Lembram
daquela história da roupa do rei que ficou nu na rua? Pois é, no Brasil de hoje
a Corte inteira está num estado de peladez nunca visto na república dos
bananas.
Começa
pelo suposto presidente, cujo comportamento – de Davos ao programa do Ratinho,
passando pelo do Silvio Santos –, é o de um mascate ou no máximo, de um gerente
de boate daquelas que a gente chamava no bom tempo de “inferninho”.
Nada
contra mascates nem gerentes de boate, mas um presidente, mesmo suposto e
ilegítimo, deveria se comportar de outro modo. Há uma coisa chamada “decoro do
cargo”. Temer é como Trump: não tem. Daí diz que os brasileiros não vão com a
cara dele: bom, finalmente algo sensato.
Mas
não é só isto. Daí vem a penca de decoros quebrados:
–
A por ora ex-futura ministra do Trabalho aparece num vídeo que ela mesma
divulga, num estado que cronistas pátrios definiram como “alterado”, cercada de marmanjos sarados, fazendo a
apologia de sua inocência. É muita desfaçatez.
–
Um juiz moralista defende o duplo auxílio-moradia de sua família, coisa que
além de ilegal, deveria ser crime. Outro juiz, presidente da associação
corporativa, sai em sua defesa. Este também desfruta, com sua consorte, do
duplo auxílio-moradia. Pode? Pode. Porque um ministro do Supremo abriu a
porteira.
–
Falando em Supremo, a sua presidenta diz que não vai colocar em pauta a
discussão, com seus colegas, da prisão depois de julgamento em segunda
instância. Rebaixaria o Supremo, disse ela. Só que ela declarou isto em reunião
com executivos da Shell, além de executivos de outras empresas. Pode? Pode.
–
Pressionado pela constatação de que de fato o apê do Guarujá não é do
ex-presidente, já que foi penhorado em outra ação, em nome da OAS, o juiz de
Curitiba manda pô-lo à venda, numa tentativa esdrúxula de salvar a cara de sua
sentença. Pode? Pode. Vai ver que o famoso triplex é, então… dele, juiz!
–
Um dos procuradores da colenda e egrégia equipe de Curitiba, diz que vai se
aposentar para “ganhar dinheiro”. O
que será isto?
–
Os juízes do TRF4 dão 15 minutos para a defesa do ex-presidente Lula, fingem
que ouvem, e leem as sentenças que trouxeram prontas de casa. Pode? Pode. Se a
Lava-Jato é um tribunal de exceção, por que o TRF4 também não será? São os
modernos Torquemadas, promotores e juízes ao mesmo tempo.
– Daí um juiz que estava fora dos holofotes
entra em cena com estardalhaço e cassa o passaporte do ex-presidente. Conseguiu
seus cinco minutos de fama. O outro juiz, que autorizara a posse da ex-futura
ministra do Trabalho (pelo menos até o momento), determina que o ex-presidente
não precisa de habeas corpus preventivo, um direito que a Constituição lhe
assegura. E fica tudo por isto mesmo.
–
O presidente da Câmara Federal vai aos Estados Unidos dizer que o Bolsa-Família
escraviza as pessoas. Pode? Pode.
E
por aí se vai. Aparentemente, toda esta Corte acha que ninguém está vendo o que
ela está fazendo, a não ser aqueles que concordam. É por estas e por outras que
passo a passo, lenta, segura e gradualmente, cai a ficha no mundo inteiro sobre
as atrocidades sociais, culturais, econômicas e jurídicas que estão sendo
cometidas no nosso Brasil, enquanto cresce também o descrédito na e da nossa
mídia corporativa mainstream. (Por Flávio
Aguiar, no Blogue do Velho Mundo).
Michel Temer, o presidente que pensa que sua gestão não é reprovada também fora do Brasil. (Foto: Alan Santos/ PR). |