Plano B? A escolha de Lula



Se o ex-presidente Lula faltar ao eleitor, em 2018, por questões de lava jato, ele deverá ser substituído pela senadora Gleisi Hoffmann — presidenta nacional do PT.

Esqueça se você ouviu antes o nome do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O moço não empolgou nem os paulistanos nem a militância em todo o país.

A escolha de Lula foi materializada na noite desta quinta-feira (12) com a exibição do programa político do partido. Somente ele e Gleisi apareceram no horário político do PT.

A sinalização do ex-presidente também ocorreu com a aposentação da tradicional cor vermelha e ao usar uma camisa azul turquesa. Gleisi usou uma da mesma cor. (Por Esmael Morais, em seu Blog).


Religião, ética, moral


A religião deveria ser ensinada em casa, pelos pais, e praticada no seio das comunidades confessionais. Nas escolas públicas, deveria prevalecer a discussão de princípios éticos.

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar o ensino religioso vinculado a uma crença específica em escolas públicas é mais um indício de que caminhamos velozmente para trás. O Brasil é um Estado laico e, portanto, deveria incentivar o diálogo entre as mais diferentes confissões, no intuito de formar cidadãos tolerantes com as opiniões divergentes. Optando pelo ensino doutrinário de uma religião exclusivista, afundamos ainda mais no pântano do sectarismo em que estamos estacionados.

O que a sociedade deveria exigir do Estado é a implantação de um sistema público de ensino de qualidade que privilegiasse a educação para a cidadania. E isso se obtém com discussões sobre ética, que encontra-se no domínio da filosofia, e não sobre moral, submetida a preceitos religiosos. Embora alicerce as religiões, a ética as suplanta, pois seus princípios são universais, ou seja, valem em qualquer tempo e em qualquer lugar – enquanto a moral muda conforme os hábitos e costumes e interesses característicos do tempo e do lugar.

Um exemplo: a inviolabilidade da vida humana, “não matar”, é um conceito ético, que independente da época e do país em que se vive e que está presente, acredito, na base de todas as religiões do mundo. No entanto, como as religiões defendem princípios morais e não éticos, em nome de Deus cristãos matam judeus, muçulmanos matam cristãos, budistas matam muçulmanos... Deveríamos lutar para que nas escolas públicas se ensinasse o princípio ético “não matar” em geral, ou seja, o respeito à vida de todos igualmente, e não sua derivação moral, de que a ideia de “não matar” não serve para aqueles que pensam ou agem diferente de nós.

Recente pesquisa do departamento de Psicologia da Universidade de Chicago (EUA) concluiu que crianças educadas em lares não religiosos são mais tolerantes e generosas que as criadas segundo princípios religiosos. Os investigadores recrutaram 1.170 crianças de diferentes crenças em seis países (Canadá, China Jordânia, Turquia, EUA e África do Sul) e demonstraram que há maior coesão entre os membros de grupos religiosos e maior nível de intolerância com quem está de fora. As pessoas que não têm religião tendem a ser mais solidárias, exatamente por não fazerem distinção entre as diversas crenças religiosas.

Nos últimos tempos, a sociedade brasileira, imersa em denúncias de corrupção e acuada pela incompetência generalizada da gestão do Poder Público, vem ancorando seu desencanto na falsa segurança do moralismo. Falsa segurança porque o moralismo – diferente da ética – funda-se em interesses momentâneos de alianças espúrias. Em geral, o moralismo é uma cortina que esconde a hipocrisia e o cinismo. O moralismo censura obras de arte, persegue confissões divergentes, reprime opiniões contrárias, e, pior, mata homens e mulheres.

Em nome de moralismo, quatro mulheres morrem por dia devido a complicações provocadas por abortos clandestinos – mulheres pobres, diga-se de passagem. Em nome do moralismo, todo dia uma pessoa LGBT é assassinada. Em nome do moralismo, as religiões afro-brasileiras (umbanda e candomblé) são cada vez mais hostilizadas, principalmente pela militância fundamentalista evangélica, a ponto de praticamente desaparecerem em alguns nichos tradicionais, como as comunidades do Rio de Janeiro. Em nome do moralismo, julgam-se e proíbem-se obras de arte...

