14 de julho de 2021

Inscrições do Enem terminam nesta quarta-feira (14)

 

Exame Nacional do Ensino Médio, Enem (Foto/ Marcello Casal Jr/Agência Brasil).

Termina hoje,14, às 23h59 o prazo para inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. Os interessados em participar do exame devem acessar a Página do Participante, no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

A taxa de inscrição para os não isentos é de R$ 85. O pagamento deve ser feito por meio de Guia de Recolhimento da União (GRU Cobrança) até o dia 19 de julho.

Provas

As provas do Enem 2021 serão aplicadas nos dias 21 e 28 de novembro, tanto a versão digital quanto a impressa. As duas versões terão a mesma estrutura de prova: quatro cadernos de questões e a redação.

Cada prova terá 45 questões de múltipla escolha, que, no caso do Enem Digital, serão apresentadas na tela do computador. Já a redação será realizada em formato impresso, nos mesmos moldes de aplicação e correção da versão em papel. Os participantes receberão folhas de rascunho nos dois dias.

No primeiro dia, serão aplicadas as provas de linguagens, códigos e suas tecnologias, e ciências humanas e suas tecnologias, além da redação. A aplicação regular terá cinco horas e 30 minutos de duração.

No segundo dia, as provas serão de ciências da natureza e suas tecnologias, e matemática e suas tecnologias. Nesse caso, a aplicação regular terá cinco horas de duração.

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Com informações do O Povo.

Julho das Pretas: Batalha de poesia premiará mulheres negras do Nordeste com até R$1mil

 

Julho das Pretas. (FOTO/ Lis Pedreira).

Idealizado pelo Instituto Odara, o “Slam do Julho das Pretas” está com inscrições abertas até 14 de julho.

As mulheres negras, mesmo que silenciadas por tanto tempo, em diversos setores da sociedade, conseguiram se destacar nas áreas mais diversas do conhecimento. Quando o assunto são suas “escrevivências”, não seria diferente. Como forma de evidenciar a arte escrita declamada,  o Instituto Odara realiza o Slam do Julho das Pretas.

A batalha de poesia, que tem como proposta destacar o trabalho das poetisas negras da região  Nordeste, acontecerá entre os dias 19 e 23 de julho de 2021. Ainda por conta da pandemia de Covid-19, a atividade acontecerá em formato digital. Para participar é só preencher o formulário de inscrições disponível no site do Instituto Odara, entre os dias 9 a 14 de julho de 2021,  lá também estão disponíveis as regras da batalha poética. As inscrições são gratuitas.


Os slans são movimentos que têm caído no gosto dos amantes de poesia. A batalha poética tem regras e uma comissão de jurados para avaliar as participantes, que desta vez será  composta por mulheres negras, ativistas de movimentos sociais do Nordeste. Serão premiadas as dez primeiras colocadas com prêmios de: R$ 1000; R$ 900; R$ 800; R$ 700,00;  R$ 600; R$ 500; R$ 400; R$ 300; R$ 200; e R$ 100.

O Slam Julho das Pretas tem também como proposta  estimular a produção, exposição e contato com narrativas poéticas que versem sobre: as diversas formas de genocídio da população negra; a organização política das mulheres negras no combate ao genocídio da população negra; e  a organização política das mulheres negras nos múltiplos espaços da sociedade brasileira, apontando soluções, fazeres e tecnologias políticas e sociais pela superação do racismo e das diversas formas de violações de direitos humanos, em defesa de uma democracia plena, e pelo Bem Viver.

Inscreva-se clicando aqui.

Sobre o Julho das Pretas

O Julho das Pretas é uma ação de incidência política e agenda coletiva criada em 2013 pelo Odara - Instituto da Mulher Negra, e que ganhou o país através da Rede de Mulheres Negras do Nordeste, da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB), de centenas de coletivos e organizações de mulheres negras e de milhares de pretas que se organizam em ações coletivas ao longo dos últimos 9 anos, para registrar o mês de Julho na agenda pública do país. Para mais informações sobre o Julho das Pretas, CLIQUE AQUI.

ACESSE A AGENDA COMPLETA CLICANDO AQUI.

