Audiência Pública no Senado Federal irá debater Rádios Comunitárias


Será realizado no Senado Federal (Auditório 3), dia 27 de abril a partir das 8h30 uma Audiência Pública para discutir a situação atual das Rádios Comunitárias no Brasil. A indicação foi feita pelo senador Hélio José (PMDB-DF) e aprovada pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado Federal.

Locutora Flávia Regina, do "Notícias em Destaque",
da Rádio Comunitária Altaneira FM.
Foto: Nicolau Neto
Agência Abraço - Convém lembrar que esta será a primeira vez que o Senado Federal estará abrindo as portas para debater a realidade das rádios comunitárias e principalmente dando a oportunidade ao setor de apresentar reivindicações para o parlamento brasileiro, sobretudo neste momento que as RADCOM's vêm se mobilizando rumo à alteração da Lei 9.612/98.

O coordenador executivo da Abraço Nacional (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária) Geremias dos Santos ressalta que é importante a participação de todos os dirigentes das rádios comunitárias espalhadas pelo país. "Temos que fazer uma grande caravana representativa (dirigentes de todos os estados) para que possamos demonstrar que estamos unidos e imbuídos no mesmo proposito que é a mudança da legislação de radiodifusão comunitária principalmente relacionada ao financiamento público, mais frequências por municípios, formação de rede e aumento da potência dos transmissores", afirma o dirigente.

Na mesma data, de 27 a 29 abril acontece a Assembléia Extraordinária da Abraço no Paranoá-DF, com o objetivo de debater assuntos relacionados a entidade. "Esperamos que todos adquiram suas passagens para que possamos ter um grande número de dirigentes presentes e fazermos um debate qualificado", convoca o coordenador.

Rodrigo Maia tenta manobra, mas Câmara rejeita urgência para desmonte trabalhista


Após tentativa de manobra do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ), o plenário da Casa rejeitou nesta terça-feira (18/04) o regime de urgência para a reforma trabalhista (PL 6787/16).

Psol50- O governo Temer pretendia acelerar a tramitação do projeto para mostrar que tem força política para aprovar, também, a reforma da Previdência. Não deu certo.

Para aprovar o regime de urgência, o governo precisava de de pelo menos 257 votos favoráveis. Contudo, conseguiu apenas 230. Foram 163 contrários, após grande pressão da oposição parlamentar a Temer, da qual o PSOL faz parte.


A proposta de reforma trabalhista ataca diretamente diversos direitos dos trabalhadores, propondo por exemplo que negociações coletivas prevaleçam sobre legislações trabalhistas. Na resistência ao golpe de Maia e Temer, deputados do PSOL ocuparam a Mesa-Diretora da Câmara. A deputada Luiza Erundina chegou a dirigir a parte final da votação do pedido de urgência.


Temer não é padrinho das mulheres negras, de nossa luta e história, diz Núcleo Impulsor da M.M.N em resposta Luislinda Valois


No último dia 12 de abril a ministra dos direitos humanos Luislinda Valois falou em nome das mulheres negras brasileiras afirmando que Michel Temer seria “um padrinho das mulheres negras”. A Marcha de Mulheres Negras de São Paulo não reconhece essa posição. Ao afirmar que Michel Temer tem feito bem para nós negras deste país acaba demonstrando profundo desconhecimento de qual vem sendo a posição apresentada pelo nosso movimento nos últimos anos.

Negro Belchior - A política do apadrinhamento remete aos tempos coronelistas. Era através dessa forma de lidar com as pessoas que a Casa Grande mostrava sua força junto a população local e negra. Reivindicar isso é reivindicar que as mulheres negras brasileiras são seres de segunda classe e que devem baixar a cabeça para “padrinhos” brancos para assim poderem estar nos espaços de poder e da política.

A ministra pode se sentir apadrinhada por Michel Temer, pode falar em seu próprio nome, mas não no nosso!

