26 de abril de 2023

Justiça suspende Telegram por não entregar dados de neonazistas que ameaçam escolas

 

Grupos de ódio em aplicativos de mensagens estão "na base da violência contra nossas crianças", disse o ministro Flávio Dino. (FOTO | Marcello Casal Jr/Agência Brasil).


A Justiça Federal do Espírito Santo mandou suspender o aplicativo de mensagens Telegram em todo o país. A plataforma não entregou à Polícia Federal (PF) dados completos sobre os grupos neonazistas suspeitos de planejar ataques a escolas, descumprindo recente portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Além disso, passou de R$ 100 mil para R$ 1 milhão a multa diária contra o aplicativo, enquanto não fornecer todas as informações.

De acordo com a Diretoria de Inteligência da PF, empresas de telefonia celular, além do Google e Apple – responsável pelas lojas de aplicativos –, também serão notificadas pela Justiça sobre a suspensão do Telegram. A decisão se refere especificamente à investigação sobre o ataque a uma escolas em Aracruz (ES) no final do ano passado. O ato resultou na morte de três professoras e de uma aluna de 12 anos, além de outros 12 feridos. A polícia prendeu um jovem de 16 anos, que confessou o crime. Em sua casa, os investigadores encontraram materiais com símbolos nazistas.

Além disso, eles também identificaram que o adolescente participava de grupos antissemitas no Telegram. Na última sexta-feira (21), com base na nova portaria, a PF intimou o aplicativo a fornecer os dados. O Telegram entregou algumas informações, mas não forneceu os números dos telefones dos administradores e integrantes desses grupos.

Durante cerimônia de lançamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci) em Fortaleza, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou a decisão. “Há agrupamentos lá (no Telegram) denominados frentes antissemita, movimento antissemita, atuando nessas redes, e nós sabemos que isso está na base da violência contra nossas crianças, nossos adolescentes.” Ele falou ainda em fortalecer o “pacto” pela paz e segurança nas escolas.

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Com informações da RBA.

25 de abril de 2023

Povos do Siará: projeto permite alterar nome no registro e incluir etnias de povos indígenas

 

Durante o mutirão, a própria secretária teve seu registro alterado para Juliana Alves Jenipapo-Kanindé - Reprodução Instagram.

No dia dos Povos Indígenas, 19 de abril, a etnia dos Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, foi a primeira beneficiada com o projeto “Povos do Siará”. A iniciativa, promovida pela Defensoria Pública do Ceará, em parceria com a Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepince) e a Secretaria da Proteção Social (SPS) dá aos indígenas do estado o direito de requerer nos seus documentos oficiais o nome indígena da sua etnia, além da possibilidade de incluí-la no registro civil. 

O passo histórico é dado em direção ao respeito pelos costumes indígenas e pela existência deles, possibilitando o acesso a documentos básicos, atendimento psicossocial, profissional e qualificação para os mais novos e menos experientes terem emprego e renda. O alinhamento entre as pastas é essencial para oferecer segurança alimentar, saúde integrada e educação com equidade. Desejos que caminham juntos ao sonho de demarcação dos territórios. 

Para a primeira secretária da Sepince, Juliana Alves, Cacika Irê dos Jenipapo-Kanindé, esse foi um passo importante no processo de reconhecimento dos povos. “Ter esse mutirão no dia nacional dos povos indígenas vai abrir espaço para os demais povos. Daremos continuidade a essa ação, levando eles o direito de ter no seu registro civil, o nome do seu povo, da sua etnia, assim como eles gostam de ser chamados”, destacou a secretária. Durante o mutirão, a própria secretária teve seu registro alterado para Juliana Alves Jenipapo-Kanindé

De acordo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ceará tem 20 povos. Anacé, Cariri, Gavião, Jenipapo-Kanindé, Kalabaça, Kanindé, Kariri, Kariri-Quixelô, Karão, Paiacu,Pitaguari,Potiguara,Quixará-Tapuia,Tapeba,Tabajara,Tapuia-Kariri,Tremembé,Tubiba-Tapuia, Tupinambá e Warão.  Segundo a secretária, a demarcação das terras é prioridade da pasta. “Vamos continuar o mutirão e realizar demais políticas públicas dentro dos territórios, dando ênfase à importância da demarcação dos territórios indígenas”.