NOSSOS CANAIS

Instagram Julho das Pretas: https://www.instagram.com/julho_das_pretas/

Facebook Julho das Pretas: https://web.facebook.com/julhodaspretas

Instagram Instituto Odara: https://www.instagram.com/odarainstituto/

Site Instituto Odara: https://institutoodara.org.br/

Facebook Instituto Odara: https://web.facebook.com/OdaraInstitutoDaMulherNegra

Instagram Rede de Mulheres Negras: https://www.instagram.com/rededemulheresnegras/

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Texto encaminhado ao Blog pela Comunicação Julho das Pretas.

13 de julho de 2021

Escritora lança audiolivro sobre encarceramento de mulheres negras no Brasil

(FOTO/ Divulgação).



A escritora Lorenlai França acaba de lançar o audiolivro "Cela 03 - entre amores e rebeliões", que aborda o encarceramento em massa das mulheres negras no Brasil, além de refletir sobre a lesbofobia, o racismo e machismo.

A obra já está disponível na internet e traz um relato pessoal dos 300 dias da prisão política de Lorenlai e a sua história de vida desde a adolescência, quando resolveu falar abertamente sobre a sua orientação sexual. Por causa disso, chegou a enfrentar perseguições e linchamentos, que culminaram na sua prisão.

O audiolivro se destina principalmente às mulheres negras, ao público LGBTQIA+, às mães e familiares de jovens encarceradas que enfrentam violências semelhantes sofridas pela escritora.

A história também vai além do encarceramento, e fala sobre amores, esperança, desejos e sonhos de liberdade. A narrativa de Lorenlai, desde a Cela 03, constitui mais um capítulo da história secular de insubmissão de mulheres negras como Assata Shakur e Angela Davis, nos Estados Unidos, Winnie Mandela, na África do Sul e Preta Ferreira, em São Paulo.

"Cela 03 - entre amores e rebeliões" é idealizado pela cineasta, poetisa e jornalista Urânia Munzanzu, que realizou a concepção artística do projeto junto com a coordenação e organização da pesquisadora e antropóloga Carla Ramos Munzanzu.

O audiolivro está disponível pelo canal no Youtube da escritora e pelo perfil no Speaker. O conteúdo é gratuito.

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Com informações da Alma Preta.


Meter a colher é salvar a mulher da agressão

 

(FOTO/ Divulgação).

Gatilho” é a palavra usada para definir algo que vai te fazer lembrar de uma situação já vivida. Não por acaso, era o termo mencionado por internautas ao explicar por que não divulgavam em seus postos vídeos de agressão de Iverson de Souza Araújo, o DJ Ivis, contra sua mulher Pamella Gomes de Holanda, E não foram poucas as “oportunidades”. Em 2020, segundo levantamento do instituto Ipec – Inteligência e Pesquisa em Consultoria –, 15% das brasileiras com 16 anos ou mais relataram ter experimentado algum tipo de violência psicológica, física ou sexual cometida por parentes, companheiros ou ex-companheiros íntimos durante a pandemia. Isso equivaleria a 13,4 milhões de brasileiras. Ou seja, a cada minuto do último ano, 25 mulheres foram ofendidas, agredidas física e/ou sexualmente ou ameaçadas no Brasil.

Assim, isso explica em parte por que as cenas aterrorizantes e grotescas da agressão de Ivis contra Pamella podem provocar o tal “gatilho” em tantas mulheres. Pamella divulgou os vídeos em suas redes sociais na tarde de ontem (11). A notícia viralizou e ela recebeu apoio de milhares de pessoas. Entre elas, celebridades do mundo artístico e jurídico, parlamentares, integrantes do movimento de defesa das mulheres.

Choca mas não surpreende

Por outro lado, o DJ também ganhou seguidores. Uma situação que não surpreende a advogada Vivi Mendes. “É um retrato vergonhoso de como nossa sociedade ainda trata a violência contra a mulher. Esse tipo de apoio, que se expressa de diversas formas quando casos assim são revelados, ajuda a fortalecer o sentimento de impunidade. E desse modo contribui para que diversos homens continuem cometendo esses tipos de crime. A banalização e a normalização da violência contra a mulher também é responsável pela sua recorrência”, avalia a advogada, integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos.

