3 de setembro de 2022

Historiadora Brasileira fala sobre educação antirracista em Congresso Mundial realizado em Ghana

 

Carolina Morais é a única brasileira participando do evento em Gana – Foto: Divulgação. 

A Historiadora Brasileira e mestre em História da África, Carolina Morais, participou da World Conference on Education and Restitution em Ghana, na África Ocidental para discutir educação e cultura iorubá nas salas de aula. O convite veio da Embaixadora de Ghana no Brasil, Abena Busia, com o objetivo de apresentar um panorama sobre os desafios do ensino da filosofia e da cultura iorubá nas salas de aula.

O World Conference on Education and Restitution é um evento de 3 dias, que visa discutir o desenvolvimento de África através da restituição e reforma educacional. Ele é organizado pela Associação de Universidades Africanas em Accra, capital de Ghana, em parceria com a Unesco e reúne diversas autoridades entre políticos, educadores e pensadores do continente e da diáspora, visando soluções para uma educação de melhor qualidade. 

“Uma honra e enorme aprendizado estar na Conferência Mundial de Educação e Restituição aqui em Accra. Como educadora brasileira, historiadora e filha deste solo, poder discutir estratégias em conjunto com doutores e todo o continente africano é muito significativo. Em 2023, completamos 20 anos da Lei 10.639/2003, e o caminho para uma educação antirracista está em conectarmos com a história da África e a África contemporânea”, expõe Carolina.

A Lei 10639/2003 diz respeito à obrigatoriedade da inclusão da história e cultura afro-brasileira no currículo das escolas brasileiras.

Durante os dias de evento, a Historiadora também coordenará algumas ações voltadas para a cooperação turística e a oportunidade de novos negócios entre o Brasil e a Nigéria durante as celebrações pelo bicentenário da independência brasileira que acontecerão entre 06 e 10 de setembro em Lagos, maior cidade da Nigéria.

“São 200 anos de independência e, ao longo desse tempo, nunca existiu Brasil sem África e seus descendentes. O que estamos fazendo em Lagos não é apenas uma celebração dessa relação Brasil e Nigéria, mas o anúncio de um novo capítulo na história desses dois gigantes econômicos e populacionais. Uma história de desenvolvimento mútuo e colaborativo. Nigéria é o espelho para que a população afro se mire, e o Brasil também pode ser este espelho para os nigerianos. É isso que desejamos, que possamos aprender um com o outro”, conclui.
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Por Brenda da Rosa, originalmente no Notícia Preta.

2 de setembro de 2022

Sobre as falas do Ciro – a postura do PDT e dos demais candidatos majoritários

 

Ivanir dos Santos. (FOTO/ Reprodução/Facebook).

As Políticas Afirmativas, o respeito à Diversidade e o combate à Intolerância Religiosa precisam ser pautas obrigatórias de todos os candidatos em todos os níveis de mandato.

Em julho de 2021, recebi em nossa casa, a visita do, então pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes que me pediu para coordenar sua campanha nas áreas de: “Direitos Humanos e Igualdade Racial. Na ocasião, foi reiterado, também,  pelo presidente em nível federal, Carlos Lupi, o convite para participar de um projeto nacional que se desdobraria na disputa de um cargo majoritário, pelo PDT/RJ.

Como sabem os que acompanham minha trajetória, nenhum dos dois convites se confirmou na prática. E, hoje, com a sabedoria que o Tempo nos dá, passamos a entender os desígnios do Destino, a quem, como sacerdote, chamamos de Ifá.

Contrariando toda história ideológica do PDT, assim como os ideais de Brizola – que já em 1982 dizia: " No meu governo os favelados serão tratados como cidadãos" e ao ganhar o governo elegeu uma bancada legislativa federal e estadual diversa com negros, mulheres, indígenas, homossexual– assim como os ideais defendidos por Darcy Ribeiro, Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalez, Idialêda, José Miguel, Caó, Albuíno Azeredo e Alceu Collares.

Surpreendi-me com matérias veiculadas recentemente na imprensa. Cito três:

“Ciro chama de "políticas do papo-furado mulher, índios e negros".[1]

“O Brasil tem comida, diferente do Fundão da África” citado no debate e em outras ocasiões”.[2]

“É um comício pra gente preparada, imagina explicar isso na favela”.[3]

Nasci na favela do Esqueleto e moro até hoje na Mangueira, onde Ciro esteve. Sinto-me na obrigação de lembrar, mesmo fazendo parte da Academia, que nem todo “saber” deriva dela. A cultura popular, urbana ou rural, da favela ou periferia é, também, um dos grandes patrimônios do povo brasileiro.

