10 de maio de 2015

Segundo relatório, no Brasil jovem negro corre 2,5 vezes mais risco de ser assassinado



Segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (7) pela Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, em Brasília, as chances de um negro entre 12 e 29 anos ser assassinado é 2,5 vezes maior em relação aos brancos no país. Dos quase 30 mil jovens assassinados em 2012 no Brasil, 76,5% eram negros.


O Nordeste reúne as quatro capitais com maior índice de vulnerabilidade juvenil: Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Ceará. Nos casos de maior risco em detrimento da raça ou cor, a Paraíba aparece em primeiro lugar: são 13,4 vezes maiores os riscos de um jovem negro ser morto do que um jovem branco. Em seguida, aparece Pernambuco, onde o risco relativo é de 11,6, e em terceiro, Alagoas, com 8,7 mais chances de assassinato entre a juventude negra. Em todo o Nordeste, os jovens negros correm cinco vezes mais chances de serem mortos em relação aos brancos. No Rio de Janeiro, o índice é de 2,3.

O único estado da federação que apresentou risco maior para um jovem branco em relação ao negro é o Paraná, onde o índice é quase equivalente: 0,7. A cidade do Cabo de Santo Agostinho (PE) foi a cidade mais vulnerável à violência. O município em melhor situação era São Caetano do Sul (SP), com índice 0,174, o mais baixo verificado. A Região Nordeste possui o maior número de municípios com “alta” e “muito alta” vulnerabilidade juvenil à violência, englobando 35 das 59 cidades avaliadas neste grupo.

O estudo incluiu todos os municípios com mais de 100 mil habitantes nas 27 unidades da federação, o que corresponde a 288 cidades e 107 milhões de habitantes (pouco mais de 55% da população brasileira). Entre os municípios analisados, 24 estão na Região Norte, 59 no Nordeste, 139 no Sudeste, 48 no Sul e 18 no Centro-Oeste.

Segundo o governo, o novo indicador será utilizado pelo Plano Juventude Viva, da Secretaria Nacional de Juventude, para orientar políticas públicas de redução da violência contra jovens no país.

Uma cidade branca: livro desconstroi mito da democracia racial



Precisa-se de uma boa lavadeira e engomadeira branca para lavar em sua própria casa.” “Lavadeira branca para senhor só.” “Lavadeira, que saiba engomar, branca, para casa de família.” “Precisa-se de perfeita cozinheira estrangeira, que durma no aluguel, tratar-se Av. Paulista, 60.” O racismo no início do século 20 no Brasil não era velado, como mostram esses anúncios publicados originalmente no jornal Diário Popular, entre 1912 e 1913. A escravidão no Brasil durou mais de 350 anos e marcou de maneira profunda a formação econômica, social, política e cultural do país – e seus efeitos perversos continuam até hoje.

Negros na lavoura do café: oligarquias eram profundamente racistas. 
É por isso que o historiador Ramatis Jacino debruçou-se em pesquisas durante quatro anos, na tentativa de compreender as razões e os mecanismos da exclusão da mão de obra negra na cidade de São Paulo, o epicentro econômico e financeiro do país nas primeiras décadas da República. Resultado de trabalho que lhe deu o título de doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP), o livro Transição e Exclusão – O Negro no Mercado de Trabalho em São Paulo Pós-Abolição – 1912/1920 (Nefertiti Editora, 226 págs.) constata que houve uma opção por “branquear” o mercado de trabalho por parte das elites, que ao privilegiar os imigrantes europeus negaram ao homem e à mulher negra ocupações valorizadas socialmente e mais bem remuneradas.

A ideia de pesquisar a exclusão do negro no mercado de trabalho ao final do período escravista surgiu durante a minha graduação, quando pensei em buscar as razões da atual discriminação que homens e mulheres negras vivenciam no mercado de trabalho e na sociedade”, afirma Jacino. O autor comprovou que mesmo atividades historicamente consideradas “ocupações de negros” – serviços domésticos, comércio de rua, atendimento a saúde e demais atividades até então consideradas desprezíveis para brancos – começaram a ser disputadas pelos imigrantes europeus. Estes eram favorecidos por “ações administrativas” protagonizadas pelos setores abastados da cidade e até mesmo pela legislação que, implícita ou explicitamente, proibia que homens e mulheres negras ocupassem certas vagas.

