Plataforma Digital permite a participação do público na construção do Plano Setorial para a Cultura Afro-brasileira


Está no ar a plataforma digital que facilita a comunicação entre os cidadãos e os responsáveis pela formulação do Plano Setorial para a Cultura Afro-brasileira. Por meio desse espaço, será possível enviar sugestões, opiniões e contribuições e participar ativamente das atividades que envolvem a construção da política pública. Para colaborar, basta acessar o formulário de contribuição aqui

O espaço pergunta, entre outros, sobre como o público avalia a cena cultural afro-brasileira na região em que vive, o que carece de mudanças e de que maneira isso poderia ser feito. O objetivo é que por meio desses questionamentos, seja possível identificar as principais necessidades dos agentes culturais negros em diversas regiões brasileiras.

Além da possibilidade de participar ativamente da construção do Plano, nesse mesmo espaço o público terá acesso a agenda das reuniões que estão acontecendo em vários estados, ao caderno de apoio do Plano Nacional, assim como informações relacionadas.

Plano Nacional de Políticas Afro-brasileira – Tem o objetivo de cumprir a Meta 46 do Plano Nacional de Cultura em instalar colegiados e elaborar planos setoriais. Visa também, realizar um conjunto de atividades que possam subsidiar a construção da política nacional para cultura afro brasileira e organizar ações de formação e articulação institucional de forma a ampliar o debate nos estados brasileiros.

A construção do Plano é uma parceria entre a Fundação Cultural Palmares (FCP-MinC), o Colegiado Setorial Afro-brasileiro do CNPC (Conselho Nacional de Políticas Culturais) e as representações de cultura em cada estado brasileiro.



Via Palmares

Carolina Maria de Jesus: Um Século da autora do clássico “Quarto de Despejo”


(Carolina e a primeira edição de seu livro)

Não digam que fui rebotalho,
que vivi à margem da vida.
Digam que eu procurava trabalho,
mas fui sempre preterida.
Digam ao povo brasileiro
que meu sonho era ser escritora,
mas eu não tinha dinheiro
para pagar uma editora.

Em 1958, o repórter Audálio Dantas estava na favela do Canindé, em São Paulo, preparando uma reportagem sobre um parque infantil para o extinto jornal Folha da Noite, quando se deparou com uma mulher negra de 43 anos que gritava: “Onde já se viu uma coisa dessas, uns homens grandes tomando brinquedo de criança! Deixe estar que eu vou botar vocês todos no meu livro!”  Curioso, como todo bom jornalista, Audálio foi atrás dela e descobriu uma escritora: Carolina Maria de Jesus, que ficaria conhecida mundialmente por Quarto de Despejo, um clássico de nossa literatura, traduzido em 13 idiomas.

Lançado em 1960, o livro venderia mais de 80 mil exemplares no Brasil, um best seller até para os padrões de leitura de hoje em dia. Nele, Carolina fazia um diário de sua vida desde que deixara Sacramento, em Minas, aos 17 anos, para ir morar em São Paulo, onde trabalhou como empregada doméstica e, quando Audálio a encontrou, como catadora de papel. O título veio de uma frase de Carolina: “A favela é o quarto de despejo da cidade”. A escritora favelada é, de certa forma, precursora de nomes recentes de nossa literatura que vieram da periferia das grandes cidades, como Paulo Lins (Cidade de Deus) e Ferréz (Capão Pecado).

Carolina é uma escritora fundamental para entender a literatura brasileira, que é feita, em sua grande maioria, de autores brancos de classe média que dominavam a língua formal. Ela mostra a outra face dessa história, que passa a ser vista do ponto de vista dela, de baixo”, diz a professora da Universidade de Brasília Germana Henriques Pereira, autora de O Estranho Diário de Uma Escritora Vira-Lata, um dos poucos trabalhos que analisam a obra de Carolina do ponto de vista da crítica literária. Depois do estrondoso sucesso, Carolina morreria pobre e praticamente esquecida, isolada num sítio, em fevereiro de 1977.

