Tese de doutorado de Sueli Carneiro vai virar livro

Sueli Carneiro, 71 anos (FOTO |Andre Seiti/Divulgação).

Por Nicolau Neto, editor

Um dos grandes nomes do ativismo em prol dos direitos humanos, especialmente da população negra brasileira, a filósofa Sueli Carneiro terá sua tese de doutorado publicada no formato de livro. A informação foi divulgada pelo site Geledés nesta sexta-feira, 17.

A tese de doutorado da filósofa foi defendida em no ano de 2005 na Universidade de São Paulo (USP) e a editora Zahar será a responsável pela publicação no formato de livro.

Segundo o Geledés, o livro intitulado “O Dispositivo da Racialidade” analisa as dinâmicas raciais no Brasil a partir de autores como Charles Mills e Michel Foucault. A obra deve chegar às livrarias no segundo semestre deste ano, em edição revista por Carneiro, com a colaboração da professora da Unicamp Yara Frateschi.

É utópico uma sociedade sem racismo?

O movimento Black Lives Matter ganhou força após o assassinato de George Floyd. (FOTO  |Freepik).

Adiei por uma semana escrever esse texto porque o assassinato de Genivaldo me deixou impactada de tal forma, que eu precisei de um tempo para elaborar e colocar em palavras de forma analítica. Mesmo depois dessa uma semana, continuo não tendo muito sucesso em ser analítica sobre o assunto, assim como nunca conseguirei ser fria com qualquer caso de corpos pretos assassinados pelo Estado.

A necropolítica (política de morte) não assassina “só” a vítima dessa ação programada, mas também todo um grupo que possui características alvo para ser morto. Quando um preto morre, todos morremos um pouco. Morremos enquanto sociedade. E, por isso, é preciso expor essa dor que sentimos a cada vida tirada, a cada ataque sofrido, porque é essa dor que nos torna conscientes e tomar consciência é o que nos impulsiona a buscar mudanças.

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança, de um total de 6.416 brasileiros mortos por intervenção policial em 2020, 78,9% eram negros. A taxa de letalidade em operações policiais é 2,8 vezes maior entre negros do que entre brancos. Esses dados são alarmantes!! Quem não se preocupa está no auge do seu privilégio e bolha branca, sem o menor risco de ser morto na primeira esquina. Esses dados são reflexos de um país estruturado no racismo. Por tanto, parece que nenhum tipo de ação seria útil para mudar esse cenário e, a curto prazo, infelizmente, não será útil.

A sociedade se desmorona quando a sua base é retirada e, nesse caso, é preciso que de fato desmorone. Que se reconstrua em cima de uma base mais justa e isso leva muito tempo. É cansativo ter que ficar levantando essa mesma pauta a todo momento, mas a repetição ainda é necessária. É ser antirracista na sua família, na sua roda de amigos, na sua profissão. É passar um olhar antirracista para as futuras gerações, ter políticas públicas e um sistema judiciário com esse mesmo olhar.  Sei que às vezes parece utópico demais lutar por um mundo sem racismo, mas ficarmos calados é uma opção menos produtiva ainda.

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Por Marina Lopes, publicado originalmente no Notícia Preta.

As mortes de Dom Phillips e do Bruno são fruto do drama civilizatório que o Brasil vive

(FOTO | Reprodução).

Por Ivanir dos Santos

As mortes do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira são parte integrante do drama civilizatório que o Brasil vive após a escalada de um conservadorismo preconceituoso e assassino.

Aos olhos menos atentos pode não parecer tão intrínseco, mas no fundo, o Racismo, a lgbtfobia, a intolerância religiosa, o morticínio negro, indígena e feminino, a demonização do amor a Amazônia, do cuidado com o planeta que é o único lugar do universo por nós habitável, estão ligados ao mesmo processo absurdo regado a ódio e mentiras que iludem e criam narrativas que atendem plenamente aos desejos e anseios de camadas sociais e populacionais que se deixaram levar por esta onda de absurdos que tomou de assalto o nosso país, ancorada em mentiras, corrupção e manipulação.