As razões para esse “branqueamento” do mercado de trabalho, segundo o pesquisador, são as opções ideológicas das elites daquele período, em especial das oligarquias cafeeiras paulistas. “Por serem profundamente racistas, compreendiam que o crescimento e a modernização do país pressupunha o ‘branqueamento’ do seu povo. Os efeitos desse ‘branqueamento’ são econômicos, pois homens e mulheres negros ainda estão condenados aos trabalhos mais insalubres, mais mal remunerados e mal valorizados socialmente; são sociais, pois os descendentes de escravizados continuam marginalizados; são políticos, pois estão sub-representados nos espaços de poder; e são culturais, uma vez que a extraordinária contribuição cultural dos descendentes de africanos permanece desprezada, demonizada, criminalizada ou, na melhor das hipóteses, tratada como ‘folclore’”, lamenta Jacino.

Quem frequenta as palestras do escritor Ferréz conhece Bolonha, Mauro Maurício, Nêgo Jaime, Júnior, Dona Néia e Sebastião, heróis e anti-heróis que o autor criou para histórias curtas que apresenta em eventos e saraus realizados pelas periferias.

Agora, eles fazem parte do livro Os Ricos Também Morrem (Ed. Planeta, 192 págs.), um apanhado de causos urbanos do cotidiano rude das cidades. Com linguagem ágil, próxima à do rap, o principal nome da literatura marginal brasileira traz à tona sua crítica habitual: as injustiças e a desesperança moram ao lado e não do outro lado do Atlântico.

9 de maio de 2015

Altaneira registra 78 mm de chuva e volume de água em polos volta a subir



Dados da FUNCEME registra 78 mm de chuva em Altaneira neste sábado.
Depois de um bom tempo de intenso calor e altas temperaturas o município de Altaneira, localizado na região do cariri, sul do Estado do Ceará, recebeu durante parte da noite desta sexta-feira, 08, até o início da manhã deste sábado, 09, bons índices de chuvas que tem servido e muito para amenizar a temperatura e, claro, elevar o volume de água em alguns polos, como o açude valério, conhecido popularmente como pajeú (que abastece o município), o açude tabocas e a lagoa santa tereza – símbolo do criação desta municipalidade.

De acordo com Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos – FUNCEME, Altaneira registrou das 7h:00 do dia 08 as 7:h00 de 09 de maio precipitações que chegaram a atingir 78 mm de chuvas, a maior deste ano.

As fortes pancadas de chuvas fez com que a alguns reservatórios, mesmo aqueles em que não se consegue aproveitar a água para serviços últeis ao dia-a-dia, como é o caso da lagoa santa tereza chegasse a sangrar, conforme a imagem acima capturada de um vídeo feito pelo servidor público João Alves e publicado na rede social facebook na tarde deste sábado.

8 de maio de 2015

Em audiência, ex-deputado dispõe recursos ao enfrentamento ao racismo



Em audiência com a presidenta da Fundação Cultural Palmares (FCP/MinC), Cida Abreu, nesta quarta-feira (06), o ex-deputado federal do Rio de Janeiro, Carlos Santana, se colocou à disposição no que diz respeito a recursos e articulações a partir da Frente Parlamentar em Defesa da Igualdade Racial do Congresso Nacional, para atuações de enfrentamento ao racismo.

Carlos Santana enfatizou a sensibilidade e o potencial de
Cida Abreu para enfrentamento ao racismo à frente da
Fundação Cultural Palmares.
Podemos desenvolver um grande trabalho”, destacou Santana, ressaltando a sensibilidade da presidenta recém-empossada para com a temática. “A Cida ultrapassa barreiras e veio para mostrar seu potencial de mulher, negra, que parte de uma comunidade pobre e alcança um patamar onde tem abertura para lutar por pessoas que enfrentam uma realidade já vivenciada por ela”, disse.

