12 de janeiro de 2022

Cidade preparada para as eleições

 

Praça da Sé, em Crato. (FOTO/ Reprodução/ Fooba).

Por Alexandre Lucas, Colunista

Urbanização sem planejamento e participação popular é negar o direito à cidade.  Planejar a ocupação espacial e a sua urbanidade exige ciência e a observância dos devidos   elementos que interligam a cidade.  As intervenções urbanas afetam as relações humanas e suas transversalidades como o meio ambiente, economia, segurança e as práticas sociais, ou seja, é impossível separar o inseparável, dito de outra forma, a ação humana de alteração do espaço urbano modifica as formas de acessibilidade e interação com o espaço, isso pode ser positivo, mas também pode provocar danos irreparáveis, como por exemplo o aumento de acidentes no trânsito  ou ainda implicações  no escoamento das águas.

Planejar a cidade não pode ser um tiro no escuro, não pode desprezar a ciência e eleger uma vontade ideogicamente construída, a exemplo das práticas populistas e equivocadas de apontar o censo comum como parâmetro para definir   políticas que exigem uma tomada de decisão política alinhada à ciência, a racionalidade e a redução dos impactos ambientais.

Concomitantemente o planejamento deve alinhar ciência com participação popular, o que muda completamente uma roteirização urbanística orientada pelo senso comum.  É preciso escutar e deliberar em conjunto com os movimentos sociais e a população, para compreender de forma mais apurada, as demandas locais e não aniquilar a memória dos lugares e as práticas saudáveis da população. Esconder e negar o protagonismo dos movimentos sociais e comunitários nos rumos e discussões sobre a cidade é uma forma evidente de negligenciar o direito à cidade, de excluir a participação popular e de criar uma urbanização de gabinete e eleitoral.

A cidade que tem a sua espacialidade esquartejada aprofunda os problemas estruturais e age no calor do imediatismo e do improviso, perdendo a sua dimensão macro e suas interligações.

O imediatismo e o improviso tem sido historicamente uma prática da urbanização que tem como viés de alcance ser moeda de troca eleitoral.  O desenfreado processo de asfaltamento das áreas excluídas do direito à cidade é uma prova incontestável que se constrói uma cidade para eleições representada pelo irrestrito descompromisso com os impactos ambientais e a engenharia urbanística.

Esse é o retrato da maquiagem urbana que gera a cidade veloz, barulhenta, insegura  e  adoecedora e que ideologicamente   é  vendida como desenvolvida e moderna para esconder as fraturas sociais,  fruto do processo de produção e acumulação do capital que ergue espacialidades esquartejadas. 

Faz-se necessário debater o direito à cidade para compreender que a aparência esconde uma essência severamente perversa, complexa e alinhada aos interesses da classe economicamente dominante. Essa discussão está intimamente ligada à democratização da sociedade, se compreendemos a cidade como um sustentáculo das interações humanas.  Enquanto isso,  precisamos aglutinar forças para construir uma outra cidade, em que a defesa da vida esteja no primeiro plano.

Escola Santa Tereza, em Altaneira, funcionará em tempo integral

 

Escola Santa Tereza, em Altaneira, funcionará em tempo integral. (FOTO/ Reprodução/ Instagram).

Em reunião realizada na manhã desta terça-feira (11/01) reuniram-se presencialmente, pela primeira vez desde a decretação da pandemia do novo Coronavírus, gestores, servidores, pais e estudantes da Escola Estadual Santa Tereza para deliberar sobre o início do ano letivo de 2022.

Na ocasião, observando todos os cuidados sanitários contra o contágio do vírus, o diretor Paulo Robson, auxiliado pelos demais membros da equipe de gestão da escola, professor Adeilton Silva (Coordenador), Douglas Romeiro (Assessor Financeiro) e Romário Feitosa (Secretário), apresentaram a proposta da Secretaria da Educação do Estado em converter a Escola Santa Tereza em Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI).

A princípio, foram apresentadas as principais características de uma Escola Estadual em Tempo Integral e a evolução histórica das mesmas em todo o estado do Ceará desde 2016, totalizando 261 em 2022.

O coordenador escolar, professor Adeilton Silva, ressaltou que, a partir de 2022, será obrigatório a implantação do Novo Ensino Médio em todo o país e que, com a conversão da escola em TI facilitaria muito a adaptação dos jovens altaneirenses.