É inconcebível para nós reconhecer um homem, branco, heterossexual, golpista e representante direto da Casa Grande e da retirada de direitos da população negra como padrinho. Em São Paulo, mais de 3 mil mulheres negras ocuparam as ruas do centro no dia 25 de julho de 2016 denunciando o racismo e machismo existente na política e também nos colocando na rua contra o governo Temer. Luislinda pode acreditar que o golpista Temer é seu padrinho político, mas não pode ignorar a intensa movimentação política que o movimento de mulheres negras vem fazendo se colocando contra os ataques que temos sofrido e que se aprofundam com o golpe.

Falar que nossos passos vem de longe e que uma sobe e puxa outra tem um valor para nós mulheres negras de nos reconhecermos no combate cotidiano contra o racismo e o machismo. São os nossos corpos e daqueles que amamos que tombam todos os dias pelas mãos do Estado racista e misógino enquanto os que apoiam o governo de Michel Temer negam o racismo e o machismo, vociferam para que o genocídio da nossa população continue acontecendo e que morramos presos. Nossos passos vem de longe por que não baixamos a cabeça para aqueles que insistem em nos exterminar.

Os ataques que Michel Temer tem feito desde que assumiu a presidência nos atingem diretamente. Luislinda deveria ter lembrado disso ao colocar em nossas bocas e em nossos nomes posição que não reivindicamos. Houve corte de 61% do orçamento federal para o combate à violência contra mulher e nós mulheres negras morremos mais por causa de feminicídio e a ação deste governo golpista é nos relegar ainda mais à morte.

O desmonte da educação e saúde através do congelamento de investimentos por 20 anos é mais uma demonstração do quanto Temer não se importa com as nossas vidas e dos nossos. Temos o fechamento de programas como a Farmácia Popular e o aumento do valor da inscrição para o PROUNI. São as mulheres negras que mais recorrem aos serviços públicos e que terão sua saúde e educação negligenciadas por 20 anos.

Não podemos esquecer também do carro-chefe do governo Michel Temer: a Reforma da Previdência. A proposta de modificar a idade mínima para aposentadoria é uma proposta para nos matar de trabalhar. A nossa expectativa de vida média no Brasil é praticamente igual à proposta apresentada de idade mínima pelo governo. Em algumas regiões chega a ser menor do que 65 anos. Temer não aprofunda apenas a precarização das nossas vidas, mas inclui requintes de crueldade para nossa morte.

A ministra pode se sentir apadrinhada por Michel Temer, pode falar em seu próprio nome, mas não no nosso! Ser mulher negra no Brasil, com tudo o que significou a diáspora africana forçada e o processo de escravidão nesse país , não é fácil. Enfrentamos violências cotidianas e Luislinda também vive isso e por viver isso não pode nos colocar nesta posição subserviente à Casa Grande. Não aceitaremos isso! Continuamos os passos de nossas ancestrais na luta contra o racismo e o machismo, continuamos a resistência, nos aquilombamos e não ajoelhamos frente àqueles que tiram de nós a nossa vida.

Seguimos a nossa luta diária contra o racismo, machismo, misoginia, lesbofobia e transfobia. Contra o genocídio da juventude negra, pela demarcação das terras indígenas e quilombolas, contra a violência sexista que nos mata e estupra a cada minuto e contra a retirada de direitos que Temer vem fazendo!

Temer não é nosso padrinho! Estamos aqui pra dizer que nós fazemos por nós esse enfrentamento cotidiano!





Em rede nacional, Temer admite que Cunha só começou o impeachment de Dilma por vingança pessoal



Em cadeia nacional, Michel Temer admitiu que o impeachment de Dilma Rousseff começou por retaliação de Eduardo Cunha ao PT, quando o então deputado descobriu, através da imprensa, que não teria votos suficientes do partido para frear sua cassação na Comissão de Ética da Câmara.

Jornal GGN- Em entrevista à Band, Temer contou que Cunha, um dia, o procurou para dizer que enterraria os pedidos de impeachment contra Dilma e, depois, mudou de ideia quando descobriu a reação do PT sobre a condição: ter votos em seu favor na Comissão de Ética.

Temer ainda disse que conta essa história de como nasceu o impeachment para mostrar que, primeiro, Cunha fez por questão pessoal, e não a pedido do hoje presidente da República; e,em segundo lugar, que ele não "militou" contra "a senhora presidente".

