“Cristo Negro”, pintura de Abdias. (FOTO/ Reprodução redes sociais). |
“Cristo Negro”, pintura de Abdias. (FOTO/ Reprodução redes sociais). |
Avião atingindo Kiev. (FOTO/ Reprodução). |
“Na guerra, a primeira vítima é a verdade”.
Autoria desconhecida
A
cobertura que a mídia hegemônica faz da crise na Ucrânia é alarmantemente
viciada, além de claramente racista e preconceituosa.
Os
meios de comunicação em todo mundo são meros repetidores dos mantras
russofóbicos fabricados em Washington para instrumentalizar a guerrilha
geopolítica e ideológica das “forças do bem”, a civilização ocidental, contra a
“força do mal” – os russos, caucasianos e eurasiáticos.
Em
geral, a mídia não só é subserviente ao “release único” escrito em Washington,
como também é indigente e desonesta. Além de omitir aspectos étnicos,
históricos e culturais dos povos eslavos, também mente, estigmatiza Putin e
falsifica a história.
Na reprodução do noticiário e através de comentaristas vulgares, despreparados ou mal-intencionados, a mídia hegemônica segue omitindo, por exemplo, os antecedentes históricos da crise atual, que se localizam na farsesca revolução Maidan, que desembocou no golpe financiado pelos EUA para derrubar o governo pró-russo de Viktor Yanukovytch em 2014.
A
mídia continua escondendo, também, que a Ucrânia descumpriu o Protocolo de
Minsk, assinado por representantes reconhecidos das repúblicas independentes de
Donetsk e Luhansk e o governo ucraniano com a fiança institucional da própria
União Europeia.
E os
meios de comunicação a serviço de Washington continuam omitindo o perfil
neonazista do presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky e dos agrupamentos de
ultradireita extremista que apoiam o governo.
É
cada vez mais conhecida a conexão entre a ultradireita neonazista ucraniana e
os grupos fascistas e neonazistas no mundo e, também, com o bolsonarismo – Sara
Winter e “Os 300 do Brasil”. Mas, inclusive isso também é sonegado.
Os
EUA exercem sua primazia e hegemonia informacional e comunicacional no mundo
por meio do pensamento único deste jornalismo de guerra. Um jornalismo sem compromisso
com a verdade factual e histórica.
Nas últimas semanas, houve a escalada desta guerra informacional para criminalizar e demonizar o presidente russo Vladimir Putin e incensar o papel dos EUA e da OTAN.
Neste
jornalismo de guerra, todos os veículos hegemônicos no Brasil – absolutamente
todos, é preciso sublinhar – repetiram como papagaios o viés de análise de
Washington. Não ficou de fora nem mesmo um único veículo de nenhum meio de
transmissão – nas rádios, TVs, redes sociais e portais da internet.
Somente
os portais da mídia independente estão desde o início da crise reportando os
acontecimentos desde uma perspectiva abrangente e aberta. Não fossem estes
veículos contra-hegemônicos de informação e comunicação, a população brasileira
seria totalmente entorpecida com o pensamento único russofóbico.
Em
semanas de crise, pela primeira vez apareceu em um veículo da mídia hegemônica
uma abordagem dissonante do pensamento único. Aconteceu só agora, nesta
sexta-feira, 25/2. O portal UOL publicou entrevista em que o analista político
estadunidense Andrew Korybko afirma que “o Brasil e a Ucrânia foram ambos
vitimados pelas guerras híbridas dirigidas pelos Estados Unidos com o objetivo
de fortalecer a hegemonia unipolar norte-americana”.
Da
mesma maneira que a Ucrânia rapidamente deverá assinar a rendição a Moscou, a
mídia hegemônica se verá obrigada a se render às exigências de um jornalismo
plural e honesto, se quiser sobreviver no mundo multipolar que começa nascer.
Caso
contrário, será enterrada junto com os escombros da ordem unipolar e imperial
que está morrendo.
________
Por Jeferson Miola, em seu Blog.
De 2020 para 2021, o programa "1 Milhão de Cisternas", do Governo Federal, sofreu um corte de cerca de 94%. (FOTO/ ASA Brasil). |
Em
muitos lares do semiárido, ter água em casa é um privilégio. O clima é marcado
por altas temperaturas e chuvas irregulares, o que deixa a região sob-risco
constante de escassez hídrica. No Brasil, a região ocupa 12% do território
nacional e abriga cerca de 28 milhões de habitantes, é um dos semiáridos mais
povoados do mundo.