Foram discutidos também vários assuntos referentes às melhorias (estruturais e pedagógicas) que serão ofertadas aos estudantes do ensino médio de Altaneira, enfatizando que tal mudança ocorrerá apenas para as turmas de 1ª série em 2022. Os estudantes de 2ª e 3ª séries continuarão estudando em período parcial até que toda escola conclua a transição em 2024.

Para encerrar, o diretor frizou que também será ofertada uma turma de 1ª série para aqueles jovens que optarem continuar seus estudos na modalidade parcial, no turno noturno, bem como uma nova turma de Educação de Jovens e Adultos para aqueles que, em algum momento da vida, precisaram interromper seus estudos.

Não há dúvidas do quanto a escola em tempo integral pode favorecer na melhora de aprendizagem dos jovens. Não é só a questão do tempo do estudante na escola, isso já conta muito, mas também do leque de oportunidades que se apresenta para ele. Fico muito feliz com a decisão da comunidade em abraçar essa proposta e bastante esperançoso com o futuro de nossos jovenssustentou o diretor Paulo.

Após ampla discussão a proposta de conversão da escola para funcionamento em tempo integral foi aprovada por unanimidade e as informações necessárias já foram encaminhadas à 18ª Crede para continuidade no processo.

O diretor Paulo Robson usou as redes sociais para comunicar a decisão a comunidade escolar.

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Com informações do BA.

Livro "Ideias para adiar o fim do mundo", do líder indígena Ailton Krenak, está esgotado

 

Ailton Krenak. (FOTO/ Reprodução/ Buala).

Por Nicolau Neto, editor

Ailton Alves Lacerda Krenak, ou simplesmente Ailton Krenak, é um dos brasileiros que está na lista dos autores de um dos livros mais vendidos entre 2019 e 2020.  A obra em questão é “Ideias para Adiar o Fim do Mundo.”

No site da Companhia das Letras, responsável pela edição, o livro já está esgotado. No site “Tag Loja" também.

Produto Esgotado

Avise-me quando este produto estiver disponível, diz a mensagem.

Ailton Krenak nasceu em 1953 na região do vale do rio Doce e é um dos líderes indígenas mais conhecidos e atuantes do país. Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, ele chegou a organizar a Aliança dos Povos da Floresta, reunindo comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia e é doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.


Livro "Ideias para adiar o fim do mundo". (FOTO/ Reprodução/ Companhia das Letras).

Em “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”, Ailton Krenak, faz críticas a ideia de humanidade como algo separado da natureza. Segundo ele, essa humanidade seria aquela “que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô". Segundo informações no site da editora, “essa premissa estaria na origem do desastre socioambiental de nossa era, o chamado Antropoceno. Daí que a resistência indígena se dê pela não aceitação da ideia de que somos todos iguais.”

Para o líder indígena, “somente o reconhecimento da diversidade e a recusa da ideia do humano como superior aos demais seres podem ressignificar nossas existências e refrear nossa marcha insensata em direção ao abismo”.

O livro está acessível financeiramente. No site Companhia das Letras, ele está por R$ 19,44.

8 de janeiro de 2022

Sidney Poitier destruiu estereótipos raciais com os papéis que assumiu

 

Foto: © Reuters/Danny Moloshok/Direitos reservados.

O ícone de Hollywood Sidney Poitier morreu nesta sexta-feira em sua terra natal, as Bahamas. Tinha 94 anos. E se existe alguém na história de Hollywood —e do cinema mundial— responsável por quebrar as barreiras de cor e raça nas telas de cinema, esse alguém é o lendário ator, diretor e ativista Sidney Poitier.

Mas, para além disso, Poitier inaugurou também outro grande paradigma. Tornou-se um dos maiores chamarizes de bilheteria dos anos 1960, estrelando alguns dos vários clássicos do cinema produzidos naquela década.

Com isso, criou um legado cinematográfico distinto ao protagonizar, por exemplo, três filmes icônicos no mesmo ano. No caso, o ano era 1967. A segregação racial ainda prevalecia e o regime do apartheid ainda era institucionalizado em grande parte do território sul-africano. Ainda assim foi ele o maior astro do cinema daquele fatídico ano.

Poitier deu o nome no drama “Adivinhe Quem Vem para Jantar”, em que interpretou um homem negro com uma noiva branca. Em “No Calor da Noite”, ele era Virgil Tibbs, um policial negro que enfrenta o racismo durante uma investigação de assassinato. E, por fim, naquele mesmo ano, ele também interpretou o desafio de ser um professor negro que conquista os corações dos alunos brancos de uma difícil escola de Londres no clássico “Ao Mestre, com Carinho”.

