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O prazo é o mesmo para a transferência de local de votação e atualização de dados pessoais.(FOTO |Reprodução TSE). |
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O prazo é o mesmo para a transferência de local de votação e atualização de dados pessoais.(FOTO |Reprodução TSE). |
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Crato. (FOTO | Reprodução). |
Por Alexandre Lucas, Colunista
A revisão do Plano Diretor do Crato/CE, fruto de uma exigência legal prevista no Estatuto da Cidades é um momento oportuno de juntar olhares, evidenciar as feridas urbanas, fraturas de acessibilidade social, perceber o crescimento desigual do capital e o desordenamento urbano, redescobrir e planejar cidade a partir de quem ocupa o seu solo. É um momento oportuno também para colocar a cultura na centralidade do seu aspecto transversal e como parte inseparável do acesso a uma cidade com redução de impactos ambientais, promotora da saúde preventiva e impulsionadora da antropofagia cultural na sua dimensão plural, diversificada, universal e civilizatória.
O Plano Diretor do Crato é de 2009, conforme ordena o Estatuto da Cidade, os planos diretores devem ser revistos a cada dez anos, ou seja, no Crato a revisão deveria ter acontecido em 2019. Precisamos discutir de forma sincera e distante da publicidade os “caminhos do Crato” para que ele não se assente no asfalto e distante dos movimentos sociais e das demandas de acessibilidade à cidade.
Os Planos de Diretores são espaços de disputa do capital, o setor imobiliário tem interesse na discussão para ampliar a sua rentabilidade, muitas vezes agindo de forma predatória ampliando o desequilíbrio ambiental.
Esse é um bom momento para refletir sobre o propagado e fakeado conceito de “capital da cultura” que não se sustenta quando mostramos o conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade, a partir dos equipamentos públicos municipais: Museus, teatros, bibliotecas, escolas e praças, os quais apresentam estruturas inadequadas e concentradas e a ausência de outros espaços como galerias, salas para exibições de filmes e espaços de memórias.
Neste sentido, é importante no processo de revisão do Plano Diretor atentar para os dois marcos legais da cultura do Município que são o Sistema Municipal de Cultura, no qual a o atual Governo Municipal não tem dado a devida atenção em suas duas gestões, o que fica evidente quando se observa as condições e o uso dos equipamentos culturais. O outro é a Lei Municipal do Cultura Viva ( Pontos de Cultura), uma política pública revolucionária no campo da cultura de base comunitária que é experienciada em 17 países da América Latina e que tem uma íntima ligação com o Direito à Cidade e a redescoberta da pluralidade e diversidade estética, artística, literária e cultural da urbe. A aprovação da Lei do Cultura Viva no Crato é um avanço, mas para funcionar precisa de recursos públicos de forma sistematizada. O Município certificou já 31 Pontos de Cultura que somados aos certificados pelo Estado do Ceará, totalizam 37 Pontos, o que é um número bastante significativo. O Cultura Viva vem avançando no aspecto jurídico e pode ser a principal referência para reconfigurar espacialmente o “Crato das Culturas”. Apontando novos rumos para integração comunitário e territorial da cidades a partir de aspectos da memória afetiva e do reconhecimento das estruturas urbanas e arquitetônicas que tem significado para o patrimônio material e imaterial e o desenvolvimento social.
É preciso colocar a cultura na centralidade do Plano Diretor, a partir do seu caráter transversal. Os Pontos de Cultura, as organizações e ações de cultura de base comunitária, talvez sejam um caminho possível e necessário para fazer uma escuta mais apurada e perceber os movimentos e as paisagens culturais e sociais que não aparecem no olhar da excludente “capital da cultura”.
É evidente que existe no Crato, lugares e territórios em que são negados o direito à cidade. O que não é uma particularidade para usarmos a expressão tão nossa: “Só no Crato mesmo”, pelo contrário é uma característica trivial da fabricação das cidades sob a ordem do capital.