A religião deveria ser ensinada em casa, pelos pais, e praticada no seio das comunidades confessionais. Nas escolas públicas, deveria prevalecer a discussão de princípios éticos, comuns a todas as pessoas, sejam elas ligadas ou não a crenças religiosas. Só assim poderíamos pleitear uma sociedade mais justa e tolerante. Infelizmente, parece que estamos optando por trilhar o caminho contrário, de repressão, do obscurantismo, da intransigência. (Por  Luiz Ruffato, no El País).

Fiel segura uma vela em uma cerimônia religiosa pela paz. (Foto: Ye Aung Thu/ AFP).

PDT confirma apoio à reeleição de Camilo Santana para Governo do Estado do Ceará


Em convenção estadual, o PDT confirmou nesta quinta-feira (12) o apoio à reeleição de Camilo Santana ao Governo do Estado e o nome do ex-governador Cid Gomes para a disputa de uma das vagas ao Senado no ano que vem. Durante o evento, que manteve o deputado federal André Figueiredo na presidência do partido no Ceará, uma possível aliança com o PMDB foi novamente descartada.

A especulação da renovação da aliança surgiu por conta da aparente aproximação do governador Camilo Santana, que é do PT e aliado dos irmãos Ferreira Gomes, e do prefeito Roberto Cláudio, com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB).

André Figueiredo disse que a relação dos aliados com Eunício é apenas institucional. Ele foi enfático ao dizer que é impossível aliar-se a agremiações que representam o que o PDT combate, como o PMDB, que no cenário nacional está alinhado ao Governo de Michel Temer.

Há quase um mês, durante convenção regional do PDT em Ipueiras, no interior do Estado, o ex-governador Cid Gomes não descartou aliar-se a Eunício, o que soou como um contrassenso já que era rotina a troca de críticas publicamente entre o irmão Ciro e Eunício.

Cid se ausentou da convenção por conta de problemas de saúde do filho, mas o irmão Ciro Gomes, que esteve presente como pré-candidato à Presidência da República, fez duras críticas ao Governo Temer e criticou os rumos da economia no país.

Ele disse que o momento agora é planejar os programas de governo e se esquivou de questionamentos sobre futuras alianças partidárias.

Durante a convenção o PDT manifestou mais uma vez o apoio à reeleição de Camilo Santana, que presente no evento declarou que a aliança é importante tanto para as atividades do seu governo como para fins eleitorais.

O palanque reuniu vereadores, deputados estaduais e federais, além de vereadores e outras lideranças do partido. Atualmente o PDT tem 50 prefeitos no Estado, 12 parlamentares na Assembleia e 5 na Câmara.

O presidente nacional da sigla, Carlos Lupi, não compareceu e foi representado pelo secretário-geral do partido, Manoel Dias. (Com informações da Tribuna do Ceará).

Camilo Santana (Foto: Divulgação).

Câmara de Altaneira aprova projeto que institui dia municipal de luta contra o câncer de mama


O plenário da Câmara de Vereadores (as) de Altaneira aprovou, na noite desta quarta-feira, 11, o Projeto de Lei Nº 08/2017, da Vereadora Zuleide Oliveira (PSDB), para instituir no calendário oficial da municipalidade o 20 de outubro como o dia municipal de luta contra o câncer de mana.

A matéria recebeu parecer de admissibilidade da Comissão Permanente da Casa e foi aprovada sem nenhum posicionamento contrário e deve ser encaminhada para sanção do prefeito Dariomar Soares (PT).

Vereadora Zuleide Oliveira (PSDB).
(Foto: Júnior Carvalho).
A redação do Blog Negro Nicolau dialogou com a autora do texto. Ao ser indagada acerca do que a teria motivado levar a ideia para discussão e submissão das (os) parlamentares, além dos já conhecidos fatos, Zuleide foi categórica ao afirmar que já teve casos na família. “Minha mãe faleceu de câncer de mana”, disse. Perguntada se conhecia outros casos, ela afirmou que há sim vários. “Falecidas e outras que obtiveram curas”, realçou.

Segundo Zuleide, a ideia é fazer com que nas campanhas a ser desenvolvidas as mulheres possam se inteirar mais, participar mais e procurar a cura. “Temos poucos mamógrafos no pais. É uma doença que mata muito porque as mulheres não fazem a prevenção. E o segundo que mais mata, mas também o que mais cura se o diagnóstico for cedo”, disse ela ao Blog.

A parlamentar já antecipou que pretende apresentar um projeto da mesma natureza no que pese ao Novembro Azul, visando alertar homens para o câncer de próstata.