Com isso, Sidney Poitier se tornou, indiscutivelmente, a primeira estrela negra de imensa magnitude a brilhar no firmamento de uma Hollywood ainda nada diversa e, por que não dizer, estruturalmente racista. E, justamente por esse motivo, ele também representou a luta pelos direitos civis. Mas seu legado não para por aí.

Durante plena ebulição da luta pelos direitos civis dos cidadãos afro-americanos nos Estados Unidos, Poitier foi o primeiro ator negro a competir e ganhar um Globo de Ouro, seguido de um Oscar na categoria de ator principal, no ano de 1964, por sua memorável performance no drama “Uma Voz nas Sombras”. Na trama, assumiu o papel de um faz-tudo que ajuda freiras alemãs a construir uma capela no deserto.

Cinco anos antes, Poitier já havia se tornado o primeiro ator negro indicado ao Oscar de ator principal, por seu trabalho em “Acorrentados”. Em 2002, o astro das Bahamas retornaria à cerimônia do Oscar para receber a sua segunda estatueta em vida, dessa vez honorária, por seu legado artístico na indústria cinematográfica. Um legado exemplar que, sem dúvidas, atravessará ainda muitas e muitas gerações.

Poitier era alto e bonitão, com um tom de voz grave, porém sedutoramente suave, e dono de um porte nobre, quase principesco. O ator projetou um ar de dignidade silenciosa em papéis que destruíram os estereótipos raciais, isso há mais de 60 anos.

Não era nem a caricatura do negro engraçado com pouca —ou nenhuma— erudição e tampouco a figura cabisbaixa e subserviente que entrava e saía calada nos cenários de hotéis de luxo vestindo uniforme e carregando as malas dos protagonistas brancos.

Poitier foi a personificação do homem negro culto, bem-sucedido, de classe média. Uma nova visão no ecrã das salas de cinema do mundo que inspirou e motivou não somente afro-americanos, como todos os jovens não brancos do mundo.

Se hoje temos astros negros internacionais de primeiríssima grandeza, do porte de Will Smith, Omar Sy, Idris Elba ou Denzel Washington, isso se deve a Sidney Poitier, o pioneiro de todos eles. Foi ele o responsável por pavimentar o árduo e solitário caminho por onde esses astros hoje caminham com graça e muito mais leveza.

Seus outros filmes clássicos da época incluem “Quando Só o Coração Vê”, de 1965, no qual seu personagem faz amizade com uma garota cega e branca; “Sementes de Violência”, de 1955, e “O Sol Tornará a Brilhar”, de 1961, trama que Poitier também apresentou posteriormente nos palcos da Broadway.

Nascido em Miami em 20 de fevereiro de 1927, Poitier foi criado em uma fazenda de tomates nas Bahamas e teve apenas um ano de estudos formais. Ele lutou contra a pobreza, o analfabetismo e o preconceito para se tornar um dos primeiros atores negros a ser conhecido e aceito em papéis importantes e de protagonismo pelo público.

Poitier escolheu seus papéis com cuidado, negando várias ofertas e enterrando a velha ideia de Hollywood de que atores negros só podiam aparecer em contextos degradantes, como engraxates, maquinistas ou empregadas domésticas. “Eu te amo, eu te respeito, eu te imito”, Denzel Washington, outro vencedor do Oscar, disse certa vez a Poitier em uma cerimônia pública.

Evoé ao mestre. Com carinho. Digo eu.

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Por Sabrina Fidalgo, originalmente na Folha de S. Paulo e replicado no Geledés.

Igualdade, paz e direitos humanos - 76 anos da Assembleia Geral da ONU

 

(FOTO/ UN Photo).

Em 10 de janeiro de 1946 aconteceu a primeira reunião da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (AGNU), no Methodist Central Hall, em Londres. O evento ocorreu poucos meses após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a participação de representantes de 51 países. Nos anos seguintes , a segunda e terceira reunião foram realizadas em Nova York (EUA) e Paris (França), respectivamente.

A primeira reunião ocorreu seis meses após a elaboração da Carta das Nações Unidas, em 26 de junho de 1945, em São Francisco (EUA). O documento foi ratificado pelos países membros em 24 de outubro do mesmo ano, data considerada de criação da ONU. A entidade conta atualmente com 193 países, o Brasil é um deles.

