22 de março de 2023

"O mundo dos afrodescendentes se sentiu sozinho sem o Brasil", diz Epsy Barr

 

FOTO | Victor Correia/CB/D.A Press).

A presidente do Fórum Permanente dos Afrodescendentes da Organização das Nações Unidas (ONU), Epsy Campbell Barr, declarou nesta quarta-feira (22/3) que a saída do Brasil da posição de liderança que ocupava no debate internacional sobre o tema foi sentida. Segundo ela, o atual governo brasileiro representa uma oportunidade para recolocar o Brasil no centro da discussão racial.

"O mundo dos afrodescendentes se sentiu muito sozinho com a saída do Brasil da liderança que tinha por muitos anos", disse Epsy em discurso no evento "Mecanismos sobre Raça no Sistema Universal de Direitos Humanos: Estratégias e Próximos Passos no Brasil", organizado pelo Instituto Internacional sobre Raça, Igualdade e Direitos Humanos, em Brasília.

"Há uma decisão do governo brasileiro, do presidente e dos seus ministros, de convidar o Fórum Permanente para fazer uma atividade importante no final deste ano, unindo diversos atores. Essa é uma grande oportunidade para colocar o Brasil no centro do debate da questão racial a nível internacional", enfatizou ainda Epsy.

"Precisamos de reparações reais"

O convite foi feito ontem pela presidente do Fórum ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, durante reunião na sede da pasta. Ao Correio, Epsy declarou que o evento deve ocorrer em novembro.

"Espero que possamos avançar com o Brasil no projeto da segunda década [dos Afrodescendentes, da ONU]", afirmou a presidente do Fórum. O período foi estabelecido pelas Nações Unidas em 2015 e se encerra em 31 de dezembro de 2024.

Para Epsy, que foi a primeira mulher negra a ocupar a vice-presidência da Costa Ricao, o debate sobre os direitos das pessoas negras já ocorre há tempos em muitos países, mas a organização internacional pelo tema é recente. "Precisamos de reparações reais. Porque com o racismo, como nos lembrava o ex-chanceler Celso Amorim, não há democracia. Não há. Não é que é mais ou menos, não há. Porque está sempre excluindo e negando direitos a uma parte da população", frisou.

O evento também conta com a participação da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, da secretária de Articulação dos Povos Indígenas, e é organizado também pelas ONG Criola, Geledés - Instituto da Mulher Negra, Selo Juristas Negras, Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, Renafro Saúde e Ilê Omolu e Oxum, Instituto Iepé e Hutukara Associação Yanomami.

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Com informações do Correio Braziliense.

Crato investe menos de 1% na Cultura nos últimos sete anos

 

(FOTO | Coletivo Camaradas).


A Prefeitura do Crato investiu menos de 1% no setor cultural nos últimos sete anos. Em 2022, o município destinou apenas 0,67% do orçamento para o setor cultural. Agentes culturais, artistas, produtores e mais membros do movimento cultural da cidade reivindicam que seja investido 2%. Atualmente existe uma articulação entre os Pontos de Cultura da cidade para que este percentual seja garantido por lei, como já é previsto em outras áreas, a exemplo da saúde e da educação.

De acordo com informações da Secretaria de Finanças do Município, a maior parte dos gastos é destinada para pagamento de pessoal. Do percentual de 0,67% investidos em 2022, a folha de pagamento e os encargos sociais chegam a quase 85%, ficando menos de 16% para todas as demais despesas, incluindo os recursos para fomento artístico e cultural.

Regiopidio Lacerda, membro do Ponto de Cultura da Academia de Cordelistas do Crato, frisa que a luta é importante “para a sociedade estar na possibilidade, a partir dela, de garantir que os equipamentos de cultura do município se transformem, de fato, em elementos de transformação social através das mais diversas ações culturais e das mais diversas manifestações de cultura do povo cratense”. Além disso, ele afirma que a garantia dos 2% do orçamento para cultura é garantir “através da manutenção aos equipamentos e do fomento cultural, o acesso da população ao mundo das artes e dos saberes mais profundos que podem ser usados como instrumentos de luta, de conhecimento e de libertação social”.

