O que faz o Brasil ter a maior população de domésticas do mundo


Trabalho doméstico respondeu por 14,6% dos empregos formais das brasileiras em 2017.(Foto: Getty Images).

Se organizasse um encontro de todos os seus trabalhadores domésticos, o Brasil reuniria uma população maior que a da Dinamarca, composta majoritariamente por mulheres negras, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo dados de 2017, o país emprega cerca de 7 milhões de pessoas no setor - o maior grupo no mundo. São três empregados para cada grupo de 100 habitantes - e a liderança brasileira nesse ranking só é contestada pela informalidade e falta de dados confiáveis de outros países.

Com um perfil predominante feminino, afrodescendente e de baixa escolaridade, o trabalho doméstico é alimentado pela desigualdade e pela dinâmica social criada principalmente após a abolição da escravatura no Brasil, afirmam especialistas.

Um estudo feito em parceria entre o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao Ministério do Planejamento, e a ONU Mulheres, braço das Nações Unidas que promove a igualdade entre os sexos, compilou dados históricos do setor de 1995 a 2015 e construiu um retrato evolutivo das noções de raça e gênero associadas ao trabalho doméstico.

Os resultados demonstram a predominância das mulheres negras ao longo do tempo.

Em 1995, havia 5,3 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil. Desses, 4,7 milhões eram mulheres, sendo 2,6 milhões de negras e pardas e 2,1 milhões de brancas. A escolaridade média das brancas era de 4,2 anos de estudo, enquanto que das afrodescendentes era de 3,8 anos.

Vinte anos depois, em 2015, a população geral desses profissionais cresceu, chegando a 6,2 milhões, sendo 5,7 milhões de mulheres. Dessas, 3,7 milhões eram negras e pardas e 2 milhões eram brancas. O nível escolar das brancas evoluiu para 6,9 anos de estudo, enquanto que, no caso das afrodescendentes, chegou a 6,6 anos.

"Ainda hoje o trabalho doméstico é uma das principais ocupações entre as mulheres, que são a maioria no setor em todo o mundo, cerca de 80%. No Brasil, permanece sendo a principal fonte de emprego entre as mulheres", diz Claire Hobden, especialista em Trabalhadores Vulneráveis da OIT.

Em 2017, o trabalho doméstico respondeu por 6,8% dos empregos no país e por 14,6% dos empregos formais das mulheres. No começo da década, esse tipo de serviço abarcava um quarto das trabalhadoras assalariadas.

Legado da escravidão

O professor e pesquisador americano David Evan Harris é um dos especialistas que defendem que o cenário do trabalho doméstico no Brasil atual é herança do período escravagista.

"O Brasil foi um dos últimos países do mundo a acabar com a escravidão. Se olharmos para quem são as empregadas, veremos que elas tendem a ser pessoas de cor", diz o acadêmico, formado pela Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, e mestre pela USP.

"Analisando cidades como Rio e São Paulo, percebe-se que as domésticas muitas vezes são pessoas que migraram do Norte e Nordeste para o Sul e Sudeste. E, como se sabe, o Nordeste é para onde boa parte das populações de escravos foi originalmente trazida. Há uma situação de dinâmica geográfica, histórica e social que continua até hoje."


Segundo a historiadora e escritora Marília Bueno de Araújo Ariza, mesmo após a abolição, em 1888, mulheres e homens negros continuaram sendo servos ou escravos informais, o que também deixou seu legado no mercado de trabalho.

Segundo historiadores, sociedade brasileira criou sistema que matinha negros no trabalho informal para impedir sua ascensão após abolição da escravatura. (Foto: Biblioteca do Congresso dos EUA).

As domésticas de hoje são majoritariamente afrodescendentes porque "justamente eram essas pessoas que ocupavam os postos de trabalho mais aviltados na saída da escravidão e na entrada da liberdade no pós-abolição", afirmou ela à BBC Brasil.

A ideia de ter um servo na família era muito comum, mesmo entre quem não era rico e vivia nas regiões semiurbanas do século 19, segundo Ariza.