A AGNU é o principal órgão de deliberação e formulação de políticas da ONU, também responsável por nomear o Secretário-Geral por recomendação do Conselho de Segurança, aprovação do orçamento da organização e eleger os membros não permanentes do Conselho de Segurança. Atualmente é presidida por Abdulla Shahid, das Maldivas, que tomou posse em setembro de 2021, para liderar a 76ª sessão da AGNU.

A Central de Jornalismo de Dados do O POVO - DATADOC levantou os países e o gênero de todos os líderes que ocuparam a principal cadeira da AGNU. Já passaram pelo cargo 77 pessoas, mas apenas quatro eram mulheres. Diversos foram os países de origem dos presidentes, mas Nigéria, Equador e Argentina já levaram ao cargo seis presidentes, sendo dois cada um. Em 1947, o Brasil foi o segundo país a liderar, o eleito foi o advogado, político e diplomata Oswaldo Euclides de Sousa Aranha (1884-1960).

O Secretário Geral é o principal cargo da ONU, considerado seu porta-voz. É escolhido em votação pelos países membros, seguindo a recomendação do Conselho de Segurança, tem mandato de cinco anos, podendo ser reeleito, não há uma definição escrita por quantos mandatos pode reeleger-se, tem prevalecido gestões de dois mandatos.

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Com informações do O Povo

7 de janeiro de 2022

Inscrições para chamada de emendas participativas do deputado Idilvan Alencar vão até próximo dia 17

Idilvan Alencar. (FOTO/ Reprodução/WhatsApp).

O deputado federal Idilvan Alencar (PDT-CE) deu início, no mês passado, à 1ª Chamada de Projetos de Emendas Participativas, uma ação inovadora no estado do Ceará que vai selecionar iniciativas através de votação popular para a destinação de recursos de emendas parlamentares individuais impositivas. R$ 1,2 milhão será destinado para execução de ações em seis áreas: Causa Animal; Cuidado com o Idoso; Cultura; Esporte; e Meio Ambiente. Cada projeto vencedor será beneficiado com até R$ 200 mil.

As inscrições se darão por meio das prefeituras que têm até o dia 17 de janeiro para enviar os projetos. Entidades, organizações e grupos populares devem procurar o setor da administração pública do seu município que represente o interesse da sua proposta e solicitar a inscrição. Por exemplo, uma quadrilha junina pode submeter seu projeto através da secretaria de cultura ou órgão afim. As prefeituras também poderão inscrever ações a serem desenvolvidas pelas suas secretarias.

Os projetos inscritos serão analisados por critérios definidos em edital (disponível em: http://idilvanalencar.com.br/chamada-emendas-participativas/). Serão selecionadas dez propostas em cada uma das áreas para a fase de votação popular, que acontece entre 21 de janeiro a 10 de fevereiro. A divulgação dos vencedores ocorre no dia 11 de fevereiro.

Estamos abrindo a oportunidade das pessoas participarem da decisão de como investir o dinheiro público em projetos que impactem diretamente a sua realidade. É um processo democrático”, avalia Idilvan. Segundo o parlamentar, esse tipo de ação aproxima o mandato da população. “Mais do que fiscalizar, as pessoas devem participar dos mandatos dos políticos que elegem para lhe representar”, pontua.

Não há limite de projetos inscritos por município. Para formalizar a inscrição, basta acessar o formulário (disponível em: https://url.gratis/r85hDi), preencher todos os campos e anexar um vídeo de até dois minutos sobre a ação. Depois, é só aguardar o e-mail de confirmação de recebimento do projeto e acompanhar o cronograma das próximas etapas da chamada.

Estou muito empolgado com essa iniciativa. Esperamos receber um grande volume de projeto, finaliza Idilvan.

MAIS INFORMAÇÕES:

1ª CHAMADA DE PROJETOS DE EMENDAS PARTICIPATIVAS

DEPUTADO FEDERAL IDILVAN ALENCAR

Edital: http://idilvanalencar.com.br/chamada-emendas-participativas/

Formulário: https://url.gratis/r85hDi

CRONOGRAMA

Inscrições de projetos: 17 de dezembro a 17 de janeiro

Análise de projetos: 18 de janeiro a 20 de janeiro

Divulgação dos projetos classificados: 21 de janeiro

Votação popular: 21 de janeiro a 10 de fevereiro

Divulgação dos projetos vencedores: 11 de fevereiro

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Texto encaminhado a redação do Blog por Aglécio Dias, Assessor de Comunicação do Deputado.

