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JOSÉ SERRA (PSDB) |
O
tucano avisou que vai usar o STF como cabo eleitoral para atacar Haddad 'na
questão dos valores'. Atente-se: quem está dizendo isso chama-se José Serra. A
palavra valores não lhe cai bem. Exceto, talvez, quando a quantia é mencionada,
mas neste caso, Paulo Preto seria o interlocutor mais adequado, não Haddad.
Afoitezas
e cifras à parte, não seria descabido indagar: ademais de obras e ações
urgentes, quais valores éticos ostentados por um prefeito poderiam fazer a
diferença em uma cidade como São Paulo?
O
sociólogo polonês Zygmunt Bauman cunhou a palavra ' mixofobia' para descrever
aquele que seria, em sua opinião, o medo típico das grandes cidades
contemporâneas: a fobia de se misturar com outras pessoas. Em que medida um
caráter como o de Serra contribuiria para romper essa galvanização
individualista, matriz de desdobramentos políticos, sociais e culturais de
gravidade presumível?
Um
exemplo aleatório: na manhã do último domingo, enquanto o Brasil comparecia às
urnas, um travesti era arrastado pelo carro de um provável cliente na zona Sul
de São Paulo. Morreria em seguida, em consequência dos ferimentos.
Segundo
a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais) foi a 86ª vítima de uma série de assassinatos de travestis
registrados em todo o Brasil este ano. Em 2011, a violação de direitos humanos
contra LGBTs somou 6.806 casos.
Entre
as origens do fenômeno encontra-se a sensação de impunidade desfrutada em
ambiente contaminado pelo ódio à diferença, irradiado ou sancionado por
lideranças e figuras públicas.
A
guerra é o exemplo clássico dessa dinâmica deformadora: contra inimigo, tudo. A
permissividade bélica transfigura indivíduos aparentemente normais em máquinas
mortíferas. Se é legítimo bombardear uma cidade inteira, por que não o seria
torturar e degradar peças individuais do estoque? Abu Ghraib: o ponto dentro da
curva.
Um
barão do século XVIII, Montesquieu, já sinalizara que a virtude não está nos
indivíduos, mas nas instituições (o que torna especialmente hipócrita, diga-se,
um tribunal encenar rigor no varejo, e omitir-se diante da usina indutora de
caixa 2 que é a legislação eleitoral vigente).Caçadores de pecados,
auto-ungidos em guardiães dessa moral das conveniências, abundam. Do alto de
seus púlpitos --ou debaixo das togas-- comandam milhões de almas desprovidas de
outro abrigo de identidade, num meio social evanescente.
O
pastor Silas Malafaia é um dos centuriões armados de borduna e tacape
espiritual. Sua especialidade é impedir a educação para a tolerância, talvez um
dos valores mais importantes para reverter a mixofobia de Baumann, da qual a
matança denunciada pela ABGLT pode ser uma expressão clínica.
Malafaia,
que usa gravatas de um dourado ofuscante, e lenço combinando, nem pisca. No 1º
turno, twitou ordens sagradas de voto em Serra; 'contra o kit gay', comandava.
O tucano não desautorizou a associação do seu nome à figura do 'caçador de kit
gay'.
Não
se pode responsabilizar ninguém pela loucura no seu entorno. Mas o intercurso
de Serra com a intolerância extrapola a ordem unida disparada por Malafaia.
A
esposa do tucano fez da caça ao aborto seu bordão de campanha na disputa
presidencial de 2010 . Disse Monica Serra a um transeunte na Baixada
fluminense, em 14-09-2010: "Ela (Dilma) é a favor de matar
criancinhas" (Estadão). Não só. O braço direito de de Serra , Andrea
Matarazzo, transformou as impiedosas rampas anti-mendigo em um dos símbolos do
higienismo social adotado na fugaz passagem do tucano pela prefeitura de São
Paulo, que abandonou com um ano e meio de mandato para concorrer ao governo do
Estado, em 2006.
Kassab,
saído da mesma cepa, vice campeão nacional em rejeição, proibiu há pouco a
distribuição de comida aos moradores de rua - 'por questões de higiene'.
O
conforto de Serra nessa curva reveladora não se resume à esfera dos costumes.
Dentro do próprio PSDB o candidato é conhecido como uma pessoa que tem na
intolerância um traço de caráter e um método político.
É
esse personagem que pretende levar a discussão de 'valores' ao 2º turno em SP.
Não se subestime a octnagem da mixofobia entranhada num ajuntamento de 11
milhões de pessoas que compartilham (majestático) o mesmo espaço urbano em São
Paulo. Menos ainda se subestime o efeito conflitivo que uma prefeitura pautada
pelos 'valores' de José Serra pode acarretar nesse ambiente.
Com informações do Carta Maior
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