Só tenho a lamentar, não apenas a postura do candidato Ciro Gomes a temas tão caros à maioria do povo brasileiro, mas, principalmente o silêncio, a omissão e o descaso de outros candidatos principalmente majoritários – à presidência da República e ao governo dos estados.

Segundo o TSE 2022[4] entre os eleitores há 53% de mulheres e segundo o IBGE[5], 54% nossa população é composta por pretos e pardos. A maioria da população não é prioridade no debate. E sequer incluo aqui o respeito e a necessidade de debate sobre as minorias LGBTQI+, como a questão do Estado Laico, diante de ateus, agnósticos ou os religiosos que proclamam a própria fé divergente daquela que, hoje, eu chamaria de mercadológica, religiosos que têm um projeto de poder teocrático e anticonstitucional.

Sob pena de nos transformarmos, cada vez mais, em um país cheio de ódios, divisões, autoritário, teocrata, racista e intolerante; proclamo a todos os candidatos que assumam compromissos sólidos com as parcelas da população abandonadas à própria sorte e esquecida pelos poderosos. Só com a diversidade, construiremos um país saudável, igualitário, democrático, inserido no mundo globalizado e preparado para o futuro.

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Por: Ivanir dos Santos - Pós - Doutor Babalawô Ivanir dos Santos -  Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGHC/UFRJ).

Texto encaminhado a redação do Blog por Rozangela Silva Assessoria de Imprensa

[1]https://revistaforum.com.br/politica/2022/8/2/ciro-chama-de-politicas-do-papo-furado-mulher-indios-negros-121046.html

[2]https://twitter.com/caiocgomes/status/1564731553325932550?t=Cf5xsIakyTEEJFVGRS_WcA&s=08

[3]https://twitter.com/CentralEleicoes/status/1565071697446928386?t=XT2NR45UmxPWgwYa2XxaJg&s=08

[4]https://sig.tse.jus.br/ords/dwapr/wwv_flow.accept?p_context=sig-eleicao-eleitorado/filtros/1586646739749

[5]https://jornal.usp.br/radio-usp/dados-do-ibge-mostram-que-54-da-populacao-brasileira-e-negra/

Tem uma criação no caminho

 

Alexandre Lucas. (FOTO/Acervo Pessoal).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Esperei menos que meia dúzia de palavras a vida inteira. O terreno que vivi sempre foi seco, às vezes cheio de crateras, hora e outra,  algumas poças efêmeras para molhar os caminhos. As palavras servem também para molhar, nem que seja a testa de suor.

Agora não sei mais como continuar. Faltaram palavras, acredito que elas não faltam, mas está difícil de prosseguir. As palavras talvez tenham luzes, devem ficar apagadas ou ter horas para acender,  de vez em quando encadeiam. O fato é que elas estão desaparecendo neste exato momento. 

Parece que foi criado um muro, entre o quero pronunciar  e o que consigo escrever. O texto vai se espreguiçando, dando sinais que está se acordando, ainda com poucas palavras. O gesto do corpo, a ação, tem mais palavras do que alguns textos. É como se o texto fosse uma fotografia sem palavras, em que é preciso olhar e sentir para ler intensamente  e com desenvoltura.

Telhas, carros, prédios, praças, árvores, extintores, câmeras, portões, tijolos e o próprio lixo  são mais que palavras. As palavras só são alguma coisa, porque criamos as coisas e ficamos dependentes da criação.       

Pesquisa Ipec Ceará: Lula tem 58%; Bolsonaro, 19%; Ciro, 14%

 

Legenda: Candidatos Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB)
Foto: Ricardo Stuckert/Agência Brasil/Fabiane de Paula/Divulgação

A primeira pesquisa Ipec no Ceará para a disputa pela Presidência da República aponta o ex-presidente Lula (PT) com 58% das intenções de voto. Em segundo lugar, aparece o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), com 19%. Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, tem 14%. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.

O levantamento foi encomendado pela TV Verdes Mares e ouviu 1.200 pessoas entre o dia 29 de agosto e a última quarta-feira (31). As entrevistas foram feitas no modo presencial em 56 municípios.