A literatura de Carolina Maria de Jesus só foi redescoberta na década de 1990, graças ao empenho do pesquisador brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine, que juntos publicariam o livro Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus (editora UFRJ, atualmente esgotado), e editariam duas coletâneas de inéditos da escritora. No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos EUA, onde Quarto de Despejo, traduzido como Child of the Dark, é utilizado nas escolas –ao contrário do que ocorre em sua terra natal.

Audálio Dantas, descobridor de Carolina Maria de Jesus, deu uma pequena entrevista ao blog sobre a escritora.

Socialista Morena – Por que Carolina, mesmo sendo reconhecida no exterior, ficou tanto tempo esquecida no Brasil?

Audálio Dantas – É que, como sempre, a moda passou rapidinho. A maioria “consumiu” Carolina como uma novidade, uma fruta estranha. Carolina, como objeto de consumo, passou, mas a importância de seu livro, um documento sobre os marginalizados, permanece.

SM – Neste meio tempo, não apareceram tantas mulheres faveladas ou empregadas domésticas escritoras. Por quê?

Audálio – Xi, foram dezenas ou centenas, Só eu recebi mais de vinte originais, Nenhum tinha a força do texto de Carolina.

SM – Ainda hoje existem catadores de papel… A vida nas favelas mudou pouco em relação à época da Carolina?

Audálio – Existem até mais, com a necessidade de reciclagem. A maioria, hoje, faz esse trabalho com carroças (aquelas sempre acompanhadas por um cachorro…). As favelas também mudaram. Não que seja bom e bonito viver nelas, mas em muitas já se observam os sinais da movimentação social dos últimos anos, quando milhões de brasileiros ascenderam à chamada nova classe C. Muitos desses brasileiros vivem nelas, com TV, internet, celular e outros objetos das novas tecnologias.

SM – Você acompanhou Carolina até o fim?

Audálio – Não. Carolina era uma pessoa de personalidade muito forte. Isso pode ser constatado no livro. Desentendeu-se comigo, me distanciei. Ela sempre buscou a glória, e quando esta se foi, se ressentiu. Morreu amarga.

Desiludida com o insucesso de suas obras posteriores, Carolina rompeu com o jornalista e chegou a criticá-lo no livro Casa de Alvenaria. “Eu queria ir para o rádio, cantar. Fiquei furiosa com a autoridade do Audálio, reprovando tudo. Dá impressão de que sou sua escrava”. Em 1961, chegou a gravar um disco, com canções compostas por ela mesma (uma raridade, ouça aqui). Mais tarde, perto do final da vida, a escritora mudou de opinião sobre seu descobridor. “O Audálio foi muito bom, muito correto comigo, eu sempre acreditei nele”, disse Carolina à Folha de S.Paulo em sua última entrevista, em 1976.

Na mesma reportagem, Audálio Dantas conta sua versão do rompimento. “Ela recebia convites de um Matarazzo, recebia convites para falar em faculdades, para visitar o Chile, para frequentar a sociedade e dezenas de propostas de casamento. Mas eu achava que ela não devia entrar neste esquema, porque não era uma coisa natural. Porque as pessoas a procuravam como uma pessoa de sucesso e a viam como um animal curioso”, disse o jornalista.

No enterro de Carolina, Audálio era uma das duas “autoridades” presentes além dos familiares – o outro era o prefeito de Embu-Guaçu. Um orador que não conhecera a escritora em vida improvisou o discurso de despedida. “Somente compareceram para lhe dar o último adeus as pessoas humildes, as pessoas que sempre a acompanharam em toda a sua vida”. E fez, ali, o epitáfio de Carolina: “Morreu como viveu: pobre”.

Frases de Carolina Maria de Jesus:

“O assassinato de Kennedy é descendente de Herodes e neto de Caim. Kennedy era o sol dos Estados Unidos. O sol que se apagou. Um homem que era digno de viver séculos e séculos.”

“Antigamente o que oprimia o homem era a palavra calvário; hoje é salário.”

“O maior espetáculo do pobre da atualidade é comer.”

“As crianças ricas brincam nos jardins com seus brinquedos prediletos. E as crianças pobres acompanham as mães a pedirem esmolas pelas ruas. Que desigualdades tragicas e que brincadeira do destino.”

