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Memória da população negra, por Henrique Cunha Júnior

 

(FOTO | Danny Abensur).


Memória é assunto importante, entretanto subjetivo. A memória é a base da historia de populações, sendo, portanto um documento da historia. Temos que história é o reconhecimento da existência de um grupo social e da sua inscrição na sociedade. O que não faz parte da historia é como não houvesse existido ou não tivesse importância em ter existido. Portanto numa sociedade de hierarquias sociais e de dominação entre os grupos sociais a memória e historia são componentes importantes para os direitos culturais, históricos e sociais. Brasil não se escreveu a história do escravismo criminoso na perspectiva da população negra pois seria peça para cobrança de indenizações e reparações sociais por estes crimes baseado na justiça da democracia liberal atual. As memórias dos grupos populacionais são especificas e formadas a partir da cultura processada pelo grupo social. Temos que a memórias é particular e especifica dos grupos sociais. Visto que os fatos sociais que tem importância para o grupo social não tem a mesma importância para os demais. As memórias do escravismo criminoso são importantes apenas para a população negra. Assim como as memórias das comunidades quilombolas tem importância para a população dessas localidades e para historia da população negra.

Sendo que essas memórias quilombolas quando reunidas formam uma peça histórica e que através de processos de reconhecimento pela fundação cultural palmares e pelo INCRA dando direito legal a posse e titulação das terras. Assim a memória e a historia são dois patrimônios culturais das populações que revertem em direitos sociais. Desse fato dos direitos sociais é surgem as controvérsias e disputas sobre a memória e a sua subjetividade.

Parte dos historiadores africanos se dedicaram ao aperfeiçoamento do uso da memória nos seus diversos suportes, como a literatura, a musica, a danças e o teatro na produção da historia. Parte da historia Geral da África é consequência do uso do equipamento documental produzido pelos memorialistas das sociedades africanas. A produção da Historia Geral da África é um marco revolucionário no estudo da historia no mundo ocidental. Sendo que cristaliza os estudos da memória e dos memorialistas dentro dos patamares científicos do ocidente. Foi uma revolução no estudo da historia que parte dos historiadores brasileiros conservadores relutam em aceitar e muito menos em incorporar ao ensino da historia no Brasil. A memória e os memorialistas, e o seu reconhecimento se transformou numa questão política e de relações sociais entre grupos sociais. Estamos falando também de estruturas racistas antinegro inseridos nestas disputas. Os assuntos científicos da memória no ocidente e no Brasil ficaram muito limitados e condicionados a invenção da memória através de uns poucos nomes europeus. Sendo que a cristalização e a limitação dos enfoques reproduzem as geopolíticas da dominação ocidental e do racismo antinegro em suas estruturas de aparência liberal e livremente cientifica. A ciência da historia no Brasil incorporou apenas a referência europeia e não trata as referencias africanas, afro-caribenhas e afrobrasileiras. Portanto a produção da Historia Geral da África apresenta pouco impacto e pouco usa na formação dos historiadores brasileiros por um defeito da cor do poder e da geopolítica do grupo dominante.

Memória seja individual ou coletiva se processa pela lembrança e interpretação dessas lembranças que temos do que foi vivido pelos indivíduos, em dado lugar ou região e num período temporal. São lembranças das paisagens, das localidades, dos fatos, as pessoas e das coisas que envolvem essas pessoas. O lugar sempre é um grande ingrediente da lembrança. Que é composto de coisas, conversas, fatos, relações entre pessoas e pessoas e coisas, de situações impares que pela importância data ficam registradas na mente humana. A razão do registro e forma de registro é variável, as vezes inexplicável, o importante é compõe um conjunto de registros mentais e que explicam as nossas existências. As lembranças tem lugar, cenário, familiar, de trabalho, de casa, da escola e de lugares por onde passamos. A lembrança é um elo com o passado, é uma interpretação do passado onde vivem as pessoas e onde construíram as sua existência. A lembrança é marca em ter existido.

