20 de abril de 2016

A estética dos corpos negros pela lente de um jovem fotógrafo



Nascido em Recanto, cidade satélite de Brasília, o jovem Luiz H. Ferreira de 20 anos é apaixonado por fotografia e desde cedo nutre o sonho de clicar a cultura e estética dos corpos negros. O estudante de comunicação visual é parte de uma geração de brasileiros e brasileiras que hoje podem enxergar o acesso à universidade uma realidade mais próxima, pois nos últimos 10 anos o número de negros no ensino superior aumentou 230% em comparação entre 2000 e 2010.

Desde criança me interesso por fotografia e arte, mas nunca soube bem o que eram, pois não tinha acesso. A primeira relação que tive com fotografia foi em família, quando todos se reuniam para ver os álbuns e assim ficavam mais próximos, relembrando memórias afetivas. Eu vi a importância de registrar. Era apaixonado por fundo desfocado e a história que cada papel fotográfico trazia,” comenta em entrevista ao Afreaka.

Desiludido e certo de que a fotografia era um meio elitizado e fora do alcance de um menino nascido na periferia, Luiz quase desistiu de estudar e viver de arte. Entretanto, encontrou em um curso a possibilidade de dar o pontapé inicial para realização do sonho.

"Acho que política e estética negra nunca se desvinculam,
porque isso serve de referência para outras pessoas
se afirmarem". Foto: Luiz H.Ferreira/Divulgação.
 “Como fotografia é uma área bem elitizada, eu já tinha perdido a esperança de estudar, por terem cursos e equipamentos bem caros, tudo bem fora do orçamento da minha família, eu pensava que arte era coisa de rico, nunca que um menino pobre, do Recanto, conseguiria estudar e viver de arte. Com 17 anos tive a oportunidade de fazer uma oficina de fotografia gratuita de 3 meses com a Tatiana Reis, esse foi o pontapé inicial. A partir dessa base fui estudando e me encontrando na fotografia, conheci o mundo fotográfico, ocupei espaços que nunca imaginei, fui em festivais de música, exposições e comecei a estudar mais sobre a arte fotográfica. Entendi a minha história e colaborei para o protagonismo da juventude negra,” ressalta.

O interesse em retratar a estética negra e das periferias surgiu quando Luiz se reconheceu enquanto negro e partir daí descobriu as histórias de resistência de seus ancestrais. O exemplo ressalta a necessidade de um currículo escolar que exponha a realidade da cultura afro-brasileira e o laço que a conecta com a ancestralidade africana. Mesmo com a criação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de África e da cultura negra do Brasil nas escolas, o afrodescendente e o continente africano ainda são tratados de forma estereotipada e sua trajetória se limita apenas ao período da escravidão, onde mesmo assim são analisados como figuras passivas.

No caminho contrário, Luiz expandiu seus objetivos profissionais e pessoais conhecendo outras versões de seu passado. Ao saber das histórias de negros e negras atuantes no campo da educação, política, literatura e artes, o jovem foi tomado por um orgulho de ser negro, combustível necessário para ensaios fotográficos repletos de homens e mulheres que em comum possuem o mesmo sentimento sobre sua cor e ancestralidade. “Eu me interessei por fotografia quando me afirmei enquanto negro e conheci a história de resistência dos meus ancestrais. Comecei a estudar mais sobre minha história e vi a ferida que a gente carrega desde a escravidão, sempre invisível e repleta de estereótipos negativos sobre nossa cor. Por isso, pra mim fotografar a cultura negra é continuar a nossa própria história. É para representar nossa geração. Com turbantes, tranças e resistência por meio da cultura periférica, que muitas vezes ficou invisível e vista como exótica, mostro os vínculos com África e a história de resistência. A fotografia é minha voz, nela posso criar personagens, mostrar lutas e histórias, posso representar e ser representado,” conclui.

Mas, Luiz não está sozinho, pois nos últimos anos assuntos relacionados com a cultura negra ganharam bastante visibilidade, penetrando em ambientes outrora inóspitos. Isso graças ao trabalho atuante de coletivos como o Manifesto Crespo, que alia educação e estética para falar sobre cabelo crespo e o Desabafo Social, espaço de discussão racial, de gênero, baseado nos direitos humanos, entre outros frutos do levante contra os padrões estabelecidos há séculos por aqui. Como era esperado, a visibilidade de assuntos e movimentos negros chamou a atenção dos veículos de comunicação e hoje em dia não é difícil acompanhar programas de TV ensinando amarrações de turbantes, expondo cantores e cantoras e jovens com seus cabelos black power. Mas onde fica a discussão sobre o racismo?