"A escravidão brasileira foi diversa, mas foi sobretudo uma escravidão de pequena posse. No Brasil, todo mundo tinha escravos. Quando as pessoas tinham dinheiro, elas compravam escravos com muita frequência."

Em São Paulo, por exemplo, muitas famílias - mesmo as relativamente pobres, muitas delas chefiadas por mulheres brancas - "tinham uma ou duas escravas domésticas para realizar afazeres na casa ou na rua".

'Racismo estrutural'

Ariza acredita que o Brasil do século 21 herdou do passado colonial, imperial e escravista uma "profunda desigualdade na sociedade que não foi resolvida" e "um racismo estrutural".

"Essas duas coisas combinadas nos levam a um quadro contemporâneo que usa racionalmente o trabalho doméstico porque ele é mal remunerado e, até recentemente, não tinha quaisquer direitos reconhecidos", resume.

A ratificação pelo Brasil da Convenção Internacional sobre Trabalho Doméstico (convenção 189 da OIT) ocorreu neste mês de fevereiro e foi considerada um avanço na proteção dos direitos desses trabalhadores.

O compromisso vem no lastro da adoção da emenda constitucional 72 de abril de 2013, conhecida como a "PEC das Domésticas", e da lei complementar 150 de 2015, iniciativas para coibir a exploração, dar mais amparo e formalização ao emprego.

"Apesar dos esforços dos governos recentes em trazer essas empregadas para a formalidade, o que se vê hoje é o aumento da informalidade", pondera o professor e doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Carlos Eduardo Coutinho da Costa.

Na sua visão, que as relações sociais do trabalho doméstico não têm necessariamente vínculo com a escravidão em si, mas, sim, com a dinâmica racial que se estabeleceu após a alforria, a partir de 1888.

"Era muito comum tanto no pós-abolição imediato, quanto ainda nos dias de hoje, as pessoas dizerem (a negros e pobres): 'ponha-se no seu lugar'. Mas que lugar é esse ao qual os pobres pertencem?", indaga.

"Quando acabou a escravidão, todas aquelas relações de dominação caíram por terra. Foi um período muito próximo do fim da monarquia também, então todas as relações se modificaram e ficaram pairando no ar. Foi necessário criar uma ordem para manter a hierarquia, e a solução encontrada foi a racialização das relações."

Para isso, diz ele, foram criados mecanismos na sociedade brasileira "para impedir que certo grupo ascendesse socialmente, porque havia o desejo de construir no Brasil essa relação de classe".

Brasil tem três empregados domésticos para cada 100 pessoas; Índia vem em segundo lugar, em ranking da OIT, com 2 empregados para cada 100 pessoas. (Foto; Getty Images).

Já que o trabalho formal é um meio de ascensão, as oportunidades nesse âmbito foram administradas por um viés racial, no qual negros foram encaminhados aos postos inferiores, mais precarizados, para que não evoluíssem economicamente, diz Coutinho da Costa.

"Se você pegar os anúncios de vagas daquela época vai perceber que a maior parte especificava a cor da pessoa. Eram empregos normalmente de subalternidade, de trabalho de faxineira, copeira, cozinheira, e pedia-se literalmente assim: procura-se mucama da cor preta para trabalhar em afazeres domésticos", exemplifica.

"Isso foi se perpetuando na história. Se pararmos pra pensar, até a década de 60 ainda se buscavam pessoas pela cor. Quando isso cai em desuso porque pega mal, abandona-se a terminologia cor e passa-se a usar a expressão 'boa aparência', mas o efeito é o mesmo: impedir que um certo grupo tenha acesso ao emprego formal."

Desigualdade

Em sua tese de mestrado na USP, o pesquisador americano David Evan Harris comparou a relação da sociedade com os trabalhadores domésticos no Brasil e nos Estados Unidos. Para ele, em ambos os países os empregados são explorados, apesar das diferenças culturais.