A candidata Simone Tebet (MDB) tem 1% das intenções de voto. Vera Lúcia (PSTU), Pablo Marçal (Pros), Roberto Jefferson (PTB), Felipe d’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União) não pontuaram. Os candidatos Constituinte Eymael (DC), Léo Péricles (UP) e Sofia Manzano (PCB) não foram citados.

Brancos e nulos representam 4% dos entrevistados. Outros 4% disseram não saber ou não responderam à pesquisa. O nível de confiabilidade é de 95%.

SE A ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE DA REPÚBLICA FOSSE HOJE E OS CANDIDATOS FOSSEM ESTES, EM QUEM O(A) SR.(A) VOTARIA? (ESTIMULADA %):

Lula (PT): 58%

Jair Bolsonaro: 19%

Ciro Gomes (PDT): 14%

Simone Tebet (MDB): 1%

Vera Lúcia (PSTU): 0%

Pablo Marçal (Pros): 0%

Roberto Jefferson (PTB): 0%

Felipe d’Avila (Novo): 0%

Soraya Thronicke (União): 0%

Branco/Nulo: 4%

Não sabe/Não respondeu: 4%



A pesquisa capta os primeiros efeitos da campanha eleitoral gratuita no rádio e na televisão, que começou na última sexta-feira (26). O levantamento foi realizado pelo instituto Ipec Inteligência e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob número BR-05276/2022 e no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) sob protocolo CE-08708/2022.

ESPONTÂNEA

Na pesquisa espontânea, quando o entrevistador não apresenta os nomes dos candidatos, Lula (PT) lidera com 54% das intenções de voto. Em seguida, aparecem Jair Bolsonaro (PL), com 19%, e Ciro Gomes (PDT), com 10%. Simone Tebet (MDB) foi apontada por 1% dos entrevistados. Felipe d’Ávila (Novo) e Pablo Marçal (Pros) não pontuaram.

Constituinte Eymael (DC), Léo Péricles (UP), Roberto Jefferson (PTB), Sofia Manzano (PCB), Soraya Thronicke (União) e Vera Lúcia (PSTU) não foram citados. Outros nomes foram mencionados pelos eleitores, mas não chegaram a pontuar. Brancos e nulos somam 4%. De todos os eleitores ouvidos pela pesquisa, 13% disseram não saber ou preferiram não opinar.

A soma dos percentuais pode não totalizar 100% em decorrência de arredondamentos.

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Com informações do Diário do Nordeste.

1 de setembro de 2022

Grito dos Excluídos vai defender ‘vida em primeiro lugar’ e questionar ‘independência’ de 200 anos

 

Grito destaca que não sairá às ruas para provocar bolsonaristas, que desvirtuam a data, mas marcará oposição ao projeto do presidente. (FOTO/ Elineudo Meira).

Nos 200 anos da Independência do Brasil, o Grito dos Excluídos volta às ruas de todo o país no próximo 7 de setembro para denunciar as desigualdades sociais. O movimento protestará também contra a tentativa do governo de plantão de se apropriar da data para impulsionar seu discurso golpista contra a democracia. Desse modo, na sua 28ª edição a tradicional manifestação que reúne movimentos populares de todo o país destacará o verdadeiro sentido de democracia, como o lema “Vida em primeiro lugar, 200 anos de independência: Para quem?

O mote, escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), faz referência à situação dos povos negros, LGBTQIA+, mulheres, das comunidades quilombolas e indígenas, e das populações rurais, periféricas e em situação de rua. Setores da população que, ao longo de toda a história, foram deixados de lado pela políticas públicas.

Estamos pensando na democracia, que está sendo ameaçada principalmente nesses tempos atuais”, diz dom José Valdeci Santos Mendes, bispo da diocese de Brejo, no Maranhão. “Tudo isso nos faz refletir, 200 anos de independência para quem?”, enfatiza o bispo, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (1º). O evento marcou o lançamento da nova edição do Grito dos Excluídos. Mas também a oposição do movimento nacional ao projeto bolsonarista que disputa a data histórica para atos antidemocráticos e de cunho eleitoral.

Grito do coração do povo

Segundo a organização, as manifestações, que ocorrem desde 1995, estão confirmadas em todo o país para a próxima quarta-feira. A ideia, contudo, “é não provocar”, de acordo com dom José. Ainda no início de agosto, as lideranças que encabeçam a campanha Fora Bolsonaro concordaram em não medir forças com os atos bolsonaristas. E, diferentemente dos últimos dois anos, eles decidiram passar as manifestações contra o presidente da República para o dia 10 de setembro.

