Pesquisa Ipec com eleitores do Ceará: Lula tem 63%, Bolsonaro, 18% e Ciro 10% no estado

 

Lula tem 63%, Bolsonaro, 18% e Ciro 10% no estado — Foto: Reprodução

Pesquisa Ipec (ex-Ibope), divulgada nesta quinta-feira (22) e encomendada pela TV Verdes Mares, filiada da Rede Globo no Ceará, revela os índices de intenção de voto para presidente da República entre os eleitores do estado. O ex-presidente Lula (PT) lidera a disputa no estado, com 63%, contra 18% do presidente Jair Bolsonaro(PL). Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro, com 10% das intenções de voto.

Lula teve uma oscilação positiva, na comparação com os resultados da pesquisa anterior, de 9 de setembro, quando tinha registrado 57%. Bolsonaro estava com 19%, portanto, oscilou negativamente. Já Ciro Gomes (PDT) variou de 14% para 10%. Simone Tebet (MDB), tinha 2% e agora está com 1%.

A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 21 de setembro, com 1.200 eleitores votantes no Estado do Ceará, em 56 municípios cearenses. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) sob o número CE-03914/2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-02694/2022.

Veja resultado
Resposta estimulada e única, em %:

Lula (PT): 63%
Jair Bolsonaro (PL): 18%
Ciro Gomes (PDT): 10%
Simone Tebet (MDB): 1%
Soraya Thronicke (União Brasil): 1%
Felipe d'Avila (Novo): 0%
Léo Péricles (Unidade Popular): 0%
Padre Kelmon (PTB): 0%
Sofia Manzano (PCB): 0%
Constituinte Eymael (Democracia Cristã): *%
Vera Lúcia (PSTU): *
Branco ou nulo: 3%
Não sabe ou não respondeu: 4%
* = candidatos não foram citados.
Felipe d’ Avila (NOVO), Léo Péricles (UP) e Sofia Manzano (PCB) e Padre Kelmon (que entrou para representar o PTB no lugar de Roberto Jefferson, que teve sua candidatura impugnada pelo TSE) são citados, mas não chegam a 1% das menções, mantendo-se estáveis em comparação à medição anterior.

Os nomes de Constituinte Eymael (DC) e Vera Lúcia (PSTU) constavam no disco apresentado aos entrevistados, porém não foram mencionados por nenhum deles. Pablo Marçal (PROS) teve sua candidatura cancelada no TSE, por este motivo, seu nome não consta nesse levantamento.

Avaliação do governo Bolsonaro

O Ipec também perguntou aos eleitores cearenses como avaliam o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). Para 56%, é ruim ou péssimo e, para 22%, bom ou ótimo. Outros 20% dizem que o governo é regular e 3% não souberam avaliar.

Na pesquisa anterior, de 9 de setembro, a gestão do presidente foi avaliada como ruim ou péssima para 56%, como ótima ou boa para 22% e regular para 20%; 3% não soube avaliar.
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Com informações do G1.

Análise do Debate Presidencial realizado pelo SBT neste sábado, 24 de setembro

 

(FOTO | Reprodução | SBT | O Globo).

Por Nicolau Neto, editor

O debate pool realizado ontem, 24 de setembro, pelo SBT em parceria com CNN Brasil, Terra, O Estadão, Veja e Nova Brasil FM foi o pior das últimas eleições. Vimos uma verdadeira extensão do Bolsonaro (PL) no candidato Padre Kelmon (PTB). Este último que substitui Roberto Jefferson que foi impedido de continuar candidato pela lei da Ficha Limpa, usou o espaço concedido para defender o atual presidente ao invés de justificar sua candidatura. Preferiu usar de falácias como a de que o atual mandatário aumentou o poder de compra do brasileiro. Preferiu usar de subterfúgios ardilosos como a de que basta força de vontade para conseguir emprego e entrar nas universidades quando questionado sobre a lei de cotas. Disse ainda uma das maiores mentiras a de que falar de cotas é propagar ódio e dividir a sociedade. Ora, Kelmon, não se divide o que já é dividido.

Quanto ao atual presidente. Nada a acrescentar além do que todos e todas já sabem. Diz o que não fez. Diz que não há corrupção em seu governo, mas não é bem assim. Dúvidas? Busca no Google sobre os ministérios da educação, da saúde e do meio ambiente, por exemplo, nesse último anos, que logo desaparecerá essa invencionisse do presidente. Além do próprio Orçamento Secreto.

