29 de outubro de 2022

O levante das minorias contra Bolsonaro nas urnas

 

Flávia Oliveira (Foto: Arquivo/ O Globo)

Quando o domingo de segundo turno chegar ao fim, o líder que assentou discursos e atos na supremacia de uns contra outros terá recebido dos grupos que tentou subordinar, no mínimo, um recado robusto; se as pesquisas se confirmarem, uma derrota retumbante. Jair Bolsonaro passou carreira política e mandato presidencial subvertendo o fundamento constitucional da igualdade ao declarar, e repetir, que “as leis existem para proteger as maiorias; as minorias têm de se adequar” — esse exemplo é de julho passado, em ato da campanha à reeleição, em Imperatriz (MA). A Carta de 1988 consagra o direito à diferença; proíbe discriminação por sexo, raça, etnia, religião. A corrida eleitoral de 2022 foi também sobre isso. Minorias feridas, quando juntas marcham, maiorias se tornam.

Ao longo da interminável campanha, muito se criticou a falta de profundidade das propostas sobre mazelas que envergonham e oprimem filhas e filhos do Brasil. Em diferentes ocasiões, o debate sobre saúde, educação, trabalho e renda, habitação, meio ambiente, desenvolvimento, relações internacionais, de tão raso, coube num pires. A defesa do sistema eleitoral e do Estado Democrático de Direito e o repúdio à violência política marcaram pronunciamentos e declarações de voto — precoces ou tardios — de personalidades e instituições. Máscaras caíram. A esta altura, todos sabemos quem são os democratas, quem flerta com a autocracia.

A eleição de 2022 foi sobre repúdio ao autoritarismo e restituição da democracia. Mas foi também sobre identidade — ou sobre os identitários, como repetia Ciro Gomes, candidato do PDT, quarto colocado no primeiro turno (3,04% dos votos). O levante das minorias não pode passar em branco. A candidatura de Jair Bolsonaro enfrentou, do início ao fim, a resistência firme de segmentos da população desprezados ou secundarizados, por convicção ou gestão, pelo mandatário e por seu campo político. Mesmo despejando recursos em ajuda financeira de última hora, o presidente nunca liderou entre mulheres, pretos, pardos, pobres, beneficiários de políticas sociais. As pesquisas não foram capazes de medir, mas é certo que tampouco foi o preferido de indígenas, pessoas LGBTQIA+ e religiosos de matriz africana.

Bolsonaro passou a campanha atrás do eleitorado feminino. Usou a mulher, Michelle, e a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves. Em palanques e púlpitos de igrejas, a dupla apelou à retórica de guerra espiritual, à demonização do adversário, ao assédio religioso e até à submissão conjugal.

— A mulher é uma ajudadora do esposo — disse a primeira-dama num evento da campanha do marido, no Rio Grande do Norte.

Michelle e Damares esqueceram que as brasileiras somos trabalhadoras, mães solo, provedoras do lar, alvos da misoginia, de abusos, do feminicídio, da desigualdade salarial. A senadora Simone Tebet e a ex-ministra e deputada eleita Marina Silva entraram na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirigindo-se às mulheres da vida real. Ontem, penúltima edição da pesquisa Datafolha, o petista liderava, como em toda a corrida de 2022, entre as mulheres, maioria do eleitorado, com 52% das intenções de voto, ante 41% de Bolsonaro. O ex-presidente também mantinha preferência entre autodeclarados pretos (60% a 34%), pardos (51% a 42%). Negras e negros brasileiros não esquecemos o racismo contido nas referências ao peso medido em arrobas, o esfacelamento da Fundação Palmares, os ataques às políticas de cotas, a ausência de titulação de territórios quilombolas.