No entanto, a organização dos Gritos dos Excluídos destacou que não deixará de fora sua oposição ao atual governo nestas eleições. “Precisamos ter essa consciência de que esse Brasil que está aqui não é o que queremos. E o que queremos de fato é que prevaleça a justiça, a solidariedade e, sobretudo, uma democracia sólida e participativa. Por isso a vida deve estar realmente em primeiro lugar”, comentou o bispo à imprensa, ironizando o tratamento dado por Bolsonaro ao coração de Dom Pedro I, ligado diretamente ao passado de horror da escravidão.

Nosso grito não vem de alguém que está montado em um cavalo, às margens de um rio. O nosso grito é com os excluídos e excluídas. É o grito também do rio que está sendo aterrado e envenenado. É também o grito das florestas que estão sendo derrubadas, e de tantos irmãos e irmãs que lutam por vida e vida com dignidade. Esse nosso grito vem do nosso coração, que está no nosso corpo. E não, com todo o respeito, a um grito que vem de um coração que vai passando de mão e mão”, afirmou dom José. 

Antirracismo nas eleições

As manifestações já estão confirmadas tanto nas capitais como em cidades do interior. No Rio de Janeiro, por exemplo, o Grito sairá, às 9h, do cruzamento da rua Uruguaiana com a Presidente Vargas, no centro da capital fluminense, em direção ao Cais do Valongo, ponto de desembarque de milhares de africanos escravizados entre os séculos 18 e 19. No mesmo horário, os movimentos populares também estarão em marcha na Praça da Sé, região central de São Paulo, lembrando também das mais de 683 mil vítimas da covid-19.

Presidenta nacional da União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro), Ângela Guimarães afirma ser simbólico realizar o grito refletindo o projeto escravocrata, colonial e desigual que funda o Brasil em meio a esse momento que é o mais grave da história, segundo ela, desde a redemocratização. “Nossa luta por igualdade e respeito às populações negras, indígenas e mais vulnerabilizadas também é uma tarefa que ainda não se completou”, adverte a integrante da Frente Nacional Antirracista, Convergência Negra e da Coalizão Negra por Direitos.

Os movimentos também defendem a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Palácio do Planalto. De acordo com Ângela, “diferente dos editoriais dos jornalões, estamos às vésperas de uma eleição em que nunca foi tão fácil escolher”. “Nossa tarefa é reconstruir o Brasil sem deixar ninguém para trás. É exatamente esse o projeto que o Grito vocaliza e repercute em todo o Brasil e que está em jogo agora dia 2 de outubro”, destaca a presidenta da Unegro.

A voz indígena

Os direitos básicos de cidadania precisam ter a urgência de implementação a partir de 2023. Ninguém sem casa, sem teto, sem terra, com fome e sem trabalho. E nenhuma criança ou jovem fora da escola e da universidade. Nenhuma mãe desesperada, chorando porque seus filhos vêm sendo abatidos pela violência racista das forças de segurança pública. E nenhum pai trabalhador desesperado porque não tem o levar de comida para a casa”, afirma Ângela sobre os desafios.

A proposta da 28ª edição do Grito dos Excluídos no 7 de setembro é também levar esperança e resistência a partir de exemplos da luta indígena. Há mais de 500 anos, jamais cederam à dominação dos colonizadores e a projetos que visam cercear os modos de vida dos povos tradicionais. A arte-educadora Márcia Mura, do povo Mura da região do Baixo Madeira, em Rondônia, explica o lema. “Vida em primeiro lugar congrega a interligação com o ambiente inteiro, como as comunidades originárias defendem há séculos.”

Esse grito de independência é um grito que ecoa em nossas lutas e existências. E esse ato (do Grito dos Excluídos e Excluídas) lembra e traz para a gente a aliança dos povos com as florestas, com a luta indígena, negra e popular. Essa aliança entre povos pela vida em abundância. Ela já existia, mas foi tirada por esses colonizadores que chegaram invadindo nosso território e nos impondo uma lógica que não faz parte da nossa percepção de mundo. E que aos poucos foram transformando nossos territórios em locais de exploração e mortes. É contra isso que lutamos e resistimos para manter as florestas, as águas e todos os biomas. Porque um depende da existência do outro”, alerta Márcia Mura.

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Com informações da RBA.

Seis anos de golpe. Site-livro reúne documentários que registram o período

 

(FOTO | Reprodução/Democracia em Vertigem).