Soraya Thronicke (União), infelizmente não tem muito o que falar. Foi linha auxiliar do Bolsonarismo em 2018. E parece que ela só apareceu no Brasil em 18. Antes disso ela devia está morando em outro país. Só isso para justificar suas falas desconexas da realidade antes desse período.

Simone Tebet (MDB) tem um discurso muito bem elaborado. Mas sua biografia de parlamentar, com exceção da participação na CPI da Covid-19, a denuncia. Votou a favor da grande maioria das pautas conservadoras trazidas por Bolsonaro, além de ter votado pelo impeachment de Dilma Rousseff.

Ciro (PDT) é em todos os debates uma verdadeira enciclopédia. Muito preparado. Conhecedor da realidade brasileira como poucos. Mas, o caminho que escolheu nessa campanha o coloca como linha auxiliar do Bolsonaro. Os discursos do Ciro funcionam mais para agregar voto em Bolsonaro do que para ele próprio. O pdtista está caminhando por um beco diferente do que o Brizola, uma das mais importantes lideranças trabalhistas que o Brasil já teve, caminharia. Ciro usa os mesmo argumentos e as mesmas táticas que Bolsonaro usou em 18. Sairá, insisto, mais pequeno politicamente do que nas últimas edições que participou. Falta grandeza histórica para compreender o momento drástico que o país passa.

Felipe D’Avila (Novo) é uma caricatura piorada do típico representante da elite. Só isso basta para defini-lo.

Lula (PT) esteve ausente. Alegou conflito de agenda. Ele estava em comício em São Paulo ao lado de lideranças importantes do campo democrático, a exemplo de Haddad (PT) e Marina Silva (Rede). Confesso que sendo o Lula eu cancelaria o comício e iria ao debate. Não se pode dar munição a adversários/as políticos. Era mais uma oportunidade de colocar os pingos nos is ao demonstrando as contradições de Tebet e Ciro, além de desmentir publicamente o atual mandatário.

Mandinga cabocla: a história de um indígena condenado pela Inquisição

 

Aldeia de índios Tapuios cristãos, 1820. Johann Moritz Rugendas.

Um dos grandes desafios enfrentados pelos pesquisadores que se dedicam ao período colonial na América portuguesa é o de recuperar a trajetória de indivíduos anônimos. Diferente do que ocorre com personalidades célebres e ilustres, a investigação sobre as pessoas comuns esbarra nos limites da documentação, muitas vezes restrita a fragmentos, menções breves ou pequenos registros. Para os que estudam as populações indígenas nesta época, as dificuldades são ainda maiores. Por se tratar de povos ágrafos, quase sempre situados em posições sociais subalternas e sujeitos a diferentes formas de tutela, os rastros sobre os indígenas são ainda mais escassos.

Uma rara exceção a esse quadro é Miguel Ferreira Pestana. Como tantos indígenas que viveram no período colonial, a história desse homem poderia ter se mantido no anonimato e se confundido com várias outras caso um fato não tivesse mudado definitivamente os rumos de sua existência: a sua prisão pela Inquisição portuguesa. Foram os registros escritos pelos agentes do Tribunal do Santo Ofício, responsáveis por seu julgamento, que tornaram possível a recuperação desta inusitada trajetória.

A acusação que pesava sobre Pestana nos dá indícios de uma vivência que rompe com o persistente lugar comum de passividade indígena diante da catequese cristã: Miguel foi julgado e condenado pela Inquisição por feitiçaria, tendo sido denunciado por fazer uso de bolsas de mandinga. Em virtude dos interrogatórios e testemunhos registrados no processo inquisitorial, é possível entender não somente a sua relação com a bolsa de mandinga, encarada por ele como fonte de diferentes poderes sobrenaturais, mas também mergulhar em seu dia a dia. Adepto de crenças diversas, o que incluía um catolicismo com contornos Tupi e práticas de origem africana, Miguel refletia como poucos a pluralidade étnica e cultural que caracterizava o mundo colonial. Mas quem era, afinal, este indígena?