Das lembranças decorre a memória, como uma sistematização. Temos como primeira instancia as lembranças que formam a memória e constituem um forma individual ou coletiva de recuperar o passado, seja por problemas sentimentais, de se localizar no mundo vivido, seja por problemas de ordem política da afirmação das existências dos grupos sociais, a base da primeira forma da memória que possibilita a recuperação do nosso passado. As lembranças e as memórias são especificas dos grupos sociais, da mesma forma que deveriam ser os conceitos científicos do tratamento dessas. Decorre também a impossibilidade de uma historia universal ou universalizada. Sendo esse ainda um enorme problema da pesquisa e do ensino de historia no Brasil. Esses desconsideram as perspectiva das populações negras brasileiras.

A memória da população negra é a síntese das lembranças da vida dessa população dentro dos fatos que são importantes e relevantes na nossa formação cultural. As memórias da população negra são condicionadas a vivência social e cultural das populações negras e é especifica. Para as lembranças da população branca racismo antinegro nunca existiu. Para uma parcela da população negra essa é a lembrança mais cruel das experienciais vividas, mesmo as pessoas não saibam conceitua-las como racismo antinegro. Sendo que racismo não é um problema de raças e sim de política de dominação. Sendo que também não vale pensarmos que na sociedade socialista não haverá racismo antinegro, pois as nossas lembranças são parte do passado e não do futuro.

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Henrique Cunha Júnior é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.


O que foi Grécia? Nada de importante na historia da humanidade.

 

Fragmento de cerâmica ilustrando as Guerras Médicas.  (FOTO | Reprodução | Toda Matéria).


Por Henrique Cunha Junior*

Existe uma ideologia eurocêntrica onde é produzida uma literatura sobre a Grécia que a tornou importante, por não ser comparada e contextualizada com relação aos demais povos contemporâneos e mesmo de períodos históricos diferentes. 

A Grécia nunca constituiu um grande império e muito menos reinos grandes e importantes. Os povos da região da Grécia a pesar do diminuto espaço geográfico ocupado tiveram muita dificuldade em constituir um estado único.

Muito resaltada na nossa formação universitária a Grécia clássica e helênica. Sendo que é um período que nem independência política a Grécia não tinha. O período da Grécia Clássica e Helenística foi a época, compreendida entre os séculos III e II a.C., em que os gregos se encontravam sob domínio do Império Macedônico. O período Clássico e Helenístico foi fundamental na construção da imagem que temos hoje da Grécia. Imagem que não é baseada numa informação sobre demais povos e nem numa comparação com relação a historia política, econômica, militar e cultural dos demais povos. 

O ocorre é que somente é estudada a Grécia, sem ser estudada, a Macedônia, a Pérsia, a Índia, a China, a Núbia, a Etiópia ou mesmo o Egito. Principalmente a Mesopotâmia, entre Sumerios, Babilonios e Assirios e Acadios, que corresponde a povos de desenvolvimento e importância superior aos gregos e contemporâneos da Grécia Clássica e helênica. 

A história da ciência ocidental trata como marcos do seu inicio a filosofia e matemática grega. Não nos é dado a estudar a matemática e filosofia do Egito. Nem dos povos asiáticos. Muito menos a matemática e as ciências desenvolvida no mundo islâmico. Restando pela falta de mais formações e informações que a Grécia é um fato histórico e cientifico de alguma importância real. 

O que resulta a história da Grécia é ensinada como a origem do ocidente e da civilização europeia. Sendo, portanto a origem da superioridade civilizatória pela qual é pensado o eurocentrismo e os processos de dominação geopolíticos produzidos depois do século 17, com a ideia do iluminismo europeu e da consolidação da burguesia europeia. A Grécia tem importância somente ideológica. 

Não existiu um Egito helênico. 

Uma parte considerável dos conhecimentos científicos, artísticos, arquitetônicos e da medicina que são imputados como parte do conhecimento grego forma realizados no Egito, num período da historia tratado como Egito Helênico. Existindo a suposição de o Egito teria sido durante um período histórico colônia grega. No entanto os fatos narrado sobre o Egito são relativos a invasão por Alexandre o grande, que não era grego e sim macedônico. Então o denominado período helênico é um período Ptolomaico, de faraós (mulheres e homens), com origem na cidade de Ptolomeia, que é uma cidade Egípcia. Não existindo no período ptolomaico nenhuma dependência política ou econômica do Egito com relação a Grécia. 