Ceará é um dos estados mais atrasados em demarcações. Alguns povos estão com o processo adiantado, mas ainda aguardam a homologação dos territórios; outros ainda aguardam o reconhecimento. As tribos Pitaguary e Tapebas, por exemplo, que já tem a demarcação de terra, ainda aguardam o processo de homologação. A aldeia Tremembé do Córrego João Pereira foi o primeiro território a ser demarcado, homologado e titularizado no Ceará. Já a terra indídena dos Tremembés da Barra do Mundaú está entre as 13  terras anunciadas pelo governo Lula, para ser homologada e titularizada. Iniciativas que renovam a esperança de quem há anos está na luta indigena. “São avanços positivos, de retomada e conquistas dos povos indígenas. Mas seguimos na luta por um GT para ajudar na identificação das áreas e no reconhecimento desses povos que ainda são muitos”, defende a liderança indígena e coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Ceará, Adriana Tremembé.

Centro de Documentação Indígena

A Adelco – Associação para Desenvolvimento Local Co-produzido é uma entidade civil sem fins lucrativos, criada em 2001, em Fortaleza. O grupo criou um Centro de Documentação Indígena do Ceará, em parceria com a União Europeia e o Movimento Indígena, para documentar e reunir mapas, legislações e pesquisas que ajudem a conhecer melhor sobre as histórias e conquistas dos povos indígenas no Ceará.

No mapa é possível identificar tanto os povos que estão organizados no Movimento Indígena no estado quanto, também, territórios que são atualmente tratados pela Funai e pelo Ministério Público Federal. 

Dados de Políticas Públicas, Mulheres Indígenas, Direitos Humanos, Meio Ambiente, Saúde e outros que dizem respeito a todas as etnias no Ceará e até do restante do país também são encontrados no Centro de Documentação. O site é o https://adelco.org.br/

Saiba mais

A Lei Federal 14.402, sancionada em 8 de Julho de 2022, resultou na mudança de nomenclatura e o dia 19 de abril é nacionalmente reconhecido como Dia dos Povos Indígenas. A mudança é fruto do projeto de lei da então deputada federal, Joenia Wapichana, a primeira parlamentar indígena eleita no Brasil. Hoje, a primeira mulher a comandar a Funai.

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Com informações do Brasil de Fato CE.

24 de abril de 2023

Grunec e Negrer apoiam Livia Sant’Anna para ministra do STF

 

Livia Sant'Anna. (FOTO | Reprodução).

Por Nicolau Neto, editor

O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) e o Núcleo de Estudos em Educação, Gênero e Relações Étnico-Raciais (Negrer), aderiram na tarde desta segunda-feira, 24, à Carta do MIPAD (Most Influential People of African Descent) em apoio ao nome da jurista Lívia Sant’Anna Vaz para uma das vagas do Supremo Tribunal Federal.

Em nota lançada em suas redes, destacam a biografia da promotora que tem atuado de forma constante e consistente contra o racismo. Ela autua no Ministério Público da Bahia (MP-BA) desde 2004, sendo uma jurista referência nacional e internacional na defesa dos direitos humanos, sobretudo no combate ao racismo e promoção da igualdade racial, proteção das mulheres em situação de violência e da população LGBTTQIAP+.

Livia tem doutorado em Ciências Jurídico-Políticas. Chegou escrever dois livros: “AJustiça é uma mulher negra” e “Cotas raciais”. No currículo, Lívia ainda carrega o título de ser a única brasileira
a ser reconhecida como uma das 100 Pessoas de Descendência Africana mais Influentes do Mundo, na edição Lei & Justiça.

Segundo o Grunec, "além de preencher todos os requisitos constitucionais para ser nomeada Ministra do STF - em especial notório saber jurídico -, a promotora de justiça demonstra competência, capacidade de diálogo com os movimentos sociais e total alinhamento com o projeto político de redemocratização do país".