"Se o PT tivesse votado com ele [Cunha] naquela comissão de ética, talvez a presidente continuasse", disse.





A Lei dos Sexagenários e a Reforma da Previdência


Em 28 de setembro de 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenários. Por ela, os escravizados que conseguissem ultrapassar 60 anos de idade tinham garantido sua liberdade. Como os (as) escravizados (as) além da condição humilhante em que exerciam diversos tipos de trabalho de sol a sol e de chuva a chuva sem receber nenhum benefício por isso, eram submetidos (as) aos mais variados castigos, tanto físico como psicológico, dificilmente eles/as atingiam essa idade. 

Não é nenhum exagero ou anacrônico comparar a Lei dos Sexagenário com a Proposta de Emenda a Constituição (PEC) sob o número 287, de 2016, que trata da Reforma da Previdência. Por ela, o (des) governo Temer estipula que para obter a aposentadoria integral, homens e mulheres, indiscriminadamente, precisam contribuir por 25 anos ininterruptos e ter uma idade igual a 65 anos. Qual brasileiro (a) que em péssimas condições de trabalho atinge 65 anos?

O Temer ao propor essa reforma considera que o país é um paraíso e que os vários pontos de trabalhos são grandes escritórios com mesas fartas de alimentação e ar condicionado. Na roça, nas prefeituras, nas câmaras e nas empresas, há sucos, bolos e trabalhadores (as) com ótimas condições de trabalho. Todos (as) estão na sombra. Mulheres e homens ao sair do trabalho irão executar as mesmas funções. Deve ser isso que ele pensa para propor uma reforma aberrante dessa.

Galera ainda é tempo de barrar essas e outras atrocidades. E não se iludam com essas listas da Odebrecht sendo divulgadas propositalmente agora e reproduzidas e editadas pela grande mídia para lhe favorecer.


Avante!!!!

Em março, Nova Olinda disse não a Reforma da Previdência. Foto: Lucélia Muniz.

Documentário retrata luta obstinada dos índios brasileiros pelo direito às suas terras e à vida


Capitalismo, senador, capitão, "plata". Estas são algumas das poucas palavras possíveis de decifrar nos primeiros minutos do longa-metragem Martírio, que estreou na quinta-feira (13) nos cinemas, com distribuição pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras. Na melodiosa língua guarani, índios da etnia Kaiowa fazem uma assembleia e discutem os perigos que ameaçam aquele povo. Estas cenas registradas no final dos anos 1980 pelo cineasta e indigenista Vincent Carelli são algumas das imagens que o diretor vem captando nas últimas três décadas e que ajudam agora a narrar o percurso da insurgência pacífica e obstinada dos Guarani e Kaiowá pela retomada de seus territórios sagrados.

Os acampamentos e as ocupações indígenas em MS são símbolos de uma
resistência pacífica e fundamental. Imagem capturado do youtube.

CEERT - Durante duas horas e 40 minutos, o que chega ao espectador é um sentimento de extrema tristeza pelo massacre quase silencioso sofrido pelos povos originários no Mato Grosso do Sul, mas também uma emocionante beleza, já que o filme nos apresenta a profunda conexão que eles guardam com a terra, seus rituais e seus mortos. Vincent Carelli, com a colaboração de Ernesto de Carvalho e da montadora Tita, nos dá em primeira pessoa um denso testemunho sobre a questão indígena no país.

O documentário traz bem claras a memória afetiva e toda a militância de Carelli na questão indígena e faz uma importante reflexão sobre problemáticas sociais e políticas no que diz respeito aos direitos dos indígenas. A obra se vale de arquivos históricos e imagens produzidas por Carelli junto aos Kaiowá ao longo de 10 anos para resgatar as origens das políticas indígenas do Estado desde a Guerra do Paraguai, dos sucessivos projetos de integração dos índios ao sistema de trabalho, até o massacre forjado pelo agronegócio e a bancada ruralista nos tempos atuais.

