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Conferência termina com pedidos de mais políticas públicas para comunidades tradicionais




A ministra destacou a importância das Conferências, e em
especial a de promoção da igualdade racial.
Avanços são reconhecidos na execução de programas de inclusão social, de maior número de ações afirmativas, como sistemas de cotas, na participação de representantes de comunidades tradicionais como negros, quilombolas, ciganos, povos de matriz africana e diversos outros grupos nas políticas públicas do país nos últimos dez anos. Ainda assim, são grandes os gargalos observados em termos de desigualdade de oportunidades. Foi o que revelou estudo divulgado ontem (7) durante o encerramento da 3ª Conferência Nacional de Igualdade Racial.

O trabalho compila dados de pesquisas do IBGE, da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). E será lançado, em sua totalidade, no final do mês. Os dados já computados, entretanto, mostram que, em pelo menos quatro áreas, a situação continua crítica em alguns itens relacionados à violência e juventude e requer acompanhamento no quesito educação.

Baseado em dados demográficos que compilam indicativos de 2004 até 2011, o estudo mostra que enquanto em 2004 16,3% do total de negros existentes no Brasil eram analfabetos, em 2011 esse percentual foi reduzido para 11,5%. A redução é um avanço, mas, por outro lado, enquanto em 2004 eram registrados 122,97 homicídio de negros jovens com idade entre 15 e 29 anos a cada 100 mil habitantes, em 2011 esse número de mortes saltou para 135,07.

Vulnerabilidade social

Em 2004, 16% da população negra com idade entre 18 e 24 anos declarava não estudar, não trabalhar nem procurar qualquer tipo de emprego. Em 2011, esse percentual subiu para 18,1%. O mesmo desempenho negativo foi observado em relação a pessoas com faixa etária um pouco maior – a dos que possuem entre 25 e 29 anos – que subiu de 16,9% para 17,5% no período.

Mas nem tudo é resultado negativo. O estudo comprovou que a média de anos de estudo de negros com idade a partir de 15 anos, subiu de 5,8 do total em todo o Brasil, em 2004, para 6,9 em 2011. Da mesma forma, a taxa de frequência de estudantes negros nas escolas com idade até 3 anos foi ampliada de 11,5% para 18,3%.

O salto positivo maior foi observado na frequência de alunos entre 15 e 17 anos, que subiu de 78,9% para 82,5% no mesmo período. “Isso mostra que os negros, bem como representantes de comunidades tradicionais, estão correspondendo bem às políticas públicas implantadas e ampliando seus conhecimentos técnicos e educacionais, embora seja preciso bem mais”, avaliou Rosenilda Pereira, coordenadora de um dos conselhos representados no evento, de Ilhéus (BA).

Uma das contradições observadas diz respeito a indicadores de trabalho e renda. O estudo mostrou uma redução do número de pessoas negras desocupadas com idade acima de 16 anos (em 2004, o percentual de desocupados era de 9,8% e em 2011 passou a 7,4%). Além disso, dentre os que declaravam ter emprego em 2004, a renda média da época, que era de R$ 626,39, passou a ser de R$ 927,90 em 2011. 

O valor, no entanto, está longe da média do salário dos trabalhadores brancos que exercem o mesmo tipo de atividade, de R$ 1.549,91.

O percentual da população negra que se considerava em situação de extrema pobreza, 11%, foi reduzido para 5,7% em 2011. E o de negros em situação de pobreza, que era de 20,1%, passou a 8,9% – um dos resultados mais expressivos.

Previdência e trabalho formal

Também chamou a atenção como ponto positivo das ações afirmativas os indicadores relacionados à previdência social. O percentual de idosos negros que possuíam cobertura previdenciária em 2004, que era de 80,3%, passou a ser de 81,6% em 2011. E a chamada proteção previdenciária da população ocupada passou a ser de 57,5% a 66,0%. “Isso pode parecer uma diferença ínfima de percentual, mas quando traduzida em número de pessoas assistidas, representa um grande progresso”, comemorou Edmundo Rodrigues, um dos coordenadores do evento.

Parte desse resultado, segundo ele, também pode ser considerado reflexo da taxa de formalidade das pessoas negras ocupadas com idade acima de 16 anos, que em 2004 era de 38,8% do total no país e em 2011 passou a ser de 50,3%. O estudo leva em conta comparativos entre pessoas que declararam nas pesquisas realizadas terem cor branca, negra ou parda.

Mas a Conferência levou em consideração, também a situação de ciganos, representantes de comunidades quilombolas, comunidades de matriz africana, indígenas, políticas para as mulheres, populações em situação de rua e comunidades de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT).

Carta de Brasília

Além da divulgação destes dados, o evento discutiu a divulgação do documento Carta de Brasília, que deve pedir, dentre outras reivindicações, a garantia da rubrica de ações de promoção da igualdade racial nas dotações orçamentárias do Executivo; garantia da implementação do programa de enfrentamento ao racismo institucional nas três esferas do governo, bem como monitoramento e luta pela demarcação de terras pertencentes a comunidades quilombolas e isenção do pagamento de Imposto Territorial Rural (ITR) para os moradores dessas áreas.