Então, se você defende um sistema de justiça com diversidade de gênero, raça e regional, assine a carta de apoio


23 de abril de 2023

Dia Mundial do Livro: que obra indicar hoje?

 

Livro "Como o racismo construiu o Brasil". (FOTO | Acervo pessoal | Nicolau Neto).

Por Nicolau Neto, editor

Hoje, 23 de abril, é o dia mundial do livro. Para homenagear a tod@s que acreditam que é por meio da leitura que conseguimos escrever bem e melhorar nosso vocabulário e nosso poder de argumentação, deixo aqui trecho do livro do sociólogo brasileiro Jessé Souza:

...Na estratégia do branqueamento, o decisivo é que a ascensão de negros e mestiços seja individual, daqueles que aceitam as regras do sistema dominante, e nunca coletiva, o que poderia pôr o sistema como um todo em xeque. O que o progressismo neoliberal hoje faz é, sem tirar nem pôr, o que as elites racistas brasileiras sempre fizeram para enfraquecer a resistência popular, cooptando e "comprando" suas melhores cabeças. (SOUZA, Jesse. Como o racismo construiu o Brasil. 1° ed. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2021. Pg. 38).

Sobre o autor

Jessé Souza é um sociólogo, pesquisador e professor brasileiro. Possui graduação em Direito pela Universidade de Brasília (1981), mestrado e doutorado em Sociologia, pela Universidade de Brasília (1986) e pela Karl Ruprecht Universität Heidelberg, Alemanha (1991), respectivamente. Seu pós doutorado é em filosofia e psicanálise na New School for Social research de Nova Iorque, EUA (1994-1995), e teve livre docência em sociologia pela Universität Flensburg, na Alemanha em 2006.

Como autor e organizador, chegou a escrever 27 livros além de mais de 100 artigos e capítulos de livros em diversas línguas, sobre teoria social, pensamento social brasileiro e estudos teórico/empíricos sobre desigualdade e classes sociais no Brasil contemporâneo. Atualmente é professor titular da Universidade Federal do ABC (UFABC).

Entre suas obras, além da creferenciada nesse texto, está “A tolice da inteligência brasileira” (2015); “A radiografia do golpe” (2016); “Inequality in capitalist Soceties”, em co-autoria com Boike Rehbein e Surinder Jodkha (2017); “A elite do atraso: da escravidão a lava jato” (2017) e “A classe média no espelho”(2018).

22 de abril de 2023

22 de abril de 1500: o opressor ainda é glorificado

 

( Card |@desenhosdonando).

Por Nicolau Neto, editor

22 de abril de 1500. Esta é, como muitas outras datas históricas, cheia de significados. E como todo fato histórico, é preciso que o levemos para a sala de aula de forma que o resinifiquemos sem, no entanto, negá-lo.  Pois fato histórico é fato histórico.

O 22 de abril de 1500 ainda é tratado nos materiais didáticos pela visão dos vencedores, dos colonizadores. Por isso, a questão do "descobrimento" é tão presente. A ideia que predomina é a dos opressores e dos escravizadores.

A ressignificação do ensino passa necessariamente pela contestação desse modelo europeu que percebe o explorador como herói e que, portanto, há a necessidade de glorifica-lo em troca do apagamento da história dos oprimidos e escravizados. Falar desse processo histórico é colocar em pauta a luta e a resistência dos povos originários que já habitava esse território que depois recebeu o nome "Brasil".

Não houve "descobrimento". Ninguém descobre território onde já há pessoas ocupando. Onde já existem povos com relações sociais, culturais, religiosas e políticas estabelecidas. O que houve foi uma invasão de território e as consequências dessa invasão ainda hoje são sentidas. O que houve foi a destituição de territórios dos povos originários e ao mesmo tempo, a tentativa de aculturação e destruição dos modos de vida dos indígenas.

21 de abril de 2023

GRUNEC celebra 22 anos e relembra seu legado

 

Professor Nicolau Neto ao lado de Valéria e Verônica, duas das fundadoras do GRUNEC. (FOTO | Acervo Pessoal).


