Lula não deve aceitar a prisão e deve pedir asilo político imediatamente


Ex-presidente Lula pode ser preso a qualquer momento. (Foto: Reprodução/Socialista Morena).


O Supremo Tribunal Federal decidiu hoje, por 6 votos a 5, não conceder habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado em segunda instância, sem provas, pelo TRF-4, de Porto Alegre, em janeiro. A presidenta do STF, Carmen Lúcia, em voto de Minerva, poderia considerar o princípio de in dubio pro reo, mas preferiu negar o pedido da defesa do petista.

Na opinião deste site, Lula não deve aceitar uma prisão injusta, resultado de uma perseguição política que se confirmou nos últimos dias com a absurda pressão de generais do Exército sobre o STF, condicionando a aceitação do habeas corpus a uma intervenção militar. Uma brutalidade contra um homem de 72 anos que há 40  dedica a vida ao Brasil e aos brasileiros, sobretudo aos mais humildes. Em qualquer país sério, estaria recebendo homenagens e não algemas.

O Brasil vive um estado de exceção desde que uma presidenta eleita, Dilma Rousseff, foi arrancada do cargo em 2016 por um golpe parlamentar liderado por um político que se encontra neste momento na cadeia, auxiliado pela mídia comercial e por magistrados partidários que transformaram a “Justiça cega” em caolha, capaz de enxergar corrupção apenas no PT. Ou todas as acusações feitas ao PSDB, partido sócio de Michel Temer, não seriam sumariamente arquivadas ou prescritas.

Desde 2014 a operação Lava-Jato revirou a vida de Lula pelo avesso. Não encontrou uma só conta bancária no exterior. Nenhuma mala de dinheiro. Nem um mísero telefonema em que fosse flagrado em alguma ação criminosa. Bem ao contrário de seus adversários, que continuam em seus cargos e seus palácios, como se nada tivesse acontecido. Os procuradores que viraram piada com o power point não conseguiram provar que o triplex era de Lula, mas a “Justiça” o condenou por “convicções”. Como concordar com uma arbitrariedade dessas? Como baixar a cabeça e simplesmente acatar a sentença, como quer a presidenta do STF?

A direita brasileira deu provas de sua covardia em relação às urnas, ao julgamento popular, à democracia. Escancarou o medo diante de uma possível vitória de Lula em 2018, que seria a quinta do PT à presidência, cumprindo a vontade do povo e contrariando o consórcio midiático liderado pela Rede Globo. O PT derrotou a Globo quatro vezes com a força do povo. Só restou à emissora golpista patrocinar a prisão de um homem inocente.

O objetivo claro dessa perseguição é destruir, com a prisão de seu líder, o partido de esquerda mais competitivo que o Brasil já conheceu, com reais condições de chegar ao poder ainda hoje. Apesar do massacre, Lula aparece à frente de todas as pesquisas de opinião. Mesmo preso, o ex-presidente seria capaz de influenciar a decisão de milhões de eleitores, daí a dúvida de que as eleições acontecerão de fato. Mas que ninguém se engane: o objetivo maior é esmagar a esquerda inteira. Quem é de esquerda e não se revolta contra essa prisão atenta contra seu próprio futuro.

Rejeitado o habeas corpus, o ex-presidente pode ser preso a qualquer momento. Chegou a hora de Lula marcar posição internacionalmente de que sua condenação é uma condenação política. Como qualquer vítima de perseguição política, e até para garantir sua integridade física, o ex-presidente tem direito a pedir asilo em algum país do mundo que preze por suas instituições democráticas, o que já não é o caso do Brasil.

Vai ser livre, Lula. Você merece. (Por Cynara Menezes, no Socialista Morena)

STF decide que Lula pode ser preso após recursos serem julgados pelo TRF4. Rosa Weber foi voto essencial


Carmen Lúcia foi criticada novamente por ter pautado HC antes de colocar ADCs em votação.
(Foto: José Cruz/Agência Brasil).