O ex-deputado, que há 20 anos acompanha a trajetória de Cida Abreu, ressaltou que a militância da colega de partido ‒ Partido dos Trabalhadores (PT) ‒ vem de um cenário situado no noroeste do Rio de Janeiro, onde a luta racial é muito intensa. “Nesta região, existiu um dos maiores canaviais do estado, o que justifica os resultados que temos em todos os graus de preconceitos”, explicou.

De acordo com ele, é contra essas realidades negativas que o Estado precisa lutar. “A Fundação Palmares é resultado de um grande avanço social a partir da redemocratização do país. Temos que fortalecê-la para que contribua aos avanços dos direitos dos negros”, enfatizou. Ele ressaltou, ainda, a experiência e a habilidade de Cida em articular ações entre os meios político e acadêmico.

Parceria

Durante a audiência a presidenta comunicou a Santana, que é historiador, seu interesse de compor uma comissão de intelectuais e acadêmicos negros. Eles terão por missão organizar um acervo virtual sobre a história da África e dos afro-brasileiros, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de subsidiar os currículos educacionais em todos os seus níveis.

A iniciativa visa à implementação das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, que estabelecem a obrigatoriedade do conteúdo História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar nacional. Interessado, Carlos Santana se comprometeu em estudar alternativas que possam contribuir para o projeto.

7 de maio de 2015

Rede Globo encurtará “Babilônia” em virtude de fracasso de público



Inicialmente prevista para estrear em 28 de setembro, o folhetim de João Emanuel Carneiro deverá iniciar um mês antes. Nos bastidores da Globo, já se comenta que a estreia de “A Regra do Jogo” será no dia 31 de agosto. É o que informa o jornalista José Armando Vannucci.

Elenco de Babilônia. Foto: Divulgação.
A estratégia irá obrigar a equipe de produção comandada pela diretora Amora Mautner a trabalhar em ritmo acelerado para atingir a marca ideal de frente de capítulos gravados e editados.

A palavra “antecipação” tem sido cuidadosamente evitada nos interiores da emissora, até porque não se quer transparecer um encurtamento de “Babilônia”. A Globo também não confirma oficialmente a nova data de estreia.

Mesmo que não consiga tirar o título de pior audiência da história do horário das nove, de “Babilônia”, a rede da família Marinho tem pressa porque a novela tem derrubado a média diária da emissora, e por causa de seus baixos índices anunciantes estariam pedindo descontos.

A trama irá marcar a volta de João Emanuel Carneiro a faixa das 21h dois anos após “Avenida Brasil”, último grande sucesso do horário.

O elenco de “A Regra do Jogo” conta com nomes como, Tony Ramos, Alexandre Nero, Giovanna Antonelli, Cauã Reymond, Carolina Dieckmann, Bruna Linzmeyer, Fernanda Souza, entre outros.

6 de maio de 2015

15 obras que versam sobre literatura afro-brasileira e africana



Literaturas que valorizam a diversidade étnica e cultural afro-brasileira e africana são uma ótima alternativa para abordar os conteúdos exigidos pela lei 10.639, que obriga o ensino da "História e Cultura afro-brasileira e africana" nas escolas de Ensino Fundamental e Médio das redes pública e privada de todo Brasil.

Não tem maneira melhor para conhecer uma cultura do que
com os livros.
Veja 15 dicas de livros recomendados para pais, filhos e professores sobre o tema. Confira também o índice de autores negros do Literafro, portal de estudos de literatura afro-brasileira da Universidade Federal de Minas Gerais.

I - Menina Bonita do Laço de Fita - Ana Maria Machado

A autora coloca em cena, através da história de um coelho branco que se apaixona por uma menina negra, alguns assuntos muito debatidos nos dias de hoje, como a auto-estima das crianças negras e a igualdade racial.

II - Luana, A Menina Que Viu O Brasil Neném - Oswaldo Faustino, Arthur Garcia e Aroldo Macedo

O livro conta a história de Luana, uma menina de 8 anos que adora lutar capoeira, e a historia do descobrimento do Brasil. Ao lado de seu berimbau mágico, ela leva o leitor a outras épocas e lugares e mostra o quão rica é a cultura brasileira, além da importância das diferentes etnias existentes por aqui.