A vida no aldeamento

Nascido aproximadamente em 1705, o primeiro lar de Miguel Ferreira Pestana foi o aldeamento de Nossa Senhora da Assunção de Reritiba, localizado no sul do Espírito Santo. O lugar, famoso por ter sido onde o padre José de Anchieta viveu os seus últimos dias, era uma das principais missões jesuíticas da capitania. Miguel, inclusive, era parte de uma família antiga no aldeamento, estabelecida em Reritiba há pelo menos três gerações. Filho do aldeado Joaquim Ferreira, ele foi batizado pelo padre Afonso Pestana, o que provavelmente explica a combinação de seus sobrenomes. Já o nome Miguel deve ter sido em homenagem ao avô, Miguel Ferreira, ou mesmo ao dia de São Miguel, cerimônia realizada anualmente em Reritiba. Ainda no aldeamento, ele se casou duas vezes: a primeira com Izabel, de quem ficou viúvo algum tempo depois, e a segunda com Ângela Joana Gonçalves, com quem teve alguns filhos.

O cotidiano de Miguel Pestana no aldeamento era marcado pelos limites do regime de tutela jesuítica. Responsáveis pela conversão dos indígenas em súditos cristãos da Coroa portuguesa, os missionários estabeleceram uma rígida rotina aos aldeados. A começar pelo trabalho diário, que para os padres era a melhor forma de eliminar os vícios da vida nômade. Sob a supervisão dos jesuítas, Miguel Pestana aprendeu o ofício de carpinteiro e prestava diversos serviços a mando deles.

Do ponto de vista da catequese, os missionários se esforçavam para substituir os hábitos indígenas pelo modo de vida cristão, recorrendo a incessantes práticas de evangelização que começavam já nas primeiras horas do dia. Como se não bastassem estas obrigações, o cerco à vida privada dos indígenas se fechava com visitas que os padres realizavam às suas casas ao menos uma vez por semana, sendo esta uma maneira clara de vigiar e controlar os passos dos aldeados. Não havia espaço para o ócio ou a diversão. E para os que não aceitavam esse dia a dia, faltassem a alguma obrigação ou não se comportassem como devia, vários eram os castigos, que iam desde as chicotadas ao tronco. Ocupando o corpo e a mente, os religiosos buscavam cercear a autonomia indígena.

O domínio jesuítico, porém, não agradava a Miguel Pestana, que sempre manteve um relacionamento conflituoso com os missionários. Rebelde, o indígena tinha grande dificuldade em seguir a vida regrada imposta pelos padres. Guiado por um catolicismo construído à luz da compreensão indígena, Miguel não seguia fielmente os ensinamentos jesuíticos, o que suscitava inúmeras discórdias. Insatisfeito com a rigidez dos missionários e temendo os castigos previstos pela pedagogia jesuítica, ele fugia com frequência do aldeamento acompanhado de sua segunda esposa. Fora de Reritiba, ambos buscavam a liberdade que os superiores da missão tanto impediam: novas vivências e experiências. Trabalhando nas fazendas de colonos vizinhos quando estava ausente, Miguel tirava proveito de seu ofício de carpinteiro para satisfazer suas necessidades, voltando para o aldeamento quando lhe convinha. Nestas idas e vindas, o indígena interagiu com diferentes práticas culturais e religiosas que circulavam no mundo colonial, o que contribuiu para a formação de sua religiosidade tão diversa.

Porto Estrela (1835). Rugendas, Johann Moritz, 1802-1858. In: Viagem pitoresca através do Brasil.

Em uma dessas fugas, Miguel Pestana teve contato com uma carta de tocar, escrito proveniente da cultura popular portuguesa e que se supunha ter propriedades mágicas relacionadas à proteção ou a conquistas amorosas. Posteriormente, ele chegou a ser surpreendido pelo padre superior de Reritiba com a dita carta, prática que era condenada pelos preceitos católicos. Essa foi a gota d’água no turbulento relacionamento de Miguel com os missionários.

Demonstrando ser mais do que uma folha em branco pronta para que os jesuítas imprimissem o que bem entendessem, Miguel repudiou a submissão aos padres e fugiu definitivamente do aldeamento com a sua esposa. A sua rebeldia, porém, era um sinal da insatisfação que rondava Reritiba e que explodiria anos depois na forma de uma grave revolta indígena contra os jesuítas, a qual Miguel não chegaria a conhecer. Ele havia rumado para longe do Espírito Santo na tentativa de reconstruir a sua vida.