Muitos negros e negras enxergam o interesse dos grandes conglomerados de comunicação e da indústria, ambos em sua maioria dominados pela elite branca brasileira, apenas uma tentativa de gerar lucro e não de debater o cerne da questão: o racismo e a violência contra a população negra. Para Luiz, quando um adorno ou prática cultural dos afrodescendentes é embranquecido, suas chances de aceitação social aumentam. “Quando se trata de um negro usando os itens de sua própria cultura, ele é visto com um estereótipo negativo, como feio. Mas quando uma modelo não negra estampa a capa de uma revista de moda com os mesmos itens, é tendência. Eles não se preocupam com o contexto histórico, para eles o turbante, por exemplo, é parte da moda 2016 e logo vai passar. Pra nós é história, tem luta. Não passamos anos lutando para um estilista ditar moda se apropriando da nossa cultura,” enfatiza.

O fotógrafo brasiliense ressalta a importância de unir estética com política para que o negro possa decidir os rumos de sua história. “É preciso ter autonomia e um discurso sobre si. Acho que política e estética negra nunca se desvinculam, porque isso serve de referência para outras pessoas se afirmarem. Falamos de uma estética pouco aceita pela sociedade.”

Orgulhoso de sua negritude, Luiz H. Ferreira mostra que moda e consciência política e social podem sim andar juntas. Com seu olhar, o brasiliense questiona padrões de uma sociedade ainda dominada pelo racismo, ao mesmo tempo em que inspira a juventude negra do Brasil. Que exemplos como este sejam como dentes-de-leão e espalhem suas pétalas.

Vergonha alheia: ‘A primeira dama perfeita’ diz veja sobre Marcela Temer


Por Nathali Macedo, no DCM
A revista Veja perdeu mais uma oportunidade de ficar calada.

Numa tentativa óbvia – quase desconcertante, tamanha a vergonha alheia – de colocar Marcela Temer, esposa de Michel Temer, como a primeira-dama perfeita, a revista deu mais um show de machismo e atraso.

Vice-presidente do Brasil, Michel Temer e sua esposa Marcela Temer. (reprodução).
Na matéria, Marcela é colocada como “bela, recatada e do lar” – nada mais conveniente para a sociedade patriarcal. Afinal, uma mulher bela, recatada e do lar – tal qual a mulher idealizada da literatura romântica do século XIX – não pisa no calo do machismo.

Ela se contenta com o lugar de inferioridade que lhe foi imposto com uma consciência de subalternidade preocupante.

Como Marcela, ela se satisfaz em ser “o braço direito do seu homem” – porque os seus braços, o seu corpo e a sua mente estão, de fato, unicamente direcionados aos interesses do homem que “a assumiu”. Eis o papel que o patriarcado lhe conferiu.

O tom de admiração e satisfação diante de uma mulher subalterna empregado na matéria é repugnante. Marcela, a mulher linda, elegante, discreta e subserviente é o sonho de consumo da Veja e dos golpistas conservadores.

É a mulher que encontra conforto num casamento tradicional, que precisa de um homem que a proteja e dê significado à sua vida pública – e quando falo em vida pública, refiro-me a tudo aquilo que extrapola os limites do papel de “mulher do lar”.

A Veja quer mulheres que não sustentem, sozinhas, suas próprias vidas, suas próprias lutas, sua própria existência. Que estejam – e se contentem em estar – à sombra de seus homens. Que dependem deles para existirem socialmente e que mantenham a fragilidade que só eles podem alimentar: as princesas perfeitas a espera de um homem forte e corajoso que, finalmente, legitime a sua existência (talvez os editores da Veja estejam lendo muitas histórias da Disney).

Essa mulher – agora representada pela aspirante a primeira-dama do Brasil – é justamente a figura idealizada do Brasil do século XIX (ao ler a matéria, sinto-me em 1850): a mulher pudica, que sempre pede “luzes finíssimas”, que não se atreve a ascender intelectualmente (segundo a matéria, Marcela é bacharél em direito, mas trabalhou pouco e tem um currículo lattes sucinto), que se casa com o primeiro namorado e jamais expressa uma postura libertária.