Bolsonaro ousou depreciar nordestinos, encampando a associação entre taxa de analfabetismo na região e o voto no candidato do PT. Ofendeu favelados ao declarar num debate que, na visita ao Complexo do Alemão, o adversário desfilou com traficantes. Desagradou católicos, ao fazer da festa de Nossa Senhora Aparecida evento político. Não condenou apoiadores que, Brasil afora, andam interrompendo missas e ofendendo sacerdotes. Se lidera entre evangélicos (62% a 32%), eleitores do Sul (58% a 36%), do Centro-Oeste (53% a 40%) e entre quem ganha acima de dois salários mínimos (54% a 40%), Lula está à frente entre católicos (55% a 39%), no Nordeste (67% a 28%), no eleitorado de baixa renda (61% a 33%) e de menor escolaridade (60% a 34%). Bolsonaro teve a preferência dos autodeclarados brancos (54% a 40%) e dos homens (48% a 46%), em linha com um modelo de sociedade incompatível com a diversidade dos novos tempos.

— Há muita identificação com uma ideia de masculinidade forte, heteronormatividade, hegemonia cristã. No bolsonarismo, assim como na branquitude, não cabe a diversidade, porque eles se consideram universais — explica Thales Vieira, coordenador executivo do Observatório da Branquitude.

Fabiana Dal’Mas Paes, promotora de Justiça no MP-SP, especialista em direitos das mulheres, diz que posições políticas mudam à medida que as minorias tomam consciência da própria condição:

— Os grupos que alcançam essa consciência, principalmente as mulheres, reconhecem que não podem escolher candidatos que as subjuguem, que as mantenham em subordinação.

No último domingo, a liturgia católica apresentou aos fiéis o Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas (18, 14):

— Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado — repetiu numa rede social o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer.

É por aí.
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Por Flávia Oliveira, no O Globo e replicado no Geledés.

28 de outubro de 2022

A lenda de Ubuntu : cooperação, igualdade e respeito

 

A lenda de Ubuntu : cooperação, igualdade e respeito. (FOTO | Reprodução | Youtube).


Andile reuniu algumas crianças e propôs uma brincadeira! Mas que brincadeira foi essa?

E qual foi o resultado? A lenda de "Ubuntu" fala sobre cooperação, igualdade e respeito.

Vamos descobrir essa história juntos?

Embarque nesta aventura que o "Era Uma Vez Um Podcast" nos contou e descubra o final dessa história e a nossa atividade surpresa.

Abaixo o vídeo da História


          

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Com informações do Canal Filtr Kids Brasil

27 de outubro de 2022

A perversidade do racismo brasileiro

 

(FOTO | Reprodução/Twitter).

Todos os dias, toda hora, todo minuto alguém está sofrendo com um ato de racismo no Brasil. Sendo xingado, preterido numa promoção, destratado num hospital, tendo analgesia negada, sofrendo enquadro da polícia, sendo morto pelo Estado pelo simples fato de ser uma pessoa negra e, à exceção da militância negra, não existe uma voz que se erga pra protestar contra esta situação. Pelo contrário, na maioria das vezes se levantam diversas vozes para dizer que não foi racismo, para culpabilizar a vítima, para dizer que quem luta contra o racismo vê discriminação racial em tudo, é mimizento, que a vítima era bandida como justificativa para a aplicação de uma pena de morte sem tribunal, que a pessoa sofre de baixa auto estima, que a discriminação é social e não racia.

A situação muda uma gota quando o discriminado é famoso ou tem dinheiro e aí se admite o racismo, nomes famosos se mostram indignados, se fala na necessidade de acabar com o racismo e o movimento negro exponencia o barulho pra demonstrar que sempre denunciou a gravidade do racismo mas quanto teremos que caminhar para que o Brasil pare de naturalizar uma coisa tão perversa como o racismo. O racismo no Brasil tem sua base na formação do país estar fundamentada na escravização, na exploração colonial que não foi passada a limpo, o país tem uma dívida histórica com o povo negro.