Possivelmente, se pensamos a cidade, também a partir da escuta da cultura de base comunitária e dos Pontos de Cultura teremos uma dimensão de desenvolvimento e planejamento urbano estruturante e transversal, pavimentado pela permeabilidade de uma nova cultura política capaz de reduzir os danos da inacessibilidade da cidade.
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Cida Bento. (FOTO/ Reprodução). |
Se
em algum momento pudemos ter dúvidas sobre o quanto ecoam nas periferias e
favelas as vozes de intelectuais e ativistas que lutam por um país que
reconheça a força da cultura que emana de sua população, os Carnavais dos últimos
anos não deixam dúvidas.
A
maioria das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro (oito em 12
escolas) e de São Paulo (sete em 14 escolas) trouxe para a avenida enredos que
homenagearam personalidades negras, a cultura afro-brasileira e o protagonismo
negro na história do país. E fizeram duras críticas ao racismo e ao assassinato
da juventude negra.
O
recado foi dado!
Esse
processo não começa agora e não ocorre por acaso, mas atinge um pico neste
período de nossa história, no qual, não por coincidência, alcançamos um nível
de violência racial que é o maior dos últimos 30 anos, em cidades como o Rio de
Janeiro, segundo demonstra o Mapa da Violência no Brasil.
Personalidades
negras queridas e respeitadas pela população brasileira que haviam sido
atacadas nos últimos seis anos por órgãos do governo federal numa tentativa de
desonrá-las foram exaltadas, homenageadas nas ruas, por milhares de sambistas.
Num dos maiores e mais lindos espetáculos a que temos o privilégio de assistir.
E é
assim que constatamos que o que acontece de negativo no Legislativo, no
Executivo e no Judiciário, muitas vezes na calada da noite, vem sendo
acompanhado por olhares atentos e críticos das periferias e favelas.
As
escolas de samba são um território complexo onde muitas vezes não temos na liderança
pessoas negras, como, aliás, acontece na maioria das organizações brasileiras e
onde a luta pelo poder pode repetir a mesma lógica violenta e excludente que
observamos em outras instituições brasileiras.
Mas
é também um espaço de aquilombamento, de compartilhamento das raízes culturais
pela música, pela dança e pelo teatro. E, nesse sentido, é território fértil
para a ampliação da crítica social e da democracia, já que múltiplas vozes,
LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência, pessoas negras e indígenas buscam se
manifestar.
E um
diferencial marcante nesse contexto de Carnaval vem sendo a maneira crescente
com que aparece a valorização das religiões afro-brasileiras.
Num
país que é laico, segundo a Constituição de 1988, não poderiam ocorrer relações
de dependência com nenhum culto e, principalmente, não poderia haver
perseguição ou impedimento do funcionamento de cultos de qualquer natureza.
Mas
isso vem acontecendo!
A
despeito de nossa Constituição ter consagrado o princípio de liberdade de
crença, de culto, de liturgias e de organização religiosa, crescem as denúncias
de violações de direitos no campo do credo religioso contra judeus, muçulmanos,
dentre outros grupos. E as religiões afro-brasileiras vêm sendo duramente
atingidas por diferentes formas de violência, como agressões físicas e verbais
a religiosos, ameaças, pichações em templos e lugares públicos e propagandas de
ódio veiculadas na internet.
São
frequentes, ainda, as denúncias de invasão dos templos, praticadas por maus
policiais, sem mandado judicial e a qualquer hora do dia ou da noite.
Assim
é que foi muito animador ver as escolas de samba, em 2022, trazerem para a rua
os orixás: narrarem a história de Oxóssi, cantarem Exu ou Oxalá, divindades das
religiões de matriz africana.
Isso
nos lembrou que a laicidade do estado brasileiro não é um elemento de restrição
do pertencimento e expressão religiosos, pelo contrário, é uma riqueza que marca
nossa sociedade tão diversa.
