Rede da Legalidade: 1961, quando o povo venceu

 

Em 1961, resistência popular impulsionada por Leonel Brizola barrou golpe desencadeado por renúncia de Jânio Quadros. (FOTO/ Museu da Comunicação Hipólito José da Costa).

A Terra é Redonda – Será que o povo existe? Será que ele é como o monstro do Loch Ness, na Escócia, que quanto mais se deixa vislumbrar em fotos fugidias, mais se levantam as dúvidas sobre sua existência? Dizem as constituições que o povo é soberano e que os poderes serão exercidos em seu nome, mas a gente sabe que isto é uma quimera. As esquerdas, em geral, não gostam do termo “o povo”, vendo nele uma artimanha das classes dominantes para manter o jugo sobre as classes subalternas. Mas as esquerdas, em geral, também não gostam das palavras “nação” e “nacionalismo”. No entanto, elas existem, e mobilizam. Claro, podem mobilizar à direita, com xenofobia e outros preconceitos. Mas também podem mobilizar à esquerda, junto com a luta anti-imperialista.

São palavras que podem mudar de sentido, conforme a latitude e a longitude em que estejam. Na Europa, em 90% dos casos, “nacionalismo” aparece nos discursos da direita, com “xenofobia” e “autoritarismo” em conexão. Porém, ao cruzar o Atlântico, a palavra foi mudando de cor, se avermelhando, até florir na América Latina junto com as lutas de libertação contra o jugo colonial e imperialista.

Aqui e ali, o Povo, de fato, se deixa vislumbrar, num alumbramento, para quem o viu e ouviu. Um destes momentos foi o do final de agosto de 1961, sessenta anos atrás. Eu tinha 14 anos e meio. Um belo dia, 25 de agosto, como um raio em céu de brigadeiro, estourou a notícia: o presidente Jânio Quadros renunciara.

Auto-golpe

Por que ele fez aquele gesto? Para dar um auto-golpe, dizem uns, esperando que o Povo aparecesse e o reconduzisse ao poder com poderes excepcionais, descartando a Constituição Federal. Mais ou menos como o atual usurpador do Palácio do Planalto quer fazer, sem recorrer a renúncia. Há uma diferença entre ambos: Jânio queria mesmo que o Povo, assim com maiúscula, o reconduzisse. Já a usurpador de hoje, cada vez mais acuado, espera que o “seu povo” o reconduza, essa arraia miúda composta pela soldadesca, oficiais de ou sem pijama, por milicianos, bandidos, motoqueiros da segunda e da terceira idade, a escória empresarial, os ruralistas e caminhoneiros de cabeça quente e arma debaixo do casaco, a lumpen-burguesia, os negociantes dos templos em nome de Jesus, a ralé, a escória e quejandos. A ver.

Mas há também quem diga que Jânio renunciou porque faltou alguém que o trancasse no banheiro. Provavelmente ambas as versões têm sua dose ou ponta de razão. Hoje se sabe que Jânio padecia de momentos de profunda depressão. Sobretudo a partir de quinta ou sexta-feira à tarde, quando todo o mundo político saía de Brasília, até segunda ou terça-feira, quando o mesmo mundo voltava. O presidente tinha de ficar em Brasília, sozinho. Há relatos pungentes – não confirmados, também como o monstro do Loch Ness – de que o presidente, nas noites de sexta-feira e sábado, sentava-se na sala de cinema do Palácio do Planalto com uma garrafa de uísque ao lado e ficava assistindo um faroeste até que ambos – o filme e a garrafa – terminassem. Vá se saber.

 

O inesperado aconteceu

O fato que se sabe é que, para provável surpresa do presidente, o Congresso Nacional aceitou a renúncia. E outro fato que se sabe é que os ministros militares – Odylio Denys, da Guerra (hoje se diz do Exército), Grum Moss (da Aeronáutica) e Silvio Heck (da Marinha) – vetaram a posse do vice João Goulart, que se encontrava em viagem à China, a mando do presidente Jânio Quadros.

Para muitos isto corrobora a hipótese da auto-conspiração janista: que no momento da renúncia o vice se encontrasse num país comunista, o que aumentaria a suspeita de que ele quisesse instaurar um regime revolucionário e sindicalista. Logo Jango!, sempre hesitante, timorato e conciliador.