As mortes ocorridas na Amazônia, são frutos das mesmas crenças que normalizam as mortes nas favelas, as agressões a pessoas trans, LGBTQIA+, dos abusos contra mulheres justificados vergonhosamente culpabilizando as vítimas.

São as sementes de uma era que não irá acabar com a não reeleição deste desgoverno, pois, as sementes do fascismo seguirão tentando ocupar o poder.

Derrota eleitoral é só a primeira que eles precisam sofrer.

Escola de tempo integral Menezes Pimentel promove Semana Movimenta ENEM

Estudantes da Escola de tempo integral Menezes Pimentel, em Potengi, no aulâo de Humanas. (FOTO |Menezes Pimentel).


Por Nicolau Neto, editor

Estudantes dos terceiros anos da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Menezes Pimentel, no município de Potengi, no cariri cearense, estiveram mobilizados em resolverem itens de edições anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio.

As ações tiveram início no último sábado, 11, pela manhã, com a área de Ciências Humanas com questões dos componentes História, Geografia, Filosofia e Sociologia e sequenciadas na segunda, terça e quarta e sempre no período noturno, com as áreas de Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia), Linguagens (Português, Espanhol, Inglês, Artes e Educação Física) e Matemática, respectivamente.

Cada área do saber buscou contribuir na preparação para a edição ENEM 2022 de forma crítica e lúdica concomitantemente. "Foram momentos muito ricos em interação e conhecimento" asseverou Graciela Rodrigues, diretora da instituição. "Estamos felizes e orgulhosos pela participação ativa de vocês (estudantes) em todas as atividades propostas pelos professores. Valeu a pena cada momento que eles dedicaram para organizar as atividades da Semana Movimenta ENEM. Vocês são nota 1000", complementou.

Karolline Gonçalves, do 3 Ano A,  classificou a semana como "fantástica", ao tempo que parabenizou a todos.  "Parabéns a todos os envolvidos na organização da semana enem!!! Todos os dias foram magníficos, repletos de aprendizado e de descontração. Foi fantástico. Obrigada por pensarem sempre em tudo e em todos dessa forma tão sublime", destacou.

Professoras e professores ficaram satisfeitos com a disponibilidade e participação dos estudantes.

Para ver os registros dos quatro dias basta acessar o perfil da escola no Instagram @menezes.pimentel.ptg

Política do pão e circo das Prefeituras

 

(FOTO | Portal Veganismo).

Por Alexandre Lucas, Colunista 


Ainda é ocasional a política de fomento à cultura praticada pela  maioria  das prefeituras brasileiras. Os contratos de bons negócios  de seletos e comerciais grupos de artistas ( o que não inclui somente os sertanejos) polemizados nas últimas semanas evidenciam a política do pão e circo, de devastação dos recursos públicos e do foco populista e eleitoral recorrente pelos gestores municipais. A situação demonstra que existe uma disparidade entre as políticas públicas para a cultura e a política dos gabinetes. 

Os municípios continuam promovendo verdadeiras farras com o dinheiro público, através de contratos engordados que não promovem desenvolvimento social e  econômico para as cidades. Essa questão precisa ser aprofundada, debatida e combatida. Os gestores municipais ao tom do seu capricho não devem fazer o financiamento público do setor privado, através das grandes aglomerações da industrial cultural de consequências predatórias.

Os gestores municipais ao escolherem esse tipo de política caminham no sentido adverso do que vem sendo construído e debatido no campo da democratização da produção simbólica do povo brasileiro, mesmo  sob  ataques frequentes e destruidores do Governo Bolsonaro, os segmentos da cultura ligado ao campo democrático e a esquerda brasileira tem apresentado caminhos lúcidos para colocar a cultura na centralidade e na transversalidade da política pública.  