Por Nicolau Neto, editor

Neste sexta-feira, 21 de abril, o coletivo vanguarda na luta antirracista na região caririense celebra 22 anos. O Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) foi, sem dúvida, um dos pioneiros enquanto força coletiva na luta contra o racismo nesta região e em nota divulgada na rede social Instagram, conta que embora a data é formal, mas que a gestação é de meses antes.

Nessa longa trajetória de mais de duas décadas temos o orgulho de dizer que resistimos, multiplicamos, transformamos, lutamos, crescemos”, destaca trecho da nota que traz para o público mais jovem as mais diversas ações encampadas pelo grupo, como a edição do 1° jornal de imprensa negra do Cariri, intitulado "Afrocariri" e a “incidência em questões ligadas à educação, saúde, mulheres negras, convivência com o semiárido, juventudes negras, acolhimento e integração de imigrantes, cotas, segurança pública, cultura, entre muitas outras…”.

Foi frisado ainda as honrarias recebidas, como por exemplo, o “Prêmio Frei Tito de Alencar de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará e Comissão de Direitos Humanos e Cidadania”, o “ Prêmio Fórum Justiça de Direitos Humanos Maria Amélia Leite”, além da “Comenda de mérito defensorial da Defensoria Pública do Ceará, entre outros”.

Foram muitas realizações! E serão quantas mais forem necessárias e nossos braços conseguirem construir para continuar a transformar a realidade em que vivemos. Queremos Bem Viver! Vida longa ao GRUNEC. (Nota do GRUNEC).

Quando da passagem das duas décadas, o blog trouxe a cena um pequeno histórico da luta negra por direitos e pelo bem viver ancorado pelo GRUNEC.

Abaixo você confere:

O ano era 2001. Um grupo constituído por cerca de cinco pessoas se reuniram depois de uma aula de natação na garagem da casa de uma delas e passaram a dialogar sobre as mazelas que afligiam a sociedade brasileira e,  de forma mais especifica, aqueles grupos que sempre estiveram e ainda estão a margem – negros e negras.

Destes diálogos sobre desigualdades surgiu a ideia de transformar discursos individuais em ação coletiva e em luta organizada visando, sobretudo, promover a igualdade étnica/racial e a autoestima da população negra do cariri e difundir a consciência quanto a afrodescendência. O que caminha no sentido de valorizar a nossa história. Com esse ideal nascia o Grupo de Valorização Negra do Cariri (GRUNEC) que oficialmente (com registro) está com 19 anos, mas de atuação já possui duas décadas.

O GRUNEC se constituiu ao longo desses 20 anos como um coletivo que escolheu o caminho da luta, da resistência e da persistência ao trabalhar de forma comunitária e saindo da zona de conforto para visitar as comunidades de base, as comunidades tradicionais, como o povo indígena e os grupos remanescentes de quilombolas.

Enquanto entidade organizativa, de combate a toda forma de discriminação, preconceito e de racismo, tem atuado na proporção em que essas injustiças ocorrem. Como exemplo, seja tendo sua organização, colaboração ou idealização, pode-se citar a Caminhada contra a Intolerância Religiosa realizada anualmente em Juazeiro do Norte, a Marcha Regional de Mulheres Negras do Cariri que visa denunciar formas de discriminação, opressão e aniquilamento, além do Congresso Artefatos da Cultura Negra que em 2019 chegou a sua décima edição e que tem se consagrado como o maior evento de pesquisa sobre a população negra do país.

Nesta ambiência de atuação, não se pode esquecer também de um dos trabalhos mais colaborativos em que pese a educação voltada para as relações étnico-raciais: o Mapeamento das Comunidades Rurais Negras e Quilombolas do Cariri feito junto a Cáritas Diocesana de Crato – CE, tendo como resultado o  lançamento da “Cartilha  Caminhos, Mapeamento das Comunidades Negras e Quilombolas do Cariri Cearense”. Este trabalho contou com a participação de cerca de 25 comunidades. Seis delas se autoreconheceram remanescentes de quilombolas. Note-se ainda que comunidades como as de Arruda (Araripe), Sousa (Porteiras) e Serra dos Chagas (Salitre) já contam com certificado de remanescentes de quilombolas adquirido junto da Fundação Cultural Palmares.