Uma nova vida no Recôncavo

Quando abandonou Reritiba, Miguel Pestana perambulou por diversos locais até chegar ao Rio de Janeiro e se estabelecer com sua esposa no Recôncavo da Guanabara, na segunda metade da década de 1720. Situada nas proximidades do Caminho Novo das minas, a região do Recôncavo se destacava pela produção de gêneros de abastecimento, como arroz e mandioca, e pela ordem escravista bem consolidada. Comparada à vida no aldeamento, esse era um cenário bem diferente do que estava acostumado. Se por um lado ele se distanciou da rotina rigorosa imposta pelos missionários, por outro Miguel renunciou à principal garantia que tinha perante a escravidão: o status de indígena aldeado. Para os que não dispunham da proteção concedida pelas autoridades coloniais aos aldeados, a linha entre a liberdade e a escravidão era tênue. Obrigados a buscar trabalho nas fazendas dos colonos, estes indígenas conviviam com o risco constante de serem submetidos a outras relações de subordinação.

Miguel Pestana não demorou a entender estas dificuldades. Precavido, o indígena abandonou o seu passado como desertor de um aldeamento e reforjou a sua história: ele passou a se identificar como Domingos Pedroso, proveniente de São Paulo. A sua adaptação à nova realidade, no entanto, foi facilitada por um elemento de sua vida pregressa: o domínio do ofício de carpinteiro, aprendido enquanto esteve sob a tutela dos jesuítas em Reritiba, mostrou-se fundamental para que Miguel encontrasse um lugar na sociedade local. O fato de exercer um trabalho especializado o diferenciava de boa parte da massa de indivíduos despossuídos e subalternizados. Em uma sociedade hierárquica e escravista como a que predominava na América portuguesa, este era um importante fator de distinção social, uma vez que lhe dava acesso a oportunidades de trabalho mais vantajosas e convenientes.

Sem dispor de uma residência fixa, Miguel transitava pelo Recôncavo da Guanabara, abrigando-se nas propriedades de colonos para quem prestava serviços. Morando nas senzalas das fazendas, o indígena interagia diretamente com escravizados que coabitavam estes espaços. Ele, então, passou a conviver de perto com os cativos e com o mundo da escravidão, possibilitando o aprendizado de códigos e hábitos referentes aos escravizados. Isso de certo abriu caminho para outra atividade exercida por ele no Recôncavo da Guanabara, a de capitão do mato na freguesia de Inhomirim. Mantendo-se atento a eventuais fugas ou a rebeldias nas senzalas onde vivia, Pestana adquiriu experiência junto aos escravizados e angariou a confiança dos proprietários locais, fatores essenciais para que ocupasse o posto de capitão do mato.

Trabalhando em benefício dos colonos, Miguel Pestana passou a representar diretamente os interesses senhoriais. Esse foi, sem dúvida, um sinal de ascensão social. Em uma sociedade marcada pela ordem escravista, capitães como ele desempenhavam papel essencial na defesa dessa ordem, constituindo importante aspecto de distinção. Tal cargo possibilitava a indígenas, negros e mestiços, parcela considerável dos indivíduos que ocupavam o posto de capitão do mato, não apenas maior aproximação com os senhores, como também o distanciamento em relação à escravidão e aos grupos subalternos da hierarquia colonial.

A interação de Miguel Pestana com os escravizados, contudo, não se limitaria à perseguição de fugitivos. Em certa ocasião, quando capturou no caminho das minas um negro que havia fugido de seu senhor, Miguel encontrou junto a ele uma bolsa supostamente mágica, capaz de proteger quem a utilizava. Foi o primeiro contato do indígena com a mandinga, que se tornou indispensável em sua vida desde aquele dia. Crente nos poderes do objeto, que era uma prática protetiva originada na África e que combinou elementos cristãos a partir de sua circulação no império português, o indígena converteu-se em um adepto tenaz da mandinga, a ponto de ensiná-la a negros com quem convivia nas senzalas e de vender bolsas a interessados em adquirir os poderes associados a ela. Não demorou muito para que ele fosse reconhecido como um afamado mandingueiro no Recôncavo da Guanabara.

Capitão do Mato, 1835. Johann Moritz Rugendas.

