepção de beleza”, afirma Carol.

Para ver a todas as fotos que compõem “O embranquecimento da mulher preta através da estética”, acesse a página  “Afrotografia” no Facebook.