Escritora Karla Alves questiona critérios para contemplação no prêmio Carolina Maria de Jesus

 

Karla Alves. (FOTO | Acervo pessoal).

Por Nicolau Neto, editor

O Ministério da Cultura (MinC) divulgou na última quinta-feira, 07, a lista de escritoras contempladas no “Edital Prêmio Carolina Maria de Jesus – Literatura Produzida por Mulheres Negras 2023.”

Conforme o MinC, a ação visa celebrar a potência da produção no país, com premiadas em todos os gêneros literários e se configura como uma ferramenta para fomentar a literatura produzida por mulheres e premiou 61 escritoras e o valor total será de R$ 3.050.000,00, e a premiação contemplou.

A escritora cearense, do cariri, Karla Alves, foi classificada, mas não premiada. Karla, que é colunista do blog, destacou que se inscreveu com a obra autoral CAMINHOS DE DENTRO, livro de contos composto por histórias do cotidiano de mulheres e homens pobres do sertão nordestino.

Obra escrita sem estereótipos e com a fidelidade de quem sobreviveu à cultura coronelista tão presente no cotidiano do interior do Ceará. Sinto e sei que essas histórias precisam chegar ao mundo pq o Brasil não se conhece e pouco sabe de si mesmo. Assim como a escrita de Carolina Maria de Jesus revelou isso no seu tempo, deixando o mundo de leitores perplexo com a ‘revelação’ do cotidiano de uma favelada, outros brasis tentam se revelar e falar de si através da escrita”, asseverou ela.

Ela questionou a disparidade racial na premiação, visto que das 61 obras literárias premiadas, apenas 12 era de mulheres negras, 3 de quilombolas e 3 de indígenas e que nenhuma quilombola ou indígena atingiu a nota máxima. A historiadora criticou também o fato de que 63% das escritoras premiadas são do sul e sudeste do país cujo atual governo foi eleito por uma maioria nordestina.

Abaixo a nota

Fui classificada - porém não premiada - no primeiro edital prêmio Carolina Maria de Jesus com a obra autoral CAMINHOS DE DENTRO, livro de contos composto por histórias do cotidiano de mulheres e homens pobres do sertão nordestino, portanto, livro de uma multidão. Obra escrita sem estereótipos e com a fidelidade de quem sobreviveu à cultura coronelista tão presente no cotidiano do interior do Ceará. Sinto e sei que essas histórias precisam chegar ao mundo pq o Brasil não se conhece e pouco sabe de si mesmo. Assim como a escrita de Carolina Maria de Jesus revelou isso no seu tempo, deixando o mundo de leitores perplexo com a "revelação" do cotidiano de uma favelada, outros brasis tentam se revelar e falar de si através da escrita. Eis que surge, então, um edital que leva o nome de uma favelada e cria a esperança de que o pretuguês terá vez com sua linguagem não gramatizada ou "não colonizada" como diria o já ancestral Nêgo Bispo, que lutou até o fim para que nossa liguagem fosse respeitada como modo de ser e de estar nessa diáspora que massacra nossas subjetividades. Porém, mais de 63% das escritoras premiadas são do sul e sudeste do país cujo atual governo foi eleito por uma maioria nordestina. Das 61 premiadas, apenas 18 vagas garantiram o prêmio para escritoras negras (12), quilombolas (3) e indígenas (3). Dentre estas últimas (quilombolas e indígenas) NENHUMA atingiu a nota máxima, o que me leva a questionar quais os critérios utilizados na avaliação das obras pelas juradas da seleção das espécies escolhidas que, como enfatizo, são em sua maioria escritoras brancas do sul e sudeste do país.

(Vale salientar que entre o corpo de juradas está aquela que paguei para revisão e edição do meu livro Contra Banzo, revisão que EU MESMA tive que fazer brigando com ela para que esta fizesse ao menos as correções que identifiquei necessárias quando esta não queria sequer LER o livro com cuidado)

Isso tudo não diminui a importância da minha obra, mas esfacela a ilusória essência por trás da representatividade negra que se revela como a serpente cuja verdade seduziu grande parte dos negros e negras desse tempo que vivemos, individualizando a nossa luta por sobrevivência.

E se a ancestralidade em nome de Carolina Maria de Jesus e Nêgo Bispo tiverem poder sobre este mundo, como eu e milhares de negras e negros acreditamos que tem, haverá justiça na aplicação da lei de seleção natural das espécies. Até agora quem já era privilegiado permaneceu como maioria "apta" a fixar suas características vantajosas à suas descendentes.

Abaixo o poder hegemônico e todas que contribuem para sua manutenção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!