Em 31 de agosto de 2016, uma sessão do Senado concluía o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Desse modo, consolidou o que entrou para a história como um golpe parlamentar, jurídico e midiática pela ausência de crime de responsabilidade que o justificasse. Para resgatar os acontecimentos que estiveram por trás desta história, entrou no ar hoje (31) o site-livro Cinema Contra o Golpe.

O cinema brasileiro não demorou a dar sua resposta àquele atentado à democracia e ao Estado de democrático de direito. O site-livro é organizado pelo jornalista e escritor Carlos Alberto Mattos e reúne 90 textos sobre 44 filmes que registraram, analisaram, criticaram, denunciaram ou contestaram o que se passou no país desde as manifestações de junho de 2013. Para marcar o lançamento, Mattos, a cineasta Julia Mariano e o crítico Filippo Pitanga fizeram uma live no podcast canais do linguista Gustavo Conde.

Consequências

Entre filmes de observação, de explanação e de intervenção direta, esses documentários cobrem o período de 2013 a 2018. Aí se incluem as Jornadas de Junho, a operação Lava Jato, a perseguição a Lula, o processo de impeachment, o governo Temer, as revelações da Vaza Jato, a ascensão da extrema direita e a eleição de Jair Bolsonaro. As abordagens incluem os papéis do Congresso, do Judiciário, da mídia, das militâncias e de uma sociedade dividida entre a opção pela democracia e as tentações autoritárias que perpetuam o pensamento escravista e patrimonialista no Brasil.

Há produções de várias regiões do país e também algumas oriundas do exterior. Todos os 44 títulos abrangidos se posicionam contra o autoritarismo e o fascismo, ainda que alguns possam expor críticas à esquerda. Não estão incluídos os filmes produzidos pela extrema direita, que obviamente se colocavam a favor do golpe de 2016.       

A cada filme se referem de um a quatro textos de autores diferentes, entre críticos, jornalistas, pensadores e ativistas. Tal como os filmes, os textos também variam do simples comentário à discussão crítica e ao engajamento mais explícito.

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Com informações da RBA.

31 de agosto de 2022

Sangue novo ou mais do mesmo? Simone Tebet é ligada ao agro e contrária a direitos indígenas

 

A senadora Simone Tebet é autora do projeto de lei que pretende impedir a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito - Marcos Oliveira/Agência Senado.

Alçada à disputa para a Presidência da República após a desistência do ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB-SP), a senadora Simone Tebet (MDB-MS) teve sua teve a performance no primeiro debate entre candidatos e candidatas ao Planalto elogiada por comentaristas e analistas. 

Nas redes sociais, além dos memes sobre a promessa de dar R$ 5 mil reais para estudantes que concluírem o ensino médio, ela foi vista como uma espécie de novidade no jogo político.

A ideia de que Tebet é uma cara nova na política é enganosa: a senadora, que já foi deputada federal, prefeita de Três Lagoas (MS) e vice-governadora do Mato Grosso do Sul, faz parte de umas das famílias mais poderosas da política do estado.

"É uma mulher forte, sem dúvida, teve uma boa atuação no debate, uma boa atuação na CPI da pandemia, mas isso é o mínimo. Nós estamos tão acostumados com esses políticos que querem declaradamente e falam o tempo todo de nos matar, que quando a gente vê uma política tradicional, chama a atenção", diz Kelli Mafort, integrante da Coordenação Nacional do MST.

Ela repete uma trajetória comum à elite econômica brasileira, totalmente conectada ao agronegócio. O pai da senadora, Ramez Tebet, foi governador do estado, se elegeu deputado estadual e senador, ocupou a liderança do Ministério da Integração no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e também esteve à frente da prefeitura do município de Três Lagoas, em 1975. O mesmo cargo foi ocupado pela filha em 2004.

A família Tebet é citada no estudo Poder oligárquico, questão agrária e função legislativa no território sul-mato-grossense como uma das três oligarquias mais poderosas do estado. 

Esses grupos, além de deter grandes porções de terra, atuam também na política com intuito de "garantir o fortalecimento do processo de apropriação capitalista da terra engendrado por seus antecessores desde o século retrasado".

Mafort lembra que o processo de ascensão ao poder das oligarquias no MS se iniciou durante a ditadura. "Nós temos uma memória da criação do MS, que se deu no contexto da ditadura civil militar em 1977. De lá para cá, existe uma total interligação entre as oligarquias rurais, a política e o agronegócio", afirma.  