Quando pararemos o Brasil, quando iremos todos pra rua porque um homem foi posto pra morrer numa câmara de gás pela polícia, só pelo fato de ser negro quando a sensibilidade contra o racismo e os racistas gritarão por qualquer pessoa negra humilhada, violentada, morta.

E necessário punir severamente os racistas e que se faça letramento racial com todo o país pra que possamos separar o joio do trigo, para que possamos ir pro arrebento a cada caso de violência racista neste país, para que o casos de discriminação do Seu Jorge ou do Eddy Júnior não sejam exemplares e que a gente tenha que gritar para dar visibilidade a uma violência que acontece a cada minuto nas nossas vidas. Só quando for feita a reparação histórica ao povo negro na diáspora e em África estaremos em paz. 'REPARAÇÃO, JÁ!' é o mantra necessário.

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Com informações do Alma Preta.

25 de outubro de 2022

A população negra tem um grande potencial de alterar o sistema, diz especialista

 

(FOTO | Isabel Praxedes).

Mesmo com avanços no debate político no Brasil, existe uma conservação de narrativas ao longo da história política do país. Em um momento crucial para a democracia brasileira, estudos e especialistas ressaltam a importância da sociedade organizada e a diversidade entre os protagonistas e articuladores, principalmente para combater narrativas sistêmicas, que pouco acrescentam para evolução e aplicação de políticas públicas. Nesse sentido, se faz importante o engajamento da população negra e periférica.

Durante os mais de 30 anos de democracia, o país teve poucos avanços em pautas que atendessem ao interesse público e, principalmente, às pessoas negras e periféricas. E uma das estratégias para manter o governo longe destes assuntos é a insistência em reforçar problemas sem demonstrar soluções, como a corrupção. 

Para a cientista política, Isadora Harvey, o debate da corrupção ainda caminha numa linha muito cinza e os últimos anos na política brasileira mostram isso. “Acho interessante não se deixar inundar pelas discussões dos problemas que não se encaminham em propostas factíveis e realistas para contrapor uma cultura que, infelizmente, parece estar conectada de forma quase intrínseca às instituições”, comenta a especialista. 

Enquanto maioria na população brasileira, fica evidente o papel importante que a população negra tem nesse debate. Nesse sentido, Isadora ressalta que mesmo ocupando os menores índices na garantia de seus direitos, a população negra tem papel fundamental na discussão dos valores como sociedade, sem que isso precise recair em mais uma responsabilização excessiva sob o grupo. 

“A população negra tem um grande potencial de provocar e demandar alterações nos nossos sistemas e acordos democráticos. Principalmente, contribuindo com outras perspectivas, éticas e responsabilidades coletivas habituais das organizações societais negras prévias à colonização. É fundamental estar atento aos discursos, às tentativas de dispersão social e política e aos propósitos por trás dessas narrativas; especialmente a população negra.” - Isadora. 

No mesmo caminho, documento construído pela Purpose, que pontua rotas de saída para falar sobre corrupção, indica que um caminho importante para ampliar a contranarrativa é construir um política brasileira diversa e representativa, que atenda aos anseios da maioria e amenize problemas estruturais, como a desigualdade social e a ausência de direitos. 

Apesar disso, é necessário construir e fomentar uma maioria mobilizada na sociedade. Nesse sentido, a comunidade negra tem muito a contribuir nesse movimento. “Historicamente, a população negra demonstra um alto nível de capacidade organizativa e de mobilização politizada; que, sistematicamente, é alvo de estratégias e ferramentas de desmobilização e desarticulação”, comenta Isadora. 

Para ela, o papel da comunidade negra pode, mais uma vez, refletir, resgatar e atualizar para a realidade, as experiências éticas de uma vida coletiva baseada em valores comunitários para a garantia da dignidade, do respeito e da autonomia. “O potencial desse processo está, justamente, no investimento e na valorização da capacidade imaginativa e radical da população negra para uma sociedade mais justa”, afirma a cientista. 

