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A população negra tem um grande potencial de alterar o sistema, diz especialista

 

(FOTO | Isabel Praxedes).

Mesmo com avanços no debate político no Brasil, existe uma conservação de narrativas ao longo da história política do país. Em um momento crucial para a democracia brasileira, estudos e especialistas ressaltam a importância da sociedade organizada e a diversidade entre os protagonistas e articuladores, principalmente para combater narrativas sistêmicas, que pouco acrescentam para evolução e aplicação de políticas públicas. Nesse sentido, se faz importante o engajamento da população negra e periférica.

Durante os mais de 30 anos de democracia, o país teve poucos avanços em pautas que atendessem ao interesse público e, principalmente, às pessoas negras e periféricas. E uma das estratégias para manter o governo longe destes assuntos é a insistência em reforçar problemas sem demonstrar soluções, como a corrupção. 

Para a cientista política, Isadora Harvey, o debate da corrupção ainda caminha numa linha muito cinza e os últimos anos na política brasileira mostram isso. “Acho interessante não se deixar inundar pelas discussões dos problemas que não se encaminham em propostas factíveis e realistas para contrapor uma cultura que, infelizmente, parece estar conectada de forma quase intrínseca às instituições”, comenta a especialista. 

Enquanto maioria na população brasileira, fica evidente o papel importante que a população negra tem nesse debate. Nesse sentido, Isadora ressalta que mesmo ocupando os menores índices na garantia de seus direitos, a população negra tem papel fundamental na discussão dos valores como sociedade, sem que isso precise recair em mais uma responsabilização excessiva sob o grupo. 

“A população negra tem um grande potencial de provocar e demandar alterações nos nossos sistemas e acordos democráticos. Principalmente, contribuindo com outras perspectivas, éticas e responsabilidades coletivas habituais das organizações societais negras prévias à colonização. É fundamental estar atento aos discursos, às tentativas de dispersão social e política e aos propósitos por trás dessas narrativas; especialmente a população negra.” - Isadora. 

No mesmo caminho, documento construído pela Purpose, que pontua rotas de saída para falar sobre corrupção, indica que um caminho importante para ampliar a contranarrativa é construir um política brasileira diversa e representativa, que atenda aos anseios da maioria e amenize problemas estruturais, como a desigualdade social e a ausência de direitos. 

Apesar disso, é necessário construir e fomentar uma maioria mobilizada na sociedade. Nesse sentido, a comunidade negra tem muito a contribuir nesse movimento. “Historicamente, a população negra demonstra um alto nível de capacidade organizativa e de mobilização politizada; que, sistematicamente, é alvo de estratégias e ferramentas de desmobilização e desarticulação”, comenta Isadora. 

Para ela, o papel da comunidade negra pode, mais uma vez, refletir, resgatar e atualizar para a realidade, as experiências éticas de uma vida coletiva baseada em valores comunitários para a garantia da dignidade, do respeito e da autonomia. “O potencial desse processo está, justamente, no investimento e na valorização da capacidade imaginativa e radical da população negra para uma sociedade mais justa”, afirma a cientista. 

O guia pontuado na matéria foi idealizado e elaborado numa jornada colaborativa das organizações Purpose, Instituto Cidade Democrática, Mulheres Negras Decidem, Open Knowledge, Periferia em Movimento, Transparência Brasil e Transparência Internacional. A metodologia de trabalho contou com uma agenda que incluiu pesquisas secundárias, oficinas de co-criação e testes de mensagens.
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Com informações do Alma Preta.