No Brasil, diz Harris, predomina o discurso da proximidade afetiva, na qual a empregada é tratada "praticamente como se fosse alguém da família". Já nos EUA, elas costumam ser terceirizadas e recrutadas via empresas de serviços de limpeza. Essa profissionalização daria o distanciamento necessário para que a "culpa" e o "constrangimento moral" das famílias americanas por causa da desigualdade social fossem mitigados.

"Se formos observar os diferentes países ao redor do mundo e quantos serviçais eles têm, ou quão predominante a ocupação doméstica é, veremos, grosso modo, que o número de empregadas por porcentagem da população corresponde ao nível de desigualdade daquele país", afirma Evans.

"Há dois fatores majoritários que são muito importantes para avaliar se um país vai ter uma grande população de serviçais. Primeiro, desigualdade e, segundo, acesso a educação de qualidade pública, para que as pessoas consigam alcançar oportunidades que vão além do trabalho doméstico."

De acordo com a OIT, os Estados Unidos têm 667 mil empregados domésticos, cerca de um décimo do Brasil. Lá, porém, o setor também tem nichos de informalidade, e imigrantes não documentados ficam de fora das estatísticas.

Oficialmente, a segunda nação com maior número de trabalhadores domésticos no mundo é a Índia, com 4,2 milhões de pessoas. A OIT admite, entretanto, que muitos empregados não estão registrados e, considerando-se o tamanho da população, o total verdadeiro poderia chegar a dezenas de milhões, ultrapassando o Brasil.

As cinco maiores concentrações de trabalhadores domésticos ocorrem em nações com marcante contraste social. No ranking da OIT, após o Brasil e a Índia vem a Indonésia (2,4 milhões), seguida pelas Filipinas (1,9 milhão), pelo México (1,8 milhão) e pela África do Sul (1,1 milhão). É importante ressaltar que a China não fornece estatísticas confiáveis sobre o assunto.

Todos esses países que figuram entre os maiores empregadores de serviço doméstico são nações com coeficientes de desigualdade que variam entre médio e alto, segundo o ranking de desenvolvimento humano organizado pelo Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (UNDP).

A OIT não chega a afirmar que haja uma dinâmica de causa e consequência, mas reconhece que ambos os aspectos - alta incidência de trabalho doméstico e desigualdade social - estão de alguma forma relacionados. (Por Marina Wentzel, para a BBC Brasil).

Instalação do Demutran em Nova Olinda repercute e gera debates entre internautas


A instalação e os serviços prestados, mesmo que de forma incipiente de Agentes do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), em Nova Olinda, está rendendo bons debates. Tanto nas ruas e demais espaços físicos quanto nas redes sociais.

No ambiente virtual, principalmente via facebook (Grupo “Nova Olinda-CE”), as discussões vêm sendo proporcionadas através de textos do Blog Negro Nicolau. No último sábado, 24, ao dar publicidade aos questionamentos do jovem universitário Márcio dos Santos contrários a utilidade deste órgão em uma cidade pequena, vários navegantes se sentiram encorajados a também emitirem posicionamentos acerca do tema.

As ideias defendidas pelo estudante de design de produto da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Márcio dos Santos (saiba mais sobre elas aqui) encontrou consolo em várias outras pessoas que se sentiram representadas, mas também foram rebatidas por outras.

Concordo com Márcio”, disse Océlia Sousa. Edjane Messias reconhece as diversas opiniões, porém faz uma ressalva. “Mas acredito que nossa cidade deveria dar prioridade à Saúde e Educação”, realçou. Ao endossar o coro dos que se posicionam contrário a medida, Francisco Sousa destaca que o Demutram já está iniciando de forma errada e explica. “As ruas não é asfaltada, não tem placa de sinalização. E tem mais tem muitas coisas ainda para fazer”.

Mas há aqueles e aquelas que acreditam que o Demutran se faz necessário em Nova Olinda. “Já estava em tempo” pontuou a Agente Comunitária de Saúde, Maria Fenelon Pereira. Já Lucia Cristina Cordeiro enfatizou a individualidade exacerbada das pessoas para defender seu posicionamento, como abaixo descrito:

O povo de Nova Olinda não quer benefícios para a cidade e sim em particulat para cada um. Vejamos o que aconteceu com o brinquedo praça dentro de seis dias foi totalmente destruído ficando sem condições para a inauguração. A população de Nova Olinda precisa de instrução em todos segmentos: trânsito, sustentabilidade; escolaridade; saúde etc”.