O guia pontuado na matéria foi idealizado e elaborado numa jornada colaborativa das organizações Purpose, Instituto Cidade Democrática, Mulheres Negras Decidem, Open Knowledge, Periferia em Movimento, Transparência Brasil e Transparência Internacional. A metodologia de trabalho contou com uma agenda que incluiu pesquisas secundárias, oficinas de co-criação e testes de mensagens.
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Com informações do Alma Preta.

24 de outubro de 2022

Terrorismo como tática política de Bolsonaro

 

(FOTO | Reprodução | TV PT).


Por Alexandre Lucas, Colunista 

A fabricação do medo, através da mentira, da intimidação e da violência tem sido a tática política de Bolsonaro nas redes e nas ruas. O terrorismo eleitoral tem incitado uma onda violenta em todo o país, não são casos isolados, como alguns tentar impor, mas compõe uma política bem orquestrada, a qual se utiliza da ciência para ganhar capilaridade e potência segredada nas redes sociais e que tomar as ruas,  a partir das poderosas estruturas religiosas que tem conexões nos mais diversos segmentos sociais e com forte ligação com as camaradas populares.

A violência bolsonarista já tem demonstrado os seus resultados: Mortes, agressões físicas e a demonização da esquerda, dos movimentos sociais e até mesmo dos ensinamentos cristãos, isso mesmo, pastores a serviço do anticristianismo. As Marchas para Jesus serviram como palanques para Bolsonaro, espaços das pautas antidemocráticas e de favorecimento do lema usado pelo fascismo à brasileira “Deus, Pátria e Família”, expressão usada pelos integralistas brasileiros (fascistas do Brasil). Por outro lado, cresce, os   diversos setores religiosos que fazem barreira ao discurso do ódio e da violência que se entranhou em diversas igrejas. Pastores e padres progressistas se unem em defesa da democracia.

Essa eleição é marcada por posições antagônicas bem definidas que colocam em risco a própria democracia no país. Não é uma eleição qualquer. Precisamos agir e tomar cuidado a todo instante, os estopim como Roberto Jefferson já estão sendo incendiados  há um bom tempo, basta lembrar o crescimento de armas  de fogo e munição no Brasil, após Bolsoanaro e os assassinatos e agressões de ordem política praticadas pelos apoiadores do atual presidente. 

O Partido Comunista do Brasil – PCdoB saiu bem antes das eleições defendendo uma frente ampla para além das esquerdas que conseguisse aglutinar os setores progressistas e democráticos no país em torno de uma tática única e central: derrotar o bolsonarismo nestas eleições. A posição do PCdoB se apresentou como acertada. A estrutura e os apoios políticos de uma campanha é condição objetiva na correlação de forças para ganhar a disputa eleitoral. É a somatória de votos que ganha uma eleição e não necessariamente as boas ideias. Isolados não temos condições de ter incidência política nas grandes discussões nacionais.

A vitória de Lula é capaz de reconstruir a perspectiva de um projeto nacional desenvolvimentista. É preciso insistir nesta vitória. O projeto representado por Bolsonaro não será derrotado do dia para a noite, muito menos  no dia 30 de outubro, ainda teremos uma intensa batalha, para garantir a governabilidade e os mecanismos de gestão democrática e participação popular, numa conjuntura adversa,  em que o inimigo tem musculatura e resistência.    

Falta menos de uma semana, pouco tempo, a frente ampla está nas ruas e nas redes, o inimigo está bem vivo e longe de dar descanso, ainda é hora de conquistar os indecisos, reduzir as abstenções e de dividir o lado de lá.  O terrorismo eleitoral não vai cessar, a tendência é ampliar. Os bolsonaristas nos querem fora das ruas e das redes, é preciso desobedecer. A tática das redes vai ser ampliar a nossa visibilidade, curtir, comentar, compartilhar tudo em defesa da nossa candidatura, não vamos trabalhar para a direita! Nossas bandeiras, toalhas, adesivos e cartazes devem tomar as ruas na guerra cultural contra o fascismo. Ainda temos como lutar!