Sem
nenhum rio perene, que corra durante o ano inteiro, a região apresenta o menor
percentual de água reservada no país, algo em torno de 3%. Para lidar com essa
realidade e mostrar que o êxodo não é a única saída para o sertanejo, a
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), há mais de vinte anos vem desenvolvendo
tecnologias de convivência esse clima.
Entre os exemplos está o programa que já construiu mais de 1 milhão de
cisternas distribuídas pela região Nordeste e pelo Norte de Minas Gerais.
Alexandre
Pires, coordenador executivo da ASA, conta como o Programa 1 Milhão de
Cisternas (P1MC) impactou a população do semiárido: "o Programa de Cisternas rompe com um ciclo histórico que é o da
dependência da população do carro pipa, da dependência da população rural do
semiárido às vontades políticas e interesses políticos eleitorais. Então, o
programa de cisternas mudou a cara do semiárido quando assegurou uma tecnologia
simples, barata, de domínio popular, uma tecnologia social, que garantiu à
população, através da captação de água das chuvas, ter água na porta de casa".
Pires
explica ainda que o P1MC é uma iniciativa da sociedade civil, que o governo
Lula acolheu como uma política pública capaz de resolver um problema secular,
enfrentado pela população rural do semiárido, que é o de acesso à água: "Essa decisão política fez com que a gente
conseguisse, num diálogo entre sociedade civil e governo, garantir que em 2016
chegássemos a 1,2 milhão de cisternas construídas".
As
cisternas, além de água para beber e para o uso diário, armazenam também a
possibilidade de geração de renda através da agricultura e pecuária familiar, impactando
de forma significativa sobretudo na vida das mulheres. Como explica o
coordenador executivo da ASA no Ceará, Marcos Jacinto: "era comum a imagem da mulher com a lata
d'água na cabeça no nosso semiárido. Essa imagem ficou mais rara com a chegada do
Programa 1 Milhão de Cisternas porque com ele a família tem na sua própria
residência a água para consumo das pessoas e também para sua própria produção".
No
Estado do Ceará, desde o início do programa, a meta era beneficiar 304 mil
famílias. Desse total, 248 mil receberam a tecnologia, o que sinaliza que
muitas outras ainda vivem num contexto de insegurança hídrica. Uma preocupação
que se intensifica ainda mais num contexto de desmonte da política promovido
pelo atual governo de Jair Bolsonaro.
É o que denuncia Jacinto: "esse momento nos preocupa muito mais, porque
nós sabemos que existe ainda um contingente muito grande de famílias no
semiárido cearense, que ainda não tem acesso a água potável. Nós temos ainda
cerca de 50 mil famílias que ainda não têm a tecnologia social de primeira água
e nós estamos num momento em que o programa tem sido desmontado e está
paralisado do ponto de vista de investimentos públicos federais".
E
essa não é uma realidade só do Ceará, no país cerca de 350 mil famílias do
semiárido ainda não dispõem da tecnologia. Nos últimos anos, o recurso federal
destinado aos programas de convivência com o semiárido vem sofrendo sucessivos
cortes. Em 2012, por exemplo, o P1MC teve o menor orçamento da história
destinado ao programa.
"É difícil da gente compreender como uma
política que tem tanto sucesso, mudou e transformou tanto a vida das pessoas no
semiárido brasileiro, e em outras regiões semiáridas, é desestruturada por este
governo. Quer dizer, eu digo que é difícil da gente compreender, mas a gente
sabe que o governo Bolsonaro é um governo que não tem prioridade pela população
mais pobre do nosso país, na verdade é um governo que tem prática genocida, uma
prática que não atende as necessidades daqueles que mais precisam",
enfatiza Alexandre.
Nossa
reportagem entrou em contato com o Ministério do Desenvolvimento Regional para
questionar sobre o corte, mas não obtivemos resposta até o fechamento da
matéria. Para continuar o trabalho, a ASA está com uma campanha para levantar
fundos para o programa. Intitulada 'Tenho Sede', a campanha já está dando
resultado: agora em março, estão executando as 20 primeiras cisternas com
dinheiro arrecadado. Para saber como ajudar, acesse o site tenhosede.org.br
____________
Com informações do Brasil de Fato CE.