Violência contra a mulher. Brasil tem quase 900 mil processos em tramitação


Um montante de 896 mil processos relativos a casos de violência doméstica contra a mulher tramitam atualmente na Justiça brasileira. Os dados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e foram obtidos com exclusividade pela Agência Brasil.

Eles confirmam a presença desse tipo de violência nos lares brasileiros e a dificuldade de a Justiça dar resposta a situações conflituosas, o que pode gerar consequências dramáticas. O alerta vem à tona neste dia 10 de outubro, Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher.

"Se essa violência não for noticiada, essa vítima pode morrer", diz a promotora Silvia Chakian, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica do Ministério Público de São Paulo, que acrescenta que a apresentação de respostas rápidas por parte das instituições públicas é fundamental para que as mulheres continuem denunciando e consigam, assim, romper o ciclo de violência.

Para amenizar o volume de pendências, o CNJ promoveu esforços concentrados entre os dias 21 e 25 de agosto, no âmbito da Semana Paz em Casa, iniciativa que tem por objetivo acelerar a análise e o julgamento de processos, por meio de audiências e ações multidisciplinares.

Nesses cinco dias, foram expedidas 19.706 decisões judiciais e 6.214 medidas protetivas relacionadas a casos de violência doméstica. O montante representa apenas 3% dos processos que tramitam na Justiça.

A semana foi criada em março de 2015 e, desde então, já foram realizadas oito edições da iniciativa. Nelas, foram proferidas mais de 100 mil sentenças e concedidas 50.891 medidas protetivas, após 860 júris e 118.176 audiências. A proposta integra a Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, criada pela Portaria n° 15 do CNJ, em 2017.

Justiça restaurativa

Além da Portaria, o CNJ expediu recomendação aos tribunais, em agosto, para que técnicas da Justiça restaurativa passem a ser usadas em casos que envolvam violência contra a mulher. Segundo a carta de recomendação, "devem ocorrer como forma de pacificação, nos casos cabíveis, independentemente da responsabilização criminal, respeitando-se a vontade da vítima".

No entanto, a iniciativa da Semana Paz em Casa e o uso de técnicas baseadas na busca de resolução de conflito caracterizado como crime entre infrator e vítima é polêmica. Teme-se que essas medidas possam desestimular denúncias e levar à manutenção de relações violentas.

Em audiência pública realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados, no fim de setembro, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), a Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep) e especialistas criticaram a recomendação.

A procuradora Deborah Duprat avaliou que a medida "pretende neutralizar mais uma vez essa violência em prol da chamada unidade familiar, que é um histórico do patriarcado no Brasil". Além disso, dado que o modelo de Justiça Restaurativa tem sido usado para desafogar o poder Judiciário, a procuradora avalia que pode acarretar em menor persecução penal.

Silvia Chakian aponta que tais técnicas são interessantes para determinados casos, inclusive para que conflitos sejam resolvidos de outras formas que não por meio da punição, por exemplo, com o encarceramento.

Não obstante, ela alerta que sua adoção deve ser vista com "muito cuidado" em casos de violência contra a mulher, "porque quando a gente fala de violência contra a mulher, estamos falando de uma relação desigual, marcada pelo poder". Por isso, "a pretexto de haver reparação, não pode fazer com que a mulher tenha que suportar violência".

A Agência Brasil procurou o CNJ para comentar a política, mas não houve disponibilização de fonte até a publicação desta reportagem. A assessoria do órgão ecaminhou publicações sobre a recomendação, nas quais o Conselho aponta que a implementação de técnicas de Justiça restaurativa, feita a pedido da presidente do Conselho e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, tem o intuito de possibilitar a recomposição das famílias e, no longo prazo, a pacificação social, por meio do reconhecimento de erros e responsabilização pelos atos praticados.

Legislação específica

Há mais de dez anos, desde a entrada em vigor da Lei Maria da Penha, o Poder Judiciário passou a se defrontar com uma realidade que, com frequência, escapava aos autos. A violência contra a mulher, muitas vezes vista como uma questão doméstica, ganhou visibilidade e tornou-se uma questão pública.

De lá para cá, outras iniciativas colaboraram para essa mudança, como a aprovação da Lei do Feminicídio, que tipificou o homicídio motivado pela condição de gênero da vítima e criou agravantes para situações desse tipo. Apesar desses avanços, casos comuns como o assédio a mulheres no transporte público, por exemplo, trouxe à tona questionamentos sobre como a Justiça aborda a questão.