Lula promove encontro com mais de 2.000 influenciadores e criadores de conteúdos

 

Lula promove encontro com mais de 2.000 influenciadores e criadores de conteúdos. (FOTO/ Reprodução)

Por Nicolau Neto, editor

Na manhã deste domingo, 23, Lula, ex-presidente e candidato ao palácio do planalto, promoveu um encontro virtual com Influenciadores e Criadores de Conteúdos de todo o país pela plataforma Zoom.

Visando dar dicas sobre como os criadores digitais podiam se mobilizar na reta final até o segundo turno, o evento reuniu mais de 2.000 participantes de todo o país e que usam as mais variadas plataformas para se posicionarem politicamente nessas eleições.

O primeiro a falar foi o ex-presidente Lula. Ele reafirmou o que vem constantemente falando nos programas eleitorais, nos debates e sabatinas e nas caminhadas, destacando, portanto, que “estamos enfrentando uma máquina de mentira” levada a cabo por Bolsonaro. Disse ainda que há duas propostas nesse segundo turno na campanha presidencial. “Ou é democracia ou é autoritarismo. A democracia permite que as pessoas que pensem diferentes, falem. O que está em jogo é a sua própria liberdade de fazer o que está fazendo”, complementou Lula acompanhado (na mesma tela) da companheira Janja.

Ao falar da importância de elegê-lo no próximo dia 30, destacou os gastos do atual governo que, segundo ele, “todos os presidentes do Brasil não gastaram 10% do que Bolsonaro está gastando”. E ao pedir ajuda dos influenciadores no convencimento da juventude a irem votar demonstrando o que significa a democracia, ele frisou que votar 13 significa:

Aumento do salário mínimo; retomada do minha casa, minha vida. tirar o nome das pessoas do Serasa; recuperar o Ministério da Cultura; criar mais universidades; aumentar a oferta do ensino em tempo integral; fazer reuniões com prefeitos e governadores; investir em educação; criação do Ministério dos Povos Originários e facilitar a circulação de livros (Lula no encontro virtual).

Quem também se manifestou foi o youtuber e empresário Felipe Neto e o apresentador, comediante e ator Paulo Vieira. Ambos apresentaram orientações para essa reta final de campanha. Segundo Felipe, é preciso ter foco, principalmente porque a campanha do Bolsonaro é baseada na mentira, no ódio e na ameaça.

Para o youtuber, “não podemos esquecer o assunto e achar que as pessoas não acreditam nessas mentiras. Temos que mostrar o que de fato é verdade e mentira. Descontruir mentiras”, disse. E complementou frisando que “a maior mentira é o lance da censura (se referindo a Jovem Pam). Precisamos desconstruir. A lei é pra todos... A campanha do lula também foi impedida de mostrar”. Ainda em que pese as estratégias de comunicação, Neto falou sobre a necessidade de mostrar verdades “Temos que mostrar que Bolsonaro tem vínculos com ditadores de extrema direita e rebater a máquina do ódio. Convencer que os outros se manifestem. As pessoas estão com receio por conta do ódio que vão receber”.

Para ele, é fundamental fazer vídeos (curtos de menos de 1 minuto, se possível) e publicar em todas as plataformas e solicitar que as pessoas compartilhem.

Já Paulo Viera destacou a necessidade de pulverizar as falas potentes do Lula “emprestando nossas redes para ele”. O apresentador destacou também sobre “personalizar o discurso para o nosso público”. Ou seja, se temos seguidores/as que são LGBTQIA+, que toquemos nessas pautas.

Por fim, ele trouxe para o encontro a linguagem e o foco. É preciso ter não atacar o bolsonarista, mas o Bolsonaro. Segundo ele, isso atinge aqueles/as que estão indecisos e encerrou argumentando que “Bolsonaro não tem eleitores, tem vítimas da maior rede de mentiras e desinformação da História”.