Muitos dos sábios referendados na literatura como gregos não o são. Exemplo é a escola de filosofia de Mileto. Mileto foi parte da Jônia, que na atualidade é região da Turquia. Sendo que a Jônia nunca foi parte da Grécia. Sendo que história pobre e equivocada que recebemos faz essa imperdoável confusão e trata os filósofos da Mileto como gregos.

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Henrique Cunha Junior é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.

Precisamos de uma Ministra da Cultura que entenda dos problemas cruciais da Cultura Brasileira

 

Professor Henrique Cunha Junior na biblioteca do Sesc São Carlos | Foto: Danny Abensur

Por Henrique Cunha Junior*

As ministras e os ministros devem ser pessoas que conheçam o campo técnico dos seus ministérios. Porque causas importantes são resolvidas nesses ministérios e os ministros estrelas dos palcos desconhecem esses enredos. Patrimônios culturais são parte dos direitos populacionais. Ter uma ministra ou ministro que não sabe o que é isto prejudica o reconhecimento das comunidades de quilombos, o acesso a terra quilombola e a fixação de políticas públicas quilombolas. A casa quilombola tem sido resolvida de forma insatisfatória pois não é tratada devidamente pelo ministério da cultura e dificulta as ações no bom encaminhamento.

A presença das populações negras na cultura brasileira e as diretrizes curriculares de todos os níveis da educação brasileira dependem de uma ação conjunta entre o Ministério da Cultura e da Educação. Trata-se também de um problema técnico que os especialistas sabem tratar os artistas nem sempre sabem tratar.

O combate ao eurocentrismo na cultura brasileira deveria ser uma das pautas ministros no sentido de prover a cultura brasileira de elementos culturais que eliminem a dependência cultural com a Europa e o predomínio das ideologias europeias na nossa formação. Essa política tem dois pontos importantes, um é da valorização do pensamento nacional e das pensadoras e pensadores brasileiros. O outro é do combate ao racismo antinegro, pois a estrutura do racismo é parte da cultura eurocêntrica.

A produção de museus, de bibliotecas, centros culturais,  nas periferias, as formas de produção da cultura como lazer das populações deve fazer parte da pauta que o ministério da cultura tem que dar conta para melhoria das condições de vida da população brasileira. São pautas que são de fundamental importância paras as populações de bairros negros e que precisamos de ministros que conheçam esse universo. Ministro não é dar shows e fazer apenas falas bonitas, é para tratar de questões orçamentárias e políticas que viabilizem esses feitos necessários.

As políticas de produção artísticas e editoriais, ir alem dos repasses de verbas para os grupos estabelecidas e ter um ministério da cultura que resolva os problemas das políticas culturais nacional é um urgência. Eu fique muito triste quando o grande artista Gil foi para o ministério, porque sendo um ídolo não foi criticado, mas a operação do ministério em políticas culturais foi mínima.

Pouquíssimas causas baianas forma realizadas, sendo que o restante do Brasil não se viu representado. Portanto cargo de ministra e ministro não é para amador e nem apenas para personalidades, mas para pessoas com formação técnica e cultural sobre os problemas da cultura nacional.

Precisamos de uma ministra da cultura do conhecimento de Narcimaria Luz da Bahia, de  Leda Martins em Minas Gerais, de Zelia Amador no Para, Helena Theodoro no Rio de Janeiro, pessoas que são dos movimentos sociais e conhecem a problemática da cultura nacional e dentro dela da cultura negra.

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Henrique Cunha Junior é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.

A Escola da Afrodescendência no Ceara.

 

Professor Henrique Cunha Junior na biblioteca do Sesc São Carlos. (FOTO/ Danny Abensur).

Por Henrique Cunha Junior*

Estamos saindo dos dias de muito trabalho e de muita alegria que foi da defesa de duas teses de doutoramento orientadas por mim, com a temática do espaço urbano, da identidade e da historia dos afrodescendentes no pós - abolição. Tese de Kassia Mota e Juliana Yade. Temos rupturas epistemológicas, teóricas e conceituais. Utilizamos conceitos próprios, bibliografia pouco usual nos trabalhos realizados no Brasil sobre população negra. Esta é a nossa marca forte  de uma densa bibliografia de africanos e afrodescendentes. Afinal de contas temos mais de 30 teses de doutoramentos feitas por nós no Ceara com este tema e mais de 50 mestrados.  São 20 anos de trabalho na universidade, mais de 30 na realidade fora daqui,  no campo das relações sociais s da população negra, criando termos e renovando principalmente o vocabulário , para propiciar um real novo discurso. Em 1994 em um seminário no USP a minha palestra foi sobre a necessidade constante de renovação dos termos e dos conceitos para termos uma nova ciência e uma nova consciência acadêmica sobre os fatos da sociedade. Podemos inovar e criar já recriando o nosso próprio arquivo pessoal. 