São reações que ainda chocam, mas não surpreendem. No país em que até pouco tempo atrás ‘não meter a colher’ era a forma mais comum de lidar com esse tipo de caso, é comum ainda que se tente justificar a gravidade do caso ou responsabilizar as mulheres pelas violências sofridas.”

O Brasil, lembra Vivi, é o quinto país em taxas de feminicídio do mundo. “Enquanto acompanhamos um aumento cada vez maior dos casos de violência, também assistimos a uma desestruturação das políticas públicas no enfrentamento à violência de gênero. Essas duas coisas não estão desassociadas. Milhares de mulheres sofrem diariamente em suas casas, sozinhas. Precisamos que o enfrentamento à violência contra as mulheres seja uma política de Estado. Não adianta nos chocarmos hoje e deixar esse caso cair em esquecimento. Pamella e todas as mulheres brasileiras vítimas de violência merecem justiça e uma vida livre de violência.”

Entre ela e a bebê

A antropóloga Debora Diniz lembrou, em uma postagem no Instagram, que Pamella tem 27 anos e está no puerpério. A maior parte das agressões foi, inclusive, cometida ao lado da bebê Mel. “Uma fase muita dura para as mulheres. Ela, vivendo um turbilhão de mudanças na vida e no corpo, e um bebê miudinho para cuidar. Entre ela e o bebezinho é que o bruto se lançou. As imagens são de horror”, avisa. “Eu imagino a angústia. O corpo doído do parto, o bebezinho ali ao lado tão frágil.”

Debora, que é professora licenciada da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), relata que Pamella foi à delegacia, fez queixa e tentou retirar a queixa. “Temia o que muitas outras temem: ficar desprotegida e o agressor voltar com ainda mais fúria.” Debora Diniz reforça. “As cenas são de perder o sono. Você não precisa vê-las. Não precisamos ver para crer que a violência contra as mulheres é uma realidade brutal. Precisamos agir:  precisamos de um Estado que proteja as mulheres. Precisamos de um Ministério das Mulheres que pare de perseguir mulheres e olhe para as mulheres concretas como Pamela, e cuide delas.”

A professa critica, ainda, o Instagram, que “derruba vídeos por moralismo puritano e permite que agressores de mulheres mantenham contas com selo certificado”. Após a divulgação da agressão à mulher, o DJ Ivis chegou a quase 1 milhão de seguidores. “Não me interessa quem são essas pessoas: se machos como ele ou se abutres da tragédia alheia. Até que a conta do agressor de Pamella seja cancelada, todos os dias iniciarei minhas publicações com esta frase: Instagram dá palco a agressores de mulheres.”  A imagem está sendo replicada em milhares de contas na rede social.

Atendimento especializado

A advogada Vivi Mendes atua na defesa de mulheres que sofrem violência e considera “revoltantes e dolorosas” as imagens da agressão do DJ Ivis à mulher Pamella. “Todo novo caso, todo relato de agressão nos atinge. Isso porque nós sabemos exatamente como a violência doméstica ocorre, como ela precisa ser enfrentada, quais as políticas públicas necessárias para acolher e apoiar as vítimas”, afirma. Mas, ela lamenta, o Brasil ainda está muito distante do mínimo necessário para que as mulheres possam se sentir seguras para combater essa violência que acontece dentro de suas casas, com pessoas de sua confiança e com as quais se relacionam afetivamente.

Como pudemos acompanhar pelas entrevistas, Pamella tinha muito medo da reação do DJ Ivis. Quando uma mulher chega a uma delegacia para fazer a denúncia, normalmente ela ainda está muito fragilizada. Por isso, é importante que o atendimento seja especializado e colabore para que a mulher possa entender os caminhos que uma investigação e um processo como esse irão seguir e quais elementos de prova que ela pode apresentar para ajudar em seu caso. Nenhuma mulher é obrigada a saber exatamente como prosseguir. O atendimento feito deve ajudá-la e orientá-la.”