III – O Menino Marron – Ziraldo

O Menino Marrom conta a historia da amizade entre dois meninos, um negro e um branco. Através da convivência aventureira dessas crianças ao longo de suas vidas, o autor pontua as diferenças humanas, realçando os preconceitos em alguns momentos.

IV – Lendas da África – Júlio Emílio Brás

O livro mostra fábulas tipicamente africanas para leitores de todo mundo. Nas histórias, o autor mostra um pouco do folclore africano, além de passar valores do "tempo em que os animais ainda falavam" para as crianças.

V – Terra Sonâmbula – Mia Couto

Primeiro livro do autor africano, Terra Sonâmbula foi considerado um dos doze melhores romances do continente no século 20. Numa estória emocionante sobre o encontro de um menino sem memória e um velhinho meio perdido pelo mundo, Mia Couto mistura símbolos tradicionais da cultura e da história moçambicana.

VI – Meu Avô um escriba – Oscar Guelli

A história se passa na África, mais precisamente no Egito. O pequeno Tatu é neto de um escriba. A convivência com o avô permitirá ao menino aprender cálculos, a ter contato com tradições mais antigas de seu país e a se preparar para também ser um escriba um dia.

VII – O Cabelo de Lelê – Valéria Belém

Lelê é uma linda menininha negra, que não gosta do seu cabelo cheio de cachinhos. Um dia, através de um fantástico livro, começa a entender melhor a origem de seu cabelo e, assim, passa a valorizar o seu tipo de beleza.

VIII – A Varanda Do Frangipani – Mia Couto

O romance policial moçambicano é marcado por palavras criadas pelo próprio autor, nascido no país onde se passa a trama. A história conta sobre o violento colonialismo em Moçambique e a superação do país a partir dessa cicatriz histórica.

IX – Bia na África – Ricardo Dregher

O livro é parte da coleção "Viagens de Bia". Nessa estória, Bia viaja por diferentes países da África, como Egito, Quênia e Angola. Na aventura, a garotinha conhece, entre outras curiosidades, a história do povo árabe e dos nossos antepassados negros, que vieram como escravos da África para o Brasil há muitos anos.

X – Avódezanove eo segredo do soviético – Ondjaki

Em Luanda, capital da Angola, África, as obras de um mausoléu realizadas por soldados soviéticos ameaçam desalojar morados da PraiaDoBispo, bairro da região. As crianças do bairro percebem as mudanças com olhares desconfiados. Talvez elas sejam as primeiras a perceber que a presença dos soldados soviéticos significa mais do que uma simples reforma espacial.

XI - Tudo Bem ser Diferente – Todd Parr

A obra ensina as crianças a cultivar a paz e os bons sentimentos. O autor lida com as diferenças entre as pessoas de uma maneira divertida e simples, abordando assuntos que deixam os adultos sem resposta, como adoção, separação de pais, deficiências físicas e preconceitos raciais.

XII – Diversidade – Tatiana Belinky

O livro mostra, através de versos, porque é importante sermos todos diferentes. A autora fala que não basta reconhecer que as pessoas não são iguais, é preciso saber respeitar as diferenças.

XIII – Num tronco de iroko vi a lúna cantar – Erika Balbino

Acompanhando as aventuras dos irmãos Cosme, Damião e Doum e seus amigos, os leitores entram em uma jornada que revela a relação do corpo com a música e aproxima as crianças da capoeira por meio de figuras lendárias das religiões de matriz africana. Além do enredo e das ilustrações do grafiteiro Alexandre Keto, um CD com a narração da história pela própria autora e cheio de cantos de capoeira e de Umbanda valorizam ainda mais essa luta, que é apresentada como dança, arte e jogo também.

XIV – Amanhecer Esmeralda – Ferréz

O livro conta a história da garota Manhã, negra, pobre e com grandes responsabilidades mesmo com tão pouca idade. Manhã tem sua vida transformada ao ganhar um vestido esmeralda de seu professor, que faz com que ela mude a forma como se vê e como vê o mundo ao seu redor.