Entretanto, o inesperado aconteceu. O governador Leonel Brizola não aceitou o golpe, mobilizou a Brigada Militar (a PM do Rio Grande do Sul), entrincheirou-se no Palácio Piratini, sede do governo estadual, requisitou a rádio Guaíba e deu começo àquilo que entraria para a História como o Movimento e a Rede da Legalidade.

Insatisfeitos com a pregação do governador, os ministros militares deram ordem para que ele se calasse. Consta que o general Costa e Silva telefonou para ele, exigindo que interrompesse as emissões radiofônicas da Rede da Legalidade. “Ninguém vai dar o golpe pelo telefone”, foi a resposta que o general recebeu.

Povo em cena

Depois de momentos excruciantes, o comandante do III Exército, sediado em Porto Alegre, então o maior e mais bem armado do país, aderiu ao movimento de resistência contra o golpe. O ponto mais dramático desta expectativa foi a chegada da notícia de que uma coluna de blindados saíra do seu quartel, no bairro da Serraria, e vinha para o centro da cidade. Para onde apontariam os tanques? No final, um alívio: os tanques ocuparam o cais do porto, onde navios da Marinha ali estacionados, com comandantes favoráveis ao golpe, ameaçavam bombardear o Palácio Piratini. Mas outros momentos dramáticos se seguiriam.

Desesperados diante do sucesso da resistência, os ministros golpistas deram ordem para que os aviões da 5a. Zona Aérea, sediada em Canoas, na Grande Porto Alegre, levantassem voo e bombardeassem o Palácio. A senha era: “Tudo azul em Cumbica”, porque os jatos Gloster Meteor deveriam executar a ordem e rumar para São Paulo, pousando na Base Aérea assim chamada, em Guarulhos. Um rádio-amador captou a ordem e avisou o governador Leonel Brizola, que fez uma despedida histórica pela Rede da Legalidade, dizendo que resistiria até o fim e pedindo a todos que ficassem em casa. Aconteceu o contrário.

Pois foi no meio deste torvelinho que o Povo entrou em cena. Quando o carro do general Machado Lopes chegou à Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, a multidão compacta deteve o veículo. E começou a cantar o Hino Nacional. O militar saiu do carro, se perfilou e cantou junto. Foi o sinal dado de que ele vinha para aderir ao movimento, não para sufocá-lo.

Situação tensíssima

Na sequência, chegou um jipe da Aeronáutica. A multidão, que nesta altura era calculada em 100 mil pessoas (Porto Alegre, na época, tinha uns 650 mil habitantes), bloqueou-lhe o caminho, aos brados de “golpistas” e “assassinos”, pois já sabia da ordem de bombardeio, mas não recuava. Começaram a tentar virar o veículo. Desesperado, o sargento que dirigia o carro, com um acompanhante, gritou (mentiu) que era primo do governador Brizola, e que vinha lhe pedir ajuda. A multidão deixou os dois passarem.

Nova notícia: durante a madrugada os sargentos da Base Aérea rebelaram-se, e, armados, cercaram o alojamento onde os oficiais se preparavam para levantar voo e cumprir a ordem assassina.

A situação era tensíssima. Alertado, o general Machado Lopes enviou um destacamento para ocupar a Base de Canoas. Os oficiais golpistas fugiram para São Paulo, em aviões desarmados. Assumiu o comando o tenente-coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, legalista.

Defesa da Legalidade

Era o dia 28 de agosto de 1961. Ali estava, sem dúvida, deixando-se vislumbrar, o Povo mobilizado. Por que o Povo? Porque não há estatística que cubra aqueles 100 mil, e os demais que passaram a se espalhar pela cidade, levando bandeiras, panfletos e palavras aladas conclamando a defesa da Legalidade. Qual o percentual de trabalhadores ali presentes? De estudantes? De classes médias? De médicos, engenheiros, advogados, funcionários públicos, aposentados, professores, etc.? De jovens e velhos? De homens e mulheres? Até de militares à paisana, além dos da Brigada Militar, armados até os dentes nas trincheiras de sacos de areia improvisadas ao redor do Palácio? É impossível saber. Não só porque não se fez esta estatística, mas porque o que ali estava era o resultado de uma transubstanciação, uma mudança de identidade e de natureza, mesmo que fugaz e momentânea. A massa de gente dispersa e acomodada pusera-se de pé e transformara-se em “o Povo”.