Ao considerarmos a trajetória de Miguel Pestana, poucos elementos expressam tão bem a pluralidade das relações sociais estabelecidas por ele e os intercâmbios culturais vivenciados por esse indígena quanto à bolsa de mandinga. Esse artefato se tornou uma espécie de catalisador das múltiplas influências que experimentou ao longo de sua existência. Dentro da bolsa, havia itens ligados à simbologia cristã, como hóstias e pedras d’ara, pós que ele produzia com cascas de frutas e a carta de tocar que ele conhecia desde que vivia em Reritiba.

Peça-chave na forma como este indivíduo interpretava a realidade, a bolsa de mandinga funcionava para Miguel Pestana não apenas como um amuleto de proteção, mas também como fonte de diferentes prodígios. Ele declarou acreditar que a bolsa lhe conferia defesa contra perigos, incluindo facadas e tiros, valentia, sorte e até mesmo poder de sedução sobre mulheres. Articulando referências cristãs, crenças diversas com as quais dialogou e componentes materiais ressignificados em torno de um artefato culturalmente híbrido, mas com uma evidente origem africana, a bolsa de mandinga era uma prática que contrariava os dogmas da Igreja Católica. Para Miguel, porém, a bolsa parecia ser acima de tudo uma resposta para os anseios e para os dilemas com os quais este indivíduo lidava no cotidiano colonial.

Caindo em desgraça

Em 1737, Miguel Pestana já estava plenamente inserido ao Recôncavo da Guanabara. Reconhecido como caboclo, termo que na época era usado para se referir a pessoas de origem indígena adaptadas à lógica sociocultural introduzida pela colonização, ele ganhava a vida como capitão do mato ao mesmo tempo em que lucrava vendendo mandingas para todo tipo de gente. Neste ano, porém, ocorre a grande reviravolta na história deste sujeito. Durante uma visitação episcopal realizada na freguesia de Inhomirim, onde morava, Miguel foi denunciado por fazer uso de bolsas de mandinga, tornando-se alvo da ação inquisitorial.

Inicialmente levado ao aljube do Rio de Janeiro, o indígena aguardou por cerca de cinco anos na dita prisão até ser remetido aos cárceres secretos do Santo Ofício, em Lisboa, uma vez que a Inquisição não atuava no Brasil. Neste meio tempo, os testemunhos que constam em seu processo inquisitorial são unânimes em afirmar que Miguel, mesmo preso, vendia bolsas de mandinga, pós supostamente mágicos e cartas de tocar aos que iam procurá-lo, o que incluía negros, caboclos, assim como mulheres brancas, que lhe davam dinheiro e prendas de ouro por seus serviços. Prova inequívoca da circularidade de crenças referentes à religiosidade popular colonial e da fama que Pestana possuía como mandingueiro.

Os inquisidores buscavam indícios de pacto demoníaco em suas mandingas, mas Miguel se esforçou para negar qualquer delito. Ao ser submetido à tortura, porém, ele cedeu à pressão dos agentes do Santo Ofício. Depois de alguns interrogatórios, Miguel finalmente confessou que via e se comunicava com o diabo. E não era um diabo qualquer. Segundo o indígena, o demônio aparecia no meio do mato, geralmente na forma de macaco, o induzindo a fazer vontades maléficas. O diabo-macaco, incomum aos inquisidores, refletia o imaginário de um aldeado.

As referências ao mato, a um animal recorrente no cenário brasileiro e à tentação para o mal aproximam-se das figuras demoníacas que os jesuítas traduziram para o entendimento indígena a partir dos espíritos da floresta presentes na mitologia Tupi. A confissão foi o suficiente para que Miguel Pestana fosse condenado. Em 1744, ele acabou julgado e sentenciado pela Inquisição à prestação de trabalhos forçados em Lisboa, demonstrando que os indígenas também estavam na mira do Santo Ofício. Miguel, no entanto, conseguiria escapar do castigo dois anos depois, fugindo sem deixar qualquer rastro.

A fascinante trajetória de Miguel Pestana revela o enorme potencial de se recuperar as vidas de sujeitos anônimos no período colonial. Ainda que as dificuldades sejam grandes, a oportunidade de mergulhar no cotidiano de pessoas comuns e avaliar as suas possibilidades de ação fazem o esforço valer a pena. No caso do nosso personagem, a sua história deixa a certeza de que os povos originários se inseriram na sociedade colonial, e posteriormente nacional, de maneiras muito mais diversas e complexas do que se costuma imaginar. O passado e o presente do Brasil possuem, enfim, inconfundíveis contornos indígenas.

