Museu mantém exposição online e grátis sobre design e tecnologia na escravidão

 

(FOTO/ Reprodução/ Revista Raça).

Entre o catálogo de exposição online do Museu Afro Brasil está uma coleção dedicada a registrar parte das habilidades e conhecimentos africanos que construíram o “novo mundo” e inspiram o presente. A exposição “Design e Tecnologia na Escravidão”, online e grátis, apresenta objetos, como ferramentas e obras de arte.

O movimento do museu com esta mostra é ir para além da imagem, por vezes, menor, de que e a presença africana no país se firmou apenas pelas contribuições culturais e folclóricas.

É possível “passear virtualmente” pelas salas e conferir, em detalhes, cada um dos objetivos ali posicionados, sendo que grande parte deles registra o cotidiano de pessoas escravizadas e suas ferramentas de trabalho. É uma prova fundamental do desenvolvimento de tecnologias por pessoas negras, escravizadas, livres e libertas, no campo do vestuário, da mineração, agricultura e até na identificação de mudanças climáticas. 

O texto do pesquisador, Douglas Araújo, afirma que o legado africano foi e é “um elemento essencial no desenvolvimento tecnológico das etapas de desenvolvimento econômico do país”. Em outras palavras, a exposição deixa nítido que praticamente tudo que foi construído no passado, por aquelas pessoas negras, não só determinaram o tipo de país daquele momento, como também construiu as bases do que temos hoje, como ensina o ideograma Sankofa, que nos leva a olhar, sempre, para o passado para construir o futuro. 

Acervo digital

Além da visita virtual é possível acessar o acervo digital do museu que conserva mais de 5 mil obras, entre gravuras, pinturas, fotografias, documentos e outros registros. 

Com informações da Revista Raça.

Cerca de 60% dos quilombolas ainda não completaram o ciclo vacinal

 

(FOTO/ Reprodução).

Dados gerais da campanha de vacinação da Covid-19 apontam resultado positivo e avanço em todo o país, porém, entre as comunidades quilombolas, incluídas entre os grupos prioritários, os índices seguem abaixo da média nacional de 45,2%. De acordo com a segunda edição do Vacinômetro Quilombola, cerca de 60,4% da população quilombola ainda não receberam a segunda dose da vacina. Dos 1.184.383 quilombolas, apenas 469.972 completaram o ciclo vacinal, o que representa 39,6% do total.

O levantamento foi lançado no último mês pela Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Rurais Quilombolas (Conaq) apoiada pelas entidades Terra de Direitos e Equipe de Conservação da Amazônia (Ecam). Esse mapeamento inclui 565 quilombos de 24 estados, com um total de 200 mil quilombolas, e será incluído em uma ação que já tramita no STF para tratar do assunto.

Estamos longe de sermos imunizados. Todos esses problemas criam gargalos. Quilombolas estão morrendo por não estarem vacinados”, afirma Kátia Penha, gestora de monitoramento de vacinação da Covid-19 pela Conaq. “Corremos o sério risco de terminar a campanha com quilombolas que não foram imunizados. Idosos acamados que não conseguiram se imunizar. Está muito longe [o momento] de as comunidades serem totalmente vacinadas”, pondera.

Em comparação, o levantamento mostra que há desnível dos quilombolas em relação à população indígena, que também é classificada como grupo prioritário no Programa Nacional de Imunizações (PNI), no qual cerca de 81% já tem o esquema vacinal completo.

Na última semana, o país atingiu a marca de 45,25% de toda a população brasileira completamente imunizada. Quando concentrada na população que possui mais de 18 anos, o índice nacional geral ultrapassa 60%. De acordo com o Ministério da Saúde, são mais de 95 milhões de brasileiros adultos com as duas doses da vacina ou com o imunizante de dose única, produzido pela Jansen.

Temos relatos de problemas diversos, ligados à organização nos municípios. Chegou ao extremo de doses destinadas ao povo quilombola acabarem em uso na população geral”, destaca a gestora.

O monitoramento realizado pela plataforma LocalizaSUS, baseado na prestação de contas acerca da vacinação em todo país, identifica que a vacinação de quilombolas realmente segue em ritmo descompassado. Os dados foram coletados pelo Plano de Enfrentamento à Covid-19 produzido e atualizado pela Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SNPIR).

Desafios

A representante da área de monitoramento da Covid-19 da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Kátia Penha, explica que essa essência de atraso no ciclo vacinal se dá principalmente nos municípios.