XV – O Mar que  Banha a ilha de Goré – Kiusam de Oliveira

Descendente de africanos, Kika é uma menina brasileira que volta para o continente dos seus ancestrais para visitar a Ilha de Goré. Lá ela conhece Laith, garotinho senegalês de 13 anos e guia turístico da ilha. Juntos, começam a entender a importância da história afro-brasileira para ajudar na inclusão do negro e toda a sua rica cultura inserida no imaginário brasileiro.


Não fazem mais empregadas como antes. Mas não espalha, se não a “casa grande” cai



Para a classe alta, está bem difícil achar empregadas e babás como antes. É comum ouvir, por exemplo, “Agora, elas querem até estudar, acredita?”. Uma pesquisa divulgada, em 2013, pelo IBGE nacional mostra que o número de trabalhadoras domésticas que estão na faculdade cresceu 10% nos últimos três anos (2013, 2012 e 2011). E, o salário delas também subiu 8% em 12 meses, segundo a mesma pesquisa. Mas, as trabalhadoras que começaram a trabalhar com carteira assinada caíram de 6,5% para 5,9%.

Desde que o mundo é mundo, as casas grandes tinham a casa dos escravos, lá fora. E, alguns, os mais apresentáveis, moravam no casarão. Poucos anos se passaram e as construções ganhavam um cômodo chamado: quarto da empregada. E desde então, são tratadas “como se fossem da família. Comem na mesa e tudo”.

Com o tempo, as empregadas foram ganhando conhecimento e vontade de estudar, voltar para casa todos os dias, ter suas coisas, comer o que gosta e não mais dormir no trabalho. Mas isso muitas vezes não foi bem aceito, já que “meus filhos gostam tanto de você, como vou fazer se não dormir mais aqui? Eles já se acostumaram com você. Não vai poder mais viajar com a gente?”.

Uma bábá de alto padrão há 12 anos, que não quis se identificar, tem 35 anos, é nordestina, negra, solteira, sem filhos. Segundo ela, sempre foi muito bem tratada. Cuidava desde recém-nascidos, ou seja, noites em claro, cuidar das cólicas e mamadeiras (peitos de plástico) de duas em duas horas. “A mãe dorme a noite inteira até os filhos chegarem a idade de ir pra escola, quando a babá será dispensada e a mãe voltará a acordar durante a noite para cuidar das crianças”, revela.

Como tem um trabalho excelente, a indicação foi passando de boca em boca, ganhando assim reconhecimento. Mas essa babá resolveu ir embora pra sua terra e morar perto da família e estudar. Montou uma loja pequena para viver. Mas isso não durou muito, três anos.

As propostas dos amigos dos patrões começaram a aparecer, e cada vez mais altas. Até que ela resolveu largar tudo e voltar para São Paulo. Disseram que era por pouco tempo, até a criança crescer e ir pra a escola, no máximo três ou quatro anos.

Na casa dos novos patrões são duas crianças, uma de 7 e outra de 3. Antes ela cuidava somente do pequeno, mas gostam tanto dela que acaba cuidado dos dois. Dispensaram a outra babá. Isso tudo conta com dormir no “aconchegante” quarto da empregada, viajar quase todos os finais de semana, ir para fora do Brasil, pelo menos, três vezes ao ano. Ter folgas quinzenais para voltar para a própria casa.

Mas o prazo de três ou quatro anos já passou e agora, ela quer estudar. E para isso, é preciso voltar a dormir em casa todos os dias para se dedicar aos estudos. Porém isso caiu no ouvido como uma pequena traição. “Poxa, não tem como você esperar mais um pouco? A criança precisa crescer mais um pouquinho. Você não quer tirar sua carteira de motorista primeiro? Lembro que tinha falado isso há um tempo”, dizia a patroa.