Lúcia cita que o trabalho desenvolvido pelos (as) Agentes do Demutran já está surtindo efeitos positivos. “Vejamos o quanto melhorou e povo está se educando com um única passagem para pedestre em frente a EE Ana Ferreira do Nascimento. O condutor de carro ou moto já aprendeu a respeitar o pedestre que ali precisar atravessar”, mencionou.

As opiniões não ficaram restritas apenas a moradores de Nova Olinda. Ao comentar o mesmo artigo supracitado e publicado na rede social deste professor e blogueiro, o policial militar Cícero Arlindo, que reside em Araripe, com um tom de ironia realçou “Estamos no Brasil. É mais bonito empinar moto e encarecer o sus e o seguro obrigatório. Quantos aos menos afortunados usa-se o bom senso, se não for "bonequeiro".”.

Praticamente no mesmo tom, Iva Pessoa, ora morando em São Paulo, escreveu:

Eu,li mas nao acredito que um comentário desses teve várias "curtidas",então a preservação da vida Nao é importante?Os governantes tem que ver todas as áreas do município e com essa iniciativa vai ajudar a diminuir os acidentes e por consequência os hospitais terão condições de dar um melhor atendimento aos que la vão e Nao são vítimas de acidentes de trânsito. Nao acham??Ano passado estive ai no Ceará, e capacete é usado protegendo o cotovelo,três pessoas em uma moto é a coisa mais normal do mundo pelo que vi. Um absurdo! !”

Até o fechamento desta matéria nenhum (a) representante da Administração Municipal havia se manifestado sobre a repercussão que houve com a instalação do Demutran.

Vale destacar que todos os comentários descritos aqui foram extraídos tal qual foram escritos.

Imagem capturada de comentários na postagem intitulada "Moradores contestam utilidade do Demutran
em Nova Olinda", do Blog Negro Nicolau.




Leonardo Boff pede ação do exército contra entreguismo de Michel Temer


O teólogo, escritor e ex-professor da Uerj Leonardo Boff pediu uma intervenção urgente do Exército, não contra os pobres das favelas do Rio de Janeiro, mas contra as ações de Michel Temer de entrega do patrimônio nacional.

Em sua página no Twitter, Boff criticou a venda da Embraer à norte-americana Boeing , que terá 51% da nova empresa. Temer exigiu que a Boieng só tivesse 51% – exatamente o controle de mais uma empresa brasileira desnacionalizada.

"Temer está vendendo bens fundamentais da nação: Embraer, Eletrobras,está negociando com a Nestlé a venda do Aquifero Gurani ,que garantirá para o pais, por muitos anos, água potável. Isso não pode passar em branco. O Chefe Supremo do Exército que zela pelo país, deve fazer alguma coisa", escreveu Boff, referindo-se ao general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército.

Villas Bôas já descartou em várias declarações uma intervenção na presidência da República. Em artigo sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro na revista Veja desta semana, ele defende ser "fundamental" ao sucesso da empreitada que o interventor nomeado, general Walter Braga Netto, "disponha de todos os meios necessários.


"É importante que medidas legais, em caráter excepcional, sejam estabelecidas para que os militares possam atuar com maior efetividade e obtenham os resultados almejados pela sociedade, sempre respeitando as garantias constitucionais", afirma Eduardo Villas Bôas. (Com informações do Brasil 247).

(Foto: Reprodução/ Brasil 247).