Outras atuações colocam este coletivo negro como protagonista. Cita-se aqui a 1ª Audiência Pública Federal no ano de 2007, onde discutiram a implementação da Lei nº 10.639/03 ao reunirem representantes de 42 municípios da Região do Cariri, o 1º Seminário no Crato em 2005, para discutir a Igualdade Racial e a realização anualmente da Semana da Consciência Negra.

O Grunec reúne sem seus quadros professores e professoras universitários/as, docentes da educação básica, estudantes, pesquisadores/as, líderes religiosos/as e ativistas sociais, dentre outros e continua firme e forte, principalmente agora em tempos de cortes de direitos, legitimação desenfreada do racismo, do machismo e de ofensas sem barreiras a comunidades LGBTs. Por isso, os lemas mais apregoados do grupo são “Aquilombar é Preciso” e “Pelo Bem Viver”.

19 de abril de 2023

Dia dos Povos Indígenas: dia para celebrar e refletir

 

Rebeca Damasceno, estudante do 3º B da EEMTI Pe. Luís Filgueiras. (FOTO | Daniel Rodrigues).


No dia 19 de abril comemora-se no Brasil o “Dia dos Povos Indígenas”. Até o ano passado esta data era tradicionalmente conhecida como o “Dia do Índio”, mas a partir da Lei 14.402/2022 seu nome oficial foi modificado com o objetivo de dar relevância à diversidade das distintas e ricas culturas existentes entre os Povos Originários.

Não restam dúvidas de que a relevância do Dia dos Povos Indígenas se mostra mais premente do que nunca face à profunda tragédia experimentada pelo povo Yanomami em solo brasileiro. A situação do povo Yanomami ganhou a atenção da mídia mainstream, nos últimos meses, quando as imagens absolutamente chocantes da triste realidade vivida por essas pessoas passaram a ser maciçamente veiculadas em todos os telejornais do país.

Os dados1 que ilustram o que é considerado por muitos a maior crise humanitária ocorrida no Brasil no presente século expressa por si só a dimensão dessa tragédia. Entre 2019 e 2022, o aumento das mortes por desnutrição na população Yanonami foi de 331%. Apenas em 2022, mais de 70% desta população contraiu malária.

É evidente que esses acontecimentos tornam imperativo uma reflexão profunda e honesta acerca das causas e consequências das dificuldades que assolam continuamente a população indígena. Dentre elas, é possível destacar: racismo, violência física e simbólica, violação de direitos fundamentais, carência de acesso à saúde e insegurança alimentar.

Rebeca Damasceno. (FOTO | Daniel Rodrigues).

Vale ressaltar que a população indígena está longe de ser insignificante no âmbito da demografia nacional. Na realidade, há uma nítida tendência de crescimento do número de pessoas autodeclaradas indígenas, uma vez que desde o Censo Demográfico de 1991 a participação percentual dos indígenas na demografia brasileira tem crescido substancialmente.

No Censo de 2010 o número de pessoas autodeclaradas indígenas já era de 896.717, divididas entre 305 etnias com 274 idiomas. Por seu turno, os dados preliminares já veiculados no âmbito do Censo de 2022 indica uma elevação expressiva do número de pessoas autodeclaradas indígenas, de modo que esse número atualmente pode ultrapassar 1,6 milhão de pessoas.

O fato é que uma das principais justificativas presente no discurso de quem inadvertidamente intenta justificar, implícita ou explicitamente, a dolorosa e ultrajante realidade vivida pelos povos indígenas no país consiste em argumentar que a demarcação de terras indígenas implica fortes custos em termos de crescimento econômico e progresso técnico.

Não raramente, os mesmos defensores desse argumento ensaiam narrativas em que a população indígena aparece como “entrave” para o crescimento econômico nacional. Não restam dúvidas de que tal justificativa é peremptoriamente desmentida pelos fatos.