O principal marco legal para cultura nos últimos anos ( fruto do Governo Lula-Dilma)   é o  Sistema Nacional de Cultura, o qual  precisa ser defendido e consolidado no país, por prevê o planejamento participativo, a descentralização de recursos e os mecanismos de controle e participação social. É um mecanismo que pode revolucionar a cultura e movimentar a economia nos estados e municípios. A experiência da Lei Aldir Blanc possibilitou a efetivação da descentralização de recursos da União  para os municípios e os estados Brasileiros, criando condições de democratização estética, artística, literária e cultural e movimentando  a economia da cultura.    

Após o cessar dos recursos da  Lei Aldir Blanc, o que percebemos é a política da mixaria por parte dos municípios para fomento e manutenção dos equipamentos culturais e do patrimônio histórico e arquitetônico. A política de fomento deve considerar que os trabalhadores e as trabalhadoras da cultura não sobrevivem de forma esporádica.   

Neste momento é essencial a derrubada dos vetos de Bolsonaro,  as Leis Paulo Gustavo ( de caráter emergencial) e a Lei Aldir Blanc 2, a qual representará uma conquista permanente para o setor cultural que terá repercussão direta nos estados e municípios do país.  Paralelamente precisamos defender a  garantia  percentuais mínimos de recursos para a cultura, como  já é previsto para a Educação e a Saúde.   

Ao mesmo tempo, devemos fazer o combate a política do pão e circo das prefeituras, os conselhos municipais de cultura  e o Ministério Público podem desempenhar um papel essencial na luta contra o mau uso dos recursos públicos. Afinal, aqui não é Roma!

A Escola da Afrodescendência no Ceara.

 

Professor Henrique Cunha Junior na biblioteca do Sesc São Carlos. (FOTO/ Danny Abensur).

Por Henrique Cunha Junior*

Estamos saindo dos dias de muito trabalho e de muita alegria que foi da defesa de duas teses de doutoramento orientadas por mim, com a temática do espaço urbano, da identidade e da historia dos afrodescendentes no pós - abolição. Tese de Kassia Mota e Juliana Yade. Temos rupturas epistemológicas, teóricas e conceituais. Utilizamos conceitos próprios, bibliografia pouco usual nos trabalhos realizados no Brasil sobre população negra. Esta é a nossa marca forte  de uma densa bibliografia de africanos e afrodescendentes. Afinal de contas temos mais de 30 teses de doutoramentos feitas por nós no Ceara com este tema e mais de 50 mestrados.  São 20 anos de trabalho na universidade, mais de 30 na realidade fora daqui,  no campo das relações sociais s da população negra, criando termos e renovando principalmente o vocabulário , para propiciar um real novo discurso. Em 1994 em um seminário no USP a minha palestra foi sobre a necessidade constante de renovação dos termos e dos conceitos para termos uma nova ciência e uma nova consciência acadêmica sobre os fatos da sociedade. Podemos inovar e criar já recriando o nosso próprio arquivo pessoal. 