Paulo César Pereiro, inspirando-se na Marselhesa, compôs a música e a poeta Lara de Lemos a letra do Hino da Legalidade: “Avante, brasileiros, de pé,/Unidos pela Liberdade./Marchemos todos juntos com a bandeira/Que prega a Lealdade.//Protesta contra o tirano/Que prega a traição,/Que um Povo sé será grande/Se for livre sua Nação!”. Nas manifestações, tornou-se o complemento do Hino Nacional e do Hino Riograndense, que relembrava os legendários Farrapos e Garibaldinos de antanho.

Decepção com Jango

O que se seguiu depois foi a série atribulada de movimentações militares, de negociações palacianas, com a adoção provisória do regime parlamentarista (desativado pelo plebiscito de 1963). Houve uma decepção generalizada quando, já de retorno ao Brasil, ainda em Porto Alegre, João Goulart aceitou a chamada emenda parlamentarista, desarticulando o Movimento da Legalidade. O Povo, novamente reunido na Praça da Matriz, vaiou-o sem dó nem piedade, jogando-lhe um rosário de palavrões impublicáveis aqui. A tal ponto chegou a fúria da multidão que Brizola decidiu tirar dali o vice-presidente, fazendo-o sair pelos fundos ou pelos subterrâneos do Palácio até um ponto seguro de onde ele pudesse tomar rumo.

Ainda houve outros momentos trepidantes, como aquele em que um grupo inconformado de oficiais da Aeronáutica decidiu derrubar o avião em que Jango seguiria de Porto Alegre para a capital, na chamada “Operação Mosquito”. Uma complexa “Operação Tática” de resposta àquela foi montada a partir de Porto Alegre, garantindo o voo e o pouso em segurança no aeroporto de Brasília.

Nos anos que se seguiram os conspiradores de 61 tornaram-se os vitoriosos golpistas e canalhas de 64, quando o Povo perdeu e se desarticulou, para reaparecer, apenas nas manifestações pelas Diretas, em 83/84, com ganhos e perdas, até os funerais de Tancredo Neves, em 1985.

Anoiteceu mais cedo

O antes mencionado tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro, já promovido a coronel aviador, foi assassinado em 4 de abril de 1964, na mesma Base Aérea de Canoas, cujo comando assumira em 1961, como oficial legalista. Naqueles dias logo depois do golpe de abril, as luzes das ruas de Porto Alegre não eram acesas à noite. Lembro de uma dessas noites, em que eu estava à porta de nossa casa, e meu pai me falou: “entra, meu filho, hoje anoiteceu mais cedo”. Acho que era a noite deste mesmo dia 4 de abril.

De qualquer modo, as imagens e o canto de o Povo permanecem indeléveis nos olhos e nos tímpanos de quem O viu e ouviu, ainda que estejam um tanto desgastados pelo tempo.

P.S. Para quem não viu, recomendo o filme (ficcional e histórico) Legalidade (2019), dirigido por Zeca Brito. Uma surpresa: o pai do diretor atua como o Leonel Brizola já ancião, ao final do filme. Sua parecença com o ex-governador é tamanha, que houve quem pensasse que o próprio Brizola tivesse encenado seu papel, no fim da vida.

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Texto do professor aposentado, jornalista e escritor Flávio Aguiar, publicado originalmente na RBA.

Maria Gal entrevista Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos

Ivanir dos Santos. (FOTO/ Divulgação).

A coluna faz uma reflexão sobre a presença e visibilidade de pessoas negras no audiovisual.

“Tenho a coluna há um tempo na Vogue Gente. E de um tempo para cá optei em fazer também entrevistas na coluna. E pela primeira vez entrevistei o Babalawô e professor Ivanir dos Santos, o que foi uma honra. É muito importante ouvirmos quem veio antes de nós. A troca e aprendizado de poder conversar sobre a presença do negro no audiovisual brasileiro desde o início da TV. Tenho certeza que esta entrevista trará muita reflexão”, atesta Maria Gal.

