O
movimento “Historiadores Pela Democracia”,
com mais de 5000 membros no facebook, nasceu da ideia de reunir os
profissionais de história que vinham se manifestando publicamente para tentar
barrar o golpe branco ora em andamento no país. No último dia 7 de junho, mais
de 40 historiadores profissionais, entre professores titulares das mais
diversas universidades de todo o país e jovens profissionais de história, viajaram
por conta própria à Brasília onde foram levar solidariedade e um vídeo
manifesto à Presidente afastada Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada.
Publicado originalmente no Carta Maior
No
manifesto em vídeo, de 7 minutos, muitos depoimentos endossam a hipótese do
golpe parlamentar, jurídico e midiático, enquanto outros reafirmam os riscos à
democracia e aos direitos inscritos na Constituição de 1988 representados pelas
políticas implementadas pelo governo interino. Outros, ainda, afirmam a
necessidade do engajamento dos intelectuais na disputa pela narrativa dos
atuais eventos políticos. Heloisa Starling e Lilia Schwarcz, autoras do
celebrado livro Brasil: Uma Biografia, estão no vídeo, que abre e fecha com
depoimentos por e-mail de Sidney Chalhoub, da Universidade de Harvard e de João
José Reis, da UFBA, atualmente pesquisador visitante em Berlim, ambos
pesquisadores da sociedade escravista brasileira. Laura de Mello e Souza,
professora titular de História do Brasil da Universidade de Sorbonne, em Paris,
abre os depoimentos em vídeo.
Nas
duas semanas que antecederam o encontro no Alvorada, mais de 80 historiadores
gravaram em vídeo seu apoio à presidenta eleita por mais de 54 milhões de
votos, acessíveis no tumblr Historiadores Pela Democracia. Muitos são apoios
críticos, mas todos guardam em comum a defesa da legalidade democrática e do
mandato de Dilma Rousseff. O conjunto de depoimentos está na base da edição do
vídeo manifesto.
Professora
Titular de História do Brasil na UFF, coordenei a iniciativa do vídeo e do
encontro presencial, como editora do blog conversa de historiadoras, blog que
publicou muitos dos textos a partir dos quais surgiu o movimento “historiadores pela democracia”.
No Alvorada, encontraram-se com a Presidenta alguns dos principais historiadores brasileiros. Estre eles, especialistas em todas as áreas da disciplina, com ênfase na história do Brasil e da América Latina, na história do tempo presente e, não por acaso, na história da escravidão no Brasil e das heranças e traumas que nos foram legados por este passado. São muitos os historiadores que vão buscar a raiz da crise atual na nossa formação colonial e escravocrata, que fez da lógica do privilégio base da cultura política brasileira. Tânia Bessone, da UERJ, representou a diretoria da Associação Nacional de História e James Green, da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, também estava entre os presentes.
Dilma
Rousseff abriu o encontro com uma fala em defesa da democracia de cerca de meia
hora realmente memorável. O encontro no Alvorada foi ao ar ao vivo e pode ser
visto na web. Durante as falas dos historiadores, foi entregue a ela a
serigrafia em tela “#Democracia” e uma carta do seu autor, o artista visual
André de Castro. Depois da cerimônia, Dilma confraternizou com todo o grupo e
conversou longamente com James Green sobre o seu próximo livro, uma biografia
de Herbert Daniel, que foi amigo pessoal da Presidenta.
O
encontro no Alvorada foi precedido de um debate na UNB. Durante o debate,
decidimos publicar em livro os diversos textos que deram origem ao movimento,
por enquanto com o título provisório: “O golpe de 2016: a força do passado”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Ao comentar, você exerce seu papel de cidadão e contribui de forma efetiva na sua autodefinição enquanto ser pensante. Agradecemos a sua participação. Forte Abraço!!!