“A amizade do analfabeto é sincera. E o ódio também.”

“Eu sou negra, a fome é amarela e dói muito.”

“A favela é o deposito dos incultos que não sabem contar nem o dinheiro da esmola.”

“Quem inventou a fome são os que comem.”

“Quem não tem amigo mas tem um livro tem uma estrada.”


Publicado Originalmente no Blog Socialista Morena

Professoras e Alunas da Escola do município de Assaré visitam Fundação ARCA

Uma equipe constituída de coordenadoras(es), professoras(es), alunos, alunas e servidores da Escola Ananias Ferreira de Melo, que fica localizada no Bairro Moêda, no município de Assaré, estiveram na tarde desta sábado (16) no município de Altaneira objetivando conhecer o Projeto ARCA que em 14 de  julho de 2011 foi contemplado como um dos 242 pontos de cultura do Estado do Ceará.


Composta por cerca de trinta (30) integrantes na caravana assareenses conheceu um pouco da história de luta da entidade e os projetos educativos, culturais, além daqueles núcleos produtivos que tem como foco gerar renda para os seus membros.

A professora Lucía de Lucena, pertencente a ARCA deste o começo de sua formação ainda quando era ligada ao movimento religioso e não tinha ponto fixo se encarregou de relatar como esta entidade se tornou referência no município quando o assunto em questão é organização social, cultura e solidariedade. Lucena lembrou que o Projeto ARCA é uma entidade sem fins lucrativos e que vem desenvolvendo há mais de uma década importantes trabalhos nesta municipalidade e que devido a dimensão que tomou ao longo doas anos houve a necessidade deste projeto ser dividido em dois em Fundação e Associação. A primeira desenvolve projetos relacionados à área educativa e citou os projetos Inclusão Digital, Biblioteca ARCA da Leitura e Melodia. A segunda ficou com responsável por gerar, através da solidariedade renda aos agricultores. A apicultura é exemplo desse quesito.

É digno de registro que a organização dos pequenos proprietários rurais do município em uma rede de agricultores familiares faz parte de uma das atividades essenciais da Associação que permite a utilização de mão de obra em núcleos familiares. Além da subsistência familiar há também o fornecimento de alimentos para a merenda escolar.

Se utilizou da fala ainda Flávia Cícera que ora está como uma das coordenadoras do Ponto de Cultura ao lado de Fábio Barbosa e Flávia Regina. Flavia fez um balanço de como foram constituídos cada projeto e do impacto que cada um desses intentos vem fazendo na vida dos jovens e das jovens altaneirenses o que, para ela é força que gera a vidna de outros para a entidade e acabem não mais saindo.

Foram apresentados ainda os novos projetos que vem sendo desenvolvidos como o Leitura em Arte e Cine Leitura. Além disso os visitante conheceram o histórico do único veículo de comunicação desta localidade, a Rádio Comunitária Altaneira FM e a sua força na formação de opinião dos habitantes apresentado por Cláudio Gonçalves, Secretário de Atividades Sociais da Associação Beneficente de Altaneira – ABA, entidade mantenedora desse meio de comunicação.

Todas as apresentações tiveram como mediador Givanildo Gonçalves e foram subsidiadas por recitações de poesias, a maioria de autoria de Patativa do Assaré e músicas por crianças atendidas pelo projeto.

Em conversas com este blogueiro Mariana Mathias (foto ao lado), Agente Administrativa da Escola Ananias Ferreira de Melo ressaltou que já conhecia os trabalhos, “mas”, disse, “me encantei mais ainda com o trabalho desenvolvido na Fundação ARCA”.

Tão logo saiu da entidade a equipe seguiu em direção a Trilha Ecológica do Sítio Poças, uma idealização do Jurista Raimundo Soares Filho. Lá além de conhecer os caminhos desta perceberam ainda a Horta Dois Irmãos sob os cuidados de João Bel.

A cobertura fotográfica foi realizada pelo servidor público João Alves. Confira mais fotos.