Para o Prof. Ivanir dos Santos: “Temos muito o que falar, nossa representativa precisa ser contada, mas da forma correta. Com narrativas qualitativas, feitos e pensamentos transformadores para a sociedade”, atestou Ivanir.

A atriz Maria Gal é também apresentadora, palestrante, criadora de conteúdo e produtora. Já se apresentou no Brasil e no exterior, com prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema, em Madrid. Com passagens por diversas emissoras é colunista de diversidade na VOGUE e produz para cinema/TV e mídias digitais conteúdos que têm sinergia com a temática racial e feminina, através de sua produtora "Maria Produtora".

Seu entrevistado, atua há 40 anos em prol das liberdades, dos direitos humanos, das pluralidades contra o racismo e a intolerância religiosa, Ivanir dos Santos recebeu o prêmio International Religious Freedom (IRF), em julho de 2019.

Entregue pelo Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos. Foi o único líder religioso do Ocidente a ser premiado. Ao olhar para a trajetória de vida e militância, dentro e fora da esfera social, cultural, religiosa, política e acadêmica, o seu nome desponta como uma referência. É interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR). Pós-doutorando em História Comparada pela UFRJ (PPGHC/UFRJ). Coordenador de área de pesquisa no Laboratório de História das Experiências Religiosas da UFRJ (LHER). Membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN). Conselheiro Estratégia do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), entre outros.

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Texto encaminhado ao Blog por Rozângela Silva, Assessora de Imprensa.

Partidos e ex-ministros defendem instituições contra golpismo de Bolsonaro

 

Em nova afronta à estabilidade democrática, Bolsonaro protocolou no Senado pedido de impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes. (FOTO/ Isac Nóbrega/ PR)

Contra o golpismo do presidente Jair Bolsonaro e em defesa das instituições, dez partidos divulgaram notas em defesa da democracia neste domingo (22). Em documento assinado pelo bloco de oposição (leia abaixo), PT, PDT, PSB, Cidadania, PCdoB, PV e Rede prestaram solidariedade aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que também é o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que têm sido atacados por Bolsonaro. Nesta sexta-feira (20), o presidente protocolou no Senado pedido de impeachment de Moraes. Em outro manifesto (também abaixo), MDB, DEM e PSDB também condenaram o ataque de Bolsonaro às instituições.

“Não é com ações como essas que Bolsonaro se fará respeitar”, diz trecho da nota dos partidos de oposição. “A República se sustenta em três Poderes independentes e harmônicos entre si. É preciso respeitar cada um deles em sua independência, sem intromissão, arroubos autoritários ou antidemocráticos. Há remédios constitucionais para todos os males da democracia”, advertem os partidos de oposição.

Já o MBD, DEM e PSDB falam em “fantasma do autoritarismo”. “É lamentável que em momento de tão grave crise socioeconômica, o Brasil ainda tenha que lidar com a instabilidade política e com o fantasma do autoritarismo”, diz trecho da carta. “O momento exige sensibilidade, compromisso e entendimento entre as lideranças políticas, as instituições e os Poderes”.

Ex-ministros reagem

Também tomaram posição contra as afrontas de Bolsonaro à normalidade democrática dez ex-ministros da Justiça e da Defesa. Eles assinam manifesto dirigido ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no qual pedem a rejeição do pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Entre os signatários está o senador Jaques Wagner (PT-BA). Nas redes sociais, ele reafirmou que uma eventual admissão do processo de impeachment contra ministro do Supremo Tribunal Federal, neste momento, “surtirá efeitos nocivos à estabilidade democrática” e pode gerar uma “imensa insegurança no espírito de nossa sociedade e negativa repercussão internacional da imagem do Brasil”.

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Com informações da RBA. Leia a íntegra da nota aqui.

Ministro da Educação diz que diploma de universidade não adianta e critica Fies

 

Ministro da Educação, Milton Ribeiro. (FOTO/ Reprodução).

Neste sábado (21), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, questionou a busca por um diploma universitário por alunos que usam financiamento e depois, segundo ele, ficam endividados “porque não tem emprego”. O discurso aconteceu em um encontro com representantes dos governos municipais em Nova Odessa (SP).