Segundo a gestora, os maiores problemas se relacionam à falta de doses, dificuldades de transporte, exigência de comprovação de pertencimento à comunidade quilombola. Outro problema é que no Brasil não existem dados oficiais sobre a população quilombola. A categoria seria incluída pela primeira vez no Censo 2020, adiado por conta da pandemia.

_________________

Com informações do Alma Preta.


UFCA recebe simpósio sobre Ação Pública e desafios da Governança Metropolitana

 

(FOTO/ Divulgação/ LaCITE).

Nos dias 27 e 28 de outubro de 2021 acontece na Universidade Federal do Cariri (UFCA), o III Simpósio de Gestão de Cidades, que tem como tema central “Itinerários da Ação Pública e os Desafios da Governança Metropolitana”. O evento acontecerá de forma remota e será transmitido pelo canal do Laboratório de Estudos em Gestão de Cidades e Territórios (LaCITE) no YouTube.

Além do LaCITE, o Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social (LIEGS) e o Laboratório de Estudos Urbanos, Sustentabilidade e Políticas Públicas (LAURBS) fazem parte da realização do evento. O Simpósio conta ainda com o apoio do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), do Laboratório de Estudos em Violência e Segurança Pública (LEVIS-UFCA), do Grupo de Estudos Ambientais da Universidade Regional do Cariri (GEA-URCA), do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual do Ceará (PPGA-UECE) e do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

Esta 3° edição vai acontecer em um momento único e delicado da história brasileira. Ainda estamos no meio de uma pandemia que deixou, até o momento, quase 600 mil mortos. Além disso, a democracia e o estado de direito são alvo de ataques frequentes. Com isso, o Simpósio quer fomentar o debate para identificar alternativas e estratégias que os estados, municípios e a sociedade civil podem tomar no que diz respeito ao protagonismo na ação pública e territorial. Espera-se que o balanço crítico do momento presente nos possibilite reavaliar as raízes e a multidimensionalidade dos problemas atuais, bem como desenhar cursos de ação que apontem para outros horizontes e reavivem a nossa capacidade de imaginar e construir outros futuros possíveis para as nossas cidades.”, diz o professor Raniere Moreira, coordenador do LaCITE e docente do curso de Adminsitração Pública e Gestão Social da UFCA.

A programação completa está disponível na página do evento. Também se encontra no link outras informações, bem como o formulário para as inscrições. O evento é gratuito e se propõe a ser um ambiente de convergência, congregando estudantes, professores, pesquisadores, gestores públicos, representantes de movimentos sociais, organizações da sociedade civil e demais interessados na discussão das questões urbanas e da gestão das cidades, notadamente no contexto da Região Metropolitana do Cariri – RM Cariri. O propósito central do evento, de acordo com a organização, é o fortalecimento de um espaço plural para o debate de ideias e a construção de alternativas de ação.

_________________

Com informações do Portal Badalo.


A história de Nossa Senhora Aparecida, a santa representada pela figura de uma mulher negra

 

(FOTO/ iStock).

No dia 12 de outubro, no Santuário Nacional de Aparecida - localizado município de mesmo nome no interior de São Paulo - milhões de fiéis se reúnem em homenagem à padroeira do Brasil, representada pela imagem de uma mulher negra.  Entre os católicos, Nossa Senhora Aparecida é muito requisitada por seus fiéis que precisam de ajuda em momentos de aflição.

A santa se tornou conhecida após o episódio em que sua imagem foi encontrada pelos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia em 1717, no rio Paraíba do Sul, em São Paulo. Outras versões dizem que essa imagem encontrada era de Nossa Senhora da Conceição, feita em terracota, com 36 centímetros de altura e 2,5 quilos.

Ela veio em dois pedaços: primeiro o corpo e depois a cabeça. A partir desse encontro ela se tornou ‘Aparecida’. O nome se encaixou perfeitamente e o episódio se tornou um milagre. Segundo teóricos, a santa teria sido jogada na água por alguma pessoa que pretendia se livrar da imagem, que já estava quebrada. Existem pessoas que dizem que um santo quebrado atrai má sorte.

De acordo com o infográfico criado pelo site do Santuário Nacional e a historiadora Teresa Pasin, a imagem de Nossa Senhora Aparecida foi esculpida por volta do ano 1600. “O que sabemos é que a provável pessoa que teria feito a imagem foi o frei Agostinho de Jesus, em 1600, que se ocupava em modelar na argila imagens pequenas para ficar dentro de casa da Imaculada Conceição”, afirma.