Pretas Simoa realiza ciclo de debates em Crato sobre PEC das Domesticas


Dr. Clóvis fala sobre a PEC das
Domesticas. Foto: Pretas Simoa.
O Grupo de Mulheres Negras do Cariri – Pretas Simoa realizou na noite da última sexta-feira, 15 de agosto, na Pastoral do Menor da comunidade do Alto da Penha, no município de Crato, na região metropolitana do cariri cearense, uma palestra visando discutir a implementação da Proposta de Emenda a Constituição – PEC 72/13 que garante os direitos trabalhistas das empregadas domésticas igual ao das demais classes trabalhadoras do Brasil.

O encontro foi uma promoção do Pretas Simoa, um movimento negro que vem desde sua criação tendo grande visibilidade com suas atuações principalmente tendo como norte as causas negras na região do cariri e contou com a palestra do  Dr. Clóvis Valença, Juiz Titular da 3ª Vara do Trabalho da região supracitada. A fala do Juiz objetivou apresentar e discutir junto a essa categoria cratense e aos demais agentes públicos sobre a luta e a valorização das domésticas no que tange ao cumprimento da lei, além de ressaltar sobre equiparação de direitos aos demais trabalhadores e, claro, publicizar esses atos.

Comunidade do Alto da Penha, em Crato, em momento
de discussão sobre a PEC das Domésticas.
É digno de registro que essa matéria foi construída para assegurar a extensão dos direitos trabalhistas previstos na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para trabalhadores e trabalhadoras domésticos (as). A PEC das Domésticas, como ficou mais conhecida completou em abril um ano de promulgação, mas ainda assim há resistências de alguns em dar efetividade a lei. Fazendo com que muitos direitos reivindicados pela classe sigam, até hoje, sem regulamentação. Por ela o salário de profissionais que trabalham em residências não pode ser inferior ao mínimo, e estabelece a jornada de trabalho de até oito horas diárias e 44 horas semanais para faxineiras, jardineiros e babás, por exemplo.

Durante o evento houve o lançamento da Marcha Nacional das Mulheres Negras 2015.


Do Brasil 247: Marina não... PSB pode lançar Luiza Erundina


A colunista Mônica Bergamo, uma das jornalistas mais bem-informadas do País, publicou, nesta tarde, uma informação que pode alterar os rumos da sucessão presidencial.

Segundo ela, uma ala do PSB estaria inclinada a lançar Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo, ao Palácio do Planalto (leia aqui).

É uma indicação clara de que não há consenso no PSB em torno do nome de Marina Silva, que enfrenta resistência do próprio presidente da legenda e sucessor de Eduardo Campos no cargo, Roberto Amaral.

Nacionalista e defensor de teses contrárias às de Marina, como a energia nuclear, Amaral é aliado do ex-presidente Lula e, no passado, foi contrário à candidatura do próprio Eduardo Campos. Ele defendia o apoio à reeleição de Dilma.

Amaral também foi contrário à aliança entre o PSB e a Rede, de Marina Silva.

O lançamento de Luiza Erundina seria uma saída para evitar a candidatura da ex-senadora.


11 filmes que diagnosticam como o cinema retratou a ditadura civil-militar no Brasil


Das sessões de tortura aos fantasmas da ditadura, o cinema brasileiro invariavelmente volta aos anos do regime militar para desvendar personagens, fatos e consequências do golpe que destituiu o governo democrático do país e estabeleceu um regime de exceção que durou longos 21 anos. Estreantes e veteranos, muitos cineastas brasileiros encontraram naqueles anos histórias que investigam aspectos diferentes do tema, do impacto na vida do homem comum aos grandes acontecimentos do período.

Cena de Batismo de Sangue. (Reprodução).
Embora a produção de filmes sobre o assunto tenha crescido mais recentemente, é possível encontrar obras realizadas durante o próprio regime militar, muitas vezes sob a condição de alegoria. “Terra em Transe”, de Glauber Rocha, é um dos mais famosos, retratando as disputas políticas num país fictício. Mais corajoso do que Glauber foi seu conterrâneo baiano Olney São Paulo, que registrou protestos de rua e levou para a tela em forma de parábola, o que olhe custou primeiro a liberdade e depois a vida.

Os onze filmes que compõem esta lista, se não são os melhores, fazem um diagnóstico de como o cinema retratou a ditadura brasileira.