Agora lá no serviço está uma guerra, por que quero voltar a estudar e minha patroa quer que eu tire a carteira de motorista primeiro. Mas eu nem tenho carro ainda. Ela quer que eu aproveite porque ela vai pagar tudo. Mandou eu procurar uma autoescola perto. Eu disse que depois que eu tirar, preciso estudar”, esse foi o acordo.

Mas não pense que parou por aí, a irmã da patroa está grávida e quer contratá-la. “As duas estão brigando muito e ainda na minha frente. Elas ficam fazendo joguinhos do tipo: Olha, se vier trabalhar comigo eu deixo você estudar, voltar para casa todos os dias. Enquanto a outra: mas eu aumento seu salário e ainda vou pagar sua carteira de motorista”.

Em meio a isso, a babá sem saber o que fazer, fica em uma situação difícil. “Fico perdida diante das propostas. Quero logo voltar pra casa todos os dias, estudar. Não quero que elas briguem na minha frente, e ainda cada hora com uma proposta diferente. Elas acabam ficando de cara feia pra mim e me chamando de canto. Vamos ver que horas isso vai acabar”.

E assim é uma das histórias que se repetem com várias outras babás por esse Brasil, que é o país com mais trabalhadores domésticos no mundo. Segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), são 7,2 milhões de brasileiros na categoria.



5 de maio de 2015

Após publicar foto no facebook jornalista negra sofre ataques racistas



Jornalista negra posta foto nas redes sociais e sofre enxurrada de ataques racistas. Em apoio à Cristiane Damacena, internautas se mobilizaram e também comentaram em repúdio ao preconceito. Agressores estão sendo identificados e podem ser punidos

Um ataque racista contra uma jornalista negra de Brasília (DF) por meio do seu perfil numa rede social causou forte comoção dentro e fora da Internet nesta terça-feira (5). Cristiane Damacena publicou no dia 24 de abril uma nova foto no Facebook e cinco dias depois passou a sofrer injúrias de cunho racial por ao menos 5 perfis diferentes. Ela foi chamada de “macaca” e “escrava” e sofreu zombarias por causa da cor da pele.

De lá pra cá o caso ganhou repercussão e o apoio a Cristiane extrapolou sua rede de amigos no Facebook. Ao meio-dia desta terça-feira já eram 14.663 curtidas na foto, onze mil comentários e 353 compartilhamentos. Mensagens em defesa da jornalista, elogios a sua beleza e manifestações de apoio formam a maior parte dos comentários. Ela é chamada de “linda” em vários deles. Numa das agressões, um internauta afirma que ela usa um vestido amarelo “porque é a cor preferida do macaco pois lembra a banana”.

Denúncias à Secretaria da Igualdade Racial

De janeiro até agora, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial recebeu cerca de 200 denúncias de racismo. Um dos casos que chegou ao órgão foi o da jornalista de Brasília Cristiane Damacena. A jovem, que não quis gravar entrevista por orientação dos advogados, afirmou que também vai recorrer à Justiça para punir os culpados. E disse que ainda está atônita com tudo o que aconteceu.

De acordo com Dalila Negreiros, do grupo Nosso Coletivo Negro, que organiza ações afirmativas para Negros no Distrito Federal, o caso de Cristiane é lamentável e se soma a várias situações racistas na internet. Segundo ela, usuários da rede que praticam esse tipo de crime se sentem à vontade para se expor porque acham que não serão encontrados. E o que dificulta é a falta de denúncias em muitos casos e a lentidão das investigações.

Injúria racial

O advogado Paulo Duarte diz que o caso da jornalista é classificado como injúria racial e a pena varia de um a três anos de prisão. Ele destaca que é possível identificar os envolvidos.

No ano passado, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial recebeu cerca de 560 denúncias. De acordo com o órgão, os casos dão origem a um procedimento administrativo, que é avaliado e investigado para, então, ser encaminhado aos órgãos competentes.

Para a advogada Indira Quaresma, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-DF, as vítimas de injúria racial devem tirar uma cópia da página em que as ofensas estão postadas e com ela fazer um boletim de ocorrência. A partir do boletim a investigação começa a ser feita pela Polícia mediante uma ação penal privada.