Estão sendo propostas ainda, para homologação da Carta de Brasília, a criação de um fundo nacional quilombola e de um programa de capacitação continuada para servidores e gestores em temas étnicos e raciais; a inclusão dos povos ciganos no entendimento de comunidades tradicionais a serem também atendidas por programas sociais destinados a políticas de promoção da igualdade racial; além do estabelecimento de cotas para negros, indígenas, ciganos e demais comunidades de matriz africanas em todos os concursos públicos realizados no Brasil.



Via Rede Brasil Atual

Análise da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial



Reproduzimos abaixo excelente análise do Douglas Belchior em seu blog sobre as ações anunciadas e a ser tomada pela presidente Dilma Rousseff no que tange a política de cotas para negros.

Com o título “Dilma, racismo e a força das palavras”, Belchior analise as propostas da presidenta durante a abertura, nesta terça-feira, 05, da III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. 

Vamos ao Artigo

A presidenta Dilma Rousseff abriu nesta terça feira (5/11) a 3ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O encontro reúne, até quinta-feira (7), 1.400 representantes de todos os estados e do Distrito Federal para debater as políticas de enfrentamento ao racismo e de promoção da igualdade. A presidenta anunciou, entre outras iniciativas, o envio ao Congresso Nacional do projeto de lei, em caráter de urgência constitucional, que destina 20% das vagas em concursos públicos federais para negros: “Nós queremos, com essa medida, iniciar a mudança na composição racial dos servidores da administração pública federal, tornando-a representativa da composição da população brasileira”.

A presidenta foi interrompida diversas vezes pelas palmas do plenário e ao final de seu discurso foi delirantemente ovacionada pelos mais de mil delegados da Conferência. Nenhuma novidade, afinal a maioria dos representantes da sociedade civil são partícipes ou simpatizantes de estruturas partidárias, sindicais ou governamentais ligadas ao PT, PCdoB, partidos e governos aliados.

Bem assessorada, Dilma escolheu as palavras certas para dizer e muito embora não tenha anunciado nada de estruturalmente significativo para o combate ao racismo ou à promoção de uma reparação de fato, apresentou uma pauta que segue o ritmo das políticas compensatórias características do governo petista. Mas há de se respeitar afinal, em uma sociedade marcadamente racista como a nossa, mesmo políticas superficiais no tocante à igualdade racial provocam grande reação conservadora, o que acaba por emprestar uma roupa mais “radical” à iniciativa.

Mais que as propostas anunciadas, duas declarações da presidenta me chamaram a atenção: quando disse que “A sociedade brasileira tem que arcar com as consequências do longo período escravocrata” e quando disse que o governo apoiará o Plano Juventude Viva no sentido de combater “o que vem sendo classificado de genocídio da juventude negra.”

As palavras tem poder, presidenta! Arcar com as consequências da escravidão requer de seu governo – e dos futuros, posturas que nenhum outro teve coragem ou interesse em promover. Um bom início de conversa tem relação com sua segunda afirmação: reconhecer o genocídio da juventude negra como ação promovida pelo estado brasileiro. E combatê-lo de fato. O que é bem diferente de dizer que os assassinatos assim “vêm sendo classificado”. E você Dilma, como você enquanto presidenta classifica o assassinato de centenas de jovens negros pelas polícias e milícias em todo país?

Arcar com as consequências da escravidão passa por reordenar as forças produtivas e econômicas do país. Passa, por exemplo, por inverter a lógica da posse da terra e garantir a titulação dos territórios indígenas e quilombolas. Passa por efetivar a tão protelada reforma agrária ou, em outras palavras, acabar com a força do agronegócio e investir em uma agricultura familiar e socialmente comprometida.

E poderíamos seguir: E quanto aos bancos e seus lucros exorbitantes? E quanto ao setor empresarial privado e seu poder de mando? E quanto aos meios de comunicação? E quanto às mega construtoras e às corporações internacionais? E quanto à taxação das grandes fortunas? E quanto à qualidade da escola pública brasileira, em todos os níveis, à aplicação da Lei 10639 e o acesso às universidades de ponta? E quanto ao modelo de segurança pública?

Arcar com as consequências da escravidão, presidenta, significa colocar xeque os pilares de sustentação do modelo econômico vigente, tudo que o cerca e o alimenta. Mas você está certa. A sociedade brasileira nos deve isso. Como você pensa em começar quitar essa dívida?

A grande responsabilidade das delegações e de seus grupos políticos nessa conferência é fundamentalmente cobrar do estado a atenção e a importância que o tema merece. Serão capazes de abstrair de seus compromissos políticos partidários, cobrar e denunciar o “seu governo” e o Estado? É o que veremos!


Via Negro Belchior