2 de junho de 2022

Rio quente

 

(Imagem meramente ilustrativa/ Reprodução/ internet)

Por Alexandre Lucas, Colunista

Estava sentado naquele banco de madeira, feito antes que minhas pernas.  O banco para sentir o tempo apalpar o corpo nu dos pensamentos. Bandeiras esvoaçavam, no palco da cama, um véu branco, escondia a gramática do corpo. Festejo de sagrada profanidade.

Ritual. Corpo suado, se fazia tambor, a boca flácida, pronunciava gritos da passagem do calor.

A coloração avermelhada da carne, denunciava a sede. A chuva acompanhava o tambor da pele e dava ritmo à dança ancestral que se entoava de cheiros e ruídos.

A terra se amolecia, no amassado, salgado do instante. Os caminhos se abriam. O abraço quente pronunciava o rio quente que se despedia.  

O banco firme, continuava segurando os últimos instantes de fuga.

1 de junho de 2022

Mostra Internacional discutirá Patrimônio, Cultura e Turismo na Chapada do Araripe.

 

(FOTO | Reprodução | Chapada Cultural do Araripe).

O evento faz parte das ações voltadas para a candidatura da Chapada do Araripe à Patrimônio Mundial da Humanidade Unesco e tem abertura marcada para o dia 03 de Junho de 2022, às 09h, na Fundação Casa Grande - Memorial do Homem Kariri.

A Fundação Casa Grande Memorial do Homem Cariri realiza nos dias 03, 04 e 05 junho a Mostra Internacional de Patrimônio e Turismo Chapada Cultural do Araripe.

Durante os três dias, estarão reunidos na Fundação, representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, membros da sociedade civil local, convidados com expertises afins, como conferencistas da Argentina, Peru e Portugal para promoverem o intercâmbio de ideias durante ciclos de palestras, redes, celebrações e oficinas.

Todo o material produzido no evento servirá para traçar diretrizes para a candidatura da Chapada do Araripe como Patrimônio da Humanidade, cuja campanha teve início em 2019 . Dentro da programação estão previstas a caracterização do bem e os requisitos para sua proteção, conservação e gestão.

De acordo com o fundador da Fundação Casa Grande e primeiro entusiasta da campanha, Alemberg Quindins, a Mostra Chapada Cultural do Araripe é a continuidade das ações oriundas do primeiro seminário promovido pelo SESC e a Fundação Casa Grande, com o apoio da Secretaria de Cultura do Estado em 2019. “Após o Seminário, planejamos a vinda do IPHAN para ministrar uma oficina que faz parte do processo da lista nacional, e agora essa oficina acontecerá, tendo sequência a posse do conselho científico da candidatura.”

Além de reunir importantes nomes nos cenários nacional e internacional para debaterem sobre os temas Patrimônio e Turismo, o conhecimento gerado a partir da Mostra, será mais uma ferramenta para contribuir com o processo para o desenvolvimento social sustentável da região da Chapada do Araripe, pois fortalece o envolvimento das instituições nesse projeto, como a Federação do Comércio (Fecomércio), Serviço Social do Comércio (SESC), Secretaria de Cultura e Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e a Universidade Regional do Cariri (URCA), Geopark Araripe e a sociedade civil. “O turismo social responsável que a Fundação Casa Grande vem trabalhando no entorno da Chapada do Araripe vem sendo essa ferramenta de inclusão e partilhamento de uma consciência milenar do Povo Kariri e sua tecnologia científica de convivência no território. São empreendimentos temáticos e instrutivos”, destacou Alemberg Quindins.

A programação compreende 5 ciclos de palestras (nacionais e internacionais), 5 ciclos de redes (regionais), 3 oficinas e 7 grandes celebrações musicais e artísticas, totalizando, aproximadamente, 40 convidados.

O Povo Kariri

A Mostra promoverá a rememoração do Povo Kariri, celebrando de forma inovadora a disseminação de conteúdo, conexões culturais e midiáticas entre pessoas, instituições e coletivo de artistas, formando uma grande rede com o objetivo de integrar, interagir e promover a formação de crianças e jovens a partir do encontro no espaço de vivência em gestão institucional: A Fundação Casa Grande e a Gestão do Patrimônio Cultural da Chapada do Araripe.

Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade Unesco

A Campanha Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade Unesco começou em 2019, com a realização do I Seminário Internacional Chapada do Araripe Patrimônio da Humanidade. O evento reuniu palestrantes internacionais e nacionais, representantes de diversas instituições, agentes culturais da região e mestras e mestres da cultura popular.

A Mostra Internacional de Patrimônio e Turismo Chapada Cultural do Araripe conta com o patrocínio da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará (Setur), através do programa Rotas Cariris, e a parceria de instituições como Sistema Fecomércio, Universidade Regional do Cariri (URCA), Geopark Araripe, Cajuína São Geraldo, Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

O seminário será transmitido ao vivo pela página do YouTube da TV Casa Grande e as inscrições poderão ser realizadas através da página https://chapadaculturaldoa.wixsite.com/chapadacultural

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Com informações do site Chapada Cultural do Araripe.

    31 de maio de 2022

    Milton Gonçalves, ícone da TV brasileira, morre aos 88 anos

     

    Milton Gonçalves em 'O Tempo Não Para', de 2018 (Foto: Paulo Belote/Globo).


    Morreu no Rio nesta segunda-feira (30) aos 88 anos, no Rio de Janeiro, o ator Milton Gonçalves.

    Segundo a família, ele morreu em casa, por volta de 12h30, por consequências de problemas de saúde que vinha enfrentando desde que teve um AVC, em 2020. Na ocasião, o ator ficou 3 meses internado e precisou de aparelhos para respirar.

    Nascido em 9 de dezembro de 1933, na pequena cidade de Monte Santo, em Minas Gerais, Milton Gonçalves fez mais de 40 novelas só na Globo, onde também atuou em programas humorísticos e minisséries de sucesso, como as primeiras versões de “Irmãos Coragem” (1970); “A Grande Família” (1972); e “Escrava Isaura” (1976).

    Milton Gonçalves na mensagem de fim de ano da Globo em 1991 (Foto: Acervo TV Globo).

    Outros trabalhos de destaque do ator foram as séries “Carga Pesada” (1979) e “Caso Verdade” (1982-1986).

    Sua atuação como Pai José na segunda versão da novela “Sinhá Moça” (2006) lhe valeu a indicação para o prêmio de Melhor Ator no Emmy Internacional. Na cerimônia, apresentou o prêmio de Melhor Programa Infanto-juvenil ao lado da atriz americana Susan Sarandon. Milton foi o primeiro brasileiro a apresentar o evento.

    O Bem-Amado’: Ruth de Souza e Milton Gonçalves (Foto: Divulgação/Globo).

    A última novela que o ator Milton Gonçalves participou na TV Globo foi “O Tempo Não Para” (2018), quando interpretou o catador de materiais recicláveis Eliseu.

    Ainda criança, Milton se mudou com a família para São Paulo, onde foi aprendiz de sapateiro, de alfaiate e de gráfico. Ele fez teatro infantil e amador. Sua estreia profissional acorreu em 1957, no Arena, na peça “Ratos e Homens”, de John Steinbeck.

    Junto com Célia Biar e Milton Carneiro, Gonçalves formou o primeiro elenco de atores da Globo. Ele chegou à emissora a convite do ator e diretor Otávio Graça Mello, de quem fora companheiro de set no filme “Grande Sertão” (1965), dos irmãos Geraldo e Renato Santos Pereira.

    “Não tinha inaugurado nada ainda. Os três estúdios, aquele auditório, pareciam para mim os estúdios da Universal. O primeiro salário foi 500 cruzeiros. E eu fiquei feliz”, recordou Milton em um depoimento para a TV Globo.

    Milton Gonçalves grava vinheta de fim de ano da Globo em 1997 (Foto: Acervo TV Globo).

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    Com informações do G1 e reproduzido no Geledés.

    30 de maio de 2022

    Maracatu Raízes se apresentará no Gesso nesta quarta

     

    (FOTO/ Reprodução/ WhatsApp).