1. MANHÃ CINZENTA (1968), Olney São Paulo – Em plena vigência do AI-5, o cineasta-militante Olney São Paulo dirigiu este filme, que se passa numa fictícia ditadura latino-americana, onde um casal que participa de uma passeata é preso, torturado e interrogado por um robô, antecipando o que aconteceria com o próprio diretor. A ditadura tirou o filme de circulação, mas uma cópia sobreviveu para mostrar a coragem de Olney São Paulo, que morreu depois de várias sessões de tortura, em 1978.

2. PRA FRENTE, BRASIL (1982), Roberto Farias – Um homem comum volta para casa, mas é confundido com um “subversivo” e submetido a sessões de tortura para confessar seus supostos crimes. Este é um dos primeiros filmes a tratar abertamente da ditadura militar brasileira, sem recorrer a subterfúgios ou aliterações. Reginaldo Faria escreveu o argumento e o irmão, Roberto, assinou o roteiro e a direção do filme, repleto de astros globais, o que ajudou a projetar o trabalho.

3. NUNCA FOMOS TÃO FELIZES (1984), Murilo Salles – Rodado no último ano do regime militar, a estreia de Murilo Salles na direção mostra o reencontro entre pai e filho, depois de oito anos. Um passou anos na prisão; o outro vivia num colégio interno. Os anos de ausência e confinamento vão ser colocados à prova num apartamento vazio, onde o filho vai tentar descobrir qual a verdadeira identidade de seu pai. Um dos melhores papéis da carreira de Claudio Marzo.

4. CABRA MARCADO PARA MORRER (1984), Eduardo Coutinho – A história deste filme equivale, de certa forma, à história da própria ditadura militar brasileira. Eduardo Coutinho rodava um documentário sobre a morte de um líder camponês em 1964, quando teve que interromper as filmagens por causa do golpe. Retomou os trabalhos 20 anos depois, pouco antes de cair o regime, mesclando o que já havia registrado com a vida dos personagens duas décadas depois. Obra-prima do documentário mundial.

5. O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? (1997), Bruno Barreto – Embora ficcionalize passagens e personagens, a adaptação de Bruno Barreto para o livro de Fernando Gabeira, que narra o sequestro do embaixador americano no Brasil por grupos de esquerda, tem seus méritos. É uma das primeiras produções de grande porte sobre a época da ditadura, tem um elenco de renome que chamou atenção para o episódio e ganhou destaque internacional, sendo inclusive indicado ao Oscar.

6. AÇÃO ENTRE AMIGOS (1998), Beto Brant – Beto Brant transforma o reencontro de quatro ex-guerrilheiros, 25 anos após o fim do regime militar, numa reflexão sobre a herança que o golpe de 1964 deixou para os brasileiros. Os quatro amigos, torturados durante a ditadura, descobrem que seu carrasco, o homem que matou a namorada de um deles, ainda está vivo –e decidem partir para um acerto de contas. O lendário pagador de promessas Leonardo Villar faz o torturador.

7. CABRA CEGA (2005), Toni Venturi – Em seu melhor longa de ficção, Toni Venturi faz um retrato dos militantes que viviam confinados à espera do dia em que voltariam à luta armada. Leonardo Medeiros vive um guerrilheiro ferido, que se esconde no apartamento de um amigo, e que tem na personagem de Débora Duboc seu único elo com o mundo externo. Isolado, começa a enxergar inimigos por todos os lados. Belas interpretações da dupla de protagonistas.

8. O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS (2006), Cao Hamburger – Cao Hamburger, conhecido por seus trabalhos destinados ao público infantil, usa o olhar de uma criança como fio condutor para este delicado drama sobre os efeitos da ditadura dentro das famílias. Estamos no ano do tricampeonato mundial e o protagonista, um menino de doze anos apaixonado por futebol, é deixado pelos pais, militantes de esquerda, na casa do avô. Enquanto espera a volta deles, o garoto começa a perceber o mundo a sua volta.