?Assim,
que possamos contribuir para que essa crítica de parcela expressiva da nossa
população à violência social, em particular a religiosa que se manifestou na
avenida, se manifeste também nas eleições. Com a certeza de que podemos e vamos
fazer a diferença.
_________________
Texto publicado originalmente em sua Coluna na Folha de S. Paulo e reproduzido no CEERT.
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(FOTO | Reprodução |WhatsApp). |
Por Naju Sampaio*
A
ação Poste Poesia será realizada neste sábado, dia 30, às 15:30. A atividade
tem como ponto de encontro a sede do Coletivo Camaradas e depois percorrerá o
Território Criativo do Gesso para as colagens. Desenvolvida desde 2013, pelo
Coletivo Camaradas, a ação tem caráter comunitário e possui como objetivo
contribuir com a construção de uma cultura leitora e com o acesso à literatura.
As
poesias são selecionadas de acordo com um formulário virtual que é
disponibilizado nacionalmente e ficam armazenadas em um banco de dados. Para
utilização na atividade é selecionado um trecho, juntamente com o nome do autor
ou autora. A intervenção já foi feita em mais de 50 cidades através do
fornecimento desse banco para diversas organizações.
Segundo
Tayná Batista, coordenadora do Poste Poesia, a intervenção auxilia na
divulgação das poesias, e facilita o acesso das pessoas à escrita e à
literatura, principalmente por conta da dificuldade de publicação de livros e
partilha das escritas. Em todo último sábado do mês é reunido um grupo de
pessoas que desejam contribuir com a ação e são feitas as colagens nos postes
do Território Criativo do Gesso.
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* Naju Sampaio é estudante de jornalismo e bolsista/integrante do Coletivo Camaradas.
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11 anos do Blog Negro Nicola. (FOTO/ Referente aos 10 anos celebrado com encontro virtual com equipes de colunistas pelo Google Meet). |
Por José Nicolau, editor
27
de abril é dia de celebrar. O Blog Negro Nicolau (BNN) está completando uma
década de lutas e de construção de outras narrativas. São 10 anos de atuação em
defesa da promoção de uma sociedade menos desigual e menos intolerante, com
equidade racial e de gênero.
Fundado
em 27 de abril de 2011 inicialmente alcunhado de “Altaneira Infoco” e
posteriormente “Informações em Foco”, o Blog Negro Nicolau vem com esta
denominação deste de 2017.
O Blog
é uma mídia negra livre. Foi construída com a missão de ser um espaço de
comunicação de denúncia de todos os casos de segregação racial e de propor uma
narrativa distinta da veiculada pelos polos de comunicações tradicionais,
esteriotipada e que não questiona as estruturas racistas. Busca oferecer uma
narrativa que destaca de forma afirmativa o povo negro deste país. É uma mídia
de denúncia - inclusive diante desta pandemia que acentuou o racismo estrutural
- de combate e de enfrentamento ao sistema, mas também de empoderamento, de
identificação e de afirmação.
Esse espaço conta com seis colunistas e tem como parceiros o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER) da URCA; a Associação Cristã de Base (ACB), A Academia de Letras do Brasil/ Seccional Araripe (ALB/Araripe); a Rádio Comunitária Altaneira FM, o Projeto ARCA e os sites Identidade 85 e Intelectual Orgânico.
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Escola de Caxias teve seu primeiro campeonato no carnaval carioca com o enredo "Fala, Majeté! Sete chaves de Exu" - Gabriel Monteiro/Riotur. |
A
Acadêmicos do Grande Rio venceu nesta terça-feira (26) o Carnaval de 2022 das
escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. A agremiação de Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense, desfilou na madrugada do último sábado (23), na
Marquês de Sapucaí, com o enredo "Fala, Majeté! Sete chaves de Exu",
que desmistificou a imagem ruim de um dos orixás mais importantes de religiões
de matrizes africanas.