Somália, na África, sofreu ataque de drone dos Estados Unidos no início da semana; foto não corresponde ao ataque de 2022, mas sim a um de 2017 - Divulgação/Twitter. |
O
conflito na Ucrânia no leste europeu registrou uma série de bombardeios aéreos
feitos pela Rússia nas últimas horas. Enquanto o mundo acompanha com atenção o
avanço de tropas russas em território ucraniano, países como Síria, Somália e
Iêmen também sofreram ataques aéreos - sob ofensivas de Israel, Estados Unidos
e Arábia Saudita, respectivamente.
Pelo
menos outros 28 países passam por conflitos ou registram combates armados neste
início de 2022. A informação é do Projeto de Dados de Localização e Eventos de
Conflitos Armados (Acled, na sigla em inglês), que analisou dados até 11 de
fevereiro. O levantamento foi publicado pelo jornal Folha de S.Paulo na semana
passada.
Apenas
nesta semana, segundo os principais veículos jornalísticos internacionais, o
governo de Israel matou seis combatentes pró-Síria pelo ar, os Estados Unidos
lançaram um drone contra a Somália e a Arábia Saudita realizou ataques no
Iêmen.
______________
Com informações do Brasil de Fato. Acesse o site e leia o texto completo.
Padre José de Anchieta esteve entre os primeiros estudiosos da língua tupi. (FOTO/ Biblioteca Nacional). |
Os
povos que habitavam o território brasileiro antes da chegada dos primeiros
colonizadores portugueses falavam cerca de mil línguas, segundo registros da
Faculdade de Filosofia; Letras e Ciências da Universidade de São Paulo
(FFLCH-USP).
Além
da riqueza linguística, a maioria deles, principalmente os que habitavam o
litoral, onde se formaram as primeiras cidades do país, falava uma língua
comum, o tupi antigo. Chamado de "língua brasílica" pelos
portugueses, ele foi utilizado no Brasil durante séculos, por jesuítas, colonizadores
e até bandeirantes.
Na
verdade, os falantes do tupi antigo, assim como os do guarani – vale ressaltar
que tupi-guarani não é uma língua, mas uma família de línguas indígenas –, iam
muito além do Brasil e se espalhavam por um vasto território da América do Sul,
na época da chegada dos europeus ao continente.
Dentro
do Brasil, o tupi antigo apresentava variações linguísticas ao longo da costa.
Os potiguares do Paraíba até os tamoios do Rio de Janeiro, por exemplo, pronunciavam
inteiros os verbos acabados em consoante, enquanto os tupis de São Vicente não
pronunciavam a última consoante. Mas eram variações próximas, que permitiram
aos colonizadores identificarem uma unidade entre os povos.
Segundo
o professor da FFLCH-USP Eduardo Navarro, atualmente um dos principais
estudiosos da matéria, o tupi é considerado o idioma indígena clássico do
Brasil, uma vez que "foi a única língua indígena, das centenas que foram
faladas no país, que se fez representar significativamente no léxico da língua
portuguesa".
Por
isso, até hoje é possível encontrar milhares de palavras do tupi no dia a dia
dos brasileiros, que vão desde nomes de alimentos (como abacaxi, mandioca,
açaí, paçoca, pipoca), animais (capivara, tatu, arara, jacaré-açu, jabuti,
perereca), cidades e estados (Pará, Paraná, Manaus, Sergipe, Maceió), rios
(Xingu, Xapuri, Ipiranga), vegetação em geral (cipó, capim, jacarandá,
samambaia) e até nomes próprios (Iracema, Iara, Araci, Jacira, Maiara).
O
tupi antigo está presente até mesmo nos primórdios da literatura nacional,
tendo, inclusive, duas gramáticas publicadas: uma em 1595, Arte de gramática da
língua mais usada na costa do Brasil, de autoria do padre José de Anchieta, e
outra de 1621, organizada pelo também jesuíta Luís Figueira.
Bandeirantes e cidades
Quem
roda pelo Sudeste e Centro-Oeste brasileiros percebe a quantidade de cidades
com nomes indígenas. Exemplos não faltam: Araçatuba, Bertioga, Itanhaém,
Paraguaçu, Cuiabá, Niterói, Curitiba, Peruíbe, Pindamonhangaba, Taubaté,
Ubatuba, Uberaba, Piracicaba, Piratininga, entre outras.
Isso
porque outro personagem do período colonial que se valeu da língua tupi para se
aproximar dos indígenas foram os bandeirantes, que indicavam com os nomes tupis
as localidades por onde passavam.