Outro Ponto de Cultura que fala sobre a importância da pauta para a sociedade em geral é a ONG Beatos. Davi Oliveira, presidente do Ponto de Cultura, traz em sua fala o benefício dos 2% para todos, trazendo a discussão de forma democrática e com finalidade abrangente: “quando nós como coletivos implicados com o fomento dessas tradições e preservação da memória identitária local reivindicamos uma distribuição adequada do orçamento para a Cultura, não estamos lutando para a realização de atividades em nossos Pontos de Cultura para benefício próprio, mas sim, para beneficiar a arte local, o fazer patrimonial de nossa cidade, difundir e preservar nossa memória identitária e oportunizar que o fazer artístico afete o cotidiano das pessoas, sensibilizando a população e realizando intervenções cotidianas que preservem o que de fato somos quanto Cultura cratense”.

Esta questão deverá ser discutida na III Conferência Municipal de Cultura do Crato, que tem como tema ‘Uma Política Pública para o Crato: Implementação do Plano Municipal de Cultura’ que acontecerá neste final de semana, nos dias 24 e 25, na Universidade Regional do Cariri- URCA. A conferência visa elaborar o Plano Municipal de Cultura que deverá nortear as políticas públicas para o setor para os próximos anos.

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Texto encaminhado a redação do blog por Paulo Rossi, Bolsista de comunicação do Coletivo Camaradas.

21 de março de 2023

Hoje na História | Dia Internacional Contra a Discriminação Racial

 

Por Nicolau Neto, editor

A data foi proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) e foi motivado em face do “Massacre de Shaperville”, ocorrido em 21 de março de 1960.

É importante lembrar que neste dia mais de 20 mil pessoas foram às ruas de Joanesburgo, na África do Sul, protestar contra a "Lei do Passe". Por esta lei, negros e negras eram obrigados a andarem com identificação que limitavam os locais por onde deveriam ir dentro da cidade. O regime do Apartheid do período fez com que militares atacassem os manifestantes. O ato resultou em 69 pessoas mortas e cerca de outras 100 ficaram feridas.

Desta forma, em em memória dessas pessoas, a ONU instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional contra a Discriminação Racial.

19 de março de 2023

Ana Flávia Magalhães é empossada como diretora do Arquivo Nacional

 

(FOTO | Natália Carneiro).


A historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto foi empossada como diretora geral do AN (Arquivo Nacional), nesta sexta-feira (18). A cerimônia, que ocorreu no Palácio da Fazenda, no Rio de Janeiro, contou com a presença da ministra da Igualdade Racial Anielle Franco e representantes de movimentos sociais.

Essa é a primeira vez que uma mulher negra assume o cargo de direção do órgão em 185 anos. Um passo importante para a gestão de documentos e democratização no acesso ao conhecimento.

Em discurso, Ana Flávia destacou que ao receber o convite da ministra Esther Dweck para o cargo se sentiu preparada para seguir neste espaço, dando continuidade ao exercício de cidadania, antirracismo e contribuindo para fortalecer o Arquivo Nacional. A diretora também destacou que terá historiadores, arquivistas e usuários como prioridade de sua gestão.

Sueli Carneiro, diretora executiva de Geledés-Instituto da Mulher Negra, enfatizou em seu discurso que a trajetória de Ana Flávia “será fundamental para que a gestão documental do Arquivo Nacional seja valorizada e ampliada, sem abrir mão da responsabilidade da instituição nesta fase de investimento público na memória como fundamento da reconstrução do País”.

A presença da historiadora no Arquivo Nacional também abre a perspectiva de se “testemunhar a preservação e amplificação da história brasileira democrática, aberta, plural e ativa no enfrentamento ao racismo, às desigualdades de gênero, à colonialidade e ao epistemicídio.”, segundo Sueli.

Sobre Ana Flávia Magalhães Pinto

Doutora em História pela Unicamp (Universidade de Campinas), mestre na mesma área pela UnB (Universidade de Brasília) e bacharel em Jornalismo pelo UniCEUB (Centro Universitário de Brasília), Ana Flávia Magalhães Pinto foi a primeira docente negra do Departamento de História da UnB. Atuou como coordenadora da Regional Centro-Oeste do Grupo de Trabalho de Emancipações e Pós-Abolição, da Associação Nacional de História, integra a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (RHN) e a Coalizão Negra por Direitos.

Leia a íntegra do discurso de Ana Flávia

Boa noite a todas, todes e todos!

Venham preparados ou não venham de jeito nenhum”.