Vivi Mendes destaca ainda a necessidade de que a situação tenha um desfecho firme tanto no âmbito judicial, quanto no extrajudicial. “As mulheres precisam saber que a denúncia não será em vão. É preciso dar o recado que não existe nenhum tipo de justificativa para a violência doméstica e que os homens que a cometerem serão julgados e condenados. As mulheres precisam saber que ao não se calarem terão todo o apoio, e não serão revitimizadas. Precisam saber que sua voz tem força para interromper o ciclo de violências e que, ao denunciarem, poderão iniciar um novo capítulo em suas vidas.”

Fora do ar

Conhecido como “rei da pisadinha”, DJ Ivis foi demitido da produtora Vybbe, de Xand Avião. O líder da banda Aviões do Forró disse que não compactua com nenhum tipo de violência, ainda mais contra uma mulher. “Nada explica, não tem explicação”, disse, ao afirmar que não teria como continuar com o DJ na empresa. Vivi Mendes classifica esse tipo de reação como fundamental.

Além disso, os clipes do DJ também foram retirados da grade de atrações do canal Multishow após as denúncias de agressão à mulher. Assim, a emissora resolveu suspender todo vídeo que tenha a presença do artista. “O Multishow repudia toda e qualquer forma de violência. Todos os clipes com participação do DJ Ivis foram suspensos da programação do canal”, disse a emissora à coluna de Leandro Carneiro, do UOL.

O DJ compartilhou no Instagram um boletim de ocorrência e vídeos de Pamella tentando agredi-lo. E ainda afirmou à polícia que estaria “constrangido” e “com medo do comportamento desequilibrado” da mulher.

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Por Cláudia Motta, publicado originalmente na RBA.

O enfretamento da violência contra a mulher


Por Marina Silva, Colunista

Sabemos que a violência doméstica é um problema de gênero, e os dados do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) estão aí para comprovar. Em 2020 mais de 13 milhões de mulheres brasileiras foram violentadas por parentes, companheiros ou ex-companheiros. São números de vítimas contabilizados, nos fazendo acreditar que o número é bem maior, pois existem mulheres que ainda sofrem em silêncio por medo e vergonha.

No Brasil, esses casos são naturalizados e romantizados, contribuindo assim para o aumento da quantidade de mulheres em situações de risco dentro de suas próprias casas. O enfrentamento da violência contra a mulher está encontrando dificuldades, já que a verba destinada para tal feito no atual governo foi cortada drasticamente.

Fazendo assim a obrigatoriedade da presença ávida dos movimentos feministas no enfrentamento da violência, através de campanhas, lives, rede de apoio, palestras online e etc, mas isso tudo não se torna o suficiente.

Precisamos de todos, todas e todes nesse enfrentamento!

POSICIONE-SE!

12 de julho de 2021

Por nossos sonhos e histórias: a Lei de Cotas e sua revisão em 2022

 

(FOTO/ Reprodução).

A Lei de Cotas (Lei n° 12.711/2012), marco histórico na luta do movimento negro e do movimento estudantil, completará dez anos de sua promulgação em 2022 e, como previsto em seu artigo 7°, será revisada pelo Congresso Nacional. Levando isso em conta, é urgente que nós, estudantes, iniciemos desde já a mobilização da população em torno desse debate, sob pena de deixarmos escorrer pelas mãos uma década de avanços notáveis no acesso à educação superior – os quais a elite racista que domina o país e controla o Parlamento quer desfazer –, além da oportunidade de expandir e melhorar as políticas afirmativas já existentes.

Mesmo antes de 2012 algumas universidades já promoviam uma política autônoma de cotas, ancorada no entendimento da Constituição de 1988, que entende a educação como ferramenta de desenvolvimento social, concretizando princípios fundamentais referentes à igualdade e ao combate a desigualdades sociais, ainda que de forma incipiente. Na UFPR, por exemplo, ainda em 2004, foi aprovada a inclusão de cotas raciais na 2ª fase do vestibular, processo no qual o Partido Acadêmico Renovador (PAR), que atualmente ocupa a gestão do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS) da Faculdade de Direito, teve relevante participação, em que pese as várias limitações desse modelo inicial, incapaz de alterar de forma efetiva a composição da Universidade.