A proposta metodológica era que o espaço, contem um território, nele estão às histórias, as culturas, as relações sociais e econômicas nele se inscrevem e escrevem a vida das pessoas e das comunidades. Nestes lugares desenvolve a vida que vivemos e que nos interessa como tema de pesquisa. A existência de lugares, localidades, bairros, partes das cidades e cidades de maioria afrodescendentes guarda os fatos relevantes para compreensão das relações sociais desta população negra e das pessoas. Um fato importante da nossa forma de pesquisa é que o pesquisador é sujeito da própria pesquisa, assim com o pesquisado também é sujeito, não temos o clássico objeto de pesquisa a ser recontado e dissecado. Temos um todo a ser compreendido em maior profundidade, sendo que os pesquisadores vêm destas realidades, as conhece e apena aprofundam as sua visões e teorizam sobre este aprofundamento. Tratam as realidades vividas e conhecidas nos seus trabalhos. Quem é que vive e sofre a subalternização imposta pelo racismo anti negro e não o conhece? As salas de aulas dos programas de pós-graduação e as posturas teóricas da maioria dos professores que temos nestes programas são orquestrados pelos racismos anti  negros institucionais ( eles ficam revoltados quando afirmo isto e me chamam de complexado , ou de visão deformada, sempre pensam para eu repensar a minha postura e me ditam um bibligrafia, perguntando se eu ja os li). São realidades que vivemos e não escapamos delas mesmo que elas sejam negadas e renegadas pelos nossos amigos ( sim os amigos) e pares acadêmicos. Loucura nesta louca realidade dura em que vivemos. Onde nossos amigos e pares são em partes os nossos obstáculos e oposições para afirmações das nossas propostas novas de interpretações da realidade. Aqui no Ceara avançamos um pouco, muito pouco, o espaço é muito apertado e desencorajador. Se fizemos outras coisas seriamos mais bem sucedidos teríamos mais dinheiro de pesquisa e mais facilidades, mas não o fazemos, fazemos o que queremos, que vemos necessidade e isto se opõe a sociedade acadêmica, aos interesses contrários e mesmo de parte dos negros na universidade. Compreenda é um sistema as partes destoante precisam serem eliminada e nada melhor que o seja , para coerência do sistema,  pela falha e interesses dos próprios dissidentes. Inclusos os das relações interpessoais e afetivas. 

Sim a ruptura conceitual parte do reconhecimento da Africanidade brasileira e da nossa afrodescendência. Sabemos das nossas origens, do nosso passado e do presente e cristalizamos isto na historias oficiais com fruto da nossa pesquisa acadêmica. Criamos um campo de embates, pois conhecimento universitário é poder. Estamos fazendo esta disputa de poder. Mesmo que não quiséssemos ela existe, mesmo que não a enfrentamos elas nos prejudicam. As políticas públicas se nutrem destes conhecimentos, ou dos desconhecimentos. Quem não tem pesquisa acadêmica própria não tem política pública, esta é a realidade que o real não se expressa se não sobre o dado acadêmico. Temos uma produção que faz fronteira e certa oposição ao eurocentrismos, este centralizador das perspectivas acadêmicas brasileiras. Eurocentrismos dominantes e eloquentes na produção de conhecimento no Brasil. A universalidade do conhecimento é um discurso dominante. A grande maioria quer ter um lugar universal, mesmo que colonizado e dependente, sub serviente. É hegemônico o ocidente na nossa realidade e consciência, desloca-lo é uma tarefa difícil. O pendulo entre africanos e europeus, entre sociedades africanas e asiáticas e ocidentais, no campo do conhecimento, no Brasil, ainda não oscila, permanece inerte.  Nós apenas ensaiamos um pequeno deslocamento e isto nos faz inovador e realizador, isto me deixa contente, mas ciente das consequências. 

Nas defesas estava nas bancas o Professor kabengele Munanga, meu grande irmão e amigo de muitas lutas e vitórias acadêmicas.Vitórias pois sobrevivemos com algum sucesso, outros morreram ou desistiram. Algumas derrotas, em fim, de saborearmos e amargamos as nossas construções. Dele saiu a consideração que nós criamos através desses trabalhos uma “Escola da Afrodescendência no Ceara”, e nela mora a nossa originalidade epistemológica e teórica. Sim, este é um sentimento que dormi com ele na cabeça de ontem para hoje. Estamos formulando uma escola de pensamento, neste trabalho com a professora Sandra Petit, Joselina da Silva, dentro do programa de pós-graduação  e com  outros fortes colaboradores no Ceara como as professoras Rosa Barros e Cicera Nunes. Como outras e outros grandes colaboradores externos de muito tempo e muitas aventuras no terreno da universidade. Nada de útil, como de necessário, sobre tudo inovador se faz sozinho, sem um campo de trabalhos conjuntos. Esta deveria ter sido a grande aquisição desta escola da afrodescendência no Ceara. Este foi o único grande aprendizado do meu trabalho na França, tudo depende do conjunto. 