"Noutra
faceta, o tupi também serviu aos bandeirantes para melhor entenderem-se com os
índios, que levavam escravizados para o desbravamento dos sertões, e por onde
passavam as entradas e bandeiras, os portugueses iam denominando esses lugares
com toponímias indígenas”, diz trecho de artigo da Universidade Federal do Rio
de Janeiro Os tupinismos na formação do léxico português do Brasil, publicado
em 2008 na Revista Philologus.
"Chorar as pitangas"
Diversas
expressões utilizadas até hoje vieram da fusão do português dos colonizadores
com o tupi antigo dos indígenas. Por serem resultado desse casamento
linguístico e cultural, elas são chamadas de brasileirismos, ou
"tupinismos” para alguns autores, expressões que existem apenas no
português falado no Brasil.
Um
dos exemplos mais conhecidos de brasileirismos é a expressão "chorar as
pitangas”.
Segundo
artigo da linguista Nancy Arakaki, a origem da expressão formada no Brasil pode
ser bíblica, vindo, provavelmente, de trecho do Evangelho de Lucas em que o
sofrimento de Jesus é retratado pelo "seu suor”, suor esse que "era
como gotas de sangue que caíam no chão”. Mas não somente, uma vez que a
expressão "lágrimas de sangue” já existia em Portugal.
O
fato é que, segundo a linguista, os indígenas podem ter absorvido o significado
da expressão, "lastimar-se", mas segundo os seus próprios códigos
culturais: o sangue deu lugar à pitanga, fruta que ressalta a forma de uma
lágrima e a cor do sangue.
"É
interessante destacar que a expressão 'chorar pitangas' nos remete à ideia de
eufemismo em relação a 'chorar lágrimas de sangue' porque lhe é atribuído um
valor menor, menos doloroso que é o ato de lastimar-se, lamentar. Essa foi a
imagem captada pelos índios num tempo de trocas culturais e vivências ora turbulentas,
ora pacíficas e harmoniosas", escreveu Arakaki em Memória cultural e
linguística do Brasil Colônia em ‘chorar as pitangas'.
brasileirismos
usados até hoje são "ficar com nhenhenhém", "estar jururu",
"ficar de tocaia", "parecer pamonha", "estar na
pindaíba", "ir para a cucuia", além de outros.
Língua proibida
Segundo
registros da biblioteca Brasiliana da USP, a língua brasílica, ou tupi antigo,
foi usada por todos, brasileiros e estrangeiros, até meados do século 18.
Em
1758, porém, Marquês de Pombal, o primeiro-ministro de Portugal, publicou um
decreto tornando o português o idioma oficial do Brasil, a "língua do
rei", ao mesmo tempo em que proibiu o uso do tupi antigo e demais línguas
faladas na colônia na época, como as africanas.
Já
era tarde, contudo: o tupi já havia se ramificado pelos costumes e cultura do
país.
___________
Com informações do DW.
Crédito: Reprodução/Twitter. |
Desde
a madrugada desta quinta-feira, 24, o mundo assiste a um novo capítulo da
história geopolítica se desenrolar com o ataque da Rússia contra a Ucrânia.
Porém, nem todos entendem o motivo desse conflito. Para você compreender de vez
o que está rolando, vamos explicar em 5 pontos cruciais as questões chaves e
centrais que culminaram na operação militar comandada pelo presidente russo
Vladmir Putin, além de saber qual a relação disso tudo com os Estados Unidos.
1 – Crimeia
A
disputa entre Rússia e Ucrânia começou oficialmente depois do conflito na
região da Crimeia, em 2014. O território foi “transferido” à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Khrushchev em
1954 como um “presente” para
fortalecer os laços entre as duas nações. Ainda assim, nacionalistas russos
aguardavam o retorno da península ao território da Rússia desde a queda da
União Soviética, em 1991.
Já
independente, a Ucrânia buscou alinhamento com a UE (União Europeia) e a Otan
(Organização do Tratado Atlântico Norte) – organização de apoio militar entre
nações criada pelos EUA – enquanto profundas divisões internas separavam a
população.
2- Soberania
Na
Ucrânia, nem todos foram a favor da separação. Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL),
situadas na região fronteiriça de Donbass, se tornaram repúblicas
independentes. Eles estão há dias em conflito com Kiev, capital da Ucrânia,
alinhada com EUA.
“As circunstâncias nos obrigam a tomar
medidas decisivas e imediatas. As repúblicas populares de Donbass pediram ajuda
à Rússia. A este respeito, de acordo com o artigo 51, parágrafo sete da Carta
da ONU [Organização das Nações Unidas], com a sanção do Conselho da Federação e
em cumprimento de tratados de amizade e assistência mútua com a RPD e a RPL,
ratificados pela Assembleia Federal, decidi realizar uma operação militar especial”,
afirmou Putin.