O Supremo Tribunal Federal negou, em votação iniciada na tarde da quarta-feira e concluída apenas no início da madrugada desta quinta-feira 5, habeas corpus ao ex-presidente Lula. A decisão, tomada por 6 votos a 5, permite que seja decretada a prisão de Lula, mas a defesa ainda tem prazo para apresentar embargos de declaração ao TRF4, tribunal que confirmou em segunda instância a condenação do ex-presidente. Há, porém, a possibilidade de Moro decretar a prisão sob o argumento de que o acórdão do julgamento não foi modificado.


A votação do STF foi marcada, antes mesmo de começar, pelas pressões e ameaças veladas manifestadas pelos líderes do alto comando militar. Encabeçados pelo general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército, oficiais de alta patente fizeram uma "blitz" em redes sociais para afirmar, de modo indireto, que só aceitariam um resultado da Corte: a derrubada do pedido de HC para Lula.

Houve, ainda, novos protestos do ministro Marco Aurélio, que denunciou a estratégia da presidente do STF, Cármen Lúcia, de pautar a votação do HC antes de colocar em pauta duas Ações Diretas de Constitucionalidade que tratam de prisão após condenação em segunda instância - o entendimento é de que o resultado da votação das ADCs seria diferente e mais favorável ao ex-presidente. "Que isso fique nos anais do tribunal. Vence a estratégia, o fato de vossa excelência não ter pautado as ADCs", afirmou.

Sobre a pressão dos militares, coube ao decano da Corte, ministro Celso de Mello, responder. "Insurgências de natureza pretoriana, à semelhança do ovo da serpente, descaraterizam o poder civil ao mesmo tempo em que o desrespeitam", afirmou em tom duro o ministro, que cutucou os militares em diversos momentos do julgamento.

A defesa de Lula tentou impedir que Lula seja preso antes da votação das ADCs, mas não teve sucesso. Por decisão da maioria, a liminar que impedia a prisão do ex-presidente também perdeu validade.

Rosa Weber

Considerada um voto decisivo, a ministra Rosa Weber negou o habeas corpus. Ela preferiu analisar apenas o caso específico do ex-presidente, e deixou de lado sua posição de que não é possível permitir prisões em segunda instância. A sua posição era a única considerada imprevisível.

Weber perguntou-se sobre "o que está na mesa" no atual julgamento. Ela afirmou que retomaria seu voto de 22 de março, com o objetivo de mostrar que sua posição não foi influenciada por Gilmar Mendes ou Marco Aurélio Mello.

Pressionada nos últimos dias, Weber procurou afirmar que seu voto não era decisivo. "A senhora presidente está me concedendo a palavra em quinto lugar. O placar no momento está em 3 a 1", declarou antes de iniciar seu voto.

No início, Weber manteve foco no habeas corpus e não na tese da prisão em segunda instância. Ela defendeu que os juízes individualmente considerados estão a serviço de um propósito institucional e defendeu o respeito ao princípio da colegialidade, ou da maioria. "Tendo integrado a corrente minoritária, passei a adotar nessa Suprema Corte a orientação hoje prevalecente de modo a atender o princípio da colegialidade."

Segundo esse raciocínio, a ministra negou 57 de 58 habeas corpus contra prisões em segunda instância desde 2016, embora discorde pessoalmente da medida.

Ainda contra Lula, além de Rosa e da própria Cármen Lúcia, votaram os ministros Edson Fachin, relator, Alexandre de Moraes, José Roberto Barroso e Luiz Fux. A favor do ex-presidente, além de Marco Aurélio e Celso de Mello, votaram Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.

O que acontece agora?