Ministro Barroso, do STF, condena política de drogas e defende legalização


O ministro do STF diz que a política de drogas tem que quebrar o poder do tráfico, que advém da ilegalidade. E que uma das perversidades do sistema brasileiro  é proteger delinquentes ricos e penalizar jovens pobres.
(Foto: Tomaz Silva/ABR).
Boa parte da sociedade brasileira tem duas aflições: violência e corrupção. No entanto, mais da metade dos internos do sistema prisional brasileiro não estão presos nem por uma coisa, nem por outra, mas pelo porte de pequena quantidade de drogas. Dos jovens encarcerados por tráfico, 74% são primários, com bons antecedentes. E o que acontece? Preso por volta dos 18, 20 anos, esse jovem com bons antecedentes pode se tornar perigoso a partir do dia em que entra na prisão, quando passa a dever para a facção do seu bairro, da qual a sua família vira refém. Quando sair da prisão, anos depois, vai estar bem pior. A vaga que ele ocupou na penitenciária custou R$ 40 mil reais para ser criada. E custa mais de R$ 2 mil por mês para ser mantida. No dia seguinte à sua detenção, o jovem já foi substituído pelo tráfico, já que há um exército de garotos igualmente pobres para entrar no seu lugar. A insanidade dessa política fica evidente. A vida desse rapaz foi destruída, o que custou dinheiro da sociedade. Uma política impensada e sem sentido.

A constatação da dura realidade do jovem pobre do Rio de Janeiro, estado que há uma semana está sob intervenção federal decretada por Michel Temer, é do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso. Em palestra nesta sexta-feira (23), em seminário na Defensoria Pública da União no Rio de Janeiro para o lançamento da pesquisa Tráfico e Sentenças Judiciais – Uma Análise das Justificativas na Aplicação de Lei de Drogas no Rio de Janeiro, que pode ser acessada aqui, o magistrado foi duro e condenou a atual política de drogas, que segundo ele faz do Estado um parceiro do tráfico, que encarcera e destrói a vida e as perspectivas da juventude pobre como um todo.
Para assistir à íntegra da palestra do ministro, clique aqui.

Barroso criticou duramente as "injustiças e perversidades" da atual legislação brasileira, feita “para pegar menino pobre, com 100 gramas de maconha”, mas que protege “delinquentes ricos”.

O sistema punitivo brasileiro é para pegar a clientela dos senhores", disse, dirigindo-se à plateia formada principalmente por defensores públicos. "Essa é a dura e triste realidade. É muito mais comum e mais fácil prender um menino com 100 gramas de maconha, ou 2 de cocaína, do que prender alguém que desvie R$ 10, 20 milhões. O sistema é concebido para não alcançar essas pessoas. A classe dominante nacional concebeu um sistema punitivo que a imuniza. Basta comparar o tratamento que se dá ao furto e à sonegação".

Ricos delinquentes

Conforme enfatizou, o menino pego com 100 gramas de maconha é detido antes da decisão em primeiro grau e fica preso até o fim. "E muitas vezes a sentença aplica penas alternativas. Então ele passa anos preso sem razão de ser. O sistema é incapaz de punir em tempo e na hora os ricos delinquentes. E como a vida é feita de incentivos e riscos, e há muitos incentivos para a delinquência de ricos e poucos ricos, a gente criou uma legião de ricos delinquentes, que fazem negócios desonestos com naturalidade. Esse sistema que nós criamos naturalizou coisas erradas para encobrir no andar de cima e é duríssimo com o andar de baixo. Mas dizem que o Brasil é o pais da impunidade, com tantos presos. Só que são os presos errados. Sistema manso com os ricos e duro, duríssimo, com os pobres. É preciso equalizar esse sistema, que precisa ser moderado,igualitário. No Brasil prende-se muito e prende-se mal."

Barroso lembrou que até os Estados Unidos, que lidera
a guerra às drogas, vem aos poucos descriminalizando.
(Foto: Arquivo/EBC).
O ministro, que lamentou o atraso na discussão da descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal pelo STF, lembrou que a guerra às drogas fracassou em todo o mundo. "Os Estados Unidos, desde a década de 1970, lideraram uma guerra, com uso militar, contra as drogas em várias partes do mundo, que custaram milhões de dólares, centenas de milhares de vidas e outros tantos de prisões. Mas o consumo de drogas no mundo inteiro não parou de crescer. Estamos falando de uma guerra que foi perdida", disse.