A
Vermelho, Verde e Branco de Caxias é a escola mais jovem a desfilar no Grupo
Especial e foi fundada em 1988. Apesar da pouca idade, a Grande Rio colecionou
algumas quase vitórias até a esperada vitória. Ela foi vice-campeã em 2006,
2007, 2010 e 2020.
O
gosto dos jurados coincidiu com o "barulho" que a escola conseguiu
criar nas redes sociais logo após seu desfile. Por isso, a Grande Rio vinha
sendo apontada como a favorita ao título.
Nos
primeiros quesitos lidos nesta tarde, a Grande Rio disputava a liderança com a
Beija-Flor de Nilópolis, mas a Azul e Branco acabou perdendo pontos em
categorias como "Comissão de Frente" e "Alegorias e
adereços" e ficando com o vice-campeonato. Os outros quesitos julgados
foram "Fantasias", "Harmonia", "Samba-enredo", "Bateria",
"Enredo", "Mestre-sala e porta-bandeira" e
"Evolução".
A
Viradouro, que fez um desfile sobre aquele que ficou conhecido como "o
maior carnaval de todos os tempos" por ser o primeiro depois da Gripe
Espanhola de 1918, ficou como a terceira colocada. Já a Vila Isabel, que fez um
desfile em homenagem ao cantor e compositor Martinho da Vila, ficou em quarto
lugar.
A
São Clemente, que desfilou no sambódromo carioca com um enredo sobre o
humorista Paulo Gustavo, que morreu em maio do ano passado em decorrência de
complicações da covid-19, foi rebaixada e desfilará na Série Ouro em 2022.
__________
Com informações do Brasil de Fato.
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"Enquanto houver racismo, não haverá democracia", diz a mensagemm levada pela Beija-Flor de Nilópolis para a Sapucaí Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo |
Depois
de um recesso forçado pela pandemia, o Carnaval 2022 sublevou a lógica do
calendário gregoriano ao ocorrer depois da Quaresma no Brasil. Porém, ao
encarnar uma espécie de imersão espontânea e coletiva da comunidade do samba em
suas raízes africanas, a festa não poderia ter se dado mais dentro do tom.
Como
antecipei em janeiro no artigo “Hoje cativeiro é favela”, muitos dos enredos do
grupo especial do RJ e de SP trouxeram temas relacionados à influência negra na
construção da nossa sociedade, exaltando a cultura, o culto aos orixás, a
resiliência e o talento herdados dos africanos.
Mazelas
decorrentes do racismo institucionalizado desfilaram pelas avenidas: a cor da
pele como fator determinante para a prisão de inocentes, os homicídios que
vitimam de maneira seletiva e preferencial pretos e pardos e o vandalismo em
terreiros de candomblé. Também não faltou exemplo do desleixo com a segurança
pública, o que coloca em risco vidas como a da menina negra que perdeu a perna
e morreu depois de ser prensada entre um poste e um carro alegórico.
Tudo
exposto aos olhos do mundo em forma de espetáculo cênico musical na maior festa
popular do país. Uma verdadeira catarse frente a manifestações reiteradas de
ódio e ataques às liberdades, às instituições e à democracia. Foi lindo ver a
alegria de um povo que subverte a lógica, resiste e insiste em ser feliz.
Para
completar, uma coincidência fez com que o período dos desfiles compreendesse o
23 de abril, dia dedicado aos festejos de Ogum, orixá guerreiro, que quebra
demandas e abre caminhos, afastando inimigos e injustiças.
Evidente
que o Carnaval não é invenção brasileira, mas o espetáculo grandioso dos
últimos dias é genuinamente nacional e o surgimento das escolas de samba se deu
entre as classes populares, na década de 1920. Num momento turvo, nada mais
simbólico do que um desfile essencialmente dedicado a falar de pertencimento,
representatividade e respeito à diversidade.
_____________
Por Ana Cristina Rosa, na Folha de São Paulo e reproduzido no Geledés.
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(FOTO |Reprodução | Internet). |