Há quase dez anos, num discurso em que defendia formas inovadoras e efetivas de enfretamento às desigualdades no Brasil, Luiza Bairros, então ministra da Seppir, mobilizou essa passagem da obra da escritora afro-estadunidense Toni Morrison para provocar a ação do governo e da sociedade brasileira.

Na ocasião, a despeito da comoção de boa parte da audiência, que prontamente começou a bradar “Estamos preparados!”, as reações diante de uma frase tão categórica foram diversas. Houve quem não visse sentido algum no que fora dito. Teve também gente assustada. Afinal, o que fariam as pessoas que tinham a vontade de agir, mas se sentiam inseguras para dar conta da missão? Teve ainda gente que fez daquelas palavras oportunidade para elaborar silenciosamente uma avalição sobre si e se dar conta do que poderia significar estar preparada para o desafio que estava posto. E de fato seguir agindo.

Enquanto vivia a organização desta cerimônia, em meio a uma infinidade de demandas e contratempos da nova rotina, a movimentação das pessoas comprometidas em fazer isso aqui acontecer me levava frequentemente a lembrar daquela frase dita por Luiza uma década atrás.

O Brasil de 2023, para quem se manteve na luta por justiça e dignidade, parece estampar no ar: “Venham preparados ou não venham de jeito nenhum”. Na verdade, estando nós mais conscientes do que sempre esteve em disputa, é Tempo até mesmo de ajustar a frase: “Venham preparadas, preparades e preparados ou não venham de jeito nenhum!”.

Quando recebi o convite da ministra Esther Dweck para assumir a Direção-Geral do Arquivo Nacional, eu me sentia absolutamente preparada para seguir nas lutas por um Brasil para todas, todes e todos a partir dos espaços de exercício de cidadania em que já estava. Estar no departamento de história da Universidade de Brasília não mais como a única professora negra, graças à chegada da malunga Mariléa de Almeida, aumentava a gana para seguir na defesa da educação pública, gratuita e de qualidade a serviço do povo brasileiro.

Ao mesmo tempo, a criação de novas e potentes possibilidades de exercer o ativismo antirracista e antissexista a partir das fileiras da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros e da Coalizão Negra por Direitos, mesmo num cenário tão adverso, me fazia querer ousar mais. Afinal, nunca antes na história deste país, historiadoras negras e negros alcançaram tantos espaços e da maneira como temos feito.

Numa conversa com Sueli Carneiro nos primeiros dias do ano, falávamos da legitimidade e da importância desses lugares de construção política.

Era certo que, tal como fizemos com Luiza, estaríamos prontas para fortalecer a ação daquelas e daqueles que, estando no novo governo, assumiam o desafio de combater o racismo, o sexismo, a LGBTfobia, a destruição ambiental neste país, entre outras barreiras. Mas, no meu caso, não poderia me afastar dos combates pela História. Foi para isso que fui formada acadêmica e politicamente. Sendo assim, pouca coisa poderia fazer mudar o que já estava planejado.

Atuar no Arquivo Nacional, portanto, era uma das reduzidíssimas possibilidades que poderiam me fazer cogitar mudar de rota e atuar diretamente no governo. Quando o convite chegou, na noite em que saía da formatura de historiadoras e historiadores da UnB pela quinta vez em cinco anos, eu não consegui dizer não de pronto.

Confesso que procurei apoios para recusar, mas não obtive. Em vez disso, ouvi de diferentes pessoas que me são referências, mulheres e homens negros, indígenas, cis e transgênero, com diferentes orientações sexuais e origem regional, pessoas brancas com compromisso antirracista também. O que ouvi foi: Esse é um espaço que nos é estratégico e criamos condições para que a nossa chegada nele pudesse acontecer. Estaremos contigo como sempre foi.

O aceite ao convite demandou ainda um exercício de avalição do cenário considerando outras dimensões e questões sensíveis. Disse sim sabendo que teria desafios maiores do que aqueles que eram percebidos da porta para fora. Mas, de fato, tanto individual quanto coletivamente, estivemos nos preparando para não recuar neste momento.

E é assim que “Estamos chegando do chão da oficina, estamos chegando do som e das formas, da arte negada que somos, viemos criar”. Criar e fortalecer meios para evidenciar que o Arquivo Nacional é uma instituição viva por força da ação de servidoras e servidores, usuárias e usuários, que serão prioridade desta gestão.

Assumimos o compromisso de trabalhar muito para que a realização da missão institucional do Arquivo Nacional seja compreendida como imprescindível para a preservação de um valiosíssimo patrimônio nacional, a nossa memória, singular, mas mobilizada no plural. Estaremos a serviço da promoção da cidadania e direitos humanos neste país.