A promotora Silvia Chakian avalia que as leis são importantes não apenas pelo aspecto da punição, mas porque determinam que o Estado não pode continuar neglicenciando a violência e as mortes das mulheres.

"A Lei do Feminicídio não cria só o crime de feminicídio, ela traz uma visão muito mais ampla. Engloba desde a forma como esses casos são noticiados, como a polícia vai a campo preservar o local dos fatos, como o legista vai fazer sua abordagem. Ela deve fazer com que esses profissionais atuem pensando no contexto de violência contra a mulher, na relação desigual de opressão que ali existia.

A mudança de entendimento deve chegar aos juris, para que aqueles que examinam os casos não admitam argumentos ainda comuns, "como a tese do crime passional, de que matou por amor ou em um ato de loucura. Não se admite mais esse tipo de argumento".

Para que essa nova concepção seja firmada, a promotora acredita que "ainda temos muito que avançar na incorporação de todos os aspectos", por isso defende a ampliação de políticas de formação para os operadores do Direito.

Ela conta, por exemplo, que ainda é comum que operadores não atribuam a categoria feminicídio de forma adequada, o que ocorre, por exemplo, quando não se identifica essa tipificação penal no inquérito, mesmo quando a narrativa dos fatos evidencia tratar-se de crime associado ao fato da vítima ser mulher. Promotora há 18 anos, ela observa, contudo, "uma evolução do tratamento muito grande".

A opinião é compartilhada pela Coordenadora da Casa da Mulher Brasileira no Distrito Federal, Iara Lobo. "O patriarcado ainda impera e permeia todas as camadas da sociedade, mas esse entendimento, até por causa das leis, tem mudado bastante".

Ela exemplifica, por exemplo, que as mulheres têm sido questionadas, com mais frequência, se querem ser ouvidas na presença do agressor, situação que está na lei, mas que não era respeitada.

Apesar desses avanços, ela relata que algumas dificuldades permanecem. Advogada, Iara conta que muitas mulheres não são acompanhadas por advogados em audiências. "Na prática, as mulheres ficam sem acompanhamento de advogado e isso é uma falha terrível, porque toda pessoa que vai a uma audiência o que quer é se sentir segura. Ainda mais quando está envolvida uma situação de violência", afirma.

Em todo o Brasil, uma em cada três mulheres sofreu algum tipo de violência no último ano. Entre as maiores de dezesseis anos, 40% das brasileiras sofreram assédio dos mais variados tipos, sendo que 36% receberam comentários desrespeitosos ao andar na rua (20,4 milhões de mulheres) e 10,4% foram assediadas fisicamente em transporte público (5,2 milhões de mulheres).


Os dados são da pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil, fruto de uma parceria entre o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e o Datafolha. (Por Helena Martins, no HuffPostBrasil).

Manifestante protesta em São Paulo contra violência contra mulheres.

Decretado ponto facultativo no município de Altaneira nesta sexta-feira, 13


O governo do município de Altaneira decretou ponto facultativo nos órgãos da administração pública nesta sexta-feira (13), um dia após o feriado nacional dedicado a padroeira do pais, Nossa Senhora Aparecida.

O decreto de N° 22/2017, assinado pelo Prefeito Dariomar Soares (PT), foi publicado no Diário Oficial dos Municípios do Ceará na edição 1796, desta quarta-feira, 11, e dado publicidade ainda no portal oficial do município no mesmo dia.

Ainda de acordo com o documento, apenas atividades essenciais devem ser mantidas durante o feriadão, como saúde, segurança pública e coleta de lixo. Dariomar justificou também que durante toda a semana está ocorrendo os festejos destinados a Santa Teresa D’Ávila, padroeira da municipalidade.


Prefeitura de Altaneira. (Foto: Assessoria de Comunicação do Município).

Fundação Demócrito Rocha abre inscrição para curso de extensão a distância: Cidadania ParticipATIVA


Visando estimular e fortalecer a mobilização social e a maior participação popular nos mais diversos setores da sociedade, a Fundação Demócrito Rocha (FDR) em parceria com a Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE) abriu inscrições para o curso de extensão, na modalidade EAD, Cidadania ParticipATIVA: controle social ao alcance de todos.