    Por Naju Sampaio

    O Território Criativo do Gesso recebe nesta quarta-feira, dia 1 de junho, a apresentação do Maracatu Raízes. A atividade está na programação do ano de 2022 do Centro Cultural Banco do Nordeste, em parceria com o Coletivo Camaradas. O espetáculo está aberto ao público em geral e vai ocorrer no terreiro do Coletivo Camaradas, com início às 18 horas.

    O Maracatu Raízes é um grupo de tradição, cultura popular e resistência, que foi idealizado em 2012 por Beto Ribeiro e sua esposa Adriana Alencar. Após 30 anos participando de Maracatus em Fortaleza, o casal retorna para o Crato e nasce o Raízes. O grupo retrata a celebração da coroação da rainha negra, com sua corte real, trazendo coreografias teatralizadas com releituras de músicas de compositores de Maracatu e ritmos regionais.

    De acordo com Beto Ribeiro, arte-educador e mestre do Maracatu Raízes, as apresentações na comunidade do Gesso fornecem a oportunidade de levar a experiência e pesquisa do Maracatu até as pessoas que ainda não conhecem essa tradição popular.  Além de trazer uma atividade artística para envolver as pessoas que se identificam, contribuindo com o fortalecimento do Maracatu.

    As performances são realizadas em eventos com locais fechados e abertos, cortejos nas ruas, shows de palco, palestras e apresentações sobre os aspectos históricos do maracatu, workshops, oficinas, entre outras intervenções. O grupo é aberto a quem deseja integrar como brincante e é composto por crianças, adultos, educadores, universitários, músicos e profissionais de dança.

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    Naju Sampaio é estudante de jornalismo e bolsista/integrante do Coletivo Camaradas.

    29 de maio de 2022

    Capela de São José em Altaneira: uso da memória e da História

     

    Capela de São José, em Altaneira. (FOTO |José Nicolau).

    Por José Nicolau, editor

    Capela de São José, em Altaneira. Um local de Memória e, logo, com grande potencial para o desenvolvimento de um conhecimento histórico importante do município visto que uma pequena parte da História da cidade alta, como também é conhecida, tem a ver com a doação do terreno para a construção desse espaço simbólico do catolicismo local.

    Mas a memória sozinha não é capaz disso. É preciso análise e interpretação da História. Só a História é capaz de desfazer mitos, heróis e anti-heróis e trazer para a cena aqueles e aquelas que por vários motivos não apareceram.

    O prédio já passou por algumas reformas, mas mantém parte de sua arquitetura/estrutura antiga.

    A Capela foi o primeiro espaço de rezas dedicadas a Santa Teresa de Ávila ainda em meados dos anos 30 do século XX, sendo esta escolhida como padroeira da localidade. A dedicação do espaço a São José vem somente na segunda metade do século passado após a Igreja Matriz ser construída.

    Separados por sete meses em festividades dedicadas a ambos - São José em março e Santa Teresa em outubro - este primeiro está como um padroeiro sequencial, adjunto.

    A imagem é um dos raros registros que fiz de templos como esses. Remete a 7 de abril de 2018.

    28 de maio de 2022

    Um negro é morto por asfixia após abordagem da PRF na semana em que a morte de George Floyd completa dois anos

     

    Dois anos do assassinato de George Floyd. (FOTO  |Reprodução).

    Na mesma semana em que, após dois anos do seu assassinato, George Floyd foi homenageado com a escultura “Conversa com George” erguida num parque em Houston, Genivaldo de Jesus Santos de 38 anos e negro foi morto por asfixia, em Umbaúba, litoral sul de Sergipe, após ser trancado no porta-malas de uma viatura após abordagem da PRF (Polícia Rodoviária Federal).

    O que deveriam ser fatos isolados estão, infelizmente, se tornando cada vez mais comum. Segundo dados do Ministério Público de São Paulo (MPSP), os procedimentos para a investigação de denúncias de injúrias qualificadas saltaram de 97, em 2020, para 708 em 2021. Já a Secretaria da Justiça e Cidadania paulista contabilizou 134 denúncias apenas no primeiro trimestre de 2022 enquanto no decorrer do ano passado foram 155.