A Constituição Federal de 1988 abarca ideais que devem ser efetivados através de políticas públicas, pois se demonstram centrais para a ordem social do pós-ditadura. A igualdade é um importante valor disposto desde o início, que, em sua modalidade formal, reconhece todos e todas como iguais perante a lei. Porém, há a igualdade material, relativa à concepção que transborda o conteúdo das normas, leis e valores e desafia uma conotação vazia e meramente escrita, trazendo a perspectiva da igualdade de oportunidades e concretizando garantias coletivas que não se pautam por segregações baseadas em características sociais, culturais ou pessoais.

Assim, as políticas de ações afirmativas versam sobre equidade e igualdade, valores que devem orientar as bases do desenvolvimento social. A igualdade no plano formal já existe, mas não nos basta. Faltam, aos negros e negras, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas trans e populações periféricas, as mesmas oportunidades que determinados grupos sempre tiveram.

Com a aprovação da Lei n° 12.711/12, as políticas afirmativas são de fato institucionalizadas no sistema de entrada das universidades federais, as quais verdadeiramente se transformaram e mudaram de cor. Em 2018, pela primeira vez, o número de discentes negras e negros nas universidades públicas alcançou, pela primeira vez, a maioria das matrículas (50,3%) (IBGE, 2019). Além da população preta, foi garantido também o acesso por renda e de estudantes indígenas, assim como de pessoas com deficiência, com a Lei 13.409/2016, e o de camponeses e camponesas com o PRONERA (Programa Nacional de Reforma Agrária). Outro marco importante é o estabelecimento do SISU, que permite o ingresso através do Enem, facilitando o acesso à universidade pública.

Mesmo com a transformação do perfil dos e das estudantes, ainda estamos muito longe de garantir a igualdade racial no ensino superior. Isso porque as políticas afirmativas vão se tornando escassas à medida que se avança na carreira acadêmica, dificultando a permanência estudantil. Muitas universidades ainda não implementaram políticas de cotas na pós-graduação e nos concursos; devido a isso, conforme os microdados do Inep de 2018, apenas 16% do corpo docente universitário é da negritude. Sob uma lógica semelhante, no caso das pessoas com deficiência, apesar do estabelecimento das cotas, o mesmo acontece em relação à permanência, ainda com o agravante da falta de acessibilidade no meio acadêmico.

Conjuntura de ataques à educação

Somado a todas as questões apresentadas, desde o início de seu governo, Bolsonaro tem mostrado quão comprometido está com a agenda neoliberal desenhada para seu mandato, sendo um dos seus maiores focos a educação como um todo, cabendo destacar alguns de seus atos mais danosos.

Poucos meses após sua eleição, criticou os cursos de ciências humanas em discursos e, através do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub, iniciou os cortes na educação, começando com 30% nas universidades federais, em seguida bloqueando bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estendendo, por fim, o contingenciamento de verbas para toda a educação básica.

Com a chegada da pandemia, as afrontas apenas aumentaram. O governo Bolsonaro concedeu a Weintraub, através das Medidas Provisórias de número 914/2019 e 979/2020, o poder de nomear reitores, deixando de vincular a chapa mais votada da lista tríplice ao cargo de reitor, e, nesta última, o impedimento da realização do processo de consulta à comunidade para escolha dos reitores. A primeira caducou e a segunda foi devolvida poucos dias depois, mas, durante a pandemia, interventores foram nomeados para ocupar o cargo, estimando-se que ao menos 20 instituições tiveram intervenção federal na escolha de suas respectivas gestões.

Mais recentemente, segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), houve um bloqueio de 18,16% no orçamento discricionário de todas as universidades para o ano de 2021, o que representa pelo menos

1 bilhão de reais. Desde então, muitas universidades têm anunciado o risco de fechar as portas, paralisando milhares de pesquisas e estudos extremamente importantes, principalmente no momento pandêmico em que estamos, comprometendo inclusive o desenvolvimento de vacinas, como no caso da UFPR.