Interessados e interessadas no curso podem realizar as inscrições de forma gratuita no próprio site da fundação.  O curso, a distância, tem carga horária de 90 horas, e qualquer pessoa pode participar do curso que traz de forma atraente e interativa conteúdos desenvolvidos por um corpo técnico de mestres e doutorandos com expressiva atuação nas áreas de economia, direitos humanos, administração, comunicação e direito público.

Conforme informou a este blogueiro a jornalista e mobilizadora do Curso Cidadania Participativa, Joanice Sampaio,  a capacitação reúne seis fascículos impressos e encartados no jornal O POVO, a partir da data de início do curso, seis videoaulas, seis radioaulas (ao vivo), duas webconferências (on-line) e seis audiofascículos (para quem tem deficiência visual ou mesmo para aqueles que quiserem também ouvir os conteúdos para melhor fixar o conhecimento). Além disso, os inscritos terão acesso a todos os fascículos em formato digital no site da FDR.

Ao final do curso, será aplicada uma avaliação online para a emissão do certificado, fornecido pela Universidade Aberta do Nordeste (UANE) em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

Fundação Demócrito Rocha abre inscrições para curso de extensão a distância Cidadania PartipAtiva. Imagem/Reprodução/FDR.



Por que muitos jovens se apaixonam pelas ideias violentas de Bolsonaro?


Políticos misóginos, comediantes homofóbicos, religiosos fundamentalistas e celebridades violentas têm se tornado exemplos para grupos de rapazes que, acreditando serem revolucionários e contestadores, na verdade agem de forma conservadora e reacionária.

Acreditam que estão sendo subversivos lutando contra a “ditadura do politicamente correto” – que se tornou uma forma pejorativa de se referir aos direitos humanos.

Essa ditadura, claro, é uma ficção. Qualquer ostra saudável sabe que se os direitos humanos fossem minimamente respeitados por aqui não haveria fome, crianças trabalhando, idosos deixados para morrer à própria sorte, pessoas vivendo sem um teto. Não teríamos essa taxa pornográfica de homicídios, nem exploração sexual de crianças e adolescentes, muito menos trabalho escravo. Aos migrantes pobres seria garantida a mesma dignidade conferida a migrantes ricos. Todas as crenças seriam respeitadas, tendo Jeová como deus ou não. A liberdade de expressão seria defendida, mas não a custo da dignidade e da vida humanas. Se direitos humanos fossem efetivados, não teríamos mulheres sendo estupradas, negros ganhando menos do que brancos e pessoas morrendo por amar alguém do mesmo sexo. O que temos, em verdade, é um statuo quo sendo contestado, o que provoca pânico em muita gente.
Parte desses jovens também abraça discursos ultraconservadores como reação às tentativas de inclusão de grupos historicamente excluídos. Como já escrevi aqui antes, ela viu que a luta por direitos iguais por parte de suas colegas de classe ou de coletivos feministas em suas escolas significará, para eles, uma perda de privilégios que hoje os homens têm. Nesse contexto, influenciadores digitais, formadores de opinião e guias religiosos ajudam a fomentar, com seus discursos violentos e irresponsáveis, uma resposta negativa dos rapazes à luta das moças pelo direito básico a não sofrerem violência.

E não apenas jovens. Há políticos, como Jair Bolsonaro, que ocupam um espaço de porta-voz de um público insatisfeito que se vê acuado diante do discurso de que muito do que lhes foi ensinado no que diz respeito aos seus direitos, deveres e limites agora precisa ser revisto para incorporar mudanças. Pessoas comuns que veem seus preconceitos serem atacados, chamados de coisa do passado. Imagine uma pessoa, que sente que seu mundo está mudando mais rápido do que pode compreender, quando aparece uma liderança dizendo que não precisa se sentir dessa forma, nem se adaptar. Apenas lutar para manter tudo como está. Não admira, portanto, que Bolsonaro esteja bem colocado entre os mais ricos nas pesquisas de opinião.

Independentemente do que aconteça daqui em diante na política brasileira, temos visto o resgate de uma narrativa (que imaginávamos morta e enterrada) que justifica o ataque aos direitos humanos sob o argumento insano de que são ”coisa de comunista”. Ou seja, o pacote de direitos, que em sua formulação contemporânea se deu sob clara inspiração liberal, ganha outra conotação na mente de gente mal informada ou mal intencionada. A efetivação de direitos civis, políticos, sociais, econômicos e culturais vem sendo julgada em praça pública com o argumento de que ”criam discórdia onde antes havia paz” ou ”geram divisões onde tudo funcionava bem”. Funcionava bem para quem?