9. HOJE (2011), Tata Amaral – Os fantasmas da ditadura protagonizam este filme claustrofóbico de Tata Amaral. Denise Fraga interpreta uma mulher que acaba de comprar um apartamento com o dinheiro de uma indenização judicial. Cíclico, o filme revela aos poucos quem é a protagonista, por que ela recebeu o dinheiro e de onde veio a misteriosa figura que se esconde entre os cômodos daquele apartamento. Denise Fraga surpreende num papel dramático.

10. TATUAGEM (2013), Hilton Lacerda – A estreia do roteirista Hilton Lacerda na direção é um libelo à liberdade e um manifesto anárquico contra a censura. Protagonizado por um grupo teatral do Recife, o filme contrapõe militares e artistas em plena ditadura militar, mas transforma os últimos nos verdadeiros soldados. Os soldados da mudança. Irandhir Santos, grande, interpreta o líder da trupe. Ele cai de amores pelo recruta vivido pelo estreante Jesuíta Barbosa, que fica encantado pelo modo de vida do grupo.

11. BATISMO DE SANGUE (2007) – Apesar do incômodo didatismo do roteiro, o longa é eficiente em contar a história dos frades dominicanos que abriram as portas de seu convento para abrigar o grupo da Aliança Libertadora Nacional (ALN), liderado por Carlos Marighella. Gerando desconfiança, os frades logo passaram a ser alvo da polícia, sofrendo torturas físicas e psicológicas que marcaram a política militar. Bastante cru, o trabalho traz boas atuações do elenco principal e faz um retrato impiedoso do sofrimento gerado pela ditadura.



Com Cinema Uol e Literatortura/Pragmatismo Político



EEEP Wellington Belem de Figueiredo torna-se palco de aprendizagem cooperativa


A Escola Estadual de Educação Profissional Wellington Belém de Figueiredo, localizada em Nova Olinda, região do cariri cearense, foi palco durante os dias 12, 13 e 14 de agosto do corrente ano de um ciclo de palestras e desenvolvimento de oficinas como parte integrante da metodologia educacional denominada de Aprendizagem Cooperativa.


O evento foi proporcionado pela Secretaria da Educação do Ceará, a partir da 18ª Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação – CREDE 18 em parceria com o Programa de Aprendizagem Cooperativa em Células Estudantis PRECE e envolveu todos(as) os alunos(as) e professores(as) da referida instituição.

Durante os três dias foram apresentados a partir do professor Manoel Andrade e equipe composta por professores e alunos um histórico do PRECE e toda a fundamentação que sustenta essa metodologia de ensino-aprendizagem. Cada componente da equipe, no primeiro contato com os discentes contaram seus histórico de vida e como passaram a ter ligação com a aprendizagem cooperativa. 

Alunos(as) do curso de redes de computadores durante 
desenvolvimento de oficinas.
De acordo com a narrativa exposta o PRECE começou a surgir em 1994, na comunidade rural de Cipó, em Pentecoste, localizado no sertão cearense. Aqui 7 jovens fora da faixa etária escolar passaram a estudar e conviver numa velha casa de farinha e foram ajudados pelo professor Manoel Andrade os auxiliava com o grupo durante os finais de semana, além de terem contado com a ajuda da própria comunidade. Mediante o ambiente hostil e precário em termos financeiros, mas com dedicação aos estudos e com a cooperação e solidariedade, houve a primeira aprovação em vestibular de um dos integrantes do grupo dois anos depois de sua formação. Francisco Antônio Alves Rodrigues logrou êxito e passou em primeiro lugar para o curso de pedagogia da Universidade Federal do Ceará - UFC. Isso serviu de estímulo e outros jovens foram tendo o mesmo resultado e voltando para a comunidade com o propósito de ajudar os demais.

Em todas as oportunidades foram desenvolvidas oficinas que tiveram como foco cinco elementos principais, a saber: Interação social (face-a-face); Responsabilização individual; Desenvolvimento de habilidades sociais; Processamento de grupo; e Interdependência social positiva. Fez parte ainda das discussões conceitos como sucesso acadêmico, vivência de conflito, autonomia intelectual, construção de relacionamentos e protagonismo estudantil.