A propósito, aproveito a oportunidade para dizer que, além do fundamental corpo de servidoras e servidores já atuantes no Arquivo Nacional, passaremos a contar com:

Leandro Bulhões: Chefe de Gabinete. Doutor em História, professor da Universidade Federal do Ceará, integrante da Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros.

Mônica Lima: Coordenadora Geral de Articulação de Projetos e Internacionalização. Doutora em História e professora de História da África da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Jader Moraes: Coordenador Geral de Comunicação. Mestre em Comunicação e jornalista com experiência em comunicação corporativa, institucional e popular.

Eric Brasil: Diretor de Processamento Técnico, Preservação e Acesso ao Acervo. Doutor em História e professor na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira.

Gecilda Esteves: Diretora de Gestão Interna. Servidora do TCE Rio de Janeiro, Mestra em Administração Pública (FGV-RJ), Mestra em Ciências Contábeis (UFRJ), Especialista em Controle Externo, com ênfase em Auditoria Governamental (FGV-RJ).

Maria Aparecida Moura: Diretora de Gestão de Documentos e Arquivos. Professora Titular da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais.

Fábio Costa de Souza: Assessor de Articulação Institucional. Analista Técnico de Políticas Sociais. Psicólogo de formação, Mestre em Assuntos Avançados em Seguridade Social e MBA em Gestão Estratégica da Administração Pública.

Diana Santos Souza: Coordenadora de Processamento Técnico e Preservação. Mestra em História, Técnica em Digitalização e Documentação, integra a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros e o Wiki Movimento Brasil.

Carlos Augusto da Silva Junior: Coordenação de Apoio Técnico Administrativo. Bacharel em Ciências da Computação, Especialista em Gestão de Processos Universitários e Servidor Técnico-administrativo da Universidade Federal da Bahia.

Finalizo agradecendo a Ministra Esther Dweck pelo convite, todos e todas as companheiras de Ministério com quem tenho aprendido muito e todas as pessoas presentes hoje e nos próximos momentos desta jornada. Em especial agradeço às minhas famílias, nas pessoas de minha mãe Sara Ramos Magalhães Pinto e de Equede Sinha.

Muito obrigada mesmo! Tendo sobrevivido a tempos difíceis, estejamos preparadas para criar tempos de esperança e felicidade!

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Com informações do Geledés.

18 de março de 2023

Instagram, Geledés, Africanize e Capricho lançam projeto para incentivar a literatura negra entre os jovens

 

(FOTO | Reprodução).


Nesta quinta-feira (16), o Instagram, em parceria com Geledés Instituto da Mulher Negra, Africanize e Capricho, lança o projeto “ReeLeitura: edição autores negros”, uma iniciativa de nove meses que tem o objetivo de debater os temas centrais de obras literárias de autores negros brasileiros por meio de um formato simples e divertido como os Reels do Instagram e do Facebook, com a ideia de que elas alcancem mais pessoas e promovam o interesse de leitura principalmente entre os adolescentes.

Os conteúdos serão publicados nos perfis da @africanizeoficial, @capricho e @portalgeledes no Instagram e Facebook, com a hashtag #ReeLeitura. O primeiro episódio, que estreia hoje em celebração ao mês em que se comemora o “Dia Mundial de Zero Discriminação – 1º de março” e o “Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial – 21 de março”, traz a obra “Sobre-viventes”, da autora Cidinha da Silva (@cidinhadasilvaescritora), comentada pelo professor João Luiz Pedrosa (@joaolpedrosa) e pelo criador de conteúdo Adriel Oliveira (@livrosdodrii).

Mensalmente, até novembro, um novo episódio trará um autor negro e sua obra, uma figura pública e um criador de conteúdo da comunidade negra do Instagram para expor seus pontos de vista sobre o assunto principal do livro em destaque. Além disso, vamos iniciar um movimento a partir de um áudio original inspirador com trecho da obra na voz da figura pública, no formato de mini doc, que é tendência no Instagram. A ideia é que tanto criadores de conteúdo quanto o público participem do movimento usando a ferramenta Modelos e a hashtag #ReeLeitura.