Mediando por Janja, o encontro durou mais duas horas e este blogueiro participou. As falas entre os presentes foram alternadas. É preciso manter a esperança do verbo esperançar de Paulo Freire de que o Brasil vai dar a resposta no próximo dia 30. E vamos voltar a ter dignidade e lutar (sem medo de ser punido) para que sejamos de fato o país da diversidade, da pluralidade.

23 de outubro de 2022

Silvio Almeida: "Bolsonaro é o candidato que promove a fome e a doença"

 

Silvio Almeida. (FOTO |Reprodução | Efucafro).

Para além de toda a violência que Bolsonaro representa, há outras coisas que fazem dele uma grande ameaça às famílias brasileiras.

O ministro de Bolsonaro afirmou que irá reduzir o poder de compra do salário mínimo.

Sabe o que isso significa? Que o salário que já não é lá essas coisas vai ficar ainda pior. Que o salário que a maioria das pessoas ganha não será suficiente para comprar coisas básicas como comida, remédio e roupas.

Veja o que o Bolsonaro fez com a farmácia popular.

Portanto, quem fica com essa conversa de Venezuela, Cuba e Nicarágua quer apenas esconder que Jair Bolsonaro é incapaz de melhorar a vida de quem está sem dinheiro, endividado e desempregado. 

Bolsonaro é o candidato que promove a fome e a doença.

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Publicado originalmente em sua página no Facebook.

Prefeitura de Altaneira e Fundação Casa Grande fecham pacto para realização de Pesquisa Arqueológica

 

Prefeito de Altaneira, Dariomar Rodrigues, e a arqueólga Heloisa Bitu. (FOTO/ Reprodução Redes Sociais).

Por Nicolau Neto, editor

O município de Altaneira, por meio do poder executivo, firmou parceria com a Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri, com sede na vizinha cidade de Nova Olinda, visando a realização de Pesquisa Arqueológica. O estudo será uma continuidade dos já realizados pela Dra. Rosiane Limaverde na entrada da vertente oeste da Chapada do Araripe, que fora interrompida em meados do ano 2015.

De acordo com dados colhidos junto a página oficial da prefeitura de Altaneira, o documento que assegura a parceria entre as instituições publicas, foi encaminhado à Câmara através de um Projeto de LEI, que depois de aprovado no plenário da casa, foi sancionado pelo prefeito Dariomar Rodrigues sob a Lei Nº: 867/2022 e circulou no Diário Oficial da APRECE no último dia 19 de outubro.

Todas as ações referentes a pesquisa terá o apoio do Instituto de Arqueologia do Cariri Dra. Rosiane Limaverde, que é administrado pelo Fundação Casa Grande em cooperação com a Universidade Regional do Cariri (URCA), além de professores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e alunos colaboradores do Curso de Especialização Lato Sensu em Arqueologia Social Inclusiva – PROEX/URCA. A execução do projeto se dará no Sítio Arqueológico Alto da Lagoa de Santa Teresa, em Altaneira, e deverá ter início tão logo ocorra a emissão da portaria autorizativa pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN.

Esta ação reflete a intenção da Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri na Gestão Social do Patrimônio Cultural do Território a partir do diálogo entre gestores culturais, poder público, universidades, pesquisadores colaboradores e sociedade civil visando promover a proteção do patrimônio da Chapada do Araripe. É importante destacar, outrossim, que o Sítio Alto da Lagoa de Sta. Teresa “apresentou concentrações cerâmicas e materiais líticos lascados, com características de ocupação de grupos de matriz tupiconfirmando a presença pré-colonial na região do Cariri”, conforme destaque da página oficial da prefeitura.