Segundo o professor Manoel Andrade (foto ao lado), a aprendizagem cooperativa é uma metodologia na qual os discentes trabalham juntos em grupos heterogêneos para resolver um problema, concluir um projeto ou algum outro objetivo pedagógico. Para o correto desenvolvimento dessas atividades, faz-se necessários que eles (estudantes) contem com a orientação de um professor ou de um facilitador. Este que será responsável por garantir a presença dos cinco elementos básicos da metodologia em evidência.

É digno de registro que essa metodologia não é recente e sua história tem por base as ideias do filósofo Sócrates que a partir da arte do discurso ensinava a seus discípulos em grupos pequenos, engajando-os em diálogos.

O encerramento do encontro se deu com homenagem dos alunos dos quatro cursos, Redes de Computadores, Finanças, Agronegócio e Edificações. Estas se basearam na produção de textos e paródias. As atividades tiveram como espaços principais de desenvolvimento o auditório e as salas de aula.

Para Lucia Santana e Ana Maria, Diretora e Coordenadora (foto acima), respectivamente, esse momento representa um marco na história da escola, haja vista ser a primeira turma a receber esse modelo de ensino-aprendizagem e afirmaram que a escola está muito esperançosa com o sucesso na aplicação da metodologia.

A cobertura fotográfica foi realizada pelos professores de informática Lucélia Muniz e Leonardo Barbosa.

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Quem está pior, a economia ou o jornalismo?


Não é improvável um espectador do telejornal noturno ter o sono perturbado com vozes soturnas de apresentadores e analistas. Pelo que se vê e se ouve, não se sabe o que aquele apresentador sério quer dizer com “boa noite”. Afinal, a economia do Brasil pode estar à beira da bancarrota. Tampouco se perdoa o “bom dia” do apresentador da manhã, pois os jornais do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.

A preocupação com a economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as que dormem mais cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso dia sem fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata, eternizou a frase “é a economia, estúpido!” Era 1992, e com esse aprendizado Bill Clinton superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai, demonstrando sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos nesse quesito. Eis o segredo do homem que faria história no Salão Oval da Casa Branca pelos próximos oito anos: saber o que, com quem e por que estava falando.

O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um deles, saciar os humores do mercado financeiro, servir de ponte para suscitar apostas nos cassinos da especulação, detectar (ou criar) o clima do ambiente eleitoral, entre outros, inclusive informar de vez em quando. Porém, pelo que algumas pesquisas têm demonstrado, a opinião pública talvez não veja a economia do Brasil como a veem os especialistas.

Pesquisas do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em relação ao país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de julho revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos, sendo um dos “aspectos para os quais os brasileiros demonstram um sentimento positivo acima da média”, no relato do instituto. Já a expectativa da situação econômica do país­ registrou 102 pontos em julho, alta de 6 pontos na comparação com maio. Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre a situação econômica pessoal e 48% esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros 38% acreditam que ficará como está. E apenas 12%, que vai piorar. Pela pesquisa, pode-se constatar que há um grande descompasso entre o sentimento positivo do brasileiro com relação à economia e o cenário catastrófico divulgado pela mídia tradicional.

O jornal ou o caixa

O comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem uma pequena loja de roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E diz que basta conferir as vendas para saber se a economia está bem ou não. “Você acha que vou acreditar no jornal ou no meu caixa?”, brinca, ainda comemorando as vendas que fez durante a Copa do Mundo. “A gente precisa ser criativo e se reinventar a cada dia. Durante a Copa, por exemplo, troquei as tradicionais roupas da vitrine por camisas da seleção ou por peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi muito, não posso reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo patamar dos anos anteriores”, diz.

Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais Vilma Silva de Lima, de 57 anos. O noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora de um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz que as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança. “Aliás, nas próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos vão dizer sobre esses problemas”, afirma.

Com a aproximação do pleito, a mídia tradicional começa a definir candidatos que querem ajudar ou atrapalhar. E, diferentemente de quase um quarto do eleitorado, parece não estar indecisa, analisa o jornalista e sociólogo Venício Artur de Lima, professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em eleições há três décadas e tem vários livros sobre o tema.