Marcela Temer é a figura do retrocesso feminista e a Veja parece ter orgasmos com sua mera existência.

A matéria serve para que tenhamos uma noção clara – embora já o saibamos há algum tempo – do que, de fato, tanto incomoda a direita ao ver uma mulher como Dilma Roussef na presidência.

Ao contrário de Marcela, Dilma é tudo que o patriarcado não quer: não obedece aos padrões de beleza estabelecidos, não se curva diante da exigência de subserviência feminina que ainda persiste, não cultiva a delicadeza tradicionalmente feminina (afinal, não somos obrigadas!), luta com as próprias mãos, derrama o próprio suor, e o que é pior: é a mulher mais poderosa do país.

No bom e velho nordestinês: uma mulher de grelo duro.

A Veja, a direita e os golpistas (agora sendo redundante, já que se resumem à mesma coisa) não querem as mulheres poderosas.

Eles querem mais Marcelas e menos Dilmas. Mas continuarão só querendo.

País vive regressão à casa-grande e à senzala, dia sociólogo Laymert Garcia




Todo o processo que culminou com a votação na Câmara dos Deputados no domingo (17), admitindo o prosseguimento do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, mostrou que "as instituições estão desmanteladas", segundo o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Com as instituições do jeito em que estão, o STF incluído, acho que a única força que existe, para de certo modo dar um rumo que não seja o rumo do horror, são as ruas. Não tem outra. O ponto de interrogação é saber em que medida as ruas vão responder e se dar conta desse desmantelamento das instituições", afirma.

"Não há o que esperar das instituições, não tem mais estado
de direito", diz sociólogo da Unicamp.
Para ele, a sucessão de fatos que levaram o país ao dia 17 de abril de 2016 deve ser analisada sob três aspectos. "A primeira coisa é a consolidação, através desse espetáculo, de uma classe política lúmpen. Não é à toa que na Europa, nos países, digamos, democráticos, que não são nenhuma maravilha, eles estão entre horrorizados e estupefatos com o nível de baixaria que é o Parlamento brasileiro."

O segundo aspecto, segundo ele, é ainda pior, pois diz respeito a uma regressão que o lado progressista da sociedade, principalmente quem viveu o período sombrio da ditadura, não esperava que pudesse retornar. "O que vimos ontem concretiza e sela a vitória da regressão. Mesmo que se consiga uma saída mais ou menos daqui para a frente, acho difícil a gente conseguir no curto prazo contornar ou conseguir esvaziar uma regressão como essa que aconteceu", avalia. "A gente voltou para a casa-grande e a senzala no que ambas têm de pior. A gente pensava que estava se afastando disso, aos poucos, e que a chamada herança maldita tinha ficado para trás, mas ela está atual. Esse segundo aspecto é terrível."

O terceiro aspecto se refere a algo relacionado à experiência subjetiva da história, que não poderia ser experimentada por quem não viveu o período do regime ditatorial no país. "Por causa da idade, fiquei com uma sensação que eu já tinha tido na vida: a sensação do dia seguinte à promulgação do AI-5, em dezembro de 1968. Do ponto de vista do impacto afetivo e subjetivo, a sensação é a mesma. O AI-5, e não 1964, foi o momento em que a ditadura efetivamente se concretizou enquanto tal, porque foi quando ela apareceu com toda a sua violência, quando o corte foi operado do ponto de vista subjetivo."

Para Laymert, as novas gerações "não têm experiência do desmoronamento subjetivo da geração que viu seu futuro absolutamente comprometido com a chegada da ditadura, e a sensação diante do que a gente vê nas forças que estão vencendo é essa".

A evolução dos acontecimentos é "chocante", diz, também pela cumplicidade dos poderes em torno da construção do cenário e a culminância do processo na Câmara. "Depois do que a gente foi vendo nos últimos tempos, até chegar ao domingo, com todas as cumplicidades dos outros poderes, as bombas informacionais detonadas em conluio com o Judiciário, tudo isso junto já mostrou que não há o que esperar das instituições, não tem mais Estado de direito", afirma Laymert. "É quase inimaginável, mas isso foi sendo construído e a gente não queria acreditar que podia chegar, e chegou."

19 de abril de 2016

Que motivos teriam?