O padre Lucas Emanuel enaltece a beleza e o mistério da padroeira negra. “A imagem apareceu no momento em que muitos negros eram escravizados. As divindades não concordam com a escravidão, ao contrário disso, elas querem que todos nós tenhamos dignidade e liberdade”, pontua.

A santa libertadora

O babalorixá Dhill Costa, do Ilé Ọdẹ Maroketu Àṣẹ Ọba, ressalta a ligação da imagem da santa com uma figura de "libertação" dos negros escravizados. De acordo com ele, existe também uma representação de liberdade para as mulheres, que tanto já sofreram com a perseguição.

"Ela é dita como libertadora pela sua audácia feminina, ser a mãe de Jesus, ser destemida, foi uma mulher liberadora, uma mulher de resistência, corajosa, audaciosa, e a mulher brasileira representa muito isso hoje. Ela apareceu em um rio numa imagem preta, o que destaca também o sofrimento da mulher preta", considera.

Associação com Oxum

Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país é comum a associação da padroeira à orixá Oxum, cultuada pelas religiões de matriz africana e conhecida como a rainha das águas calmas, símbolo de fertilidade e proteção das mulheres. O babalorixá, no entanto, explica que se tratam de figuras de religiosidades distintas.

"Existe o sincretismo religioso na Umbanda que é uma religião afrodescendente. Já no Candomblé há Oxum, que é uma divindade africana enquanto Nossa Senhora Aparecida não é uma divinidade, é uma santa cristã. O Candomblé e o Cristianismo são completamente diferentes", esclarece.

____________

Com informações do Alma Preta.


Dá saudades dos tempos de criança onde tudo era possível

 

(FOTO/ Reprodução).

Por Josyanne Gomes, Colunista

Dia 12 de Outubro é Dia de Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil. Dia 12 é também o Dia das Crianças. Nessa data é inevitável não ser invadida por um sentimento nostálgico, as reminiscências dos tempos da infância nos acompanham ao longo da vida. Como é bom ser criança e sentir seguro, protegido, amado, cuidado e feliz.

Eu tive a sorte de ser criança nos anos 90, e só quem viveu sabe como era importante as brincadeiras daquela década. Nós não tínhamos internet, a gente se divertia com a imaginação. Justamente por não viver exposto a tanta (des)informação a gente se permitia ser mais humano e mais ingênuo.

Muita sorte eu tive e tenho de ter uma família que sempre se importou comigo e com meus irmãos, que sempre nos respeitou como crianças e fez de tudo para que cada fase da nossa vida fosse vivida na sua plenitude e integralidade. Dá saudades dos tempos de criança onde tudo era possível. Eu podia ser estilista, atriz, professora, modelo ou simplesmente criança e, ainda assim continuava sendo feliz.

Hoje em dia a sensação que eu tenho é que as crianças estão pulando etapas da vida, estão sendo expostas a muita informação sem necessidade e se preocupando cedo demais com problemas que não lhes compete. As redes sociais como um todo têm robotizado a infância, dancinhas de tik tok e outros apps fazem das crianças todas iguais e padronizadas de uma forma ruim e capitalista.

É lamentável que a infância, uma fase tão importante e significativa esteja sendo tratada de forma negligente e a gente precise apelar para estatutos em defesa dos direitos essenciais dessa população. Esse texto que era pra descrever relatos de lembranças dos tempos de criança acabou virando uma espécie de manifesto da infância.

“Round 6” é sobre como nos desumanizamos para sobreviver na sociedade capitalistal

(FOTO/ Reprodução/ Netflix).

Round 6, a série original da Netflix mais comentada do momento, caminha para atingir a marca de mais assistida na história do streaming. A produção tem provocado reações surpreendentes e uma legião de fãs no mundo inteiro; isso porque combina cenas que causam choque com aquilo que o escritor americano Derek Thompson, autor da obra Hit makers – como nascem as tendências”, vai chamar de “a dualidade entre fluência e “disfluência”, ou seja, gostamos do que é estranho desde que nos seja familiar. No fim, Round 6 é familiar demais, apesar de se passar na Coréia do Sul. É sobre os perdedores de todos os lugares, os humilhados do sistema capitalista. A série é uma dura crítica sobre como o drama dos pobres tornou-se o entretenimento das elites.