Segundo Heloisa Bitu, mestre em Arqueologia, pesquisadora e colaboradora do Instituto de Arqueologia do Cariri e que durante a pesquisa atuará dando apoio logístico por ser proprietária-articuladora do imóvel, “o projeto de prospecção intensiva no sítio arqueólogico Alto da Lagoa de Santa Tereza prevê a execução de um programa integrado de educação patrimonial na comunidade que contará com o apoio logístico das Secretarias de: Educação, Cultura e Meio Ambiente do município”.

A equipe de pesquisadores e coordenadores conta com o Me. Igor Linhares de Araújo, na coordenação geral, João Paulo Marôpo (Georreferenciamento de Dados de Campo), Dra. Mônica Virna Pinheiro (Geoprocessamento de Dados e Cartografia), Dr. Angêlo Alves Corrêa (Coordenação de Curadoria e Análises Laboratoriais) e Dra. Cristiane Eugênia Amarante (Coordenação de Educação Patrimonial), além de ter integrantes de Assistentes de Laboratório e de Assistentes de Campo (formados por Alunos do Curso de Especialização Lato Sensu em Arqueologia Social Inclusiva FCG/IAC/URCA). O Historiador altaneirense Demir Ribeiro também fará parte nos dados da Arqueologia Histórica.

O Blog recebeu um texto da professora e poeta Fátima Teles, de Brejo Santo, sobre Heloisa e seu ofício e que elucida um achado arqueológico por uma arqueóloga em sua propriedade (herdada) e que denota seu esforço na realização de pesquisa.

Vamos a ele:

A arqueologia por trás da arqueologia por Fátima Teles.

Este relato é uma descrição densa e profunda...

É o relato de uma Arqueologia dentro da Arqueologia!

Uma espécie de ode à “arqueologia do sujeito” de LIBERA, (2013).

É uma arqueologia do eu, a serviço de uma arqueologia da afetividade, promovendo uma Arqueologia Social Inclusiva para se conhecer a Arqueologia Pré-colonial do Cariri Cearense.

Parafraseando Clifford Geertz (2012 p. 138), é aquele típico processo investigativo enveredado pelas almas curiosas, que buscam desesperadamente um propósito para sua existência, onde  “tudo é uma questão de uma coisa levar à outra, essa a uma terceira, e essa última a uma outra que mal se sabe o que é”. No sentido literal significa procurar os fatos, o que a protagonista deste relato, naturalmente, “de fato”, têm feito desde a infância às margens da Lagoa de Santa Teresa, palco dos estudos arqueológicos que ora se pretende no município de Altaneira-CE.

Também poderia ser uma história análoga à incessante busca real de Edith Pretty, que contratou Basil Brown ao final da década de 30, para escavar a misteriosa topografia de sua propriedade em Sutton Hoo, com vista para o rio Deben, em Suffolk, no Reino Unido no filme A Escavação (2021), filme de Simon Stone baseado no livro homônimo de John Preston (2007). A compulsão irresistível por fatos, os levou a encontrar um navio de carvalho de 27 m, preparado para servir de tumba a um governante anglo-saxão, enterrado há cerca de 1.300 anos junto com seus pertences e com função de hospedar um banquete na vida após a morte de seu dono.

Naquela época, as descobertas revelaram extensas ligações comerciais pela rede hidrográfica com a Escandinávia, o Império Bizantino (centrado em Constantinopla (Istambul dos dias modernos) e o Egito. A descoberta revolucionou a compreensão dos historiadores do século 7, anteriormente visto como um tempo retrógrado, quando a Inglaterra foi dividida em reinos anglo-saxões.

Distante no tempo e no espaço das descobertas de Pretty e Brown,  às margens “do Lago que fascina”, uma garotinha teceu os fatos em seu imaginário de uma prática profissional futura, que se concretizou por meio de uma Arqueologia que lhe permitiu ampliar os horizontes do saber na profundidade da vivência de uma Ciência Cidadã, onde o método co-existe exatamente à altura do fogo das fantasias buscólicas da infância! Esta protagonista é a arqueóloga Heloísa Bitú, e a Casa que lhe possibilitou o sonho de exercer a profissão, é a Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, espécie de portal atemporal para um Cariri Ancestral e profundo criada há 30 anos pelo casal pioneiro no resgate das Coleções Arqueológicas do Cariri: Alemberg Quindis e Rosiane Limaverde.