Ao defender o ensino profissionalizante, o ministro declarou:

“Que adianta você ter um diploma na parede, o menino faz inclusive o financiamento do FIES que é um instrumento útil, mas depois ele sai, termina o curso, mas fica endividado e não consegue pagar porque não tem emprego.”

Milton Ribeiro falou sobre focar em escolas técnicas: “No entanto, o Brasil precisa de mão de obra técnica, profissional. E aí depois o moço ou a moça, elas fazem esse curso, arrumam um emprego, e depois falam: ‘O que eu gostaria mesmo é ser um doutor. Eu fiz um curso técnico em veterinário, já tenho um emprego, mas eu quero ser um médico veterinário'”.

Não é a primeira vez que Ribeiro questiona o ensino universitário amplo. Milton Ribeiro já declarou que “a universidade deveria ser para poucos” e também defendeu que as verdadeiras “vedetes” (protagonistas) do futuro sejam os institutos federais, capazes de formar técnicos.

Manifestação contra o Ministro da Educação

No evento, um grupo de estudantes fez um protesto contra Milton Ribeiro e por mais acesso à educação, e foi retirado a força pela Polícia Militar do portão do local.

Os manifestantes pediam mais oportunidades nas universidades e garantia de acesso à internet para alunos de baixa renda que tiveram o ensino prejudicado durante a pandemia.

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Com informações do Notícia Preta.

‘Perdeu o sentido’, diz Zé Ramalho ao abandonar parceria com Sérgio Reis

Sérgio Reis e Zé Ramalho: parceria desfeita após aventura golpista do cantor sertanejo. (FOTO/ Divulgação).

O cantor e compositor Zé Ramalho anunciou neste sábado (21) que não vai mais manter parceria com o cantor Sérgio Reis em álbum do sertanejo que será lançado neste ano. “A gravação perdeu o sentido”, disse Zé Ramalho em nota por meio de sua editora, a Avôhai Music, referindo-se à aventura golpista de Reis, que havia convocado mobilização para 7 de setembro em favor do governo de Jair Bolsonaro e pela intervenção militar.

Em 2019, o cantor havia gravado como convidado de Reis a canção Admirável gado novo, que seria incluída no álbum. Segundo o cantor nordestino, “tanto o compositor quanto sua editora não autorizarão a utilização da obra”.

Essa é a terceira baixa no disco de Sérgio Reis. A cantora Maria Rita e o cantor e compositor Guilherme Arantes também abandonaram a parceria com o cantor de pretensões golpistas, segundo o jornal Correio*.

Na sexta-feira, Sérgio Reis e o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) foram alvos de mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal. A ação foi expedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a incitação a atos violentos e ameaças contra a democracia.

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Com informações da RBA. Clique aqui e leia a nota divulgada por Zé Ramalho.

Blog Negro Nicolau e seu fundador recebem placas de melhores do ano em premiação da Nova Ideia Consultoria

Blog Negro Nicolau e seu fundador recebem placas de melhores do ano em premiação da Nova Ideia Consultoria. (FOTO/ Divulgação/ Montagem/ Valéria Rodrigues).


Por Valéria Rodrigues, Colunista

O Blog Negro Nicolau foi o melhor do ano em pesquisa de opinião pública na categoria “Site/Blog”, promovida pela empresa Nova Ideia Consultoria e Marqueting, de Brejo Santo-Ce.

A votação ocorreu por meio da Rede Social Instagram da empresa. A premiação e entrega das placas para as diversas categorias ocorreram na manhã desta sexta-feira, 20/08, na Câmara Municipal de Altaneira.

A equipe do Blog Negro Nicolau que conta com oito colunistas - inclusive esta que subscreve - e oito parceiros/as agradece ao público que escolheu essa mídia como a melhor do ano na categoria já descrita.

Sentimo-nos honrados com a escolha e reforçamos nosso compromisso de continuar fazendo esse papel diferenciado, principalmente em que pese a Comunicação Antirracista, disse o fundador e editor do Blog, Nicolau Neto.

Ele lembrou que em 2018 e 2019 o Blog também foi escolhido em pesquisa realizada pela empresa JR Mídia (relembre clicando aqui), de Juazeiro do Norte- Ce.