 

Índio carrega pai nas costas por seis horas pra se vacinar

 

Indígena carrega o pai nas costas. Foto: Erik Jennings/Instagram/Reprodução


O jovem índio Tamy Zoé foi flagrado pelo médico Erik Jennings carregando o pai, Wahu Zoé, por quilômetros dentro da mata fechada até o posto de saúde. O objetivo, de acordo com o médico, era aplicar no pai uma dose da vacina contra o coronavírus.

De acordo com Jennings, em postagem na sua conta do Instagram compartilhada pela Articulação dos Povos Indígenas, este foi para ele “o momento mais marcante de 2021. Tawy Zoé trazendo o pai Wahu Zoé para a primeira vacina contra a covid-19. Tawy carregou o pai, por 6 horas dentro de uma floresta com morros, igarapés e obstáculos até a nossa base. Feito a vacina, colocou o pai nas costas novamente e andou por mais 6 horas até sua aldeia. Chega o ano de 2022, e não se registrou nenhum caso de COVID-19 na população Zoé.

Etnia Zoé

Depois, os dois regressaram de caminhada até a aldeia. Localizada no Norte do estado do Pará, os indígenas da etnia Zoé vivem em uma região entre dois rios: Cuminapandema e Erepecuru.

A cena foi compartilhada pela Articulação dos Povos Indígenas. Na publicação em seu perfil do instagram, Erik escreveu ainda sobre os impactos da pandemia na tribo que, até o momento, vive sem casos da doença.

Vacinação indígena no Brasil

O Ministério da Saúde informa que, até setembro do último ano, 80% da população indígena brasileira, acima de 18 anos, já havia recebido as duas doses do imunizante contra a COVID-19. Até a data, cerca de 87% do público-alvo já havia tomado ao menos uma dose.

Em outubro, 180 mil doses de reforço foram destinadas para o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSus). As primeiras doses chegaram nas áreas indígenas em 19 de janeiro de 1021.

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Com informações da Revista Fórum.

6 de janeiro de 2022

O mito da democracia racial e sua contribuição negativa para o campo político da esquerda

 

O mito da democracia racial e sua contribuição negativa para o campo político da esquerda. (FOTO/ Divulgação).

Maria Raiane Felix Bezerra[1]

 

A formação do Brasil veio por meio de muitas ruínas e extermínios de povos racializados, que por consequência da colonização europeia ocupa um lugar determinado a partir do racismo estrutural. Mas em Gilberto Freyre, podemos notar como o autor pensa a formação do Brasil, que segundo o referido, partiu de um equilíbrio de antagonismos onde permitiu que houvesse uma mistura entre as raças de forma “harmoniosa”. Freyre (2005) acredita que o colonizador português teve uma capacidade maior de “flexibilidade” do que os outros colonizadores, sendo o português “mais adaptável às situações” e por isso seria tranquilo para eles manterem relações com pessoas negras e indígenas. Isso para Freyre resultaria no “grande sucesso da colonização e da miscigenação brasileira” (Freyre, 2005).  

Freyre localiza a família patriarcal2e destaca-a em suma importância, pois afirma que por terem a “regalia da escravidão”, miscigenação e produção, tornava-os o grande domínio rural que foi responsável pela construção da mão de obra que sustentou a escravidão, que para Freyre foi fundamental para a formação do Brasil, deixando explicito o seu posicionamento que o problema do Brasil não era de cunho racial, e sim, econômico (FREYRE, 2005).  

É por meio desse desfecho do último parágrafo que daremos início a discussão a qual esse texto se propõe, que é demonstrar como a metodologia de Gilberto Freyre auxilia na escrita de autores politicamente de esquerda.

São muitos os autores contribuintes para a Sociologia brasileira e Florestan Fernandes é um deles. É considerado um grande nome do pensamento social brasileiro pelo seu desempenho com a escrita revolucionária e inovadora ao que se refere a ortodoxia marxista.

