![]() |
Luiz Gama. (FOTO | Reprodução). |
Há
140 anos, o Brasil perdia um dos maiores defensores da liberdade que o país já
conheceu. “Jamais esta capital [São Paulo], quiçá muitas outras, viu mais
imponente e espontânea manifestação de dor e profunda saudade de uma população
inteira para com um cidadão”, escrevia o jornal A Província de São Paulo, dando
dimensão do tamanho da perda.
Era
Luiz Gonzaga Pinto da Gama, mais conhecido como Luiz Gama: o menino que só
aprendeu a ler e escrever aos 17 anos; que nasceu livre e foi vendido como
escravizado pelo próprio pai; um importante jornalista e escritor de muitos
artigos, poemas e livros celebrando sua cor e denunciando o racismo que tantos
sofriam por causa dela e o advogado que aprendeu sobre as leis sozinho e ajudou
a libertar mais de 500 pessoas negras escravizadas.
Considerado
um dos maiores abolicionistas, tendo dedicado a vida não só a luta pela
libertação de negros e negras, como pelo fim absoluto da escravidão, o legado
deixado por Gama hoje é um farol a ser seguido.
Hoje,
Ecoa separou curiosidades sobre esta figura histórica para você conhecer um
pouco mais quem era Luiz Gama:
Aprendeu sozinho sobre advocacia
Luiz
Gama nasceu em Salvador, no ano de 1830. Era filho de um português branco e
rico e de uma ex-escravizada que àquela época já estava livre. Pela lei, filho
de mãe livre, também era livre, mas aos 10 anos, seu pai o vendeu como
escravizado.
Assim,
Gama veio parar em São Paulo, onde permaneceu nessas condições até os 18 anos,
quando conseguiu reunir provas de que era ilegal mantê-lo como escravizado.
Então, fugiu.
Um
ano antes da fuga, aprendeu a ler e escrever, a partir desse momento se tornou
um estudioso das letras. E em 1850 decidiu se candidatar ao curso de Direito do
Largo de São Francisco – sendo recusado por ser negro. Mesmo assim, estudioso
que era, aprendeu sozinho a advogar.
Legalmente, libertou mais de 500 escravizados
Um
de seus feitos mais marcantes e importantes para a história foi o uso da
advocacia para ajudar na libertação de pessoas escravizadas. Em uma época em
que a escravidão já estava abolida em outros países, o Brasil até dava sinais
de que começaria a mudar com a proibição do tráfico transatlântico, mas a
verdade era que, por baixo dos tapetes, milhares de negros africanos
continuavam sendo sequestrados e trazidos a força para serem escravizados aqui
– o que já era ilegal até para a época.
Luiz
Gama, no entanto, estava atento e disposto a reverter esse cenário. Em uma das
descobertas mais recentes, feita pelo historiador Bruno Rodrigues de Lima, é possível
ver essa movimentação.
O
ano era 1869, Luiz Gama folheava um jornal quando se deparou com a notícia da
morte de um senhor de escravos em Santos (SP), que deixava explícito em seu
testamento a vontade de libertar todos após sua morte. Gama logo foi atrás de
descobrir se isto havia acontecido, e só parou quando todos estavam libertos de
fato, após uma briga na justiça. Mas a Justiça falhou com Gama e os
escravizados: as 217 pessoas foram forçadas a mais 12 anos de trabalho escravo
antes de serem realmente livres.
Ao
que se sabe, foram no mínimo 500 pessoas libertadas por ações de Luiz Gama. Mas
a verdade é que este número pode ser ainda maior, já que o Tribunal de Justiça
de São Paulo apresenta uma centena de processos com seu nome.
Uma coisa que ele fez foi desenterrar a bendita lei de 1831 [lei feijó, que proibia a importação de escravos para o brasil], colocando na cabeça dos outros. ele era um defensor dos direitos. dizia ?nós temos leis?. pedia que as leis existentes fossem aplicadas. então ele puxava as leis e pegava no pé dos juízes, lembrando que ele mesmo era filho de uma africana, que ele mesmo tinha sido escravizado. ele sabia o que era ser africano. o que era ser escravo. ele mexeu no vespeiro.
Foi
a primeira pessoa negra a ter estátua em SP
Mesmo com tanta luta pela liberdade, Luiz Gama não viveu para ver a escravidão ser abolida oficialmente no país, em 1888. Morreu em um 24 de agosto como hoje, em 1882.
O
reconhecimento de seu legado, apesar de importantíssimo para a história do
Brasil, para a abolição da escravidão e para a construção da autoestima do povo
negro no país, demorou para chegar.
Só
em 2017 a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco o homenageou dando seu
nome a uma sala e dois anos antes, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
concedeu o título de advogado a Luiz Gama.
Ele
também foi a primeira pessoa negra a ter uma estátua na cidade de São Paulo. Em
1931, foi inaugurado um busto do advogado no Largo do Arouche, centro da
cidade.
__________
Com informações do Geledés.