Trata-se de um convite – talvez até uma convocação – para que a sociedade tome partido do lado certo já que o poder do agronegócio junto à bancada ruralista e as forças conservadoras no país mostram sempre o que lhes convêm: de vítimas que tiveram suas terras roubadas, sua força de trabalho explorada e a morte como companheira constante, os indígenas passaram a ser apontados como vilões e ameaçadores invasores de terra que atrasam o desenvolvimento econômico do país. O filme toma uma posição bem clara e acaba apresentando as duas faces de uma pesada moeda – o de um povo historicamente estereotipado como submisso e cordial contra uma máquina capitalista destruidora.

É exatamente sobre isso que os índios falam na assembleia gravada por Carelli em 1988, nas imagens não legendadas que abrem o filme: "O que está pegando a gente é o capitalismo", diz um deles, em uma das frases mais simbólicas do documentário.

Resistir para viver

Ao mesmo tempo que causa revolta ver políticos defendendo o latifúndio e o agronegócio em detrimento da vida de pessoas, dá esperança ver que ainda há gente lutando contra todo esse poder. É claro que fica evidente a discrepância entre as forças, mas os acampamentos nas beiras das estradas em Mato Grosso do Sul e a persistência das ocupações indígenas se mantêm como símbolos de uma resistência pacífica e fundamental. Resistir é a única forma de proteger suas terras sagradas e os locais onde seus mortos são enterrados, mesmo que isso continue lhes custando a vida.

É o caso de um acampamento que existe há 12 anos na beira de uma estrada em Apyka'i, a quatro quilômetros da cidade de Dourados. Lá, cacique Damiana viu tombar muitos de seus companheiros. Apesar da dor e da penúria em que vivem, ela reúne suas forças para cantar denúncias sobre as injustiças e violências que seu povo sofre e para reclamar parte da propriedade arrendada pela Usina São Fernando: "A gente canta pro dono da vida, pro dono do céu, pro dono da terra, pro dono da água… Assim vivemos na luta pela nossa terra, pelo tekona Apyka'i. Nós rezamos para os deuses do céu e da terra. Temos reza até para o eclipse do sol, nós, os índios Kaiowá e Guarani. O brilho do sol e nossas rezas, os brancos nunca poderão impedir".

Para Carelli, a produção deste documentário não era possibilidade, mas sim uma necessidade urgente: "Todo dia, bate à porta das nossas consciências, através das redes sociais, a notícia de um assassinato brutal, de um violento despejo. Do outro lado, na grande imprensa, nas sentenças judiciais, nos discursos dos lobbistas do agronegócio, vemos a ignorância ou omissão total da história, a inversão cínica de papéis se apropriando da palavra ‘resistência’, frente ao suposto ‘terrorismo’ dos índios. Fazer Martírio se tornou uma compulsão necessária para mim, que tenho a vida atada à deles, para Ernesto e Tita, que me acompanharam nessa jornada. Um compromisso moral, ético, político, e sobretudo afetivo, com os povos Guarani Kaiowá", afirma o diretor que fundou em 1986 o projeto Vídeo nas Aldeias, que apoia as lutas dos povos indígenas para fortalecer suas identidades e seus patrimônios territoriais e culturais por meio de recursos audiovisuais.

Martírio é o segundo filme de uma trilogia, ao lado de Curumbiara, que conta a história de um massacre de indígenas ocorrido em 1985 no sul de Rondônia, e de Adeus, Capitão, que ainda está em andamento.

Vencedor de prêmios em vários festivais, o longa estreia nesta quinta-feira nas seguintes cidades e cinemas: em São Paulo, no Espaço Itaú de Cinema Augusta e na Caixa Belas Artes; em Santos, no Cinespaço Miramar; no Rio de Janeiro, no Espaço Itaú de Cinema Botafogo; em Niterói, no Cine Arte UFF; em Belo Horizonte, no Cinema Belas Artes; em Brasília, no Cine Brasília e no Espaço Itaú de Cinema Brasília; em Porto Alegre, no Cine Bancários e no Espaço Itaú de Cinema Porto Alegre; em Salvador, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha; em Recife, no Cine São Luíz e no FUNDAJ Cinema do Museu; em Curitiba, no Cineplex Batel, na Cinemateca de Curitiba e no Espaço Itaú de Cinema Curitiba; em Rio Branco, no Cine Teatro Recreio; em Maceió, no Cine Arte Pajuçara; em Fortaleza, no Cinema do Dragão; em Vitória, no Cine Metrópolis; em Goiânia, no Cine Cultura Goiânia; em São Luís, no Cine Praia Grande; em João Pessoa, no Cine Banguê e no Cinespaço Mag Shopping; em Teresina, no Cine Teresina; em Aracaju, no Cine Vitória; em Palmas, no Cine Cultura Palmas; e em Belém, no Cine Líbero Luxardo.