Nicolau esteve ontem recebendo não só a placa do Blog, mas também a de Historiador na categoria de mesmo nome. “Agradeço a todos e todas que escolheram”, escreveu ele em suas redes sociais.

Para historiador, ameaças constantes de golpe são busca de salvo-conduto para escapar de prisão

 

Para pesquisador, presidente mantém padrão 'morde e assopra', mostrando violência como forma de autodefesa. (FOTO/ Marcelo Camargo/Agência Brasil).

Na visão do cientista político e historiador do Direito Christian Lynch, as constantes ameaças de golpe do presidente da República, Jair Bolsonaro, representam mais uma tentativa de sair ileso depois de deixar o poder. “É uma espécie de salvo-conduto que ele vai levar para tentar garantir impunidade”, avalia, em webinar promovida pelo escritório Crivelli de advocacia na noite de ontem (19). Nesse sentido, é como se o chefe do Executivo ameaçasse promover “arruaças” caso tentem prendê-lo.

Na conversa, intermediada pelo advogado Ericsson Crivelli e pelo também cientista político Fabiano Santos, o historiador sustenta que Jair Bolsonaro adotou uma “adaptação bastante servil” da cartilha trumpista, referência ao ex-presidente americano Donald Trump. Assim como o admirado colega era apresentador de programas de auditório, o presidente brasileiro é em certa medida um personagem. Como se fosse um apresentador de programa policial, apologista da ditadura, que entretém uma plateia entediada da rotina política e descrente de instituições.

Escracho e hostilidade

Assim, ele apresenta “um espetáculo permanente de escracho, um show permanente de hostilidade em relação às instituições”. Mas até nisso mostra racionalidade política, observa Lynch, que também é professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj).

Ontem mesmo, em rede social Lynch definiu o padrão bolsonarista como “passivo-agressivo, que vende sua violência como autodefesa”. Para ele, o presidente não tem “perfil de verdadeiro golpista, mas de parasita preocupado só com o show do Gado”. Um comportamento padrão de “morde e assopra”: “Sua luta contra o sistema é puro telecatch”. A expressão remete à chamada luta livre com uma dose de encenação.

Sob a perspectiva histórica, que periodicamente desestabiliza a política brasileira, ele aponta a Operação Lava Jato como um “catalisador de destruição institucional”. O estrago, que atingiu Executivo e Legislativo, teria aberto caminho nas eleições de 2018 para alguém que inspirasse “força” ou “espírito autocrático”. Ainda assim, o analista imaginava Bolsonaro como a última dessas opções.

Populismo reacionário

O que ele chama de “populismo reacionário” do atual presidente tem como fonte, por exemplo, a crença em um regime militar como modelo de bom governo, em visão até diferente da direita do período da ditadura. Além da “espetacularização” no poder, da qual Bolsonaro dá demonstrações rotineiras com ameaças de golpe, e o já abordado “trumpismo”. Lynch não faz a crítica ao populismo em si, que pode existir em nível moderado e aceitável no exercício da democracia, sem necessariamente confrontá-la.

Dessa forma, o país tem hoje um governo formado não por critérios de gestão, mais interessado em destruir, em campanha eleitoral permanente. Assim, a “propaganda populista reacionária” é o epicentro do governo. O presidente, diz o pesquisador, não tem um “plano congruente de chegar em algum lugar”, o governo é simplesmente um instrumento para se manter. Como o atual governo não tem o que pôr no lugar das instituições, precisa “tensionar” o tempo todo com ameaças de golpe. Mas, a essa altura, ele aponta a comparação com um parasita: não pode matar o hospedeiro, porque morre junto.

Ao mesmo tempo, a atual coalizão conservadora pode ser encurtada pelo atual “desgoverno”. Como lenha que queima muito rápido, compara o historiador. Há também os desafios impostos pela economia real. “Não tem fake news que consiga substituir arroz e feijão no prato da população”.

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Com informações da RBA.

Bolsonaro traz insegurança à liberdade de crenças, mesmo com lei contra intolerância religiosa

Em 2007, o ex-presidente Lula (PT), sancionou a lei que criou o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que é comemorado no dia 21 de janeiro. - (FOTO/ SPS / Sheyla da Justa).