O último recurso de Lula o TRF4 se esgotou no dia 27 de março. Agora, resta uma última etapa a ser cumprido pelo tribunal. Os advogados de Lula tem até, no máximo, dia 10 de abril, próxima terça-feira, para pedir a análise dos chamados embargos dos embargo. A defesa pode, no entanto, entrar com o recurso a qualquer momento. Esta é uma apelação aos embargos de declaração, negado também por unanimidade.

A praxe dos desembargadores, segundo sua própria assessoria, é de negar este tipo de recurso, em especial quando a conclusão do processo é feita sem discordâncias na corte.

A partir daí o tribunal de Porto Alegre expede um ofício ao juiz federal Sérgio Moro informando que a o processo no TRF-4 se encerrou. Não há um prazo determinado para que isso ocorra, mas de modo geral não leva mais do que alguns dias. Tão logo Moro receba o documento, o mandado de prisão já pode ser expedido.

Há ainda outra possibilidade que não deve ser descartada: o juiz Sérgio Moro pode, com a informação oficial do STF sobe o habeas corpus, expedir mandado de prisão, pois o acórdão do julgamento de Lula na segunda instância não foi modificado. (Com informações de CartaCapital).

Vereador questiona valor a ser gasto na reforma da Câmara de Altaneira


Vereador Adeilton questiona valor a ser gasto na reforma do prédio da Câmara de Altaneira. 
(Foto: Júnior Carvalho).

O poder legislativo de Altaneira reuniu-se na manhã desta quarta-feira, 04/04, e sem nenhuma matéria para ser apreciada e votada, as discussões estiveram voltadas para a posse do professor Paulo Robson como diretor da Escola de Ensino Médio Santa Tereza e as demonstrações de sentimentos de pesar à família de Salomão Gonçalves - ex-vereador da casa na década de 60 do século passado -, que faleceu na última segunda-feira, 02.

Mas nem só de votos de felicitações e de sentimentos de pesar, foi marcada a sessão de hoje. Um detalhe chamou a atenção. Sob a justificativa de desejar participar da Marcha dos Vereadores em Brasília entre os dias 23 a 26 do mês corrente, o vereador Professor Adeilton (PSD) – líder da oposição -, questionou acerca do alto valor que o presidente do legislativo municipal, o vereador Antonio Leite (PDT) pretende gastar na reforma da sede da câmara. Segundo ele, o valor estaria orçado em R$ 120.000 (cento e vinte mil reais) e que estaria sido sondado por algumas pessoas.

O líder oposicionista não chegou a questionar de fato a necessidade da obra, mas arguiu que o importante é investir nas pessoas e, conforme relato no sítio do legislativo, “pediu ao presidente que pense com carinho nessa questão”.

Antonio Leite negou que vá gastar R$ 120.000 na reforma da casa legislativa e fez críticas contundentes àqueles/as que hoje questionam os possíveis reparos, uma vez que se calaram ante os “desmandos da gestão passada com diversos gastos desnecessários”. E concluiu que a restauração será feita com transparência e responsabilidade.

Não foi informado, entretanto, quando pretende iniciar a restauração do prédio.

Rede Pública de Ensino do Ceará apresenta redução histórica na taxa de abandono escolar


Escolas Públicas no Ceará apresentam redução histórica na taxa de abandono escolar.
(Foto: Reprodução/ Portal do Governo)


A rede pública estadual de ensino do Ceará apresentou redução histórica do abandono escolar em uma década. A taxa em 2007 alcançou os 16,4%, baixando para 6,6% no ano passado. Os dados foram divulgados pelo governador Camilo Santana, durante solenidade no Palácio da Abolição, nesta terça-feira (3). Acompanharam o chefe do Executivo a vice-governadora Izolda Cela, o secretário da Educação, Idilvan Alencar, além de estudantes e educadores.

Durante apresentação dos resultados na rede pública de 2017, Camilo Santana destacou que 105 escolas de municípios cearenses apresentaram abandono zero. Destas, 89 são Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs), 15 de Ensino Regular e uma indígena. As escolas com mais de mil alunos matriculados apresentaram até 2% de abandono ao longo do ano letivo abordado.