Fernandes (2017) em “o significado do protesto negro” vai nos alertar sobre os processos da falsa abolição e como isso foi o agravante para que a população racializada se mantivesse nas margens da sociedade. Segundo o autor, isso teria sido esquematizado pela elite branca que utilizou de seus interesses próprios para fazer tal situação. Os impactos sofridos por essas amarras coloniais e escravocratas fez com que houvesse um agravamento na divisão racial do trabalho e os negros e negras (es) sempre estariam em desvantagem.  

Em seu livro a população negra é tratada como a esperança revolucionária e isso vem por meio de um olhar externo daqueles que depositaram toda uma confiança em um povo que sofreu muito no processo de colonização. A tão mencionada Luta de Classes segundo Fernandes (2017) teria que estar lado a lado com as questões raciais para que finalmente pudesse haver uma revolução, coisa que não aconteceu de forma natural e que ainda está longe de se concretizar de fato, pois para além de estar lado a lado, é preciso que cada indivíduo compreenda o seu papel e responsabilidade na luta contra o racismo. 

O mito da democracia racial fez com que os movimentos negros lutassem muito para que essa falsa harmonia entre as raças deixasse de ser o condutor dessa situação agravante que fazia com que a escravização se perpetuasse de novas formas (FERNANDES, 2017). Estamos falando de uma perspectiva em que o mundo inteiro ainda pensa sobre o país cujo “harmoniosamente” vivem as raças (indígenas, europeus/brancos, negros e racializados). Trazer Florestan Fernandes para essa discussão é necessário para que possamos perceber em seu livro, que nas entrelinhas estava ali mais uma vez o movimento negro solitário, “nós por nós”, onde todos em volta depositavam suas esperanças, mas não se juntavam a luta contra a discriminação racial.  

Enquanto isso, vários movimentos sociais de maioria classista ortodoxa não compreendiam e não consideravam que todas as pessoas haviam de se responsabilizar pelo racismo e não apenas quem era atravessado por essa estrutura. É de se questionar e refletir, quando Fernandes é nomeado ou tratado como um militante “desobediente” em seu partido político por fugir dessa ótica de compreender o Brasil como um país não apenas com problemas econômicos, mas na sua dimensão racial.  

Essa coisa da “desobediência” em que o autor teve por ser de partido cujo marxismo era mais “ortodoxo”, apenas significa que o racismo não era tratado como prioridade, que as lutas raciais não faziam parte da agenda do partido político que ele fazia parte, ou seja, no Partido dos Trabalhadores (PT). É preciso que falemos das problemáticas disso, pois em um país cuja marca escravocrata ainda reina, todos devem se responsabilizar pela dívida impagável a qual acomete o racismo.  

Mesmo com alianças entre negros, indígenas, racializados e brancos o racismo estaria longe de acabar, pois os brancos como já vimos em Fernandes (2017), eram muito resistentes em assumir seus privilégios, não apenas de classes sociais, mas de raça considerada superior nessa sociedade. Assim como muitos intelectuais do pensamento social brasileiro, Florestan Fernandes em seus argumentos e produções de saberes acabou por reproduzir o Brasil em seus problemas com mais ênfase nas questões econômicas, colocando o fim do racismo apenas em uma descrição de um manual de como a militância negra deveria agir (FERNANDES, 2017).  

Não é surpreendente tal situação, até porque se formos fazer uma análise das obras  dos autores geralmente lidos na Sociologia Brasileira, notamos falhas que precisam ser  expostas, pois se a maioria dos autores da Sociologia Brasileira tratam as questões estruturais no Brasil a partir da compreensão econômica, sendo que muitos deles foram atuantes de partidos de esquerda e isso resulta em um retardamento das reconstruções das identidades, coisa que os movimentos negros, indígenas e outros vem buscando reverter à séculos.

Trago isso, pois o olhar estritamente materialista ortodoxo, fez de muitos intelectuais da Sociologia acabar por reproduzir frases como “discriminação social” (PRADO Jr. 1961) para se referir as pessoas com apenas a classificação de pobres e ricos, não levando em consideração as marcas deixadas pela colonização. O Brasil como bem menciona Lélia González (2019), é um país cujo amefricanização está em todos os lugares, pois somos ameríndios e amefricanos, no entanto, não há condições de descrever o Brasil sem esse dado.  

Muitos partidos políticos e outras organizações de movimentos sociais se fundamentam pela ótica marxista-leninista. O problema não está na dimensão de serem marxistas leninistas, mas na não abertura de novas interpretações e questões que muitas vezes não foram bem-vindas nessas organizações, como questões de gênero, raça, sexualidades e etc.  