Os ingressos são vendidos a preço reduzido (R$ 12 e R$ 6 a meia-entrada) nas bilheterias ou por meio do Cartão Fidelidade Sessão Vitrine Petrobras, que pode ser adquirido no site do projeto.

          

ONU se manifesta contra o “escola sem partido” e cita mudanças na base curricular


Por meio de denúncia e incidência da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e do IDDH (Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos), relatorias especiais do Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas lançam posicionamento que denuncia os efeitos do programa “Escola Sem Partido” no Brasil

CNDE - Em comunicado publicado hoje, 13/04, Koumbou Boly Barry, Relatora Especial para o Direito Humano à Educação; David Kaye, Relator Especial para Promoção e Proteção do Direito à Liberdade de Opinião e Expressão; e Ahmed Shaheed, Relatora Especial para Liberdade de Religião e de Crença, e enviaram uma carta questionando o Estado Brasileiro acerca dos efeitos gerados pelo programa “Escola Sem Partido” no Brasil, especialmente no que tange os Projetos de Lei 867/2015 e 193/2016, recomendando a tomada de atitudes necessárias para conduzir uma revisão dessas proposições, assegurando sua conformidade com a base dos direitos humanos internacionais – o que inclui a Constituição Federal de 1988 da República Federativa do Brasil.

O documento traz um histórico acerca do movimento “Escola Sem Partido” desde 2004, passando pela apresentação  e tramitação dos projetos de lei, até a retirada pelo Ministério da Educação (MEC) dos termos “orientação sexual” e “identidade de gênero” da última versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), enviada na semana passada para o Conselho Nacional de Educação (CNE). O documento explicita também o caso do secretário paulistano de educação Alexandre Schneider versus vereador Fernando Holiday.

A carta cita ainda o posicionamento contra o projeto da Comissão Internacional de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), após denúncia e sustentação oral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Além disso, relatam o amplo posicionamento contrário do Ministério Público Federal (MPF) e da Advocacia Geral da União (AGU), de especialistas, organizações sociais, estudantes e educadores, inclusive em pesquisa de opinião realizada pelo site do Senado Federal, que contou com a participação de mais de 390 mil pessoas, sendo a maioria contrária ao “Escola Sem Partido”.

Os relatores reiteraram que o Artigo 19 do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, ratificado pelo Brasil em 1992, protege a todos o direito à opinião, sem interferências, e o direito a buscar, receber, e partilhar informações e ideias de todos tipos, independentemente de fronteiras ou meios.  Ainda com base no Artigo 19, explicitaram seu caráter de “necessidade” e não somente como “útil, desejável ou razoável”, o que implica em acesso e proporcionalidade.

Diante dos projetos de lei, o documento afirma que a “discussão sobre gênero e diversidade sexual é fundamental para prevenir estereótipos de gênero e atitudes homofóbicas entre estudantes” e que “por não definir o que é doutrinação política e ideológica, (…) a proposição permite que quaisquer práticas pedagógicas dos professores sejam consideradas como doutrinação, tornando a escola uma extensão do ambiente doméstico antes de uma instituição educacional que proveja novas perspectivas”. Os relatores explicitam ainda que o projeto apresenta o risco de impedir “o desenvolvimento de um pensamento crítico nos estudantes e a habilidade de refletir, concordar ou discordar com o que está exposto em aulas”.