O governador afirmou que a redução dos índices é resultado dos investimentos realizados pelo Governo do Ceará em programas e planejamentos sólidos para um ensino público de qualidade.

A nossa meta para 2018 é cair ainda mais de 6,6%, que foi o menor índice da história estatística do Ceará. Nossa meta é chegar a zero. Vamos manter essa redução. O grande objetivo nosso é garantir o envolvimento de todos os 184 municípios cearenses. Esse é um esforço que nós estamos construindo por um Ceará do futuro, de esperança para os nossos jovens”, explicou Camilo.

O chefe do Executivo detalhou que as Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral têm sido ferramenta de grande importância para que os alunos não desistam das aulas. No Ceará, das 720 escolas da rede pública estadual, 228 ofertam a jornada prolongada (111 de Ensino Regular e 117 de Educação Profissional).

Já somos o 2º estado do Brasil com maior número de Escolas em Tempo Integral. Queremos avançar para o 1º. Já somos o número 1 em Escolas Profissionalizantes. Sabemos da importância dessa política, que conta com o esforço e a dedicação de todos os gestores e professores que fazem o dia a dia dessas escolas”, contou.

Estímulos ao estudante

A fortalezense Kauely Filgueiras, 14, ingressou há poucos meses no 1º ano do Ensino Médio. E ela foi responsável por ir ao palco da solenidade desta terça-feira para representar todos os alunos da rede estadual.

O acolhimento que a gente tem na rede é muito importante para o incentivo, para a gente querer ir para a escola e não desistir. Quando eu cheguei no Ensino Médio, me deparei com algo tão maravilhoso, me apeguei tanto, que não tem como deixar a escola em momento algum”, compartilhou a estudante ao lado do governador.

José Cândido, 16, tem a certeza de que a preparação para o Ensino Superior e para a vida profissional é proporcionada pela escola pública no Ceará. Aluno de Escola Estadual de Educação Profissional no bairro Jangurussu, em Fortaleza, ele projeta cursar Matemática e tornar-se professor. Nas aulas do Ensino Médio, ele já tem bons exemplos para se espelhar.
Os coordenadores e professores são preparados e investem nos alunos e esse investimento traz resultados. É de super importância a gente ter estrutura boa, um acompanhamento bom, pois a educação se faz assim. Isso não é um gasto que o Governo tem. É um investimento que vai formar novos professores, médicos, advogados”, disse.

O secretário da Educação, Idilvan Alencar, destaca que alunos como Kauely e José reforçam a necessidade do Estado nunca descansar até que todos os jovens cearenses tenham acesso à educação de qualidade e o suporte necessário para concluir os estudos no ensino público. “O lugar de aluno é na escola. Nós temos escolas em áreas vulneráveis, dentro de realidades difíceis, e sei do empenho dos educadores de cada uma delas para ir atrás dos jovens e guiá-los para bons resultados. Existem esforços dos professores e coordenadores e políticas públicas para que possamos avançar nesses objetivos”.

Ações de combate ao abandono

Camilo Santana listou uma série de políticas públicas realizadas com intensidade em 2017 como fatores responsáveis pelo combate ao abandono escolar. Foram elas: o esforço diário dos professores, servidores e gestores; o Projeto Professor Diretor de Turma; o fortalecimento da Atuação do Coordenador Escolar; o mapeamento da infrequência dos alunos pela Sala de Situação; os boletins analíticos bimestrais por monitoramento da infrequência elaborados pela COAVE; o acompanhamento de alunos em situação de abandono pela superintendência escolar; a criação do programa #ChegueiEnsinoMédio; o fortalecimento das competências socioemocionais dos estudantes e ações estratégicas do Programa Jovem de Futuro.

