Passaram mais que cinco estrelas

 

Alexandre Lucas. (FOTO | Arquivo Pessoal).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

Falou absurdos prazeres. Era uma tarde mais quente, pouco vento, o sol atirando. O jornal noticiava o desaparecimento do homem que saiu para comprar pão. As senhoras tricotavam na calçada sobre os últimos acontecimentos.

Enquanto isso, a moça sobe as escadas. Aguarda um instante, abre a porta, senta num sofá, meio cama, na sua frente um quadro com formas orgânicas não definidas, algo que lembrava corpos e rostos, alguma coisa do tipo. Acanhada, tira da bolsa seu bloco de anotações, saca uma caneta e começa rabiscar os seus questionamentos. Seus olhos se dirigiam em direção ao quadro e o seu bloco. Aos poucos foi falando baixinho, com cortes, gaguejos e uma respiração oscilante.

Um pouco de água, secou a garrafa quase toda. A sala estava abafada, sua testa suava. Escrevia com rapidez para não perder as lembranças. Tocava os brincos e mordia levemente os lábios tentando resgatar algumas histórias. Lembrou quando escreveu com batom vermelho um poema extenso para um amor efêmero. Detalhou a cena, preenchida de poesia, calma e alvoroço, forte, firme e ritmado. Chegou a cruzar as pernas, tentando disfarçar o prazer que escorria.

Sessenta minutos. Desceu as escadas. O homem continuava desaparecido, as senhoras tricotavam. O calor continuava, saiu rabiscando estrelas no pensamento.

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