“O Jogo da Lula”, nome original da série – o Brasil é o único país onde a produção se chama “Round 6”, talvez para não conflitar com a política – é baseado na história de 456 pessoas, todas endividas, que são chamadas para uma estranha competição, onde a eliminação custa a própria vida. Só há um vencedor, que será premiado com uma quantia equivalente a R$ 209 milhões. Até onde você iria por tanto dinheiro? É sobre isso, o tempo todo. É sobre o que nós somos capazes de fazer para justificar a nossa “sobrevivência” na sociedade capitalista.

“Round 6” é mais que um suco de “Bacurau” com “Parasita”. É um produto da recente e exitosa indústria cultural sul-coreana que, ao criticar o capitalismo obscuro na Ásia, nos permite repensar os males causados pelo neoliberalismo global. Atualmente, a Coréia do Sul está entre as 15 maiores economias do mundo. Entretanto, por causa do desequilíbrio entre a oferta educacional e as poucas oportunidades de emprego, o país enfrenta o problema da falta de mobilidade social. Por lá, assim como nas principais sociedades capitalistas estratificadas, quem nasce em família com posses, já larga na frente; são os “colheres de ouro”. A crítica é sobre todo o resto que fica à margem, os “colheres de barro”.

Enquanto crítica ao capitalismo, não é preciso pensar muito para enxergar classes sociais bem definidas. Os jogadores, identificados por números, são o submundo do sistema, a legião de invisíveis, os desempregados, os pobres e endividados do sistema financeiro, são os humilhados socialmente. Os funcionários que trabalham para que o jogo aconteça são a força de trabalho pura e simples, o proletariado. Parecem, em muitos momentos do jogo, cumprir, também, o papel do Estado e realizar aquilo que Foucault vai chamar de “vigiar e punir”. O líder é o capataz da elite, aquele que parece que detém o poder, mas apenas trabalha para quem o detém. Já os “VIPS” são os verdadeiros donos do poder, meia dúzia de bilionários que se divertem enquanto assistem aos jogadores morrerem e matarem-se uns aos outros.

Outro paralelo do “Jogo da Lula” com o sistema capitalista é que os organizadores do game tentam vender a ideia de um jogo justo, como se todos os jogadores fossem iguais para avançar na competição. É assim que o capitalismo se mantém enquanto ideologia, vendendo o sonho da ascensão social mediante um “trabalho duro”, por meio do discurso da meritocracia. Outras questões que desafiam o sistema neoliberal aparecem na série: o desprezo aos idosos e a questão da força de trabalho inútil, o Nacionalismo e a questão dos imigrantes e a Necropolítica e o Estado que mata e deixa morrer.

Porém, o que mais chama a atenção em “Round 6” é aquilo que não percebemos na vida diária, e que fica muito evidente a cada novo round: o sistema torna as pessoas meros competidores, ao ponto de excluírem-se umas as outras. A falsa ideia de alguma ascensão nos faz de certo modo menos humanos, nos “habilita” a desumanizar e descartar o outro. Brigamos entre nós, quando deveríamos nos unir. No fim, o capital está acima de nós, é o sol que nos ilumina, tal como o “porco cofre” suspenso sobre a cabeça dos jogadores. Claro que nenhum de nós quer jogar um jogo em que para um vencer o outro precisa morrer. Mas fomos ensinados assim desde criança, não à toa a estética da série remete à infância. Aqui fora não existe nenhum botão para sair do jogo, para abandonar o sistema. A questão é: e se tivesse um, você apertaria?
----------------------

Com informações do Notícia Preta.


Queremos aparecer, isso não é detalhe

 

Por Alexandre Lucas, Colunista

O Cultura Viva enquanto política pública e posteriormente como política de estado, o qual ficou conhecido a partir dos Pontos de Cultura, é substancialmente uma metodologia e campo de disputar para repensar a relação da sociedade civil e o poder público, no tocante, ao reconhecimento, o aparecimento e a legitimação do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações, nos territórios e nos lugares.

O Cultura Viva coloca em evidência o conflito, as contradições e a fragilidade do conceito de gestão democrática e participativa, em especial, no âmbito dos municípios, onde as disputas são mais acirradas.

Reconhecer o papel e o protagonismo dos movimentos sociais na deliberação das políticas públicas, no controle social e no aparecimento da comunicação institucional continua sendo um desafio, um espaço para ser conquistado.