    Nesses dois anos pouca coisa mudou. Essa é uma luta mais de 500 anos de racismo estrutural e um dos reflexos disso é o fato da sociedade ainda olhar para os negros como subalternos, ladrão, e, para mudar isto é preciso que tenha envolvimento da sociedade como um todo para criar um treinamento mental, emocional para que as pessoas comecem a enxergar que este pré-julgamento que discrimina, adoece e mata.

    O aumento no número de denúncias é porque as pessoas estão mais conscientes que elas são consequências de racismo e que isto é muito errado. O fato da pena também ser em cestas básicas ou ações voluntárias para alguns não é tão importante. O ideal seria envolver uma perda financeira ou até de imagem.
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    Por Ana Minuto, originalmente no Notícia Preta.

    27 de maio de 2022

    UFCA promove curso gratuito sobre cotas raciais, bancas de aferição e fraudes

     

    (FOTO |Danielle Feitosa - Dcom/UFCA).

    A Universidade Federal do Cariri (UFCA) está com inscrições abertas, até o dia 2 de junho para o curso de formação “Ações Afirmativas por Meio de Cotas Raciais, Bancas de Aferição e Fraudes”.  A capacitação pretende tocar nas questões teóricas sobre a população afro-brasileira, o racismo estrutural no Brasil e as políticas afirmativas.

    O objetivo é abordar questões práticas sobre as bancas de heteroidentificação e a legislação em torno dessa prática, construir compreensões da história e do racismo estrutural para depois entender a origem das políticas afirmativas e, consequentemente, das cotas e das bancas de aferição.

    Após a discussão teórica, a discussão prática: como funcionam as bancas e todo o seu procedimento. Falaremos também sobre as questões legais, que hoje asseguram tanto as cotas como as bancas”, explicou o professor Reginaldo Ferreira Domingos, do Instituto de Formação de Educadores (IFE/UFCA), que ministrará a disciplina.

    O curso é direcionado a servidores técnico-administrativos e docentes de instituições de Ensino Superior e também a membros da sociedade civil que atuam ou promovam a temática. As inscrições são gratuitas (50 vagas) e as aulas terão início no dia 3 de junho de 2022.

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    Com informações do Portal Badalo.

    Bolsonaro versus Moraes: qual é o jogo que ameaça a democracia?

     

    Alexandre de Moraes assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2022. Conduzirá, portanto, como autoridade maior, as eleições nacionais desse ano - Evaristo Sá / AFP.


    Seu jogo de colocar em dúvida se respeitará o resultado eleitoral caso seja derrotado é óbvio

    Em O Povo Contra a Democracia, um dos livros mais interessantes que li há três anos na busca de compreender o fenômeno da ascensão da extrema-direita no mundo, Yascha Mounk afirma um ponto em comum nas experiências mundiais: a oposição sempre subestima e menospreza o líder populista, deixando de enxergar o que pode advir de suas “bravatas”.

    A guerra que Jair Bolsonaro trava com o Poder Judiciário saiu do campo do mero discurso e da retórica para apoiadores e passou a utilizar os instrumentos formais de que dispõe, em um custo de oportunidade de vantagem tática e estratégica na disputa indireta para desestabilizar o campo institucional que tem por adversário.

    Até bem recentemente, para alguns agentes públicos, quando se falava na possibilidade de golpe no Brasil havia uma rejeição natural ao nome por se fazer uma projeção de vivência passada ao futuro. A experiência democrática pós anos 80, com a Constituição Federal e as eleições diretas, firmou uma crença nas instituições e na estabilidade das relações no interior do Estado como se fossem capazes, por si só, de dar conta de tentativas de dissolver qualquer aventura golpista.

    Com a subida do tom do discurso de Bolsonaro nas redes e nas ruas a partir de 2021, bem como as falas feitas pelo ministro da Defesa, general do Exército Walter Braga Netto, especialistas e pessoas públicas começaram a levar em consideração que a perspectiva de não respeitar a vontade das urnas, conquanto possa ser complexa e difícil a probabilidade de sucesso, possui desejo e disposição do Presidente da República, o que a torna um cenário possível real.