3 – OTAN
As
tensões entre os dois países já vinham aumentando nos últimos meses, devido a
uma aproximação da Ucrânia com a Otan e à possibilidade de instalação de
poderosas bases militares aliadas aos EUA perto das fronteiras russas. O que
muito agrada os norte-americanos e desagrada profundamente os russos.
4 – EUA
Não
é coincidência que os Estados Unidos sejam um dos países que mais se beneficiam
economicamente de confrontos armados, já que 60 das maiores exportadoras de
armas do mundo são estadunidenses. Mas, neste caso, isso é secundário.
Com
a economia americana devastada e a perda de protagonismo global com o
crescimento da China e da Rússia, para os EUA, desgastar politicamente,
especialmente, na Europa, a Rússia é uma boa chance de retomar seu papel
central na política mundial.
5 – Disputa global
Para
entender um pouco mais dessa disputa global, chega de textos. Veja o vídeo
clicando aqui.
_______________
Com informações da Catraca Livre.
Participantes do II Congresso Internacional Feminista no Recreio dos Bandeirantes (RJ): conquista do foto teve muitas protagonistas. (FOTO/ Acervo Arquivo Nacional). |
Até
1830, pra se ter ideia, a lei permitia que os maridos castigassem fisicamente
as esposas, uma herança das Ordenações Filipinas, um conjunto de leis de origem
espanhola adotada por Portugal e implantada no Brasil colônia. O direito de
votar veio em 1932 - com a promulgação do decreto nº 21.076 no dia 24 de
fevereiro, há exatos 90 anos -, como mais um capítulo de uma história longa,
que vai muito além do acesso às urnas.
Até
1962, as mulheres casadas precisavam de autorização formal dos maridos para
trabalhar - o Código Civil de 1916 via a mulher como incapaz para realizar
certas atividades.
Nas
escolas, até 1854 as meninas aprendiam corte, costura e outras "prendas
domésticas", enquanto aos meninos se ensinava ciências, geometria e
operações mais avançadas de matemática. Depois que o currículo foi unificado no
ensino básico, ainda foram necessárias várias décadas até que as mulheres
tivessem acesso mais amplo às universidades, algo que só ocorreu depois de
1930.
Nísia Floresta: o acesso à educação
Uma
das precursoras dos movimentos pela conquista dos direitos das mulheres no
Brasil viveu um século antes da promulgação do voto feminino.
Dionísia
de Faria Rocha, que se tornaria conhecida pelo pseudônimo Nísia Floresta
Brasileira Augusta, nasceu em Papari, no interior do Rio Grande do Norte, em
1810.
Numa
época em que a vida das mulheres estava circunscrita basicamente à esfera
doméstica, como esposas e mães, Nísia foi um ponto fora da curva. Foi do Rio
Grande do Norte para Pernambuco, para o Rio Grande do Sul, para o Rio de
Janeiro.
Viveu
anos na Europa, onde transitava por círculos de intelectuais com nomes como
Almeida Garret, Alexandre Herculano, Alexandre Dumas, Victor Hugo e Amandine
Dupin - que se apresentava como George Sand, pseudônimo masculino que usava
para assinar seus livros, algo que não era incomum naquela época.
Teve
15 livros publicados e escreveu uma tradução livre da obra Vindication of the
Rights of Woman, da escritora inglesa Mary Wollstonecraft, intitulada Direitos
das Mulheres e Injustiça dos Homens.
Vanguardista,
Wollstonecraft chegou a publicar um livro em resposta aos escritos do filósofo
Jean Jacques Rousseau, que afirmava, em Émile, ou da Educação, que a mulher,
por ser intelectualmente inferior ao homem, deveria receber uma educação superficial,
com ênfase maior na educação moral.
Ainda
que não repetisse o discurso de rompimento da intelectual inglesa, Nísia
defendia que as mulheres tivessem acesso à mesma educação que os homens.
Foi
professora e fundou, em 1838, no Rio de Janeiro, um colégio para meninas com um
currículo que ia bem além das aulas de corte, costura e boas maneiras previstas
na lei. O programa do Colégio Augusto incluía latim, francês, italiano e inglês
- tanto gramática quanto literatura -, geografia e história.
Apesar
de não ter eliminado as aulas de "prendas femininas", o fato de dar
às meninas instrução bem mais ampla que o comum da época fez da escola alvo de
duras críticas dos jornais cariocas durante os 18 anos em que esteve em
funcionamento.