Ainda sobre a votação do dia 17 de abril. Dediquei quase todo o dia para acompanhar a sessão que, confesso não esperava um resultado diferente, afinal este foi o congresso mais conservador eleito dos últimos tempos. No entanto, fiquei muito decepcionado com o nível intelectual, moral e ético dos nossos “representantes”. Uma lástima, eu diria.

Mas, por outro lado, percebemos que muitos não tiveram essa mesma percepção, o que é perfeitamente aceitável em época de regime democrático, porém incompreensível ante os fatos apresentados. Um empresário aplaudir os discursos de muitos no domingo é perfeitamente justificável, pois é dos projetos antissociais de deputados que eles mantem seus lucros; Pastores e padres (a grande maioria) se posicionarem a favor dos que votaram a favor do impeachment se justifica, uma vez que pautas conservadoras e homofóbicas são e continuarão sendo aprovadas com o apoio da bancada religiosa e isso lhes satisfaz.  Fazendeiros irem às ruas apoiarem a saída da presidenta é crucial para eles, pois são contra qualquer tentativa – mesmo que minúscula – de reforma agrária e para isso a bancada ruralista lá está para barra-la.  A grande mídia bater todo dia na mesma tecla no desgoverno (contestável é bem verdade) se justifica, uma vez que desde sempre apoiou setores elitistas e retrógrados da sociedade e não faz parte do seu perfil coletar informações sérias e sem seletismo e não se pode esperar muita coisa de filhotes da ditadura civil-miliar.

Imagem puramente ilustrativa/Google.
Agora, que motivo teria setores populares (muito pouco, mas tem), filhos e filhas de agricultores/as para apoiar o impeachment? Será que foram corrompidos por discursos falsos e caluniosos da grande mídia? Talvez sim. Mas a questão é bem mais grave do que parece.

Ver um pobre de recursos econômicos apoiar o impeachment é tão estarrecedor quanto ver um escravizado apanhar e pedir para que seu “dono” bata mais e com mais intensidade (não teve isso, é apenas um exemplo). É tão repugnante quanto ver uma mulher apanhar do seu esposo e não denunciar. É tão horrível quanto ver homossexuais sendo agredido física e moralmente e não tomar nenhuma atitude. É tão agoniante quanto ver uma criança passando fome e nada fazer para ajuda-la. É tão assombroso quanto ver negros e índios continuando sendo massacrados e fingir que o racismo não existe. É tão... É tão... É tão...

Há uma frase de Che Guevara que diz “Ser jovem e não ser revolucionário é uma contradição genética” e eu digo é uma contradição um pobre ser conservador, retrógrado e elitista. É como se gostasse do seu algoz. Afinal, não dá para entender quem apoie qualquer ato ou ação que faça menção a um regime que cerceava a liberdade. 

Boi, Bala e Bíblia contra Dilma. Como votaram cada bancada




O posicionamento dos deputados das principais bancadas da Câmara refletiu-se no resultado da votação do parecer de admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, no domingo (17). O cruzamento do mapa dos principais grupos temáticos da Casa, feito pela Agência Pública, com os votos dos parlamentares revela que a rejeição à petista foi mais extrema na bancada BBB – Boi, Bala e Bíblia – e em outras que se identificam com setores empresariais. Do outro lado, votaram majoritariamente pela permanência de Dilma os grupos que atuam junto aos direitos humanos e a causas sindicais.


Em ordem decrescente, votaram pelo impeachment as bancadas da bala (88,24%), empresarial (85,32%), evangélica (83,85%), ruralista (82,93%), da mineração (79,12%) e dos parentes (74,49%), formada por deputados com familiares na política. Nesses grupos, o porcentual de apoio ao impedimento foi superior ao valor registrado na votação de domingo, que resultou em 71,54% das manifestações pelo impeachment se considerados todos os deputados, com 367 votos – o que fez com que o processo seguisse para o Senado Federal. A bancada da bala ficou bem próxima desse patamar, uma vez que 71,43% dos seus integrantes votaram “sim”.

Os dois outros grupos que votaram em maioria contra Dilma não atingiram dois terços dos votos – índice necessário para a aprovação do parecer de Arantes. Entre os 228 parlamentares financiados por empreiteiras, 147 votaram pelo impeachment (64,47%). Já entre os que atuam pela saúde foi um placar muito apertado: 12 dos 22 votos pró-impeachment (54,54%) e nove pró-Dilma (40,91%).