Uma breve análise da atuação de Tebet no Congresso Natural confirma sua vocação. Ela é citada pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em uma lista de 50 parlamentares com atuação consistente na violação de direitos dos povos tradicionais. 

Autora do Projeto de Lei 494/15, que pretende impedir a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito e altera o Estatuto do Índio, ela também apoia a PEC 45/13, que altera o artigo 231 da Constituição para impedir a demarcação de terras indígenas em áreas tradicionais.

"A atuação dela no parlamento foi completamente violadora dos direitos humanos. É dela o projeto de lei para suspender estudos sobre áreas para demarcação indígena, quando há conflito. E obviamente que há conflito, porque essa á única forma de os indígenas poderem lutar pela demarcação", diz Mafort. "A Simone Tebet está com suas mãos manchadas de sangue, e esse sangue é sangue indígena".

Simone Tebet foi, ainda, apoiadora do impeachment de Dilma Roussef. Em seu voto, ela afirmou que pensava no futuro da população brasileira.

"Pelos crimes de responsabilidade fiscal cometidos pela senhora presidente da República no ano de 2015, mas principalmente pelas consequências nefastas a esta e às futuras gerações que pagarão essa conta, fruto dessa irresponsabilidade fiscal, por todo o mal que causou e está causando à população brasileira, eu voto a favor do impeachment da senhora presidente da República, mas mais do que tudo, voto na esperança, na esperança de melhores dias."

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Com informações do Brasil de Fato.

Conhecer nossa história é essencial na luta contra o racismo

 

(FOTO | Carl de Souza/AFP).

As relações sociais no Brasil são atravessadas pelo racismo e pela discriminação racial contra negros e indígenas, e é esta realidade responsável pela perpetuação do racismo. A persistência desta realidade se deve a um ideário extremamente articulado, que dá suporte ao racismo que estrutura esta sociedade. Este ideário tem muitos pontos, mas um dos mais importantes é o apagamento, encobrimento, distorção da história, da contribuição negra para o processo civilizatório da humanidade e do Brasil.

Este fator colabora em diversas frentes: na baixa auto-estima da população negra, por desconhecer as lutas de resistência à escravização, por desconhecer a elaboração intelectual de negros, por desconhecer ícones negros nas diversas áreas de produção de conhecimento.

A população negra em geral compra pra si a idéia de que é menos, de que não é capaz, de que não merece outro lugar a não ser o que a branquitude lhe destinou. Também colabora para o que costumamos chamar de racismo por ignorância, que é a pessoa que é racista sem ser beneficiário direto do racismo, simplesmente por ter introjetado em si esteriótipos racistas por desconhecimento desta construção imensa de negras e negros na história da humanidade, além de empobrecer as relações sociais roubando-lhe uma enriquecedora diversidade.

Já passamos na militância por episódios que demonstram que conhecer nossa história muda tanto o comportamento de negras e negros, quanto de operadores de saúde, do direito, da educação, gestores públicos em geral. Ter o conhecimento da história negra implica em ter sensibilidade, empatia com as mazelas que o racismo coloca cotidianamente nas relações sociais que foram estabelecidas secularmente. Por isso tarefa que se impõe ao movimento negro neste momento é imprimir um ritmo de informação que leve letramento racial a toda sociedade brasileira, negros e não negros.

Temos certeza que faz muita diferença às crianças o acesso a contos e histórias da literatura negra africana ou brasileira. Que estudantes do ensino médio teriam outra visão sobre a estética negra se tivessem informação nas aulas de biologia sobre a existência de poros que fazem serem diferentes cabelos lisos e crespos ou porque do nariz largo em países quentes. Estudantes de psiquiatria ou psicologia se beneficiariam imensamente conhecendo Juliano Moreira, Frantz Fanon, Virgínia Bicudo ou mesmo a contribuição de Dona Ivone Lara, isso mesmo, a sambista, para as terapias alternativas no tratamento de doenças mentais. Para estudantes de direito também seria um ganho imenso conhecer a produção de Luiz Gama ou de outros tantos nas diversas áreas de produção cultural.

Enfim é imensa a contribuição, a produção negra que pode ser trazida para o conhecimento geral que poderiam provocar mudanças substantivas nas relações sociais estabelecidas.

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Texto de Regina Lúcia dos Santos, coordenadora estadual do MNU-SP e Milton Barbosa, um dos fundadores e coordenador nacional de honra do MNU, originalmente no Alma Preta.