Na
edição de 2 de janeiro de 1847 do jornal O Mercantil, um comentário sobre os
exames finais em que várias alunas haviam sido premiadas com distinção
alfinetava: "trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no
escuro. Os maridos precisam de mulher que trabalhe mais e fale menos". O
trecho foi destacado pela pesquisadora Constância Lima Duarte, professora da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em sua tese de doutorado (Nísia
Floresta: Vida e Obra).
As
escolas praticamente não existiam no Brasil colônia, muito menos o ensino
obrigatório - a educação estava nas mãos da igreja Católica, que em seus
conventos e seminários lecionava a poucos alunos.
Com
a vinda da Corte para o Brasil, em 1808, o ensino começa a se difundir no país,
especialmente entre as famílias ricas, que costumavam contratar professoras
estrangeiras (francesas e portuguesas, principalmente) para que ensinassem aos
filhos dentro de casa.
A
primeira grande legislação sobre educação só é promulgada depois da
independência, em 1827, durante o período do Primeiro Império. É ele que
estabelece que o ensino para meninos e meninas deveria ser diferenciado.
Em
matemática, por exemplo, os cursos para meninas só deveriam cobrir as quatro
operações básicas - somar, subtrair, multiplicar e dividir -; enquanto aqueles
para meninos incluíam geometria, frações, proporções, números decimais. A lei
só unificaria os currículos quase 30 anos depois, em 1854.
A
pesquisadora Mônica Karawejczyk, que há 15 anos estuda a questão do voto
feminino no Brasil, pontua que Nísia não chegou a defender o voto feminino.
"Ela pedia outras coisas porque aquela era
uma época em que a mulher não tinha direito a quase nada. Só em 1827 tiveram
direito ao ensino primário, e mesmo assim não era igual [ao currículo
masculino]."
A
educação, entretanto, é um grande catalisador das transformações que
aconteceriam nas décadas seguintes - e, por isso, o ativismo de Nísia e de
outras mulheres nesse sentido é considerado fundamental para os avanços que
vieram depois.
"No momento em que a mulher tem acesso à
educação, quando começa a ler, se instruir, começa a querer outras coisas: 'Por
que ele tem direito e eu não tenho?', 'Por que ele pode fazer Medicina e eu
não?' A partir daí, começa a haver uma maior conscientização sobre essas
questões", ressalta a pesquisadora, autora do livro Mulher Deve
Votar?: o Código Eleitoral de 1932 e a Conquista do Sufrágio Feminino Através
das Páginas dos Jornais Correio da Manhã e A Noite.
Leolinda de Figueiredo Daltro: o
primeiro partido feminino
Uma
mulher que fez muitas dessas perguntas foi a baiana Leolinda de Figueiredo
Daltro, que nasceu cerca de 50 anos depois de Nísia, em 1859.
Também
professora, seu principal foco no âmbito do magistério eram os indígenas.
Leolinda defendia que eles fossem incorporados à sociedade brasileira por meio
do ensino laico, desligado da igreja - em uma época em que praticamente todas
as iniciativas nesse sentido eram dominadas por agremiações católicas, como os
jesuítas.
Após
a proclamação da República, nos anos 1890, chegou a percorrer o interior do
país por alguns anos alfabetizando comunidades indígenas.
Já
separada do segundo marido e com 5 filhos - os quais sustentava com seu salário
-, a própria forma como levava a vida afrontava os costumes da época. E foi
experimentando as barreiras que se colocavam às mulheres pelo simples fato de
serem mulheres que Leolinda se voltou para as questões de gênero.
Em
setembro de 1909, foi impedida de apresentar um trabalho no primeiro Congresso
Brasileiro de Geografia por ser mulher, relata a historiadora Eliane Rocha em
sua tese de doutorado (Entre a Pena e a Espada - A Trajetória de Leolinda
Daltro: 1859-1934). Por essa mesma razão, nunca foi nomeada oficialmente como
"catequista leiga ou diretora de índios", cargos aos quais sempre
almejou.
"Ela percebeu que precisaria mudar as leis
para poder se inserir no espaço público", destaca Karawejczyk, que
também escreveu sobre Leolinda em sua tese de doutorado (As Filhas de Eva
Querem Votar: dos Primórdios da Questão à Conquista do Sufrágio Feminino no
Brasil).