Referências

CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Feitiço caboclo: um índio mandingueiro condenado pela Inquisição. Jundiaí: Paco Editorial, 2008.

POMPA, Cristina. Religião como tradução: missionários, Tupi e Tapuia no Brasil colonial. Bauru: Edusc, 2003.

SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

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Texto publicado originalmente no Café História

CORRÊA, Luís Rafael Araújo. Mandinga Cabocla: a história de um indígena condenado pela Inquisição (artigo).  In: Café História. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/mandiga-cabocla-a-indigena-condenado-pela-inquisicao/‎. Publicado em: 13 set. 2022. ISSN: 2674-5917.

Lula bate 52% dos votos válidos pela primeira vez no Agregador de Pesquisas do Estadão

 

Lula. (FOTO/ Ricardo Stuckert).

O agregador de pesquisas eleitorais do jornal O Estado de S. Paulo, que traça o desempenho geral dos candidatos à presidência com base em resultados de 14 institutos diferentes, foi atualizado neste sábado (24) e mostra que Lula (PT) aumentou suas intenções de votos válidos, isto é, quando se desconsidera os brancos e nulos, e já tem índice maior que o mínimo para vencer a eleição no primeiro turno e encerrar o pleito.

Após as últimas pesquisas do Ipec, Quaest, Datafolha e Ipespe apontarem crescimento de Lula, o agregador do Estadão calculou que o petista possui 52% dos votos válidos - pela primeira vez desde o início da medição. Para que um candidato vença a eleição já no primeiro turno, basta conseguir 50% e mais um voto.

Segundo o agregador, Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, está com 36% de intenções de votos válidos. Ciro Gomes (PDT) soma 7% e Simone Tebet (MDB) aparece com 5%.

Segundo o Estadão, o mecanismo "usa dados dos levantamentos de 14 empresas, considerando suas peculiaridades metodológicas, para calcular a Média Estadão Dados - o cenário mais provável da disputa a cada dia, de acordo com nosso modelo".

"A média de cada candidato não é a simples soma dos resultados e divisão pelo número de pesquisas. O agregador controla diversos parâmetros e dá pesos diferentes aos levantamentos para impedir que números destoantes ou desatualizados puxem um dos concorrentes para cima ou para baixo", explica o jornal.

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Com informações da Revista Fórum.

Novo ‘Vira voto’ reúne Milton Nascimento, Ziraldo e mais artistas por Lula no 1º turno

 

“Cada vira voto é coragem, resistência e esperança”, cantam os artistas. (FOTO/ Reprodução/YouTube).

Mais um grupo de artistas se juntou para ampliar a mobilização que passou a ser chamada na internet de “Vira Voto”, em novo filme que defende o voto no candidato da coligação Brasil da Esperança à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O objetivo é que o ex-presidente obtenha uma vitória expressiva já no primeiro turno das eleições, em 2 de outubro. O vídeo foi lançado nesta sexta-feira (23), pelo coletivo 342 Artes.

Os cantores e compositores Milton Nascimento e Lenine são alguns dos destaques do novo clipe. Ao todo, cerca de 40 pessoas dão seu recado, num total de aproximadamente dois minutos de duração. No vídeo, estão ainda o cartunista Ziraldo, além de nomes como Carol Castro, Enrique Diaz, José de Abreu, Julia Lemmertz, Maria Gadú, Paula Morelembaum, Preta Gil, Thomas Aquino, Zélia Duncan, Malu Mader, Leandra Leal e Bruna Marquezine, entre outros nomes.

Do primeiro vídeo, lançado na quarta (21), entre os mais de 50 artistas, participam Arnaldo Antunes, Caco Ciocler, Caetano Veloso, Casagrande, Chico César, Cissa Guimarães, Cláudia Abreu, Dado Villa-Lobos, Daniela Mercury, Denise Fraga, Drica Moraes, Evandro Mesquita, Gal Costa, Mart´nália, Nando Reis e Silvero Pereira.