Em 2018, o Governo do Ceará tem como metas principais, dentro do plano de diminuição do abandono, a qualificação do Projeto Diretor de Turma, o maior foco na atuação do coordenador escolar e a criação do Programa Nenhum a Menos, que será divulgado com detalhes na próxima quinta-feira (5), na sede da Secretaria da Educação (Seduc).

Para a vice-governadora Izolda Cela, é preciso cada vez mais superar os resultados apresentados na Educação, com uma gestão e lideranças políticas conscientes e dedicadas a investir na área.

Temos com os municípios um grande e renovado desafio de manter os baixos índices de abandono escolar. Para garantir a presença de nossos alunos nas escolas temos muito trabalho e a participação de toda a comunidade escolar é fundamental, fazendo com que os jovens vinculem à escola aos seus projetos de vida. São vários projetos que estão em andamento nas escolas e estes são realmente uma convocação a todos nós para que não haja abandono da escola, permitindo que os alunos de fato concluam o ensino médio e tenham a possibilidade de alçar voos mais altos. Não tenho dúvida de que estamos neste momento dando uma contribuição valiosa para que tenhamos uma sociedade mais justa”, discursou Izolda. (Com informações do Portal do Governo do Estado do Ceará).

O tuíte do general Villas Boas é a maior chantagem à Justiça desde a ditadura



O Supremo tem, agora, uma arma apontada contra os juízes: ou votam contra o HC de Lula e pela prisão em segunda instância, ou… ou o quê, general? Traem a pátria? Traem o interesse público? Contrariam suas convicções pessoais? Desagradam sua corporação?

Se o ministro Fachin tinha sido ameaçado, agora teria razões para denunciar a chantagem.

Vivemos uma sequência de ataques à democracia e à independência dos poderes.

O comandante do Exército, general Eduardo Dias da Costa
Villas Boas, que ameaça romper com a democracia.
(Foto: Marcelo Camargo/ABR).
Marielle e Anderson assassinados, a caravana de Lula agredida com tiros e impedida, pela violência, de seguir viagem, a mídia ensandecida porque a direita não encontra um candidato viável.

Querem o quê? Prender Lula? Se não bastar, pretendem o quê? Suspender as eleições ou neutralizá-la com o parlamentarismo tirado do bolso do colete nas vésperas do pleito?

O que muita gente boa parece não entender é que o impeachment, na atmosfera envenenada por um antipetismo patológico, abriu caminho para que saíssem do armário todos os espectros do fascismo. "Não sou petista: sou anti-antipetista."

O antipetismo é o ingrediente que faz as vezes do antissemitismo, na Alemanha nazista.

O antipetismo identifica O CULPADO de todas as perversões, o monstro a abater, o bode expiatório, a fonte do mal.

O antipetismo gerou o inimigo e gestou a guerra político-midiática para liquidá-lo, guerra que se estende, sob outras formas (mas até quando?), às favelas e periferias, promovendo o genocídio de jovens negros e pobres, e aniquilando a vida de tantos policiais, trabalhadores explorados e tratados com desprezo pelas instituições.

Há um fio de sangue que liga as palavras ameaçadoras do general, interferindo na autonomia do Supremo, na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula, a agenda regressiva que cancela direitos, as balas contra a caravana de Lula e a execução de Marielle e Anderson.

Os autores não são os mesmos, e existem contradições entre eles, mas há uma linha de continuidade porque todas ocorrem no cenário de degradação institucional criado pelo antipetismo e nele se inspiram.

Ser contrário ao antipetismo, mesmo não sendo petista, é necessário para resistir ao avanço do fascismo.

Os que votaram pelo impeachment e, na mídia, incendiaram os corações contra Lula e o PT, sem qualquer pudor, não tendo mais como recuar, avançam ao encontro da ascensão fascista, que ajudam a alimentar, voluntária e involuntariamente.

Não podemos retardar a formação de ampla aliança progressista pela democracia, uma frente única antifascista. (Por Luiz Eduardo Soares, na RBA).