A proposta metodológica era que o espaço, contem um território, nele estão às histórias, as culturas, as relações sociais e econômicas nele se inscrevem e escrevem a vida das pessoas e das comunidades. Nestes lugares desenvolve a vida que vivemos e que nos interessa como tema de pesquisa. A existência de lugares, localidades, bairros, partes das cidades e cidades de maioria afrodescendentes guarda os fatos relevantes para compreensão das relações sociais desta população negra e das pessoas. Um fato importante da nossa forma de pesquisa é que o pesquisador é sujeito da própria pesquisa, assim com o pesquisado também é sujeito, não temos o clássico objeto de pesquisa a ser recontado e dissecado. Temos um todo a ser compreendido em maior profundidade, sendo que os pesquisadores vêm destas realidades, as conhece e apena aprofundam as sua visões e teorizam sobre este aprofundamento. Tratam as realidades vividas e conhecidas nos seus trabalhos. Quem é que vive e sofre a subalternização imposta pelo racismo anti negro e não o conhece? As salas de aulas dos programas de pós-graduação e as posturas teóricas da maioria dos professores que temos nestes programas são orquestrados pelos racismos anti  negros institucionais ( eles ficam revoltados quando afirmo isto e me chamam de complexado , ou de visão deformada, sempre pensam para eu repensar a minha postura e me ditam um bibligrafia, perguntando se eu ja os li). São realidades que vivemos e não escapamos delas mesmo que elas sejam negadas e renegadas pelos nossos amigos ( sim os amigos) e pares acadêmicos. Loucura nesta louca realidade dura em que vivemos. Onde nossos amigos e pares são em partes os nossos obstáculos e oposições para afirmações das nossas propostas novas de interpretações da realidade. Aqui no Ceara avançamos um pouco, muito pouco, o espaço é muito apertado e desencorajador. Se fizemos outras coisas seriamos mais bem sucedidos teríamos mais dinheiro de pesquisa e mais facilidades, mas não o fazemos, fazemos o que queremos, que vemos necessidade e isto se opõe a sociedade acadêmica, aos interesses contrários e mesmo de parte dos negros na universidade. Compreenda é um sistema as partes destoante precisam serem eliminada e nada melhor que o seja , para coerência do sistema,  pela falha e interesses dos próprios dissidentes. Inclusos os das relações interpessoais e afetivas. 

Sim a ruptura conceitual parte do reconhecimento da Africanidade brasileira e da nossa afrodescendência. Sabemos das nossas origens, do nosso passado e do presente e cristalizamos isto na historias oficiais com fruto da nossa pesquisa acadêmica. Criamos um campo de embates, pois conhecimento universitário é poder. Estamos fazendo esta disputa de poder. Mesmo que não quiséssemos ela existe, mesmo que não a enfrentamos elas nos prejudicam. As políticas públicas se nutrem destes conhecimentos, ou dos desconhecimentos. Quem não tem pesquisa acadêmica própria não tem política pública, esta é a realidade que o real não se expressa se não sobre o dado acadêmico. Temos uma produção que faz fronteira e certa oposição ao eurocentrismos, este centralizador das perspectivas acadêmicas brasileiras. Eurocentrismos dominantes e eloquentes na produção de conhecimento no Brasil. A universalidade do conhecimento é um discurso dominante. A grande maioria quer ter um lugar universal, mesmo que colonizado e dependente, sub serviente. É hegemônico o ocidente na nossa realidade e consciência, desloca-lo é uma tarefa difícil. O pendulo entre africanos e europeus, entre sociedades africanas e asiáticas e ocidentais, no campo do conhecimento, no Brasil, ainda não oscila, permanece inerte.  Nós apenas ensaiamos um pequeno deslocamento e isto nos faz inovador e realizador, isto me deixa contente, mas ciente das consequências. 