Contra golpes

A adesão vem crescendo a cada dia, ao tempo em que cresce a possibilidade de derrotar Bolsonaro, de forma que o presidente não possa questionar o resultado das urnas, nem alimentar a mobilização por um golpe. Nesta semana, Lula também se reuniu com ex-candidatos a presidente da República, que também defenderam a necessidade da vitória do petista logo na primeira volta. Nesse sentido, pretendem evitar mais violência bolsonarista, em eventual segundo turno.

Esses movimentos já apresentam resultados. Pesquisa Datafolha divulgada ontem (22) indica que Lula oscilou dois pontos pra cima, chegando a 47% das intenções de voto. Bolsonaro, por outro lado, aparece estagnado, com 33%, em segundo lugar. Considerando apenas os votos válidos (descontados nulos, brancos e nenhum), o petista tem 50,5%, o que lhe daria a vitória na primeira volta.

Assista ao vídeo

           

Com informações da RBA.


“Minha geração é formada por intelectuais negros ignorados pela universidade”, diz Sueli Carneiro

 

(FOTO | Matheus Alves)

Sueli Carneiro recebeu, nesta quarta-feira (21), o título de Doutora Honoris Causa, pela Universidade de Brasília (UnB). Ela é a primeira mulher negra a receber a homenagem nesta instituição de ensino. Antes dela, apenas três homens negros haviam recebido a outorga: Abdias do Nascimento, Milton Santos e Nelson Mandela.

A condecoração foi dada pelas mãos da reitora Márcia Abraão. No auditório Esperança Garcia, da Faculdade de Direito, estavam cerca de 500 pessoas. Em seu discurso, Sueli disse que, a sua geração de militantes negros “foi educada e conscientizada pelo movimento negro, por seus intelectuais ignorados pela universidade brasileira”.

Portanto, sei que este título presta reverencia a pensadores e pensadoras que forjaram nossas consciências, nossas vozes insurgentes, no calor das lutas que travaram contra o racismo e o sexismo”, ressaltou Carneiro.

Durante sua trajetória, Sueli Carneiro se empenhou em "desnudar os dispositivos de saber e poder implicados na persistente reprodução da inferioridade social das pessoas negras". Para ela, a luta mais importante da humanidade é conquistar a equidade de gênero e de raça.

Neste sentido, me ocupei em desagregar racialmente dados censitários para produzir evidências das desigualdades raciais entre as mulheres. Me ocupei em afirmar valores culturais negro-africanos que sustentam a identidade e a resistência das mulheres negras. Me ocupei em produzir argumentos para consubstanciar uma estratégia política, de enegrecimento do ideário feminista, em especial, no âmbito das políticas públicas voltadas para a promoção da igualdade de gênero”, disse em seu discurso.

Por fim, ela declarou que compreende o título como o reconhecimento da justeza das lutas das mulheres e homens negros que “clamam por um novo pacto civilizatório que desaloje os privilégios consagrados de gênero e de raça".

À Alma Preta Jornalismo, colegas e admiradores de Sueli Carneiro disseram que este é um momento memorável. A advogada Vera Lúcia, que compõe a lista tríplice para o cargo de ministra do Tribunal Superior Eleitoral, conviveu com Sueli e ressalta que é um grande marco para a universidade brasileira, uma aula que a UnB oferta para as demais instituições.

O professor Wanderson Flor do Nascimento afirmou que a ativista é uma referência de luta tanto militante como intelectual. Para ele, essa reverência às pessoas negras precisa ser feita ainda em vida, para que “mantenhamos os nossos símbolos vivos”.

Bianca Santana, diretora da Casa Sueli Carneiro, expôs à reportagem que foi uma emoção muito grande ver Sueli e outras mulheres negras da mesma geração serem homenageadas neste momento. Ela, que escreveu a biografia de Sueli Carneiro, diz que a responsabilidade das mulheres mais novas é de continuar e documentar os feitos históricos das mais velhas, aprendendo sempre um pouco mais sobre a luta e perseverança das mulheres negras.

O papel dessas gerações se acumulaa nas nossas interações. A gente quer construir junto com as nossas ancestrais, com as mais velhas, preparando o caminho para quem vem depois”.

A UnB foi a pioneira entre as universidades federais que implantaram o sistema de cotas raciais. Este ano, foi criada a Secretaria de Direitos Humanos, com o objetivo de fortalecer as políticas de direitos humanos, e está sob chefia da professora Débora Santos.