Brasil: o fundo do poço ou poço sem fundo?


(Foto: Twitter/Reprodução).


Tenho revisto as cenas da sequência do filme Cabaret (1972), dirigido por Bob Fosse, com Liza Minelli e grande elenco, conhecida como "Tomorrow belongs to me" (O amanhã pertence a mim).

Nela dois dos personagens, o inglês Brian Roberts (Michael York) e o aristocrata alemão Maximilian von Huene (Helmut Greim) vão a um "Bier Garten" (bar/café ao ar livre) próximo da casa de campo deste último, na Alemanha.

Ali se desenrola uma cena que começa idílica e se transforma em sinistra. A câmera foco o rosto bonito de um jovem louro, que entoa, com sua voz de tenor, quase de tenorino, uma canção que reúne alguns lugares comuns (expressão que não é necessariamente pejorativa) do romantismo germânico (embora composta por dois norte-americanos, John Kander e Fred Ebb). Ela fala de um veado que corre livre na floresta, do sol que aquece o prado, do bebê que adormece no berço, da tempestade de verão que se aproxima… reunindo tudo sob o refrão-título: "o amanhã pertence a mim", isto é, ao vigor da juventude.

A câmera, descendo lentamente, revela que o jovem veste a camisa parda dos SA nazistas, com a braçadeira expondo a suástica. A canção idílica vai se transformando num hino belicoso, na medida em que quase toda a plateia, de todas as idades, canta com o jovem. Ao fim, os dois amigos se retiram, assustados, e Brian pergunta a Max: "você ainda acha que pode controla-los?", numa referência a crença deste de que os nazistas serviriam para neutralizar a esquerda e depois poderiam ser contidos pelas forças políticas dos conservadores tradicionais.

A cena serve muito bem para encararmos o que se passa no Brasil de hoje. Escrevo estas apressadas linhas às sete da manhã (hora de Brasília), meio dia em Berlim. Não sei qual será a decisão do STF sobre a prisão ou não do ex-presidente Lula. Mas sei que, seja ela qual for (prisão, liberdade, postergação) ela levará os golpistas remanescentes à histeria, seja ela festiva ou enfuriada.

Em primeiro lugar, porque eles já ficaram histéricos, com a decisão anterior do STF, dando uma espécie de "salvo-conduto" a Lula até hoje, 4 de abril. Esta decisão não estava no seu script. Em segundo lugar, porque ela veio se somar a uma série de problemas que eles enfrentam, embora de momento detenham a faca, o queijo e o tabuleiro político nas mãos. E os problemas vão se transformando em impasses.

O governo Temer está nas cordas e na lona. Desmoralizado e desmoralizando o Brasil no mundo inteiro, só tem a oferecer o espetáculo vexaminoso de sua luta pela própria sobrevivência em meio a um mar de denúncias e de fracassos até mesmo em relação ao vergonhoso programa de retrocesso político, social, econômico, cultural e educacional, além de na previdência e na saúde, que vem se esforçando por impor ao país.

Os golpistas estão esfrangalhados, embora ainda os una o empenho em retirar Lula da eleição e as esquerdas da cena política. Seu poder de mobilização das parcelas reacionárias das classes médias arrefeceu, embora continuem as campanhas virulentas na mídia e nos espaços virtuais.

Atesta este impasse o fracasso das manifestações pela prisão de Lula convocadas para ontem (3), em todo o país - até com o auxílio de empresas - que se limitaram a reunir uns poucos gatos pingados de norte a sul, de leste a oeste. Gatos pingados, porém perigosos. O seu jogo está se tornando cada vez mais violento, açulados pela aura de impunidade que os protege.

O que se viu nos últimos dias mostra bem a agitação deflagrada nas suas hostes tanto pelo sucesso das caravanas de Lula e a formação de uma frente (ainda limitada às esquerdas) anti-fascista quanto pela decisão (para eles inesperada) do STF.