Trago essa reflexão para que pensemos e lembremos que Florestan Fernandes foi do Partido dos Trabalhadores (PT) e como outros autores que também tiveram a vida atravessada pela organização partidária sofrem desse déficit. É inevitável não falar que o (PCB) foi o primeiro partido comunista no Brasil fundado em 1922 e que mesmo poucos anos após a falsa abolição de (1888) não teve a decência de tratar do racismo e da situação da população “semi livre” em suas trincheiras. O PT também não fica atrás, até porque foi fundado na década em  que se fazia cem anos da falsa abolição e que se não fosse pela militância negra do partido (JÚNIOR, 1987), nenhum debate e reflexão sobre a vida da população negra brasileira  teria acontecido e Lélia González nos lembra disso muito bem, pois denuncia o (PT) nos  anos oitenta por Racismo por Omissão, porque o partido em rede nacional de TV em sua  divulgação de programa partidário não falou da situação da população negra brasileira, e  González interpretou isso como excludente (GONZÁLEZ, 1983). 

O ponto crucial para pensarmos como a metodologia de Gilberto Freyre contribuiu para que autores como esses não despertassem seu interesse e responsabilidade com intensidade para com as pessoas racializadas desse país, vem para explanar o quanto o mito da democracia racial além de teoria, virou discurso que se tornou o brasão da sociedade brasileira, no quesito apagamento de identidades e qualquer marca de africanização/ameríndia (GONZÁLEZ, 2019).  

Incrível como o PT classificou Florestan Fernandes no lugar de “desobediência” por ele tentar observar novos elementos fora do que já estava ali posto dentro dos partidos.  Ouso em dizer que essas atitudes omissas dos partidos foram responsáveis também pela não valorização da identidade negra, indígena e de outros povos no Brasil, atrasando e deixando cada vez mais distante o encontro com a identidade/ancestralidade.  

Como já havia sinalizado nas minhas lutas diárias, que as formas de generalização que algumas organizações de base alemã se utilizam de exemplos externos como a revolução Russa em 1917 para comparar com a construção do Brasil e uma possível revolução brasileira, é superficial e problemática, porque não se trata de um país homogêneo, mas de um país pluricultural e multirracial. O problema das classes sociais existe em todos os países de ordem econômica capitalista e imperialista, mas apenas o recorte de classe não dá conta de toda uma multiplicidade de povos marcados pela racialização.  

Referências 

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural?. Belo Horizonte (MG): Letramento, 2018. 

CARNEIRO, Sueli. Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil / Sueli Carneiro: Selo Negro, 2011. 

FERNANDES, Florestan. Significado do Protesto Negro. São Paulo: Expressão Popular  / Fundação Perseu Abramo, 2017. 

FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. São Paulo: Global Editora, 2005. 

GONZALEZ, Lélia. Lélia por ela mesma. Epígrafe de abertura do texto “Racismo e sexismo na cultura brasileira”. In: Movimentos sociais urbanos, minorias étnicas e outros  estudos. Brasília: ANPOCS, 1983. 

GONZALEZ, Lélia. A Categoria Político-Cultural da Amefricanidade. In: Pensamento  Feminista –Conceitos Fundamentais. BUARQUE DE HOLLANDA, Heloisa (org.). Rio  de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, pp. 340-352. 

JÚNIOR, Hédio Silva. O PT e a questão racial: uma conversa que não pode ficar só entre negros – 1987. Boletim Nacional do PT, nº 27, maio de 1987, p. 04-05. Acervo: CSBH/FPA. 

PRADO Jr., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense, 1961.  Ler: Introdução, Sentido da Colonização e Vida Social.


[1] Cientista Social licenciada pela Universidade Regional do Cariri (URCA); Mestranda em Sociologia Pela Universidade Estadual do Ceará (UECE); E-mail: raiane.bezerra@aluno.uece.br, membra do Grupo de Valorização do Cariri (GRUNEC); do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação, Gênero e Relações étnico-raciais (NEGRER)

2 Em sua obra cita a família patriarcal e a importância para a formação da sociedade brasileira que era chefiada pelo homem que dominava a parte rural e que não necessariamente tinha um caráter totalmente  privado, pois mantinha até proximidade com os escravizados que trabalhavam na casa grande, chegando  a serem considerados “filhos”, mas do modo político, econômico e social (FREYRE, 2005).