A presença da comunidade literária no Instagram é muito forte e, com o ReeLeitura, queremos nos aproximar ainda mais dela, promovendo conexões por meio da cultura, ao mesmo tempo em que tratamos de temas fundamentais para a formação de nossos jovens e para a sociedade, como racismo, empoderamento negro, inclusão e manifestações afro-brasileiras”, afirma Priscila Pagliuso, gerente de comunicação do Instagram para a América Latina.

Para deixar tudo ainda mais divertido e interativo, e unindo representatividade e inovação, o público também poderá interagir com o efeito de realidade aumentada (AR) “ReeLeitura” que estará disponível por meio do perfil da Capricho no Instagram, desenvolvido exclusivamente para a iniciativa pela Atomcore Studio, que faz parte do programa Realidade Aumentada na Pele (R.A.P), da Meta, oferecendo ao público formas inovadoras de interação com a literatura.

O efeito “ReeLeitura” vai sugerir ao público uma variedade de opções de livros de autores negros, fomentando o acesso à literatura. Algumas das obras são: “Ritmos Negros: Música, Arte e Cultura na Diáspora Negra”, de Amailton Azevedo (@amailtonazevedo); “Mukanda Tiodora”, de Marcelo D’Salete (@marcelo.dsalete); e “Jamais Peço Desculpas por me Derramar”, de Ryane Leão (@ondejazzmeucoracao).

Em breve, a Capricho disponibilizará ainda um chatbot exclusivo no WhatsApp, criado pela plataforma Gupshup, que vai recomendar uma seleção de livros curada especialmente de acordo com os resultados de um rápido teste para descobrir o perfil de leitor de cada pessoa.

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Com informações do Geledés.

Governo federal prepara medidas para combater a desigualdade racial

 

(FOTO | Marcelo Camargo / Agência Brasil).


A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, adiantou nesta quinta-feira (16) que o governo anunciará novas medidas de combate à desigualdade racial no próximo dia 21 de março, quando a criação da Secretaria de Políticas de Promoção para a Igualdade Racial (Seppir) completará 20 anos. A secretaria foi criada no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula Silva, em 2003, após demanda histórica do movimento negro.

Anielle Franco ministrou aula inaugural do semestre letivo na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP/Fiocruz), na tarde desta quinta-feira, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro.

Segundo a ministra, no próximo dia 21 haverá uma comemoração no Palácio do Planalto em que serão anunciadas medidas para aumentar a presença de mulheres negras no serviço público federal; será instituída uma coordenação de saúde da população negra junto ao Ministério da Saúde e também serão tituladas seis terras de povos quilombolas que aguardam a regularização há mais de 20 anos.

É um processo muito longo a titulação das terras quilombolas. É um processo que vai e volta, e as famílias estão se perdendo. A ancestralidade está lá, mas as terras estão indo embora. A memória dessas mulheres negras e desse povo está indo embora, porque não titula”, disse a ministra.

Além de titulações e indenizações, a ministra prometeu ações de educação e cultura ainda junto a comunidades quilombolas nos primeiros 100 dias do governo, e lembrou que esse é um pedido do presidente Lula.

O ministério também anunciará, em parceria com as pastas do Esporte e da Justiça, a criação de um Grupo de Trabalho de Combate ao Racismo nos Esportes. “É inadmissível o que o Vini Jr. está passando na Espanha, mas o que todo mundo passa aqui também, e a gente sabe como é”.

Marielle

Em discurso a alunos, professores e servidores da ENSP/Fiocruz, a ministra Anielle Franco relembrou os primeiros momentos após o assassinato de sua irmã, a vereadora Marielle Franco, que completou 5 anos na terça-feira (14).

A gente não pode esquecer que a Mari foi vítima de um feminicídio político”, disse a ministra. “Eu jamais vou perdoar. Nunca vou perdoar terem olhado para aquela mulher discursando e não terem nunca pensado em ter uma segurança pra ela. Nunca na minha vida eu vou aceitar isso”.

Anielle Franco afirmou que somente após um crime cruel como esse houve a noção de que mulheres negras na política também deveriam ter segurança. Ela reforçou que essas mulheres são vítimas de violência política há anos, e que estudos conduzidos pelo Instituto Marielle Franco em 2020 e 2021 mostraram que esses casos são recorrentes.

A Marielle precisou morrer, ser assassinada do jeito que foi, cruelmente, para que outras pessoas ganhassem segurança privada, carro blindado e tivessem a noção de que as políticas mulheres negras precisam de segurança também, além dos homens brancos”.