Os relatores destacam também o parecer com conclusões do Comitê sobre os Direitos da Criança (CRC/ONU), de 2015, que, dando luz aos artigos 2, 3, 6 e 12 da Convenção dos Direitos da Criança, ratificada pelo Brasil em 1990, recomendou ao Brasil “b) decretar legislação que proíba discriminação ou incitamento de violência com base em orientação sexual e identidade de gênero assim como continuar o projeto “Escola Sem Homofobia”;  c) priorizar a eliminação de atitudes patriarcais e estereótipos de gênero, inclusive por meio de programas educacionais e de sensibilização”. Esse documento foi fruto de incidência da Campanha Nacional pelo Direito à Educação junto aos comissionados em momentos prévios à sessão com o Brasil em outubro de 2015.

“É uma grande conquista o posicionamento da comunidade internacional contra o cerceamento da liberdade de expressão dos professores no Brasil, que tem prejudicado a qualidade da educação e colocado em xeque a primazia dos Direitos Humanos e dos princípios constitucionais. Vamos continuar nesse enfrentamento, sem descansar”, afirmou Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

Processo de denúncia

As relatorias obtiveram informações sobre o programa “Escola Sem Partido” por meio de denúncias levadas à Genebra pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação e pelo IDDH, na Pré-Sessão do Relatório Periódico Universal (RPU) ao Brasil, que aconteceu nesta primeira semana de abril. Ainda, a relatora especial para o direito à educação, Koumbou Boly Barry, esteve em evento promovido pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação e pela Ação Educativa no dia 04/04, recebendo informações sobre o contexto da educação brasileira através de movimentos e ativistas da área.

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Após participar de eventos públicos e debates no Brasil, a Campanha Nacional pelo Direito à Educação foi à Genebra, em novembro de 2016, para levar denúncia aos relatores sobre o impacto do programa “Escola Sem Partido” ao direito à educação e ao direito à liberdade de opinião e expressão dos educadores. Em dezembro de 2016, o coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, fez sustentação oral contra o programa “Escola Sem Partido” perante o Estado Brasileiro no âmbito da reunião da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA). No dia 7 de março, Daniel Cara foi expositor em audiência pública realizada no âmbito da Comissão Especial do Programa Escola Sem Partido na Câmara dos Deputados. A Comissão Especial é composta, majoritariamente, por defensores do PL.

No processo deste mês de denúncias na Pré-Sessão do RPU da ONU, quem liderou a incidência da sociedade civil no tema é o Instituto de Desenvolvimento dos Direitos Humanos (IDDH) e a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, por meio da interlocução com diplomatas e representantes de organismos internacionais. A Pré-Sessão é o momento específico para a sociedade civil se manifestar no âmbito deste mecanismo da ONU para avaliação mútua entre Estados (governos nacionais) quanto à situação de direitos humanos.

Fernanda Lapa, coordenadora executiva do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos (IDDH), com a colaboração da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, fizera um discurso impactante, em uma sala cheia de diplomatas e representantes de países de todos os continentes do mundo, veículos de imprensa e organismos internacionais.

Os diplomatas ficaram tocados com as informações que apresentei em meu discurso, listando fatos ocorridos nos últimos três anos, como a retirada da palavra gênero dos planos municipais, estaduais e nacional de educação, além das consequências de toda essa onda conversadora que vivemos no Brasil. Muitos também ficaram perplexos com a existência de projetos de lei como o programa ‘Escola sem Partido’, que impacta diretamente na liberdade de expressão de docentes e no acesso à educação de qualidade aos estudantes brasileiros. O que eu não imaginava é que, enquanto em embarcava de Genebra para o Brasil, logo após a atividade na ONU na última sexta-feira, comprovamos o que apresentamos, os retrocessos seriam concretizados via anuncio do MEC de retirar as questões de gênero e orientação sexual da Base Curricular e com o caso das escolas de São Paulo, inspecionadas por vereadores, levando a quase demissão do secretário municipal de educação Alexandre Schneider”, afirmou Fernanda, sobre seu discurso.


Maria Rehder, coordenadora de projetos da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, esteve na Pré-Sessão, juntamente com Fernanda, e permaneceu nos dias subsequentes, em atividades de uma série de reuniões com diplomatas e organismos de direitos humanos das Nações Unidas, com o objetivo de apresentar a atualização e a gravidade dos fatos anunciados desde sexta-feira no Brasil, acerca da última versão da Base Nacional Comum Curricular.