O Brasil é um país multicultural e que abrange diversas crenças religiosas. Mesmo com toda essa diversidade, a intolerância religiosa ainda está presente. Aos poucos, a luta contra esse tipo de descriminação vai se fortalecendo. Em 2007, por exemplo, o então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sancionou a lei que criou o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, que é comemorado no dia 21 de janeiro. A data presta uma homenagem à Ialorixá Gildásia dos Santos, conhecida como mãe Gilda de Ogum, fundadora do Axé Abassá de Ogum, em Itapuã (BA), que em 2000 foi atacada dentro do terreiro.

Mas a intolerância religiosa está ultrapassando o limite do preconceito em relação as diferentes religiões e está chegando até mesmo a gerar conflitos por diferenças de pensamentos dentro da própria religião como vimos no caso envolvendo o Padre Lino Allegri, aqui em Fortaleza que foi alvo de hostilização em suas homilias ao criticar a política de combate e prevenção à covid-19 do governo Bolsonaro. Em um desses episódios, padre foi criticado ao ler uma nota divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na qual um trecho diz “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB levanta sua voz neste momento, mais uma vez, para defender vidas ameaçadas, direitos desrespeitados e para apoiar a restauração da justiça, fazendo valer a verdade. A sociedade democrática brasileira está atravessando um dos períodos mais desafiadores da sua história. A gravidade deste momento exige de todos coragem, sensatez e pronta correção de rumos”.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Padre Lino Allegri disse que esse tipo de atitude tem a ver com o momento político-social que estamos vivendo no Brasil. “E talvez isso ganhou mais força, infelizmente, a partir da eleição de Bolsonaro a presidente, que se criou esse clima de antagonismo ferrenho, de ódio mesmo, que se manifesta de maneira brutal e violenta no palavreado e também nas ações”. Padre Lino afirma que “antes disso a gente fazia, realmente, na Igreja, menos pregações, digamos assim. As diferentes concepções de igreja não chegaram nesse ponto, digamos, violentos. Então isso é ligado mesmo ao momento político-social que estamos nós vivendo no Brasil”.

Babalorixá e professor, Baba Linconly é Doutor em Educação, professor na Unilab (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira) e pesquisador das manifestações culturais e religiosas africanas e afro-brasileiras no terreiro e na escola explica que é importante que a gente entenda e compreenda a diferença entre racismo religioso de intolerância religiosa. “A intolerância vai ser um ato que vai ser desenvolvido, praticado contra qualquer tipo de religião, mas a perspectiva das religiões de matrizes africanas, dos terreiros, basicamente, é a afirmação dessas organizações como um espaço político e de potencialização de vidas até então apenas subalternizadas e não apenas religioso. Nós estamos falando de um pacto civilizatório, pois se trata da estratégia de sobrevivência, luta e resistência de vários grupos étnicos, então falamos de um grande projeto civilizatório que são os terreiros”.

Governo Bolsonaro

No governo Bolsonaro, segundo Linconly, a mudança foi para pior. Se a hegemonia já imperava nas instituições como, por exemplo, espaços hospitalares, escolas e instituições públicas, apesar do estado e a constituição garantir que o estado e as instituições sejam laicos, não são. “É na escola que é rezado o Pai Nosso; é nesses espaços onde são feitos os cultos evangélicos; é nesse espaço onde vai ser chancelado toda a base hegemônica judaico-cristã, cristã, branca, heterossexual e binária. Então dentro dessa ideia, o estado brasileiro vai chancelar toda a perspectiva de fortalecimento dessa base, essa base que eu falo é a hegemônica que caminha com essa perspectiva e hoje nos coloca novamente em um local de subalternidade, novamente é um local e silenciamento de acorrentamento das nossas ações”.

Ele explica que a Lei 10.639 vem justamente para tentar promover, através dos espaços educacionais, uma ação de reparação. “Nós estamos falando de política de ações afirmativas, só que o Estado, a partir do governo Bolsonaro, vai mais uma vez nos colocar para debaixo do tapete, mais uma vez vai nos silenciar, mais uma vez tentar colocar mordaça na nossa boca. E hoje, com o protagonismo de vários atores sociais, nós estamos promovendo ações de enfrentamento”.

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Com informações do Brasil de Fato CE. Leia o texto completo aqui.