Nas defesas estava nas bancas o Professor kabengele Munanga, meu grande irmão e amigo de muitas lutas e vitórias acadêmicas.Vitórias pois sobrevivemos com algum sucesso, outros morreram ou desistiram. Algumas derrotas, em fim, de saborearmos e amargamos as nossas construções. Dele saiu a consideração que nós criamos através desses trabalhos uma “Escola da Afrodescendência no Ceara”, e nela mora a nossa originalidade epistemológica e teórica. Sim, este é um sentimento que dormi com ele na cabeça de ontem para hoje. Estamos formulando uma escola de pensamento, neste trabalho com a professora Sandra Petit, Joselina da Silva, dentro do programa de pós-graduação  e com  outros fortes colaboradores no Ceara como as professoras Rosa Barros e Cicera Nunes. Como outras e outros grandes colaboradores externos de muito tempo e muitas aventuras no terreno da universidade. Nada de útil, como de necessário, sobre tudo inovador se faz sozinho, sem um campo de trabalhos conjuntos. Esta deveria ter sido a grande aquisição desta escola da afrodescendência no Ceara. Este foi o único grande aprendizado do meu trabalho na França, tudo depende do conjunto. 


Bom,  temos um tempo de algumas certezas e muitas incertezas. Os ambientes são movediços. Existe um campo das relações pessoas no Brasil que infelizmente supera o das competências e dos feitos necessários. Este campo dos interesses de pessoas e de grupos, sem força conceitual, teórica, mas em torno de fatos tem prejudicado o nosso desenvolvimento como conjunto de oposição as sociedades racistas e aos feitos e desfeitos acadêmicos destes. Por isto é que não sei do futuro do que estamos realizando. Mesmo partes do próprio movimento negro tem dificuldade em assimilar e avaliar a propriedade dos feitos e procura então explorar os defeitos que nem estão na teoria e nem nos conceitos, mas na pessoa, que é muito imperfeita, eu. Também no que representa o que estamos fazendo às vezes fere os egos e as vaidades. Mesmo assim continuamos, gostaríamos que houvesse maior reflexão e maior discernimento nas decisões, mas esta difícil. Hoje comemoramos, amanha continuamos trabalhando, mesmo eu estando cansado e quase parando.

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Henrique Cunha Junior. é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.

Professor Henrique Cunha ministrará palestra em Crato sobre territórios negros e currículos da educação

 

Henrique Cunha. (FOTO/ Danny Abensur).

Por José Nicolau, editor

O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais (NEGRER) da Universidade Regional do Cariri (URCA) divulgou na tarde deste sábado, 30, em suas redes sociais que o professor Henrique Cunha Junior da Universidade Federal do Ceará-UFC estará em Crato para ministrar palestra.

A palestra terá como tema “Territórios negros, bairros negros e os currículos da educação brasileira” e ocorrerá na próxima terça-feira (03) a partir da 19h00 no Geopark Araripe.

Para Henique Cunha, “territórios negros e bairros negros são lugares de pertencimento cultural, social, político e econômico, são lugares de formação das identidades negras. Nesses territórios foram criados se processaram artefatos da cultura negra”. Em que pese ao currículo, ele destaca que um “currículo necessário para as populações negras é um currículo produzido pela reunião dos nossos patrimônios culturais, daqueles que produzem a nossa identidade individual e coletiva e dos marcadores das produções da nossa vulnerabilidade social, dos meios de dominação que são impostos e das formas de redução e combate a ação deles”. (ver aqui).

O evento promovido pelo Negrer tem como parcerias o mestrado profissional em educação-URCA, o mestrado profissional em ensino de história-URCA a partir do edital “Educar para Igualdade Racial na Educação Básica do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT.

Henrique Cunha Júnior possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.

Racismo impõe cegueira mental em face da realidade

 

Professor Henrique Cunha Junior. (FOTO/ Danny Abensur).

Por Henrique Cunha Junior*

Racismo existe pode ser visto e revisto de diversos ângulos e nas suas diversas facetas pelas quais vemos a sociedade brasileira.

Não importa de qual ângulo ou sob qual perspectiva que se aborde a sociedade brasileira e aí temos uma visão do racismo contra a população negra. São visões de todos os ângulos porque é um racismo estrutural a sociedade brasileira. No entanto existem pessoas que não veem e não sentem o racismo.