Bom,  temos um tempo de algumas certezas e muitas incertezas. Os ambientes são movediços. Existe um campo das relações pessoas no Brasil que infelizmente supera o das competências e dos feitos necessários. Este campo dos interesses de pessoas e de grupos, sem força conceitual, teórica, mas em torno de fatos tem prejudicado o nosso desenvolvimento como conjunto de oposição as sociedades racistas e aos feitos e desfeitos acadêmicos destes. Por isto é que não sei do futuro do que estamos realizando. Mesmo partes do próprio movimento negro tem dificuldade em assimilar e avaliar a propriedade dos feitos e procura então explorar os defeitos que nem estão na teoria e nem nos conceitos, mas na pessoa, que é muito imperfeita, eu. Também no que representa o que estamos fazendo às vezes fere os egos e as vaidades. Mesmo assim continuamos, gostaríamos que houvesse maior reflexão e maior discernimento nas decisões, mas esta difícil. Hoje comemoramos, amanha continuamos trabalhando, mesmo eu estando cansado e quase parando.

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Henrique Cunha Junior. é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.

Pesquisa diz que ações para indígenas nas universidades são insuficientes

 

Imagem mostra uma sala de aula e indígenas estudando. (FOTO |UEM).


Uma análise elaborada pelo Grupo de Estudos Multidisciplianares da Ação Afirmativa (Gemaa) apontou que as ações voltadas para as comunidades tradicionais indígenas nas universidades públicas do Brasil ainda estão longe de ser ideais e inclusivas. Metade das 106 universidades públicas do país contavam com ações afirmativas formuladas especificamente para a população indígena em 2019, segundo levantamento feito em parceria com o Iesp/Uerj (Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Segundo o estudo, 53 instituições de ensino distribuídas em 18 estados tinham políticas afirmativas específicas para essa população. Desse total, 23 universidades federais tinham arranjos que extrapolavam o previsto pela Lei 12.711/2012, a Lei de Cotas, e outras 30 universidades estaduais haviam criado leis específicas para indígenas.

O levantamento enfatiza que as ações afirmativas pensadas especificamente para a população indígena são necessárias porque a educação de base desses povos é diferente do modelo de ensino tradicional.

Processos seletivos específicos

Os dados do levantamento revelam que as políticas de ação afirmativa para a população indígena estão presentes em todas universidades federais em 2019, mas isso apenas por conta da existência da Lei 12.711, de 2012. Outro dado alarmante é o fato de que 44 universidades federais (de um total de 67) destinam cotas para indígenas apenas com base nessa lei, o que demonstra, por outro lado, que elas não fomentam medidas específicas para beneficiar esta população.

Quando isso acontece, ignoram um dos principais objetos de preocupação de pesquisadores e defensores das causas indígenas: a necessidade de haver processos seletivos direcionados, posto que, em muitos casos, a educação de base dos índígenas ocorre num formato diferente do ensino tradicional cobrado no Exame Nacional do Ensino Médio [Enem], por exemplo”.

O fato de a política racial das universidades federais transferir eventuais vagas não preenchidas pelos indígenas aos negros, modelo também seguido por algumas estaduais, somente contribui para aumentar as incertezas acerca da efetividade das ações afirmativas para esse grupo da população, segundo o Gemaa.

No total, 26 universidades públicas possuem processos elaborados para contemplar os indígenas, mas apenas 3 delas levam em consideração a realidade dessa parcela da população em suas provas de seleção.

Esses números são ainda muito baixos para fazer frente ao universalismo do Enem, método de seleção tão criticado pelos especialistas que se debruçam sobre o acesso dos indígenas à universidade”, diz a análise.

Por outro lado, 9 universidades estaduais não têm qualquer política de ação afirmativa voltada à população indígena. Assim, se há críticas quanto à efetividade da Lei 12.711 para a inclusão de indígenas, a situação poderia ser ainda pior sem a legislação.