Acolhida pelo casal de músicos na cidade Nova Olinda, tempos depois de se tornar mestre em arqueologia e quando se fazia imperativo recuperar a sua criança adormecida, nossa protagonista altaneirense, regressa às origens de sua infância, ao receber de sua avó, como herdeira, parte da propriedade da família na cidade de Altaneira!

No andar contemplativo, curioso e atento pela gleba, a jovem mulher, arqueóloga, encontra vestígios a 100m da casa  onde nasceu, brincou e cresceu! O Universo estava materializando aquilo que ela viveu no mundo das ideias pueris, solitariamente no quintal da casa da avó! Nesta surpreendente descoberta se compromete como cidadã, em conjunto com as autoridades locais, a mão amiga de profissionais da área e membros da comunidade, trazer à tona uma outra narrativa para as terras da Vó Zenilda. O momento é oportuno para contar a história dos primeiros povos que habitaram a cidade de Altaneira.

Esta arqueóloga altaneirense, traz a convicção que contribuirá não apenas no resgate da sua memória e história familiar, mas que seja, também memória coletiva para a gente de Altaneira. Por isso, no início de nossa escrita dissemos que os esforços são de uma arqueologia do eu, a serviço de uma arqueologia da afetividade, promovendo uma Arqueologia Social Inclusiva para se conhecer a Arqueologia Pré-colonial na Travessia das Lagoas de Altitude entre o Vale Oeste da Bacia Sedimentar do Araripe e o Sertão dos Inhamuns.

O propósito é que a escavação seja para todos ato afetivo, fundamentada nos princípios da educação patrimonial e ambiental, como necessárias a preservação do lugar onde em cada momento, fase ou etapa da escavação se torne o resgate das histórias individuais, familiares e coletivas ressignificando os afetos, em particular de todos que estarão envolvidos.

Conheci Heloísa Bitú, quando da sua primeira coordenação de equipe de pesquisa arqueológica no Cariri, no município de Brejo Santo-CE. Acompanhei o trabalho por ela desenvolvido nas Escavações do Sítio Serrote da Nascença, onde identificou uma fogueira e obteve a datação radiocarbônica de 1.220 +/- 40 AP (Antes do Presente) para um sítio do tipo acampamento iserido num contexto de ocupações funcionais nas diferentes compartimentações topográficas no centro da cidade. Para mim, ficou notável a paixão e entrega com que esta mulher se dedica à arqueologia do Cariri. Não mediu esforços para a extroversão do conhecimento junto à comunidade por meio de ações de educacão patrimonial nas escolas municipais! Levou crianças e adultos a serem protagonistas na produção do conhecimento! Foi à todas as redes de comunicação local compartilhar o que esteve descobrindo durante os trabalhos de sua equipe. Ofertou à Secretaria de Educação do Município uma formação para educadores patrimoniais, trazendo contribuições importantes para professores das áreas das Ciências da Natureza e Humanas da rede de ensino local. É indiscutível a presença no seu fazer científico, das abordagens da observação participante, incorporadas quando da sua assistência aos estudos desenvolvidos pela sua mestra a Dra. Rosiane Limaverde.

Para mim não foi uma grande surpresa, que ela encontrasse um sitio arqueológico no lugar onde nasceu! Ela possui o “feeling” dos grandes pesquisadores! E é por isso que essa é a história de uma garotinha que fantasiou muitas aventuras arqueológicas no quintal da casa de sua avó... cresceu, se tornou arqueóloga e de fato encontrou o que estava destinada a descobrir!”