E lembrou que ganham forças nos Estados Unidos experiências de descriminalização, como o uso da maconha para fins medicinais, e descriminalização para uso recreativo em diversos estados norte-americanos.

"E não é porque se achou que a droga é uma coisa boa, mas porque a descriminalização é a forma menos pior de enfrentar o problema que a criminalização. Mesmo no pais que liderou a guerras às drogas boa parte dos estados já descriminalizou. E do ponto de vista econômico, a única coisa que a criminalização faz é assegurar o monopólio do tráfico. Então o Estado é parceiro do tráfico ao criminalizar."

Barroso foi enfático ainda ao destacar que um "jovem da juventude dourada da zona sul do Rio" que morre de overdose de cocaína, é uma perda para a humanidade como qualquer outra vida desperdiçada. Mas que este está longe de ser o maior problema no país.

"O maior problema brasileiro em termos de drogas é o poder que o tráfico exerce sobre as comunidades carentes, é a ocupação política e econômica dos espaços pobres por esse poder paralelo, que oprime e comete uma das maiores violações dos direitos ao impedir que uma família honesta crie seus filhos dentro de uma cultura de honestidade, que são cooptados pelo tráfico. Essa juventude perde a perspectiva de uma vida digna, de um futuro, porque vive em espaços ocupados pelo tráfico. Então as políticas têm de quebrar o poder do tráfico, que advém da ilegalidade. E a luta armada contra o tráfico não venceu os criminosos", ressaltou.


Conforme defende o ministro do STF, uma política antidrogas deve quebrar o poder do tráfico e legalizar as drogas, que devem passar a ser tratadas como os cigarros, ter publicidade proibida, venda proibida a menores, pagar impostos e estar submetida à regulação estatal. (Com informações da RBA).

Moradores contestam utilidade do Demutran em Nova Olinda


Menos de vinte e quatro (24) horas depois do prefeito de Nova Olinda, Afonso Sampaio (PSD), autorizar o trabalho pelas vias públicas dos agentes do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), moradores já contestaram a utilidade do órgão.

Um dos mais críticos da operacionalidade dos serviços a ser prestado pelo Departamento de Trânsito no âmbito municipal foi o estudante de design de produto da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Márcio dos Santos.

Para o universitário, “Nova Olinda não precisa de um Demutran”, mas “de coerência e transparência nos serviços que buscam ser aplicados”. Ao esmiuçar seus argumentos, Márcio foi taxativo ao afirmar que os serviços a serem prestados pelo órgão é cabível a “cidade grande” e que quando aplicados a uma cidade pequena as ações advindas destas serão aproveitadas “por uma pequena classe”, ao passo que os “que se encontram a margem do centro da cidade sofrerá, será marginalizado e esquecido pelos gestores públicos”.

Ainda segundo ele, o desenvolvimento do município deve passar necessariamente pela oferta “de um bom salário para esses todos” e enfatizou que existe “famílias que sobrevivem com menos da metade de um salário mínimo” e outras “que moram em áreas de risco e insalubres” e outras ainda “com crianças fora da escola”. Ele realça que todos estas pessoas estão esquecidas e indaga “e a gestão para essas pessoas, onde está”?

O universitário destaca que “os gestores deveriam buscar solucionar primeiro os pequenos problemas ou aqueles problemas mais latentes, para que depois pudessem ter argumentos para aplicar um ‘grande serviço para a cidade’”.

A nota foi compartilhada na sua rede social facebook neste sábado, 24, e recebeu dezenas de curtidas e comentários elogiosos a sua postura.

Boas palavras Márcio Dos Santos, São poucas as pessoas do nosso município que assim como você enxerga o social do município, uma cidade antes mesmo de edificações ou seja estruturas físicas é feita de pessoas e essas pessoas precisam de respeito e de pelo menos uma vida digna", disse Miguel Barros(texto retirado tal qual foi postado).

Outro internauta, Adeeh Miranda, foi além e disse “José Márcio pra vereador #2020”.