Isso é especialmente verdadeiro no atual contexto político do país, em que os representantes do governo aumentaram os cortes de investimentos no ensino superior – e, além disso, encaram o conhecimento científico e valores como a promoção da diversidade como inimigos nacionais”, destaca o estudo.

Início das ações

Com foco em dados coletados até 2019, a pesquisa mostra que as primeiras políticas de ação afirmativa voltadas especificamente para indígenas em cursos regulares de graduação foram implementadas nas universidades estaduais do Paraná em 2001, por efeito da Lei Estadual nº 13.134, de 18 de abril.

A lei reservava apenas 3 vagas por instituição e foi concebida sem consultas aos(às) representantes das universidades ou aos(as) próprios(as) indígenas. Ademais, se valia de definições preconceituosas como a de índio “relativamente incapaz”, utilizada como justificativa ao longo do debate parlamentar que levou a sua aprovação”, ressalta a análise.

No caso do Paraná, a Lei Estadual, que amparou tal política, entrou em vigência antes de a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) implementarem cotas para negros(as) em 2003. Porém, essas duas universidades não criaram políticas específicas para indígenas no desenho original de suas políticas.

Contudo, enquanto a experiência paranaense permaneceu relativamente desconhecida, as cotas para negros(as) se tornaram tópico de debates acalorados no cenário nacional por anos. Isso teve o efeito não planejado de abrir espaço para a concepção de programas de ação afirmativa para indígenas (e para outros grupos raciais como os quilombolas) nas universidades públicas”, destaca o informe.

Resultados

Em 2019, havia 53 universidades públicas com ações afirmativas desenhadas exclusivamente para indígenas. A existência desse tipo de política, segundo o estudo do Gemaa, demonstra um certo receio por parte dos representantes das universidades, e dos estudiosos e militantes da causa, a começar pelos próprios indígenas.

Esses grupos tendem a questionar os métodos frequentemente utilizados para selecionar indígenas dentro do recorte Pretos, Pardos, Indígenas (PPI), o qual rege a política federal desde 2012, e que, em configurações similares, também encontra espaço em muitas universidades estaduais”, explica.

O temor desses grupos, de acordo com a análise, é que tal recorte não esteja contemplando efetivamente os povos indígenas, pois, de acordo com o estudo, a pauta das ações afirmativas não pode ser a mesma para todos os excluídos.

Não existe uma única e mesma exclusão, as razões históricas são distintas, os sistemas de preconceitos idem”, finaliza o levantamento.

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Com informações da Alma Preta.

Secult Ceará realiza Seminário Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade

(FOTO | Hélio Filho).

A Secult Ceará realizou Seminário “Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade”, nesta terça (7), no Crato. Na ocasião, o secretário da Cultura do Estado do Ceará, Fabiano Piúba, apresentou a Carta “Chapada do Araripe - Somos Patrimônio da Humanidade”, destinada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A carta tem o objetivo de repactuar, junto a gestores públicos e instituições envolvidas, a iniciativa da Campanha da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade.

Em sua fala de abertura, representando a governadora Izolda Cela, Fabiano Piúba ressaltou que no início de 2023 a Chapada do Araripe irá integrar a lista indicativa do Iphan, que seleciona os bens que concorrem à chancela de Patrimônio da Humanidade junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Durante a abertura do seminário estiveram também presentes o secretário do Meio Ambiente do Ceará, Artur Bruno, por meio de vídeo; o reitor da Universidade Federal do Cariri, Ricardo Ness; o vice-reitor da Universidade Regional do Cariri, Carlos Kleber; o vice-prefeito do Crato, André Barreto; o prefeito de Santana do Cariri, Samuel Werton; o prefeito de Potengi, Edson Veriato; o prefeito de Salitre, Dorgival Pereira Filho; o sociólogo e ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira; o gerente de Cultura do Sesc-CE, Alemberg Quindins; a educadora e integrante do Grupo de Valorização Negra do Cariri, Valéria Carvalho; e a presidenta do Instituto Dragão do Mar, Rachel Gadelha.

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Com informações da Secult CE.