Da mesma forma que os ataques se fizeram presentes, o movimento estudantil se manteve firme reagindo e mobilizando as e os estudantes para manter a autonomia universitária, a liberdade de cátedra e os direitos conquistados tão arduamente visando uma maior inclusão das pessoas a quem sempre fora negado acesso a esses espaços.

Perspectivas para a revisão da Lei de Cotas

A revisão da Lei de Cotas tinha como objetivo possibilitar uma ampla discussão acerca das metas alcançadas, bem como seus resultados, sua amplitude e limitações, visando instruir um processo de melhoria e aprimoramento. Entretanto, com a ascensão bolsonarista, o panorama para 2022 é desanimador. O Congresso, com uma maioria marcadamente alinhada à agenda de desmonte do Estado, destruição de políticas públicas e retirada de direitos de minorias sociais se demonstra profundamente retrógrado e ameaça a permanência das políticas de cotas.

Através de dados coletados pelo Radar do Congresso, plataforma desenvolvida pelo Congresso em Foco, é possível inferir que a atual composição da Câmara de Deputados e do Senado Federal se estabelece como uma sólida base de apoio ao governo Bolsonaro, atingindo um índice de 76% de alinhamento na Câmara e 86% no Senado. O chefe do Executivo possui um histórico volumoso de negação do racismo como problema estrutural do país, tendo inclusive dito a apoiadores que sempre questionou a política de cotas raciais, além de diversas declarações racistas que remontam a discursos escravocratas.

Nesse cenário, é necessário demarcar a importância do movimento estudantil e da mobilização social em torno da defesa das políticas afirmativas que garantem o acesso de camadas da população historicamente afastada dos espaços de prestígio social. Precisamos nos preparar para uma importante batalha em defesa de nossos direitos, em defesa da possibilidade de continuarmos produzindo conhecimento e saber. A população periférica, o povo negro, as comunidades indígenas e as pessoas com deficiência não serão novamente renegadas às margens da sociedade, pelo contrário, serão protagonistas de suas histórias e ocuparão as universidades.

Ainda, é a oportunidade de denunciar a continuidade da exclusão de grupos sociais ainda hoje marginalizados, buscando-se ampliar a política de cotas. Estudantes transexuais, por exemplo, representam apenas 0,1% do total dos alunos e alunas de universidades federais no Brasil, um retrato dos altos índices de evasão escolar decorrente do preconceito e o precoce início no mercado de trabalho informal, uma vez que muitos e muitas são expulsas de casa e se vêm obrigadas a se prostituir, comprometendo o acesso à educação.

Reflexos das ameaças que se colocam diante de nós já começam a ser percebidos no cenário político: o PL 1531/2019, de autoria da deputada Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), propõe a remoção do critério racial de reserva de vagas, ignorando o passado colonial e escravagista que marca nossa história, se fundando na defesa da existência de uma ilusória “democracia racial”. Tais tentativas demonstram os riscos que estamos correndo, pois o acesso ao ensino superior por parte da população negra só atingiu níveis consideráveis através das políticas de cotas e, ainda hoje, estudantes da negritude enfrentam diversas dificuldades para acessar programas de pós-graduação em razão da quase inexistência de políticas afirmativas, o que reforça a importância do critério racial.

A universidade pública é instrumento de emancipação e se pauta por valores de inclusão e igualdade, não podemos permitir que o povo, que sustenta e financia esses espaços através da exploração de sua força trabalho, seja novamente excluído. A fragilização da Lei de Cotas e as tentativas de enfraquecê-la não podem prevalecer sobre o interesse da grande maioria da população, que antes sequer imaginava estudar, pesquisar ou se graduar. Se trata de uma luta por nossas vidas e por nossos sonhos.

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Texto de Amanda Bachmann, Fauzi Bakri, Lucas Monte e Matheus Riguete, do Centro Acadêmico Hugo Simas (CAHS), publicado originalmente na Alma Preta.

Impactos da pandemia sobre a população negra será alvo de discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado

 

Impactos da pandemia sobre a população negra será alvo de discussão na Comissão de Direitos Humanos do Senado. (FOTO/ Amanda Perobelli/ REUTERS/ Direitos Reservados).