Decolonizar parece ser um termo conveniente para romper com uma lógica de pensamento hegemônico de política pública baseada na negação deliberada do aparecimento das vozes e ações oriundas da sociedade civil, o indeferimento do conflito e da contradição com tática política de silenciamento dos movimentos sociais e o equivocado discurso de gestão democrática e participativa que não se sustenta quando se apresentam  as vozes das  contraposições, das discordâncias e das oposições.

A democracia não é um conjunto de iguais, pelo contrário, é um caminho divergente. É na divergência que se constrói a democracia, dito de outra forma, é com a  participação de diversos e divergentes  sujeitos e organizações sociais que se constrói uma gestão democrática e participativa. Não se constrói democracias entre iguais, pelo contrário se alicerça a ditadura ou distanciamento do conceito democracia que não é uno, mas que está longe ser um conjunto de compreensões de iguais.

O Cultura Viva enquanto perspectiva de política pública e de movimento social tem muito para nos ensinar sobre gestão democrática e participativa. Precisamos ficar atentos e desmascarar as tentativas constantes de ataques à democracia ventiladas e orquestradas de forma mais nítida e robustas pela direita representada por um discurso que elege a participação e a democracia como inimigas.

Por lado os setores do campo democrático e progressista, incluindo setores da esquerda, precisam aprofundar o debate sobre a necessidade do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações na construção e deliberação das políticas públicas, tendo em vista que é notório, ainda, uma visão romanceada de democracia por alguns setores, baseada em concepções negacionistas do conflito, da contradição e da luta de classes.  O diálogo e o consenso não é em hipótese alguma uma homogeneidade numa sociedade dividida antagonicamente em classes sociais irreconciliáveis.

Qual a necessidade do protagonismo dos sujeitos e de suas organizações na deliberação das políticas públicas? Se queremos aprofundar os mecanismos de participação e de acessibilidade das políticas públicas, minimamente os espaços, os micros espaços de poder, precisam ser compartilhados. Neste sentido é preciso também mudar a direção do holofote da comunicação institucional, democratizar a comunicação é um ato político, que orienta quem deve protagonizar as narrativas.

Historicamente, os sujeitos e suas organizações foram excluídos do direito de participar e decidir sobre as políticas públicas e consequentemente de aparecer enquanto construtores da democracia. Isso não é  um detalhe, é uma deliberação.

Participar, decidir e aparecer é indispensável para que os movimentos sociais ocupem outro lugar na esfera da política pública. Afinal, é sempre importante entender que a comunicação cumpre uma função política central na ocupação dos espaços de poder e isso nunca foi detalhe.         

Após salvar o Brasil da Covid, ciência recebe do governo um cuspe na cara

(FOTO/ Reprodução).

O corte de R$ 600 milhões nos recursos previstos para o Ministério da Ciência e Tecnologia reforça o equívoco de quem afirma que o governo Bolsonaro acabou. Pelo contrário, ele segue a todo vapor no seu principal objetivo: desconstruir o país para reconstruí-lo à sua imagem e semelhança. E na realidade paralela do bolsonarismo, ciência muitas vezes é um problema, não a solução.

Entidades científicas avisam que a tungada - realizada pelo Congresso Nacional a pedido do ministro da Economia, Paulo "Ilhas Virgens" Guedes - reduzirá o financiamento e, por conseguinte, a produção de conhecimento no Brasil. No ano em que a ciência nos salvou do charlatanismo, do curandeirismo e do negacionismo, ela recebe um cuspe na cara como agradecimento.

O Brasil ficou menor durante a pandemia porque o governo e seus aliados deram as costas para médicos e cientistas, promovendo tratamentos e remédios ineficazes, atacando o isolamento social, afirmando que vacinas transformariam pessoas em jacarés ou matariam adolescentes, fazendo experimentos em cobaias humanas.

O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, calcula que mais de 400 mil das 600 mil mortes foram desnecessárias.

O bolsonarismo elabora seus planos visando às suas necessidades políticas e econômicas, da reeleição ao lucro fácil. Qualquer entrave colocado no caminho de seus objetivos é atacado violentamente. Nesse contexto, a ciência, que expõe as mentiras de Bolsonaro, tem sido asfixiada - o orçamento do CNPq, que financia a pesquisa nacional, neste ano, é 38% do que era em 2013.

A tragédia é que Bolsonaro está nos condenando a um apagão de conhecimento nas próximas décadas, uma vez que projetos científicos não são ligados e desligados do dia para a noite. A redução no orçamento para pesquisa não apenas atrapalha processos em andamento, mas desestimula os novos cientistas a persistirem na carreira.