Assim,
morando no Rio de Janeiro, em 1910 ela funda o Partido Republicano Feminino
(PRF), o primeiro com esse perfil montado no Brasil - e não formalmente
reconhecido como partido, já que nem direito a voto as mulheres tinham ainda
(uma das demandas, claro, do PRF).
"Ela
e todas aquelas mulheres começaram a frequentar as sessões parlamentares,
vaiavam, aplaudiam. Elas tiveram muita coragem de se colocar e exigir esses
direitos políticos", diz a pesquisadora.
Por
causa do estilo confrontativo, Leolinda era constantemente chamada pelos
desafetos - e por boa parte da imprensa - de "Pankhurst brasileira", uma referência a Emmeline Pankhurst,
uma das fundadoras do movimento sufragista na Inglaterra.
Líder
do Women's Social and Political Union (União Social e Política das Mulheres,
WSPU), a britânica é um dos nomes mais célebres do que ficou conhecido como
suffragettes, grupo que tinha um estilo de atuação mais combativo.
Para
pressionar os políticos e chamar atenção da opinião pública, as suffragettes
faziam ações que iam desde interromper discursos de autoridades até
acorrentar-se a portões de prédios públicos e atear fogo nas caixas de correio.
No
Brasil, as sufragistas do PRF eram constantemente alvo de campanhas
difamatórias e ridicularizadas nos jornais, ligadas pela opinião pública ao que
Karawejczyk chama de "mau feminismo"
- em oposição ao "bom feminismo"
que caracterizaria o grupo da geração posterior à de Leolinda, como Bertha Lutz
(leia mais abaixo).
Leolinda
"invadia espaços exclusivamente
masculinos e expunha-se pessoalmente às críticas, sempre buscando chamar
atenção para as desigualdades e injustiças", escreveu a historiadora
Teresa Cristina de Novaes Marques, que há mais de 20 anos se dedica a pesquisar
a história das mulheres, em um artigo na revista Gênero em 2012.
Entre
os exemplos, a pesquisadora cita o episódio do Congresso Pan-Americano
realizado no Rio de Janeiro em 1906, em que a ativista levou consigo um grupo
de sete indígenas para assistir ao evento.
Nos
anos 1920, Leolinda começa a se afastar aos poucos da vida pública. Isso não
impediu, entretanto, que ela não apenas votasse nas eleições de 1933, como
também se candidatasse a deputada federal - sem conseguir, contudo, se eleger.
_____________
Com informações da BBC Brasil. Leia o texto completo aqui.
Imagem: Câmara Municipal do Recife. |
Como
forma de incidir no eixo municipal, considerando que a Lei de Cotas completa,
neste ano, 10 anos desde a sua implementação, parlamentares do Recife querem
garantir políticas que trabalhem a igualdade racial dentro do âmbito da
administração pública, reservando vagas para a população negra na cidade.
Na
capital, mesmo havendo a lei que assegura a reserva de 20% das vagas para esta
população, para os parlamentares e movimentos sociais, a política não é
totalmente efetiva. O motivo é que a porcentagem só é aplicada para concursos
públicos, não abrangendo para outro tipo de seleções.
Foi
nesse quesito que a vereadora Dani Portela (PSOL-PE), após imersão e pesquisa
sobre as leis municipais existentes sobre enfrentamento ao racismo e projeção
da igualdade, atentou para uma problemática: no município, quase 30% dos cargos
da administração pública não estão ocupados por concursados, o que incide
diretamente na ocupação por parte de pessoas negras.
Para
reverter o quadro, a parlamentar apresentou, em março de 2021, um Projeto de
Lei Ordinária que visava regulamentar o inciso XXI, do artigo 63, da Lei
Orgânica do Município do Recife. Como diretriz da ação, o objetivo era reservar
à população da raça negra 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos
concursos públicos e seleções simplificadas de cargos efetivos e empregos
públicos, fossem eles provenientes da administração direta, das autarquias, das
fundações públicas ou das empresas públicas.
Entretanto,
completando um ano desde a sua protocolação, o PLO ainda não foi votado pela
Câmara Municipal do Recife, pois recebeu parecer negativo nas comissões. O
pedido da vereadora, que conta com diálogo junto a movimentos sociais por
igualdade racial, tramitou nas comissões de Legislação e Justiça e de Finanças
e Orçamento, por exemplo, mas foi barrado sob a justificativa de que este
recurso na Lei Orgânica não seria de responsabilidade parlamentar e, sim, do
Poder Executivo.