A ministra também lembrou o momento em que foi convidada pelo presidente Lula para estar à frente da pasta da Igualdade Racial e disse que conversou com outras mulheres negras que são referência em sua vida, como a deputada Benedita da Silva e as ativistas Lúcia Xavier e Jurema Werneck, assim que recebeu a proposta.

Eu não quero entregar só simbologia. Eu tenho orgulho de ser irmã dela. Mas eu tenho que entregar trabalho”, disse.

No dia a dia em Brasília, a ministra disse que ainda é atacada, especialmente no Congresso Nacional, onde outras políticas negras também sofrem ofensas.

Nenhuma Câmara, nem em Brasília nem em nenhum lugar, é historicamente desenhada para mulheres. A Talíria [Petroni, deputada federal] foi lá com filho no colo e não tinha um lugar para trocar a fralda do menino. Não é desenhado pra gente. A Erika Hilton [travesti, deputada federal] estava lá, lindíssima, mas o tempo inteiro que ela passa e as pessoas afrontam chamando ela de coisas horrorosas. Se eu entro, porque o Executivo tem que construir com o Legislativo e vice-versa, eu sou atacada. Não vai ser fácil a gente reconstruir”, disse.

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Com informações da RBA e Agência Brasil.


17 de março de 2023

Os gregos não inventaram a filosofia

 

Molefi Asante, autor de 'Erasing racism: the survival of the American nation' (Foto: Divulgação)

Sem dúvida, as investigações do nosso grupo de pesquisa têm motivado muitas objeções. Os estudos que realizamos sobre filosofia africana não são inéditos; mas o aumento da circulação de material acadêmico no Brasil que problematiza o nascimento da filosofia na Grécia, trazendo à luz fontes africanas mais antigas que as ocidentais, tem sido motivo de críticas variadas. Objeções que alegam: “filosofia” é um termo grego; outras insistem que só na Grécia Antiga o pensamento ganhou tom laico. Ou ainda, perguntam por que deveríamos “impor” o registro filosófico a outras formas de pensamento de povos da antiguidade fora do mundo helênico. Em resumo, tais questões têm sido acompanhadas de argumentos diversos que dizem algo como: a filosofia nasceu na Grécia, desenvolveu-se dentro da ambiência territorial europeia como uma aventura ocidental do pensamento humano. Não cabe destrinchar cada uma das objeções, tampouco teríamos condições de apresentar o vasto elenco de tréplicas em favor da produção filosófica africana desde George James com Legado roubado, passando por Cheikh Diop, Theóphile Obenga, Molefi Asante, até A filosofia antes dos gregos, de José Nunes Carreira. Todos os autores advogam uma hipótese comum: a filosofia não nasceu grega. A abordagem que defendemos denuncia uma grave confusão. A questão não é onde nasceu a filosofia. Com base em fontes históricas diversas, os textos egípcios são documentos africanos mais antigos do que os escritos gregos, que são referências da cultura ocidental. Alguns expoentes da egiptologia, seja Jean-François Champollion (1790-1832), Cheikh Anta Diop (1923-1986), Theóphile Obenga (1936-) ou Jan Assmann (1938-) concordam que os textos egípcios são mais antigos do que os gregos. A polêmica está no caráter filosófico dos escritos egípcios. Nós estamos de acordo com Diop e Obenga – o material egípcio é filosófico.

A filosofia de Ptahhotep

Em A filosofia antes dos gregos, Carreira menciona o Egito como uma região rica em produção filosófica. Ptahhotep foi alto funcionário do Faraó Isesi da 5ª Dinastia do Reino Antigo e sua função era chamada de rekhet, traduzida por Obenga como “filosofia”. Identificamos nos ensinamentos de Ptahhotep recomendações para o debate, sugerindo uma conduta adequada numa contenda. Ptahhotep diz que em relação ao contendor podem existir três tipos de pessoas. 1ª) As que têm uma balança mais precisa, “superiores”; 2ª) As que têm balança tão precisa quanto a nossa, “iguais”; 3ª) As que têm balança menos precisa, “inferiores”. O filósofo não menciona diretamente a deusa Maat; mas ela aparece de modo indireto à medida que a balança é um dos seus principais símbolos. “Maat” circunscreve várias ideias: “harmonia”, “verdade”, “ordem”. A sua balança é o instrumento que mede a palavra. O que está em jogo na contenda é o uso adequado da balança para mensurar a verdade. Por isso, a arte da rekhet é inconclusa; sempre podemos encontrar um contendor com balança mais precisa. Os limites da rekhet “não podem ser alcançados, e a destreza de nenhum artista é perfeita”. (Veja o texto “Ensinamentos de Ptahhotep”, publicado no livro Escrito para a eternidade: a literatura no Egito faraônico, de Emanuel Araujo. Brasília/São Paulo, 2000.) Nossa defesa está a favor da atitude filosófica de não recusar uma tese sem o seu devido exame; por isso, a recomendação de ler Ptahhotep.