É uma total falácia que as mazelas experimentadas pelos indígenas advêm, diretamente, da falta de atividades econômicas em seus territórios. Na realidade, o que se observa é que os problemas sociais que assolam esse segmento populacional advêm de fatores como:

• Aumento recente do nível de desmatamento, sendo de 59,5% somente na Floresta Amazônica nos últimos quatro anos;

• Desarticulação dos órgãos ambientais fiscalizadores;

• Relaxamento das leis de proteção ambiental;

• Avanço avassalador das atividades extrativistas de madeiras e minérios, em especial, perpetradas por empresas clandestinas e grileiros ilegais;

Além disso, cumpre ressaltar que também é falso a assertiva de que exista uma dicotomia inescapável entre desenvolvimento econômico e a implementação de medidas, que visem a preservação do meio ambiente e do modo de vida dos Povos Originários com seu rico patrimônio étnico e cultural.

O falso antagonismo supracitado se mostra completamente dissonante da necessidade, apresentada pela economia brasileira, de estabelecer uma estratégia de desenvolvimento econômico pautado numa inserção mais qualificada no âmbito das chamadas cadeias globais de valor. Evidentemente, tal integração perpassa, sim, por avanços tecnológicos, mas também depende de um uso estratégico, racional e sustentável das riquezas naturais e biogenéticas existentes no território brasileiro.

Mais precisamente, um crescimento econômico mais sustentável no tempo exigirá um esforço governamental substantivo, no sentido de introduzir mais qualificadamente a economia brasileira nas cadeias globais de produção. Disso resulta a necessidade de se implementar uma estratégia que vise uma reindustrialização nacional combinada com o uso racional e sustentável das riquezas naturais nos processos produtivos de agregação de valor.

Portanto, o Dia dos Povos Indígenas é uma data que precisa ser forte e efusivamente celebrada, uma vez que comemora o seu incomensurável patrimônio cultural e simbólico, e do qual, vale lembrar, toda a sociedade brasileira é herdeira.

Contudo, é premente também utilizá-la para trazer à memória o tamanho da dívida histórica que o Brasil possui com esse segmento da sua população. Disso resulta a urgência de uma reflexão mais profunda sobre o modelo econômico e social de desenvolvimento adotados no país, uma vez que o modelo escolhido deve priorizar a preservação do seu patrimônio cultural e ser ambientalmente sustentável.

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Com informações do Notícia Preta.

18 de abril de 2023

Mais de 70% das cidades nao cumprem lei do ensino afro-brasileiro

 

Estudantes do 3° Ano B da EEMTI Pe. Luis Filgueiras, em Nova Olinda -CE, durante oficina sobre saberes afro-indígenas. (FOTO | Prof. Nicolau Neto).

Sete em cada dez secretarias municipais de educação não realizaram nenhuma ação ou poucas ações para implementação do ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas, conforme pesquisa divulgada nesta terça-feira (18), em Brasília, pelo Instituto Alana e Geledés Instituto da Mulher Negra.  

O estudo ouviu, em 2022, gestores de 1.187 secretarias municipais de educação, o que corresponde a 21% das redes de ensino dos municípios, sobre o cumprimento da Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino para o combate ao racismo nas escolas há 20 anos.

Os municípios alegam como principais desafios para implementação da lei a ausência de apoio de outros entes governamentais e a falta de conhecimento de como aplicar a legislação. Há indicação do baixo engajamento ou a resistência de profissionais a esse tema. Temos algumas frentes que a gente pode incidir para implementação da lei”, explica a analista de políticas públicas do Instituto Alana, Beatriz Benedito.  

Para os institutos, os dados mostram a necessidade de compromisso político para a norma ser efetivada, como ocorre nos municípios com ações estruturadas, em que há, por exemplo, regulamentos locais, recursos no orçamento, presença de equipe técnica dedicada ao tema e planejamento anual das atividades.  

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Com informações da Agência Brasil e Alma Preta.