O que foram pedradas e chicotadas contra a caravana se transformaram em tiros contra os ônibus, com as autoridades do Paraná fazendo vista-grossa e políticos que querem aparecer como moderados condenando as vítimas pelo incidente.

Pipocaram editoriais na mídia golpista pedindo a prisão do ex-presidente. Pedindo? Ordenando. Multiplicaram-se as vozes dos economistas de vitrine pregando que o esfrangalhamento da economia do país, seu retalho entre multinacionais, o dramático desemprego, a precarização do trabalho que corrói o poder aquisitivo da população, o neo-crescimento da desigualdade, da miséria, do número de pedintes, incluindo crianças, o retorno do Brasil ao mapa da fome, tudo isso junto chama-se "recuperação" e "retorno à normalidade".

Sem falar na redução a pó de traque do prestígio brasileiro na cena internacional, que se mantinha de pé até o golpe de 2016. Para completar o conturbado quadro, vieram à tona declarações inoportunas (para os golpistas oportunas, válidas e inseridas no contexto) de próceres militares sobre combate à impunidade e falando em "missão institucional".

O maior problema enfrentado pelos golpistas é o de que o Brasil não cabe mais (e faz tempo) no tabuleiro de usas ideias anacrônicas, feitas de importações das piores quinquilharias do pensamento neo-liberal e norte-americano.

Portanto, para manter o tabuleiro e a tábua das suas ideias, tudo o que terão a oferecer será a sinistra combinação que se prefigura naquela canção do filme: um conluio de repressão violenta para manter "a ordem" e o suposto progresso, com a impunidade da baderna dos grupos para-militares, da sanha da nova "tigrada" corporativa, agora muitas vezes togada, aliada à propagação mais deslavada de "fake news" na mídia e no campo virtual. Como já mencionei, independentemente do resultado de hoje no STF. Até quando?

O diabo é o que e quanto teremos de pagar para ver. (Por Flávio Aguiar, na RBA)



Uma bomba de ódio foi armada em torno do julgamento de Lula


Lula. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress).



Independentemente do resultado do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Lula, pelo Supremo Tribunal Federal, nesta quarta (4), ainda teremos um país na manhã seguinte. Seria importante, portanto, que não agíssemos como se o mundo acabasse após a decisão.

Para quem sofre de problemas crônicos de interpretação de texto, não estou sugerindo panos quentes a nenhum dos lados. O debate deve ser feito com a gravidade e a seriedade que o tema demanda. Mas as poucas pontes de diálogo que restaram após o impeachment de Dilma Rousseff correm o risco de ruir nesse processo, abrindo caminho para o inominável. Diálogo não significa conciliação ou ''acordão'', mas tornar a convivência possível.

As afirmações de generais de pijamas, de que podem promover um golpe militar caso os resultados das eleições de outubro não sejam do seu agrado, não devem ser encaradas como ameaças reais. Afinal, parte considerável das Forças Armadas opera, hoje, dentro de parâmetros democráticos e encara essas declarações estapafúrdias da mesma forma como vemos um tio descompensado no WhatsApp . da família. Mas o espaço que se confere a elas e a consequente reverberação funcionam como um termômetro do nível de respeito às instituições. Que anda baixo, muito baixo.

O próprio Supremo, por sua ação e inação, é um dos responsáveis pela situação de crise institucional que chegamos, ao dar pesos diferentes a crimes semelhantes dependendo do réu, ao se calar quando precisávamos que reafirmasse a Constituição Federal e por passar por cima da mesma Constituição quando bem quis. Por sua covardia e fraqueza nos momentos em que foi chamado a garantir isonomia no tratamento a diferentes grupos políticos à luz da lei, tornou-se cúmplice da zorra que bate à sua porta.