Houve ainda uma quase unanimidade favorável à petista no diminuto grupo que atua pelos direitos humanos. Apenas um dos 24 deputados dessa bancada, Sarney Filho (PV-MA), se posicionou pela saída da presidente, o que levou a um índice de rejeição ao impeachment de 95,83%. Entre os 43 deputados da bancada sindical, 35 apoiaram Dilma, ou 81,36%, e oito votaram contra a presidente (18,6%). Os índices estão bem acima dos magros 26,72% alcançados pelo “não” em plenário, com apenas 137 apoiamentos.

Em números absolutos, o apoio dos parlamentares da bancada empresarial foi o mais expressivo, com o voto “sim” de 186 dos seus 218 integrantes. Em seguida, vem a dos parentes, que registrou o apoio de 181 dos 243 integrantes. Entre os ruralistas, que somam 205 deputados, foram 170 manifestações favoráveis ao parecer do relator, enquanto o impedimento da presidente foi apoiado por 161 dos 192 evangélicos. Vale lembrar que um deputado pode pertencer a mais de uma bancada.

O parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) teve também 30 votos favoráveis da bancada da bala, de um total de 34 parlamentares financiados pelo setor de armas e munições ou ainda aqueles que defendem as propostas mais duras para a segurança pública. O grupo de deputados que apoia a mineração é outro pouco expressivo numericamente, com 24 integrantes, e rendeu 19 votos. Também nanica, a turma da bola, ligada à CBF e a clubes de futebol, dedicou 10 dos 14 votos favoravelmente ao impeachment.

18 de abril de 2016

As diferenças entre os votos dos Deputados Jair Bolsonaro e Jean Wyllys


Dentre os principais argumentos e motivos dos deputados federais durante a votação pela admissibilidade ou não da presidenta Dilma Rousseff (PT) o Informações em Foco elencou dois que se se fizer uma análise logo se perceberá a grande diferença de quem usa de seus mandatos para defender um projeto social e, ou, para servir a setores conservadores, retrógrados e elitistas da sociedade brasileira.

Deputados Jair Bolsonaro e Jean Wyllys da direita para esquerda. Montagem: Informações em Foco.
Na linha de frente do que ora se expõe, vários se destacaram seja positivo ou negativamente. Em dia de tristeza para os que viram a hipocrisia, a falta de ética, de moral, a afronta ao estado laico e a constituição ser rasgada e pisoteada a cada palavra proferida, eis que em algum momento (pouquíssimos é bem verdade) alguns discursos permitiram que se percebesse que o principal problema do Brasil está sim na corrupção e a maioria dela vem do parlamento. Por outro lado, ainda nos resta a esperança, pois lá, apesar de minoria, tem-se deputados que mostraram que não se deve escolher o lado mais fácil da história e que o caminho a ser seguido é sempre de encontro às classes à margem do poder, a saber: Negros e Negras, Indígenas, Homossexuais, os Sem Terras e Sem Tetos, entre outros.

Nos discursos de Jair Bolsonaro e Jean Wyllys ficou nítido a qual projeto de poder estão e em qual lado se deve estar.

Bolsonaro com mandato pelo PSC foi enfático e em poucos palavras proferiu aquilo que ele sabe mais fazer: apologia à ditadura e a homofobia. Foi ele quem em seu voto reverenciou um membro do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna(DOI – CODI),  órgão repressor criado pelo Regime Civil-Militar brasileiro (1964-1985) para prender e torturar aqueles que fossem contrários ao sistema, o general Carlos Alberto Brilhante Ustra e que além de reverenciar ainda foi capaz de dizer que a presidenta o temia. “Perderam em 1964, perderam em 2016. Pelo Coronel Ustra, que Dilma tanto teme”, disse.

Já Wyllys, do PSOL, ao contrário não temeu ao ressaltar o que todo mundo sabe, mas a grande mídia faz questão de esconder. Em auto e bom som afirmou ser Cunha, o presidente (pasmem leitores e leitoras – PRESIDENTE) de “ladrão” e se ressaltou estar “constrangido” de participar do que ele arguiu de “farsa sexista”. “Em respeito à população LGBT, aos negros dizimados nas periferias do país, eu voto não”, concluiu.