    Na seara de mudança de método, Bolsonaro apresentou no último dia 16 de maio uma notícia de crime no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ministro Alexandre de Moraes, acusando-o de abuso de autoridade na condução do Inquérito 4.781, conhecido como inquérito das fake news, que investiga a coordenação de ataques aos ministros do Supremo. O pedido foi imediatamente rejeitado pelo ministro Dias Toffoli, ao que Bolsonaro respondeu apresentando, no dia seguinte, uma representação para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue Moraes e com o anúncio de que estuda denúncia às cortes internacionais.

    O inquérito das fake news foi aberto em março de 2019 com base no artigo 43, do Regimento Interno do STF. Em junho de 2020, o plenário do Tribunal, nos autos da Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 572, julgou a investigação legal e constitucional, por 10 votos a 1, divergindo apenas o ministro Marco Aurélio Mello. O entendimento do colegiado foi o de que ataques em massa, orquestrados e financiados com propósito de intimidar os ministros e seus familiares, justificam a manutenção das investigações, necessárias para viabilizar a defesa institucional daquela instituição.

    Evidentemente, Jair Bolsonaro não imagina que o STF vá abrir investigação contra um de seus ministros pela condução de um inquérito por eles mesmos validado. Sua insistência aponta criar condições agora para intenções futuras.

    Alexandre de Moraes assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em agosto de 2022. Conduzirá, portanto, como autoridade maior, as eleições nacionais desse ano. A Bolsonaro importa, desde já, desgastar ao máximo a imagem do futuro presidente do TSE, a quem já chamou de “líder da oposição”, “líder de partido de esquerda”, “canalha” e adjetivos análogos. Ao situá-lo no campo de adversário político, a arguição de sua suspeição para conduzir julgamentos que coloquem a lisura das eleições em questão será apenas consequência, as condições estarão dadas.

    A despeito de seu despudorado desprezo pelas perdas de vidas humanas com a pandemia da covid-19, dos frequentes escândalos que assolam seu governo, da deprimente situação econômica do país, de uma agenda de destruição das políticas públicas em todos os níveis, da violação cotidiana de direitos, Bolsonaro possui um espantoso índice de aprovação popular e de intenção de votos que o torna um candidato competitivo para se reconduzir à cadeira que hoje ocupa. Por centenas de razões, algumas facilmente detectáveis por um jogo político midiático diuturnamente alimentado pela antipolítica, outras que nos desafiarão por décadas a compreender.

    Seu jogo de colocar em dúvida se respeitará o resultado eleitoral caso seja derrotado é óbvio, mas nem por isso menos perigoso. Não se trata de fazer prognóstico pessimista a respeito, menos ainda ser fatalista, mas de levar a sério suas ameaças à democracia.

    As entidades que ora se movimentam para observar de perto o processo eleitoral, atuando nos fóruns abertos pelo TSE, já entenderam que há uma batalha em curso, que inclusive transpõe temporalmente o processo de outubro, mas requer uma atuação desde já. Não se trata de defender uma pessoa, tampouco esquecer a contribuição dos órgãos do sistema de justiça para o atual estado de coisas, no estrago na credibilidade e solidez das instituições brasileiras e os danos às normas constitucionais. Trata-se da defesa das regras do jogo democrático.

    Nesse jogo, as eleições são apenas uma etapa. Fundamental, bom que se afirme, mas uma etapa. O pior erro, o mais fatal, seria supor que sejam um fim em si mesmas e que o fenômeno do bolsonarismo se esvairá com a derrota de seu líder. Haverá uma luta muito longa pela frente, de múltiplos conflitos. Por isso mesmo a atual batalha importa tanto. Porque alude à contenção da marcha da corrosão das normas democráticas no momento primário, com garantia das eleições livres e a afirmação da vontade popular.

    Nesse jogo não somos torcida, estamos em campo.

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    Por Tânia Maria Saraiva de Oliveira, em sua Coluna no Brasil de Fato.

    *Tânia Maria Saraiva de Oliveira é advogada, historiadora e pesquisadora. É integrante do Grupo Candango de Criminologia da UNB (GCcrim/UNB) e integrante da Coordenação Executiva da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).