Poderia ter discutido, há muito tempo, a questão da possibilidade de execução provisória da pena após condenação em segunda instância para todos os casos. Mas esperou o processo de Lula cair à sua mesa como uma bigorna, criando tensão para a corte e milhares de outros brasileiros que poderiam ser beneficiados se voltasse o entendimento de prisão após trânsito em julgado.

Enquanto isso, religiosos e parte da mídia inflamam a população, desumanizando o adversário e transformando o jogo democrático em uma luta do bem contra o mal. E políticos inflamam seus eleitores contra jornalistas, progressistas e conservadores, por eles estarem divulgando fatos reais e não as opiniões que convém a esses políticos. Como consequência, pessoas passam a desejar e a festejar a morte daqueles que foram desumanizados e jornalistas sérios passam a apanhar nas ruas porque cismam em não concordar que emoções superam provas.

Neste momento, pessoas decretam a inutilidade não só do parlamento, mas também da própria atividade política – que, teoricamente, deveria ser uma das mais nobres práticas humanas. Outros solicitam que se encontre um ''salvador da pátria'' que nos tire das trevas, sem o empecilho de pesos e contrapesos.

Mas isto é Brasil. E ao clamarem por messias, receberão o anticristo.

A corrupção minou bastante a credibilidade de instituições. Mensalões, Trensalões, Lavas-Jato e a maioria dos escândalos, que permanecem longe dos olhos do grande público, foram relevantes. Mas a incapacidade da classe política de garantir a proteção do emprego da população mais vulnerável e um mínimo de segurança pública para tocar o dia a dia jogaram água no moinho da antipolítica.

A maior parte do povão, a maioria amorfa em nome do qual tudo isso é feito, mas que raramente se beneficia do grosso do Estado, não foi às ruas nem pró, nem contra Dilma Rousseff. Da mesma forma, não irá nem a favor, nem contra prisão de Lula. Continua onde sempre esteve: trabalhando pelo bem-estar de uma minoria e assistindo a tudo bestializado pela TV.

Nesse contexto, ter opinião virou crime, defender um ponto de vista, delito, abraçar uma ideologia, passível de morte. Ou, em outras palavras, ''fazer política é escroto''. Ou, pior, caminho para o enriquecimento ilícito. Ou seja, espalha-se a percepção de que quem se engaja na política, partidária ou não (porque muitos fazem questão de resumir toda política à partidária), tem interesses financeiros. Porque muita gente não consegue entender que a vontade de participar dos desígnios da pólis não seja apenas por ganho pessoal.

Para piorar, alguns grupos que viviam à sombra de partidos, de um lado e de outro do espectro ideológico, mas principalmente entre os conservadores, se fortaleceram no processo de impeachment. Os partidos e parte da imprensa acharam que estavam reunindo as forças ao seu lado para a guerra. Agora, começaram a perceber que podem sair desse caos como coadjuvantes. Transformados em milícias digitais que operam perfis falsos e páginas voltadas à desinformação e manipulação, esse pessoal não acredita no diálogo, apenas na porrada e na humilhação.

Gritar tudo isso para a nossa bolha nas redes sociais também não resolve. Ou você respira fundo e conversa com quem pensa de outra forma, promovendo a empatia onde ela não existe e concedendo – nessa conversa – o mesmo tratamento que confere aos seus amigos, ou continuaremos vendo exércitos se armarem de cada lado para uma guerra em que apenas as baratas sobreviverão.

Meu medo é que o ódio mútuo esteja consolidado de tal forma que as pessoas já não sejam incapazes de perceber que a discussão não é entre esquerda e direita, mas entre civilização e barbárie.

E, após uma guerra nuclear, restem apenas as baratas.

Baratas que podem se tornar a principal referência política. Baratas que podem ser eleitas para o comando da República. Porque, se por um lado, são asquerosas, por outro, são simples e resistentes.

Estavam lá antes de nós e estarão muito depois de todos irmos embora. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).