O mais desconcertante é que para além de cortes por necessidades orçamentária, a porrada de R$ 600 milhões nos recursos a serem destinados ao ministério e ao CNPq faz parte do projeto de desmonte do governo Bolsonaro. O presidente, que vê os fatos como inimigos, precisa reduzir o país a cinzas para reergue-lo sob novas bases.

"
Nós temos é que desconstruir muita coisa. Desfazer muita coisa. Para depois nós começarmos a fazer. Que eu sirva para que, pelo menos, eu possa ser um ponto de inflexão, já estou muito feliz
."

A declaração dele, dada a lideranças de extrema direita em um jantar nos Estados Unidos em março de 2019, vai ao encontro da desconstrução de um país minimamente iluminado pela razão e por fatos por um baseado em superstições e mentiras, no qual ele próprio possa ser, como diria o Evangelho de João, capítulo 14, versículo 6, o caminho, a verdade e a vida.

---------------------------

Por Leonardo Sakamoto em seu blog. Leia a íntegra aqui.

Como o Racismo criou o Brasil, livro de Jessé Souza

 

Jessé Souza. (FOTO/ Reprodução).

O tema do racismo é reconstruído desde o início da civilização ocidental até nossos dias, de modo a permitir uma compreensão fundamental: a de que todo processo de desumanização e animalização do outro assume as formas intercambiáveis de racismo cultural, de gênero, de classe e de raça.

Perceber as diferentes facetas do racismo possibilita não se deixar fazer de tolo, por exemplo, quando o racismo racial assume outras máscaras para fingir que se tornou guerra contra o crime, como se a vítima não fosse sempre negra, ou luta contra a corrupção, usada contra qualquer governo popular no Brasil que lute pela inclusão de negros e pobres.

Apenas uma abordagem multidimensional permite efetivamente perceber como o racismo racial sempre esteve no comando da iniquidade da sociedade brasileira, da escravidão até hoje. Ao desvendar todas as máscaras de que o afeto racista se recobre para continuar vivo fingindo que morreu, podemos enfim perceber o racismo racial como a verdadeira causa de todo o atraso social, econômico e político do Brasil.

"Como o racismo criou o Brasil" veio para levar a outro patamar de sofisticação teórica a discussão sobre o racismo no Brasil e para jogar luz sobre todo o ódio e todo o ressentimento social com que nos deparamos hoje em dia. O debate está posto!

Sobre o autor

JESSÉ SOUZA é graduado em Direito e mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília, a UnB, doutor em Sociologia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, com pós-doutorado em Psicanálise e Filosofia na The New School for Social Research, em Nova York.

Professor titular da Universidade Federal do ABC, professor convidado da Universidade de Sorbonne, Paris I, e pesquisador sênior da Universidade Humboldt, em Berlim, ele coordenou diversas pesquisas empíricas de amplitude nacional e internacional sobre desigualdade, preconceito e classes sociais no Brasil e no mundo.

É autor de mais de 30 livros e de uma centena de artigos e ensaios em vários idiomas. Entre seus maiores sucessos se destacam A elite do atraso, A classe média no espelho e A guerra contra o Brasil.

_________________

Com informações da Amazon.

Nos encontramos na rua

 

Alexandre Lucas. (FOTO/ Reprodução).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Sei que não sabia ler ainda, nem vasculhar o mundo, tinha menos de uma década. Foi no meio da rua que nos encontramos pela vez, era dia, ela, maior que eu, bem maior, por algum tempo nos encontramos no mesmo lugar, sempre em silêncio, mas com olhos de querer saber. Ficava naquele imenso muro, sozinha, não tinha como ficar despercebida.

Depois ela desapareceu, não deixou cartas, nem pistas. Fiquei sem notícias. Já tinha passado mais de uma década, ainda pequeno para a dimensão do mundo. Em uma noite encontrei algumas delas, numa grande rua, dançavam, altas e brilhosas. Pareciam até uma fábrica de sonhos, meus olhos brilhavam como cetim. O céu parecia um mar vermelho, cheio de ondas que faziam cambalhotas de esperança.

Depois já éramos tão próximos, tínhamos tanta intimidade que carregamos nos braços da razão. Já descobria sobre os desaparecimentos e os silêncios.

Já não conseguem apagar você, nem separar os nossos caminhos. Enquanto existem punhos que cruzam braços, outros pintam foices e martelos pelas ruas para construírem redemoinhos.