Portanto, são portadores de uma cegueira mental. Fazem parte da parte da sociedade que não enxerga a realidade e produz uma alienação mental em não ver a realidade. Produz uma doença mental de alienação a realidade. 

Trata-se uma forma do racismo antinegro para não se sentir culpada das condições sociais e das injustiças em que nós população negra vivemos. São parcelas da sociedade que desfrutam dos benefícios da existência do racismo antinegro e, portanto para não se sentirem culpadas e nem injustas desenvolveram uma alienação mental, ficam fora da realidade e negam tudo que veem na realidade. Principalmente o racismo antinegro que elas próprias praticam.

A cegueira mental diante ao racismo antinegro também é uma forma de racismo pela alienação da realidade, não se importam com realidade e não tem ética nenhuma para pensarem em mudar a realidade. Elas estão bem, não importa o restante. São pessoas imbuídas de um profundo individualismo coletivo. Individualismo compartilhado e executado com todo setor da sociedade que comunga da cegueira mental sobre a realidade e a visão do racismo antinegro.

São pessoas que ficam nervosas e agressivas quando alguém afirma diante delas que existe racismo, porque elas  não veem, mas também não poderiam se dizer também surdas. Seria demasiado serem cegas e surdas com relação ao racismo, então investem em silenciar que fala da existência do racismo antinegro.

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* Pesquisador e professor titular da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Territórios negros, bairros negros e os currículos da educação brasileira

 

Professor Henrique Cunha Junior na biblioteca do Sesc São Carlos. (FOTO/ Danny Abensur).

Por Henrique Cunha Junior*

Territórios negros e bairros negros são lugares de pertencimento cultural, social, político e econômico, são lugares de formação das identidades negras. Nesses territórios foram criados se processaram artefatos da cultura negra. Artefatos pelo uso transformaram-se em patrimônios cultuarias e, portanto para da cultura que produzem as identidades negras. 

Territórios negros, patrimônios culturais e identidades são pressupostos para uma base curricular da escola básico, do ensino médio e superior. 

Territórios negros como definição histórica. São territórios produzidos por uma maioria de população negra e pelos elementos cotidianos da produção do espaço geográfico. 

População negra e cultura negra: 

Os modos incidentes sobre o território. O escravismo criminoso e o capitalismo racista. Esses modos de dominação vindo dos grupos dominantes que de formas ilegais impuseram a organização das localidades. Ilegal porque tanto o escravismo criminoso como o racismo são formas estruturais ilegais, em virtude de serem criminosas. 

Estamos falando de formas de coerção, de opressão, de uso da força, de forças psicológicas e ideológica utilizadas contra a população negra e que produziu os racismos estruturais, institucionais, que dificultaram a forma de vida das populações negras. As estruturas de dominação que moldaram de forma desumana, incivilizada a sociedade brasileira. 

Precisamos ter como base que escravismo foi criminoso e as nossas populações foram vitimas do sistema, os crimes foram da população branca, portanto eles que tem que ter vergonha do sistema criminoso que implantaram e exploraram e não nós, negras e negros. 

Os territórios negros possuem a dupla característica, a produção da vida pelas populações negras e as limitações a essa vida digna imposta pelos sistemas de dominação. A base curricular, portanto necessita da produção do espaço pelo fazer social da população. As formas de trabalho, de morar, de plantar, de comercializar, de produção da cultura social, da cultura religiosa e da cultura econômica. Como produzimos a nossas festas, em casa e na comunidade em que vivemos. Como produzimos as nossas historias e casos narrados. Mas também a base de explicação, de compreensão das diversas formas de racismos que limitam a nossa vida e dos meios pelos quais esses racismos podem ser combatidos e eliminados. 

Currículo necessário para as populações negras é um currículo produzido pela reunião dos nossos patrimônios culturais, daqueles que produzem a nossa identidade individual e coletiva e dos marcadores das produções da nossa vulnerabilidade social, dos meios de dominação que são impostos e das formas de redução e combate a ação deles.

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Henrique Cunha Junior. é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). Possui mestrado em Dea de Historia - Université de Nancy- França (1981) e Doutorado Em Engenharia Elétrica pelo Instituto Politécnico de Lorraine (1983) e orienta doutoramentos e mestrados em Educação com temas relacionados a história e cultura africana, espaço urbano, bairros negros.