Lima avalia que a profusão de informações parciais para privilegiar uns e prejudicar outros dá o tom. “Seguem a mesma conduta das eleições passadas, talvez de forma ainda mais exacerbada.”

O pesquisador pondera, porém, que o Brasil mudou e o eleitor está mais capacitado e dispõe de meios diversos de informação para decidir o voto. “Tenho uma visão diferente da que tinha quando comecei a estudar eleições, nos anos 80. As pessoas buscam muito mais informação fora do esquema da grande mídia. É claro que a TV aberta continua sendo a principal fonte de informação, mas as fontes alternativas têm peso muito grande desde 2006”, avalia. Isso não significa, observa Lima, que a mídia convencional não seja importante para influenciar comportamentos em longo prazo. “A percepção das pessoas sobre corrupção e a estigmatização dos partidos ainda é influenciada pela mídia, mas no comportamento eleitoral em si, o peso do que é publicado nos principais jornais, na TV e no rádio diminuiu, graças a meios que antes não existiam”, comenta.

Pessimismo militante

Usar o jornalismo econômico para fazer política no Brasil é uma estratégia que tem sido bastante criticada por Luis Nassif, jornalista econômico com 45 anos de experiência e organizador do portal GGN. Para ele, há muitas críticas à condução da política econômica do governo federal e vulnerabilidades que precisam ser enfrentadas – especialmente o desequilíbrio nas contas externas do país. “Mas nada que, nem de longe, se pareça com o quadro pintado nos grandes veículos. Aumentos de meio ponto percentual ao ano nos índices inflacionários são tratados como prenúncio de hiperinflação; acomodamento das vendas do varejo, em níveis elevados, como prenúncio de recessão”, comenta.

O que ele chama de “pessimismo militante” compromete a crítica necessária sobre os pontos efetivamente vulneráveis da política econômica e do processo de desenvolvimento do Brasil. “Há uma guerra política inaugurada em 2005, que sacrifica a notícia no altar das disputas partidárias. É evidente que há muito a melhorar no ambiente e na política econômica, mas quem está em crise exposta, hoje em dia, é certo tipo de jornalismo que acabou subordinando os fatos a disputas menores.”

O fotógrafo Alexandre Lombardi, de 38 anos, não gosta de generalizar uma má conduta da mídia. Ele não duvida que todo veículo favoreça um lado e prejudique outro. Lê os jornais tradicionais, procura na internet por blogs, fóruns de discussão e mídias sociais com pensamentos diferentes, mas desconfia à esquerda e à direita, e procura consistência:

Gosto da pluralidade de pensamentos”, conta Alexandre, que mora em Sorocaba, interior paulista. “A internet deixou tudo muito fácil. É possível comparar versões. Analiso, converso com os amigos e formo a minha própria opinião. Não tiro conclusões baseadas em uma única fonte”, explica. Ele ainda não definiu candidatos para a próxima eleição, mas levará em conta as­ propostas, inclusive para a economia.

Transmitir confiança, credibilidade e consistência, com propostas claras, será o melhor meio de ganhar o voto do eleitor em outubro. Quem afirma é o publicitário Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular – empresa de pesquisa especializada no conhecimento das classes C e D, onde se concentra a maioria dos brasileiros. “O que vai decidir o voto é a capacidade das candidaturas de entender os problemas reais que o eleitor enfrenta e de oferecer perspectivas de futuro”, observa.

Para Meirelles, será, antes de tudo, uma eleição sobre o futuro e não de legado. “Os eleitores estão mais preocupados em saber o que vai levar o Brasil adiante e não o que trouxe o país até aqui. Isso ­coloca a discussão em outro patamar. Os candidatos devem fazer uma campanha muito mais propositiva em vez de ficar falando do passado”, explica. A queda na credibilidade da mídia, as novas tecnologias da informação e a recente ascensão social no Brasil criaram um novo formador de opinião que terá peso nestas eleições. Trata-se do jovem da classe C. “Esses jovens estudaram mais que os pais, estão mais conectados, contribuem mais com a renda familiar do que o jovem da elite. Ele é provedor de conteúdo em casa e sua opinião vai ajudar a definir o voto da família”, afirma Meirelles.


Via Rede Brasil Atual