Dani
Portela defende a necessidade de maior agilidade na extensão da política de
cotas na cidade, tendo em vista as problemáticas sobre quem ocupa os cargos no
poder público atualmente.
“Nós estamos falando de diversas funções e
cargos que contam com contratos precarizados, temporários, até mesmo
comissionados e dados de forma por aprovação simplificada. O problema disso é o
perfil de quem ocupa e quais são os meios que se usam para equalizar o acesso a
essas vagas”, dispara.
Questionada
sobre a demora e a falta de priorização do tema por parte do município, a
parlamentar reflete sobre a invisibilidade de políticas públicas de igualdade
racial em uma cidade que é tida como a capital mais desigual do país, segundo
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE).
“É necessário falar da redução de
desigualdades aqui, sejam elas de classe, gênero ou raça, tendo em vista,
principalmente, que a nossa população, em sua maioria, se autodeclara preta ou
parda. Isso em um contexto de cidade que, infelizmente, apresenta um dos piores
índices de desenvolvimento social. Ao que parece, não há vontade política de
redução da desigualdade de emprego e renda, além de outros setores, como a
educação, moradia, transporte público, entre outros”, pontua.
Cobrança se volta ao Executivo
Como
forma de contornar a paralisação do PLO sobre as cotas, Dani Portela e demais
mandatos progressistas pretendem, neste ano, pressionar a prefeitura do Recife
para que a iniciativa tenha continuidade no executivo. Com isso, a lei passaria
de ordinária para municipal e seria aplicada nos demais processos seletivos.
Os
mandatos acreditam que o município, ao expandir a política de cotas, vai atuar
em consonância com os direitos previstos na Constituição Federal,
possibilitando uma conquista expressa por cotas no serviço público para as
populações mais excluídas destes espaços.
De
acordo com a atuação de Dani Portela, o também vereador Ivan Moraes (PSOL-PE)
acredita que a mudança na lei municipal vai ser efetiva e possibilitará novos
acessos à população negra da cidade.
“É uma política que tem dado certo a nível
nacional e atuado em dinâmicas de outros espaços, que vão para além da
educação, como se era pautada em seu início. Por isso, nós estamos incidindo,
junto ao mandato de Dani Portela, no Estatuto de Igualdade Racial, por mais
políticas que prezam por igualdade racial no âmbito da administração pública do
Recife, que, ao meu ver, não deveria abrir vagas simplificadas ou terceirizadas”,
afirma o vereador.
A
ação também é apoiada por movimentos sociais. Para Hallana de Carvalho,
representante da Coalizão Negra por Direitos em Pernambuco, de resultado das
diversas experiências de Lei de Cotas na esfera pública, seja no serviço
público ou na educação, o que se pode ver é a democratização do acesso a
espaços de poder marcados historicamente pela exclusão de pessoas não brancas.
“Por isso, ter pessoas negras atuando é de suma importância, pois somos nós, população negra, que mais usufruímos dos diversos serviços prestados neste setor. E, para além disso, é preciso chamar atenção para o fato de que pessoas negras no serviço público estão fortemente concentradas em cargos que são sistematicamente precarizados. Então é preciso, sim, que haja uma política de reserva de vagas que garanta a presença de pessoas negras no quadro de servidores dos diferentes cargo”, afirma.
O que diz a prefeitura
Enquanto
aguarda os próximos passos, o desejo da vereadora continua sendo ‘enegrecer’ os
serviços públicos, tendo servidores e servidoras negras representando exatamente
o perfil racial da cidade.
“Precisamos chegar em um posto de saúde, por
exemplo, e encontrarmos mais profissionais negros. Não por uma questão apenas
de representatividade, mas para que o serviço público seja prestado por mais
qualidade para a população, principalmente, por quem entende suas
especificidades. Isso é um desejo que nós, este ano, não vamos cessar”,
finaliza.
Procurada
pela Alma Preta Jornalismo, a assessoria de comunicação da Prefeitura do Recife
afirma que, atualmente, o processo de contratações segue os ritos estabelecidos
em legislação pertinente e afirma estar aberta a conversas sobre.
“A Secretaria de Desenvolvimento Social,
Direitos Humanos, Juventude e Políticas sobre Drogas (SDSDHJPD) vem
acompanhando os debates e a Prefeitura ratifica que está sempre aberta ao
diálogo com todas as representações dos recifenses. A gestão municipal vem
ampliando políticas públicas para pessoas negras com o entendimento de fomentar
e redistribuir de forma mais equânime as oportunidades para os munícipes”,
finaliza a nota.
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