Ao justificar a operacionalidade do Demutran o prefeito Afonso afirmou ser “necessário mudar o comportamento dos condutores para reduzir os acidentes de trânsito com vítimas fatais” e que “a educação é o caminho para mudar a cultura da imprudência”.

Abaixo integra da nota de Márcio dos Santos

Aos que acreditam que o desenvolvimento de uma cidade pode ser medido por serviços e ações de cidade grande aplicados numa cidade pequena, não se enganem. Pois quando se aplicam essas ações e serviços sempre serão voltados e aproveitados por um pequena classe, e mais uma vez, aqueles que se encontram a margem do centro da cidade sofrerá, será marginalizado e esquecido pelos gestores públicos. Desenvolver uma cidade é fazer dela uma cidade igual para todos.

O desenvolvimento em uma cidade como Nova Olinda, deve ser buscado através de serviços para as populações que são marginalizadas, não significa esquecer a classe média, mas fortalecer as ações para as classes menos privilegiadas. O desenvolvimento deve ser buscado através de um bom salário para esses todos, tem famílias que sobrevivem com menos da metade de um salário mínimo; tem famílias que moram em áreas de risco e insalubres; famílias com crianças fora da escola. Todos eles esquecidos, e a gestão para essas pessoas, onde está?

Os gestores deveriam buscar solucionar primeiro os pequenos problemas ou aqueles problemas mais latentes, para que depois pudessem ter argumentos para aplicar um "grande serviço para a cidade".

Nova Olinda não precisa de um Demutran, ela precisa de coerência e transparência nos serviços que buscam ser aplicados”.

Agentes do Departamento Municipal de Trânsito (Demutran) de Nova Olinda tem serviço autorizado pelo prefeito Afonso Sampaio nesta sexta-feira, 23. (Foto: Divulgação/ Portal do Município).

“Preto não pode andar de táxi?” Judoca Rafaela Silva relata abuso policial


Judoca Rafaela Silva relata abuso de policial. (Foto: Divulgação).

Campeã mundial de judô em 2013 e medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, Rafaela Silva relatou ter sido vítima de preconceito nesta quinta-feira (22), no Rio de Janeiro.

A judoca afirma que foi parada por um policial ao pedir um táxi no aeroporto. Segundo ela, o homem só entrou na viatura e foi embora depois de perguntar ao taxista se ele a havia “pegado na favela”.

Na altura do campeonato, chegando no Rio de Janeiro, tive que passar vergonha e descobrir que preto não pode andar de táxi agora. Passaram 4 policiais dentro do carro e ficaram encarando o táxi que eu estava dentro”, começou a relatar em um vídeo publicado no Instagram.

Eu continuei mexendo no celular, fingi que não era nem comigo. Daqui a pouco eles ligam a sirene e mandam o taxista encostar. Levaram o taxista pra um lado, e o outro rapaz bateu com a arma na janela e me chamou do outro lado. Isso com a avenida Brasil inteira olhando, achando que a polícia tinha capturado um bandido”, prosseguiu.

O cara olha pra minha cara e pergunta: ‘trabalha com o quê?’. Falei que não trabalho, sou atleta. ‘Tu é aquela da olimpíada, né? Mora onde?’ Jacarepaguá, estou tentando chegar em casa. O taxista disse que me pegou no aeroporto”, disse Rafaela.

O policial falou: ‘ah tá, pode ir lá então, achei que tu tinha pego na favela (sic)’. Agora preto nem de táxi pode andar que deve estar assaltando, roubando””, concluiu a judoca. (Com informações do EsporteUol).


A indígena Sonia Guajajara pode ser a vice de Guilherme Boulos


Guilherme Boulos, o principal líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), já admitiu que estão bem avançadas as negociações para que ele aceite ser o candidato do PSOL à presidência da República este ano. As conversas avançaram tanto que há semanas um nome vem se fortalecendo dentro do partido para assumir como vice de sua chapa: a líder indígena Sonia Guajajara. As informações são de Anna Virginia Balloussier, da Folha de S.Paulo.