Dependendo de qual lado você estiver entrará para a história como golpista e a favor de um projeto conservador e elitista ou passará para os anais da história como aquele que não aceitou a quebra da democracia e que lutou e luta por um projeto onde o povo tenha voz. 

Plutocracia vence e plenário da Câmara aprova continuidade do processo de impeachment



Por volta das 23h horas de ontem (17), a Câmara dos Deputados aprovou a continuidade do processo de impeachment contra o mandato de Dilma Rousseff, que segue agora para o Senado.

Votação na Câmara que aprovou a continuidade do impedimento da presidenta eleita Dilma Rousseff.
A vitória do bloco comandado por Eduardo Cunha e Michel Temer foi sacramentada pelo voto do deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que deu 342º voto em favor do impedimento, completando os dois terços dos votos necessários para a aprovação, dos 513 votos totais da Casa, necessários para que o processo tenha prosseguimento.

O quórum no painel eletrônico do plenário da Câmara registrou 511 parlamentares na sessão. Até a definição pelo impeachment, 127 deputados haviam votado "não" e seis se abstiveram.

A sessão foi encerrada às 23h50, com o resultado proclamado por Eduardo Cunha, enquanto alguns dos deputados que votaram pelo impeachment de Dilma cantavam o hino nacional. O resultado final foi 367 votos a favor, 137 contra, sete abstenções e duas ausências.

O futuro do mandato de Dilma segue agora para o Senado. Já nesta segunda-feira, o processo será enviado àquela Casa, onde deverá ser lido em seu plenário no dia seguinte. Neste mesmo dia, deverão ser indicados os 42 parlamentares que vão formar a comissão que analisará a matéria – serão 21 titulares e 21 suplentes na comissão, que terá prazo de 48 horas para eleger o presidente e o relator.

17 de abril de 2016

Levante marca golpismo na testa da Globo



O mural em homenagem a Rede Globo amanheceu diferente na manhã de hoje (17), na marginal Tietê, em São Paulo (SP). O Levante Popular da Juventude realizou uma intervenção no mural criado para comemorar os 50 anos da emissora, colocando balões de conversa nas imagens de Roberto Marinho, William Bonner e Luciano Huck com as frases “Em 1964 foi a minha vez, agora é com vocês” e “Fica tranquilo Dr. Roberto! Esse golpe é nosso! Boa noite!

Charge: Ribs/Mídia Ninja.

Segundo o movimento, a manifestação contra a Globo tem como principal objetivo denunciar a emissora como golpista por sua atuação no passado até os dias de hoje. A emissora é filha bastarda do golpe militar de 1964. o então diretor do jornal O Globo Roberto Marinho foi um dos principais incentivadores da deposição do presidente João Goulart, dando sustentação ideológica à ação das Forças Armadas. Um ano depois, foi fundada a sua emissora de televisão, que ganhou as graças dos ditadores. O império foi construído com incentivos públicos, isenções fiscais e outras mutretas. Os concorrentes no setor foram alijados, apesar do falso discurso global sobre o livre mercado. Nascida da costela da ditadura, a TV Globo tem um DNA golpista. Apoiou abertamente as prisões, torturas e assassinatos de inúmeros lutadores patriotas e democratas que combateram o regime autoritário. Fez de tudo para salvar o regime dos ditadores, inclusive omitindo a jornada das Diretas Já na década de 80. Com a democratização do país, a emissora atuou para eleger seus candidatos – os falsos “caçadores de marajás” e os convertidos “príncipes neoliberais”.

Atualmente, a TV Globo segue em sua militância contra todo e qualquer avanço progressista, atuando na desestabilização de governos que não rezam integralmente a sua cartilha. A emissora tem apoiado abertamente a escalada golpista no país, dedicando seus holofotes ao apoio das ações pró-impeachment. Apesar do estarrecimento da imprensa internacional frente ao golpe em curso, os Marinho têm dedicado extensa programação para legitimar o Golpe, além de criminalizar e silenciar sobre os movimentos pela democracia. Para Mariana Fontoura, militante do movimento “A intervenção do mural foi um ato simbólico para alertar essa emissora golpista de que o povo está atento e não perdoará o que está acontecendo. Os meios de comunicação, como uma concessão pública, deveriam assumir como princípio a ética e o respeito à pluralidade democrática, coisa que esse oligopólio que é a Globo nunca fez”.
 
Fotos: Mídia Ninja.