A certidão de nascimento da filosofia

Propor uma agenda de leitura dos textos africanos antigos não sinaliza um interesse em substituir a Grécia pelo Egito, fazendo da cultura africana o paradigma civilizatório na antiguidade. Pelo contrário, o esforço por definir um “marco zero” para a filosofia vale-se de uma interpretação entre outras – o que não pode ser um tabu dogmático. A título de analogia, o filósofo inglês Michael Hardt interpela a filosofia de Hegel por meio de Nietzsche, e nos diz que “a dialética é um falso problema”(Em Gilles Deleuze: um aprendizado filosófico, na tradução de Sueli Cavendish. São Paulo, 1996). Algumas abordagens filosóficas usam o modelo dialético como indispensável para a filosofia da história, enquanto outras a recusam plenamente. Do mesmo modo, defendemos que o nascimento da filosofia é um falso problema. Não se trata de afirmar que a filosofia nasceu no Egito e substituir Tales de Mileto ou Platão por Ptahhotep. Não pedimos a retirada da “certidão grega da filosofia” dos manuais, mas sim que ela não venha sozinha, sem o registro de que existem posições a favor do nascimento africano. Os manuais de filosofia precisam incluir versões diversas sobre suas origens, reconhecendo a legitimidade de todas, assim como não ignoramos perspectivas diferentes em várias questões filosóficas. É perigoso e reducionista para uma boa formação filosófica limitar toda a filosofia a poucas tradições. Com efeito, o problema não seria estritamente teórico, mas político (e obviamente filosófico). O projeto de dominação do Ocidente tem um aspecto epistemológico que pretende calar qualquer filosofia que tenha sotaques diferentes. Afinal, a filosofia foi “eleita” como suprassumo da cultura ocidental.

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Texto de Renato Nogueira, doutor em Filosofia pela UFRJ, professor da UFRJ e coordenador do grupo de pesquisa Afroperspectivas, Saberes e Interseções.

Publicado originalmente na Revista Cult.

15 de março de 2023

Diogo Bezerra e Lucas Lima iniciam campanha para voar rumo a encontro com líderes globais em Berlim

 

Diogo e Lucas, da esquerda para a direita. (FOTO |Reprodução).

O financiamento coletivo intitulado “Da Quebrada Pra Berlim” pretende levar os dois jovens para o evento que reúne grandes organizações, renomados diplomatas e chefes de estado na Alemanha.

A Global Solutions é uma conferência mundial, definida como um “fórum de políticas” dos países do grupo G7 e G20. Visando proporcionar o encontro de líderes e diplomatas para discutir soluções de algumas problemáticas atuais, como a educação, a instituição realiza eventos como o Global Solutions Summit, que ocorre entre dois dias de todos os anos, desde 2017. Neste ano, particularmente, o evento acontecerá no coração de Berlim com mais de 100 palestrantes e 1000 convidados do mundo todo, incluindo chefes de estado, empresários e empreendedores sociais. Gerando grande impacto em muitas vidas no Brasil, os brasileiros selecionados no Top 50 Young

Global Changer Diogo Bezerra, sócio-fundador da escola gratuita de tecnologia Mais1Code e Lucas Lima, engenheiro mecânico e fundador da startup de impressoras 3D Infill, passaram por um rígido processo de seleção e tornaram-se dois dos convidados especiais da cerimônia.

A edtech Mais1Code foi desenvolvida com o propósito de proporcionar ensino tecnológico gratuito a jovens de baixa renda. Além de realizar a formação dos alunos, a equipe auxilia a entrada dos mesmos no mercado de trabalho, por meio do patrocínio de marcas nacionais e internacionais, como o Instituto Nu e a Sodexo. Ganhando destaque nos últimos meses junto destas companhias, a Mais1Code já realizou a formação de mais de 1600 jovens e impactou diretamente 6000 famílias das periferias de todo o país. Atualmente, com o projeto “3 Mil Devs da Quebrada”, eles buscam formar 3 mil jovens na área tech de maneira 100% online e gratuita.