Tudo caminha para Sonia ser a vice”, diz o deputado Marcelo Freixo, um dos entusiastas na sigla da composição que vem sendo tratada, no campo progressista, como uma esquerda “puro sangue”. Ter uma mulher indígena ao lado do líder de um dos maiores movimentos sociais do país foi um dos fatores que animaram também o casal Caetano Veloso e Paula Lavigne, que tem cumprido papel informal de apoiadores de candidaturas esquerdistas – como as de Boulos (presidência) e Freixo (Congresso).

Caetano usou a dupla como sinônimo de coisa boa ao escrever no coletivo jornalístico Mídia Ninja sobre o som do Baiana System, banda que viu no Carnaval de Salvador. “É como se Boulos tivesse sido eleito presidente e Sonia Guajajara vice – e seu mandato estivesse dando certo”.

Ao contrário do coordenador do MTST, ainda sem partido, Sonia, 43, já é do PSOL. Filiou-se em 2011, após deixar o PT, decepcionada com “aquelas alianças lá com a Roseana”. Referia-se ao apoio prometido pelo PT nacional à então governadora do Maranhão, primogênita de José Sarney, dez anos atrás.

É do Estado que vem a tribo de Sonia, os guajajaras. Ela saiu de lá pela primeira vez aos 15 anos, para fazer ensino médio num colégio interno agrícola em Minas, com suporte da Funai -hoje é pós-graduada em Educação pela Universidade Federal do Maranhão e coordena a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).

A ideia inicial, conta Sonia, era se candidatar ao Congresso, que não tem um parlamentar indígena desde o cacique xavante Mario Juruna. Em dezembro, a candidatura teve um “upgrade”: ela lançou uma carta se apresentando como postulante à presidência, endossada pelo Setorial Nacional Ecossocialista do PSOL. Nela, pleiteia espaço para “os povos originários”: “Ocupamos as redes sociais, mas nem por isso deixamos de sofrer racismo, ver nossas lideranças sendo assassinadas, a juventude sem perspectivas, os direitos sendo retirados, os territórios invadidos ou sendo entregues ao agronegócio”.

A iniciativa “realmente fez com que o partido e o próprio Boulos se interessassem”. Daí a ideia de uma chapa conjunta, ainda na “fase de diálogo”, segundo ambos. Em março, o líder do MTST deve cravar se é ou não presidenciável.

Há anos Sonia frequenta o noticiário como porta-voz da causa indígena – que, para ela, nem mesmo o PSOL dá a merecida atenção. “Embora seja o partido que mais defende as minorias, ainda precisa se aprofundar bastante. Em todos os debates, a questão [dos povos originários] é superficial”.

No Rock in Rio 2017, ela subiu no palco a convite de Alicia Keys. Discursou ao som de “Kill Your Mama” (mate sua mamãe), música em que a cantora americana critica a humanidade, que “brinca de Deus” ao devastar a natureza.

No Carnaval do mesmo ano, Sonia posou com a atriz Leticia Sabatela, as duas com pinturas indígenas no rosto, após participarem do desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense -ela não “vê como afronta, apropriação cultural” quando brancos adotam seus códigos culturais em fantasia, desde que não haja “deboche, caricatura”.

Sonia é fluente nos signos da esquerda brasileira. Para ela, Michel Temer é “golpista”, respaldar a candidatura de Lula é “defender a democracia” etc. Unir-se a personalidades como Caetano e Paula Lavigne, diz, é uma forma de “dar visibilidade” a um assunto que costuma ser escanteado pela opinião pública. “A [cantora] Maria Gadú foi no Maranhão conhecer [uma aldeia], apoiar de alguma forma. Essa articulação com artistas é uma forma de sensibilizar, não ficar só nas redes sociais”. (Com informações da Revista Fórum).


 
"Ocupamos as redes sociais, mas nem por isso deixamos de sofrer racismo, ver nossas lideranças sendo assassinadas, a juventude sem perspectiva, os direitos sendo retirados", afirma Sonia Guajajara. (Foto: YouTube).