Autora de oito livros e vários artigos sobre o racismo no país, Sueli Carneiro defendeu em 2005 a tese 'A Construção do Outro como Não-Ser como fundamento do Ser', no curso de Filosofia da Universidade de São Paulo, em que utiliza os conceitos de Dispositivo e Biopoder, de Michel Foucault, para analisar as relações raciais no Brasil. Em sua vasta publicação, defende a necessidade de enegrecer o feminismo e denuncia o apagamento ou epistemicídio de mulheres negras que chegam ao poder.

Por sua obra e militância, a filósofa paulista recebeu vários prêmios, dentre eles: Prêmio Kalman Silvert (2021), Prêmio Especial Vladimir Herzog (2020), Prêmio Itaú Cultural 30 Anos (2017), Prêmio Benedito Galvão (2014) e Prêmio Direitos Humanos da República Francesa. Também foi integrante do Conselho Nacional da Condição Feminina, onde criou o único programa brasileiro de orientação na área de saúde voltado para mulheres negras.

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Com informações do Alma Preta.

Elmano vence Capitão Wagner e Roberto Cláudio em segundo turno, aponta IPEC Ceará

 

Legenda: Candidatos ao Governo do Ceará. ( FOTO | Thiago Gadelha).

A terceira rodada da pesquisa Ipec Ceará para o Governo do Estado, divulgada nesta quinta-feira (22), voltou a questionar os eleitores cearenses sobre votos em um eventual segundo turno. Ao todo, foram apresentados três cenários com os três candidatos que aparecem à frente na pesquisa: Elmano de Freitas (PT), Capitão Wagner (União Brasil) e Roberto Cláudio (PDT). 

Considerando a margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, há uma mudança de cenário entre os três postulantes.

O levantamento foi encomendado pela TV Verdes Mares e ouviu 1.200 pessoas em formato presencial. A pesquisa foi realizada entre os dias 19 e 21 de setembro, com eleitores votantes no Estado do Ceará. A soma dos percentuais pode não totalizar 100% em decorrência de arredondamentos.

ELMANO DE FREITAS (PT) x CAPITÃO WAGNER (UNIÃO)

Elmano de Freitas: 47%

Capitão Wagner: 35%

Brancos/Nulos: 11%

Não sabem ou preferem não opinar: 7%

ROBERTO CLÁUDIO (PDT) x CAPITÃO WAGNER (UNIÃO)

Roberto Cláudio: 43%

Capitão Wagner: 35%

Brancos/Nulos: 16%

Não sabem ou preferem não opinar: 6%

ELMANO DE FREITAS (PT) X ROBERTO CLÁUDIO (PDT) 

Elmano de Freitas: 40%

Roberto Cláudio: 34%

Brancos/Nulos: 18%

Não sabem ou preferem não opinar: 8%

O levantamento foi realizado pelo instituto Ipec Inteligência e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob número BR-02694/2022 e no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) sob protocolo CE-03914/2022. O nível de confiança estimado é de 95%.

RODADA ANTERIOR DA PESQUISA IPEC

Na segunda rodada da pesquisa Ipec para o Governo do Ceará, divulgada no último dia 9 de setembro, os cearenses indicaram suas preferências em cenários de segundo turno. À época, os três postulantes estavam tecnicamente empatados dentro da margem de erro. 

Nos enfrentamentos, no entanto, Capitão Wagner aparecia numericamente à frente dos dois adversários. Já quando Elmano e Roberto Cláudio se enfrentavam, apesar do empate, o pedetista aparecia numericamente com vantagem.

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Com informações do Diário do Nordeste.

Líderes latino-americanos pedem a Ciro que desista de candidatura em nome da democracia

 

Carta a Ciro Gomes: "Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder". (FOTO  | Marcello Casal Jr. | ABr).

Carta aberta divulgada nesta quarta-feira (21) por intelectuais e líderes políticos latino-americanos pede ao candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) que desista de sua candidatura para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para que ele possa vencer no primeiro turno, em 2 de outubro. No texto, os líderes justificam o pedido “porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno”.

A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo”, afirma ainda o texto.

A carta inclui nomes como o do argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, do ex-presidente Rafael Correa, da senadora Piedad Córdoba, do deputado venezuelano Juan Eduardo Romero e o ex-ministro boliviano Juan Ramón Quintana Taborga.

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Com informações da RBA.