Já a Infill, nasceu da ideia de fundar uma fábrica no bairro de origem do jovem, o Complexo do Alemão. Alicerçada por Lucas, o foco destina-se ao desenvolvimento de impressoras 3D feitas a partir de sucata eletrônica, impulsionando a criatividade e o contato das pessoas periféricas com a tecnologia. O mesmo também vem ganhando destaque no cenário social reconhecido pela BeyGood, vencedor do prêmio Pop da Iniciativa Jovem, feira de negócios desenvolvida pela Shell, é um dos 15 empreendedores selecionados pelo programa de aceleração da Ambev, fazendo parte da rede de líderes da Fundação Leman, além disso, já recebeu diversos prêmios como o TEDx Speaker, homenagem da BeyGood e o Global Young Changer.

Com o intuito de captar conexões e olhares para a educação dos jovens de baixa renda, expandir as iniciativas e gerar oportunidades para ambos os líderes, Diogo Bezerra e Lucas Lima se uniram para realizar uma campanha de financiamento coletivo e conseguirem, com este amparo dos doadores, estarem presentes em Berlim. A quantia arrecadada pela ação, gerida pela Cadette Consulting e nomeada como “Da Quebrada Pra Berlim", acontecerá entre os dias 14 de março a 1 de abril, através da plataforma Benfeitoria e será destinada à acomodação e permanência dos jovens, além de todo o custeio da viagem. Na campanha, os doadores poderão contribuir com valores a partir de 10 reais.

Diferente dos outros anos, a edição do Global Solutions Summit 2023 contará com um número ainda maior de convidados e representantes, mas, ainda assim, o evento continua sendo limitado, com acesso somente através de um convite direcionado pela própria instituição. Por esse e outros motivos, Diogo Bezerra comemora a seleção: “Foi de extrema gratidão receber esta proposta. No ano passado, fui escolhido pela Global Solutions e graças ao apoio de muita gente consegui estar presente como um dos 50 jovens globais que estão impactando e fazendo a diferença no mundo. Neste ano, ser convidado para debater presencialmente soluções de transformação digital e social no mundo todo é simplesmente inesquecível. Espero que consigamos bater a meta e embarcar a tempo de viver esse período de transformação para os jovens das quebradas brasileiras. Queremos soluções para a educação, afinal, só a educação pode transformar o nosso cenário atual”.

Dando continuidade aos selos de reconhecimento, Lucas Lima também exalta o prestígio de receber o convite importante e ainda, conta o que a participação significa para o jovem líder: “Fico muito honrado pela oportunidade de estar presente neste evento. Em 2022 eu não acreditei quando fui um dos projetos do Top 50 Global dentre muitos projetos espalhados pelo mundo, pois a Infill nasceu de um sonho de levar tecnologia e educação tecnológica a todos e, neste ano, me apaixonei pela área de políticas públicas. Então, ter a oportunidade de estar num evento e conseguir falar de igual para igual com lideranças Globais, debater sobre o futuro do país, o impacto da educação e do desenvolvimento tecnológico no crescimento da economia e no bem estar da população periférica será um verdadeiro sonho. É uma chance de networking para o meu crescimento profissional. Estou mega ansioso pela campanha e farei questão de compartilhar todos meus aprendizados nesta viagem.”

Dentre os países participantes do evento, estão Índia, Brasil, Japão, a própria Alemanha e mais uma dezena de nações e organizações parceiras. Na conferência, os convidados poderão participar de debates e discussões envolvendo três temáticas: Fórum de Soluções, trilha que ofertará uma visão de alto nível sobre questões globais e abordagens políticas; Mergulho Profundo nas Soluções, conjunto de discussões aprofundadas sobre os tópicos estabelecidos e por fim, Diálogos de Soluções, faixa que oferece um espaço para os participantes apresentarem, discutirem e testarem propostas concretas. “Vamos expor na Europa os nossos projetos de forma que eles ganhem visibilidade internacional. Com o auxílio da campanha, estaremos reafirmando o nosso poder de transformação social, como jovens negros e periféricos que estão representando o Brasil”, finaliza Diogo.

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Texto de Isabella Otero, assessora de imprensa, encaminhado a redação do Blog.