Por Nicolau Neto, editor

A partir das 9h desta segunda-feira (12/05) e de modo remoto, a Comissão de Direitos Humanos do Senado (CDH) irá discutir os efeitos e os impactos gerados na população negra pela pandemia da Covid-19.

A iniciativa partiu, segundo publicou o Notícia Preta, do presidente do colegiado, o senador Humberto Costa (PT-PE) e contará com a participação de Silas Félix, coordenador-geral do Movimento Negro Unificado (MNU), representantes do Coletivo Nacional de Juventude Negra, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos da Bahia (DIEESE) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).

A discussão se desenvolverá por meio da temática “Nem bala, nem fome, nem Covid: população negra em defesa do bem viver. Impactos da pandemia do novo Coronavírus na população negra do Brasil, bem como, a ausência de políticas públicas para o enfrentamento desta pandemia” e quaisquer pessoas poderão interagir com perguntas, sugestões e apontamentos através do Portal e-Cidadania, podendo ser lidas por parlamentares e pelos debatedores.

Essa interação garantirá a emissão de certificado de participação no evento.

Covid-19 aumentou a pobreza, a fome e as desigualdades. ‘Catástrofe geracional’, afirma a ONU

 

Pela primeira vez, desde 1998, a porcentagem de pessoas vivendo na extrema pobreza aumentou, de 8,4% em 2019 para 9,5% em 2020. Cerca de 90% dos países ainda relatam problemas diversos nos serviços de Saúde. (FOTO/ Nailana Thiely/ Ascom/UEPA).

A pandemia de covid-19 impactou o mundo de forma negativa em muitos setores, aumentado a pobreza e a fome. Pela primeira vez, desde 1998, a porcentagem de pessoas vivendo na extrema pobreza aumentou de 8,4% em 2019 para 9,5% em 2020. Cerca de 90% dos países ainda relatam problemas diversos nos serviços de saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) classifica os efeitos do coronavírus como “catástrofe geracional” na educação.

Diante deste cenário, o Relatório dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2021, da ONU, aponta para a necessidade de soluções rápidas. “As decisões e ações tomadas durante os próximos 18 meses determinarão se os planos de recuperação da pandemia colocarão o mundo no caminho para alcançar as metas acordadas globalmente que visam a impulsionar o crescimento econômico e o bem-estar social, protegendo o meio ambiente”, afirma o texto.

A entidade trabalha em cima de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte da Agenda 2030. A ideia é fomentar ações e direcionar boas práticas para que o mundo alcance, ainda que tardiamente, um modelo de desenvolvimento menos agressivo e propenso às catástrofes. Entre estes objetivos, afetados pela pandemia, é possível citar: erradicação da pobreza; fome zero; saúde e bem-estar; igualdade de gênero; água potável e saneamento; energia limpa e acessível; redução das desigualdades; entre outros.

Desigualdade

Além do aumento na extrema pobreza, os demais índices de desenvolvimento humano foram afetados como um todo. De acordo com estudos da ONU, de 119 a 124 milhões de pessoas foram empurradas para situação de pobreza em 2020, cerca de 255 milhões de empregos foram perdidos. O número de pessoas afetadas pela fome aumentou de 83 para 132 milhões. “Estamos em um momento crítico na história da humanidade. As decisões e ações que tomamos hoje terão consequências importantes para as gerações futuras”, destaca o subsecretário-geral do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Lui Zhenmin.

Se por um lado, os mais pobres e a classe média vivem escassez de recursos, por outro, os mais ricos ficaram mais ricos. A desigualdade crescente atinge níveis brutais em todo o planeta. Uma das evidências é a desigualdade vacinal entre as nações. “A pandemia expôs e intensificou as desigualdades dentro e entre os países. Em 17 de junho de 2021, cerca de 68 vacinas foram administradas para cada 100 pessoas na Europa e na América do Norte, em comparação com menos de duas na África Subsaariana”, completa o relatório.

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Com informações da RBA. Clique aqui e confira a integra do texto.