Como os principais partidos políticos não se esforçaram para garantir mais participação popular, o governo e a oposição derrapam em dar respostas para a retomada do crescimento econômico e a vida do brasileiro (principalmente o mais pobre) vai piorando a olhos vistos, além de um esgarçamento institucional para salvar envolvidos em corrupção, vamos assistindo ao crescimento de discursos que bradam que a política é desnecessária. E que a própria democracia é questionável.

Políticos como Donald Trump e Jair Bolsonaro não são idiotas, pelo contrário. Falam o que falam porque sabem que muita gente irá aplaudi-los por isso. Embrulham sua narrativa em uma falso frescor de novidade que cativa muitos jovens quando, na verdade, ela é a mesma que está no poder desde que os primeiros brancos chegaram ao continente americano.

Sabem conversar com um público que quer saídas rápidas para a falta de emprego e para a segurança pública e que precisam de alguém que lhes entregue uma narrativa consistente para poderem tocar suas vidas – narrativa que os partidos tradicionais solapam em oferecer. A esquerda, com louváveis exceções, parece não querer fazer isso na área da segurança pública. Jovens estão morrendo na periferia aos milhares e policiais honestos, às dezenas. Portanto, são necessárias soluções de curto prazo, que passem por garantir qualidade de vida dessas populações de ”matáveis”, e não apenas ações estruturais que levam anos.

Mas, como já disse aqui, a mesma insatisfação com a política tradicional e a mesma crise das narrativas que elegeram Donald Trump, também produziram Bernie Sanders. Mesmo que não tenha sido escolhido por conta de intensa campanha do establishment do próprio Partido Democrata, sua disputa nas primárias provocou debate sobre um projeto mais progressista para os Estados Unidos. Papel semelhante desempenha Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista, no Reino Unido – que perdeu a eleição para Theresa May. Ele cresce em popularidade, com seu discurso mais à esquerda, em uma nação que tenta entender o que significa sua saída da União Europeia. Os dois são chamados de populistas e irresponsáveis por quem acredita na divindade do mercado. Mas ajudam a arejar o debate com novas propostas, cativando os mais jovens.

A esquerda no Brasil conseguirá se organizar e disputar um novo projeto de país? Um que não tenha vergonha de reconhecer seus erros e atuar em campos que lhe são espinhentos, como a violência urbana? Poderá construir uma nova narrativa que desperte o sonho e o engajamento dos mais novos?

Muitos desses jovens estão descontentes, mas não sabem o que querem. Sabem o que não querem. Neste momento, por mais agressivos que sejam, boa parte deles está em êxtase, alucinada com a rua e com o poder que acreditam ter nas mãos. Mas ao mesmo tempo com medo. Pois cobrados de uma resposta sobre sua insatisfação, no fundo, no fundo, conseguem perceber apenas um grande vazio. Pode-se continuar dando às costas a eles, chamando-os de fascistas, ou abrir o diálogo – muitas vezes difícil, mas necessário.

Há um déficit de democracia participativa que vai ter que ser resolvido. Só votar e esperar quatro anos não adianta mais para esse grupo, pois muitos jovens reivindicam participar ativamente da política. Querem mais formas de interferir diretamente nos rumos da ação política de sua cidade, estado ou país. Não da mesma forma que as gerações de seus pais e avós, claro. Porque, naquela época, ninguém em sã consciência poderia supor que criaríamos outra camada de relacionamento social, que ignorasse distância e catalisasse processos.

Precisamos, urgentemente, ouvir os mais novos e construir com eles um projeto para a sociedade em que vivemos. Negar isso e buscar, novamente, saídas de cima para baixo, seja através da esquerda democrática ou da direita liberal, não dará certo. Não admira que quem sugere adotar as soluções de sempre são as mesmas pessoas que não entenderam o significado das manifestações de junho de 2013. Ou que nada aprenderam com elas.

Se não abrirmos esse debate, teremos uma década de um sombrio macarthismo, repaginado e adaptado, que se desenha adiante. Década puxada por velhos políticos fantasiados com o novo e suas milícias digitais. (Por Leonardo Sakamoto, em seu Blog).

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil.